O músico

Olhos de ver

OLHOS DE VER
Ainda não
Agora sim?
Ainda não.
Pés na água
Pés na terra
Pés no chão
Passos.
Agora  sim?
Ainda não.
Aguardo o instante
Aguardo a luz certa
O brilho certo
Aquela nuvem
Aquele movimento
Aquele tom
Giro o olho
Paro o olho
Encaro
Emolduro
Agora sim
Ainda, sim!

De MIGUILIM e MUTUM

Um certo Miguilim, morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pode esquecer: alguém, que já estivera no Mutum, tinha dito: – ‘É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre…’

(GUIMARÃES ROSA, 2001, p. 27).

“Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado – que o Mutum era lugar bonito… A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febrilaté nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia – ‘Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver… ‘Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutum – nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe – agradava de calundu e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro – Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.

 (GUIMARÃES ROSA, 2001, p. 28-29).

“E Miguilim olhou para todos, com tanta força. Saiu lá fora. Olhou os matos escuros de cima do morro, aqui a casa, a cerca de feijão-bravo e são-caetano; o céu, o curral, o quintal; os olhos redondos e os vidros altos da manhã. Olhou mais longe, o gado pastando perto do brejo, florido de são-josés, como um algodão. O verde dos buritis na primeira vereda. O Mutum era bonito! Agora ele sabia”

“Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso o encarava. Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo da vista? (…) Miguilim espremia os olhos. (…) Este nosso rapazinho tem a vista curta. (…) E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito. — Olha agora! Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo … (…). Coração batia descompassado.”

Guimarães Rosa, Campo Geral, Manuelzão e Miguilim.

Esse homem TÃO DIFÍCIL DE SER VIVIDO, Guimarães Rosa. Quem poderia bebê-lo, encontrá-lo, segui-lo? Quem conseguiria montar em seu cavalo e, na garupa, registrar tantas imagens e sons dos SERTÕES MINEIROS? Quem?

Não perca o filme “Mutum”, de Sandra Kogut

Leia aqui no blog outros textos sobre o tema Guimarães Rosa: “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. G. Rosa –https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/10/19/qualquer-amor-ja-e-um-pouquinho-de-saude-um-descanso-na-loucura-g-rosa/”A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/12/29/a-colheita-e-comum-mas-o-capinar-e-sozinho-g-rosa/ “N(A) terceira margem do rio: a de dentro” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/08/02/na-terceira-margem-do-rio-a-de-dentro/” “Guimarães Rosa: mire e veja” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/01/21/guimaraes-rosa-mire-e-veja/ “Bordando Rosa”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/01/bordando-rosa/ “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente demais. Guimarães Rosa- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/02/08/o-senhor-sabe-o-que-silencio-e-e-a-gente-mesmo-demais-g-rosa/ “Grandes sertões: no nada”- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/07/07/grandes-sertoes-no-nada/O sertão é dentro da gente”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/10/18/o-sertao-e-dentro-da-gente/

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Rodrigo Rossi

2- Canal História do Cinema Brasileiro

Louvações a Guimarães Rosa

Chamei os seresteiros, em verso e prosa, para compor o cenário.

Tristão de Athayde escreve sobre João Guimarães Rosa
Manuel Bandeira: ”ROSA DOS SEUS E DOS OUTROS/ ROSA DA GENTE E DO MUNDO,/ ROSA DE INTENSA POESIA/ DE FINO OLOR SEM SEGUNDO;/ ROSA DO RIO E DA RUA,/ ROSA DO SERTÃO PROFUNDO!
Revisão/ edição de G. Rosa em seu texto.
Poema de Drummond: ”UM CHAMADO JOÃO”

Leia também a deliciosa entrevista/ conversa de Guimarães Rosa com Pedro Bloch

http://www.elfikurten.com.br/2011/01/guimaraes-rosa-entrevistado-por-pedro.html?fbclid=IwAR3Z4AU8TrOUmnBYS5obtnFe8OQFfevGo4rtCTtFh4HZOVTmxDbnEKpTwpo

Poesia: Odonir Oliveira (Tiradentes, 2018)

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Discos na Íntegra

Território de loucos

A LOUCURA NOSSA DE CADA DIA

Sempre estive próxima da loucura. Circundava meus ambientes. Fosse em círculos mais próximos, em cenários profissionais, em visitas a Minas. Conheci de perto, bem de perto gritos, insanidades, sangue, cortes, contenções, internações, medicações, visitas, dores, lágrimas, culpas atribuídas a uns, heranças genéticas atribuídas a outros, brigas e discussões eternas. Dentro e fora.

Minas casava parentes consanguíneos com naturalidade. Minas comprometia primos ainda meninos entre si. Drummond, em mais de um conto, crônica e em entrevistas, revelou que saiu de sua cidadezinha, principalmente, por temer ter que se casar com alguma prima e gerar filhos não saudáveis – assim se acreditava nas primeiras décadas do século XX. Leia A doida, de sua autoria, por exemplo.

Seres bipolares que acusam, gritam e podem até agredir fisicamente a outros e, no momento seguinte afagá-los, acarinhá-los, sem demonstrar resquício de qualquer culpa, beiram à esquizofrenia, às psicopatias. E coexistem em nossos meios, sem qualquer tratamento psicológico, acompanhamento ou medicação. Correm riscos. Correm-se riscos.

No meio literário, muitos escritores e poetas tinham em sua produção escrita a salvação para seus males. Fernando Sabino, por exemplo, declarava que se não escrevesse, teria enlouquecido e acabado num divã de psiquiatra. Autran Dourado sofria de psicose maníaco-depressiva – só para citar mineiros. Outros, como Cruz e Souza e Lima Barreto, encontraram no álcool uma fuga para ingressar em suas loucuras. A loucura, de certa maneira, liberta da opressão. De qual ? Não sei. Talvez de suas chagas de infância, de adolescência, da sua falta de adaptação a um mundo do qual discordam.”Fulano (fulana) sempre foi rebelde”.

A sociedade, ”o público em geral”, sempre considerou como grande castigo ter alguém louco na família. Poderia haver ladrão, assassino, polígamo, ímpio e ateu; mas louco, jamais. Fonte de discriminações, camisas-de-força, recolhimento a sanatórios, choques elétricos, embobecimentos medicamentosos … tudo para higienizar a sociedade da convivência com seres enlouquecidos.

Sabe-se hoje, que há muita muita gente necessitando de terapia, de grupos de apoio por razões diversas, vícios de toda ordem, formas de tratar os semelhantes de forma adoecida – o que gera outros adoecimentos ao redor. Costuma-se aconselhar que famílias inteiras façam acompanhamento psicológico, caso pretendam conviver com alguém tóxico em seus ambientes cotidianos.

Já nos ambientes profissionais, pessoas adoecidas, psicopatas, convivem com seus colegas e, de maneira cruel, agem nas alcovas, prejudicam, agridem, atacam naturalmente – muitas vezes sem se dar conta de suas psicopatias. Seguem sem tratamento, acompanhamento, sem terapias de apoio.

A loucura, há bem pouco tempo vem sendo mais aceita socialmente, pela idade, quando se torna demência, agora diagnosticada melhor como Mal de Alzheimer. Do contrário, um doente mental será sempre escondido, excluído, maltratado.

Em uma sociedade que tudo nos cobra e nada nos dá, com parâmetros de uniformidade cada vez mais doutrinados pela religião, pelo consumo, o adoecimento das pessoas é flagrante. Só não enxerga quem não quer enxergar.

Guimarães Rosa, o gênio, clinicou em Barbacena, antes de se desgostar da medicina e ingressar na carreira diplomática. Comenta-se , em ambientes de médicos, quais foram os seus desgostos. No entanto, a loucura, os sertões e as fugas dos ambientes institucionalmente constituídos foram temas constantes em tudo o que escreveu, depois de ter vivido por aqui.

“O senhor mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.”

“Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia …”

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”

Leia também aqui nesse blog, sobre o tema ”loucura”

Sanidades e loucuras

Sanidades e loucuras

Eu sou muito louca, por pensar assim …

Eu sou muito louca, por pensar assim …

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” G. Rosa

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” G. Rosa

“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar” I

“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar …” I

“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar” II

“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar” II

Psicopatias

Psicopatias

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Lenine Oficial


“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”, G. Rosa

“Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não sabe;
mas principal quero contar é o que eu não sei se sei,
e que pode ser que o senhor saiba.”

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O SERTÃO

“O senhor tolere, isto é o sertão.”

“O sertão está em toda a parte.”

“O sertão é dentro da gente.”

“O sertão é do tamanho do mundo.”

“O sertão é sem lugar.”

“O sertão é uma espera enorme.”

“O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena.”

“O sertão não tem janelas, nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.”

“O sertão é confusão em grande demasiado sossego.”

“O sertão me produziu, depois me engoliu, depois me cuspiu do quente da boca.”

“Sertão é isto o senhor sabe: tudo incerto, tudo certo.”

“Sertão é o penal, criminal. Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão quadrada.”

“No sertão, até enterro simples é festa.”

“Sertão: estes seus vazios. O senhor vá. Alguma coisa, ainda encontra.”

“Sertão, – se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem.”

“Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.”

“Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso…”

“O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda a parte.”

“Sempre, nos gerais, é a pobreza, à tristeza. Uma tristeza que até alegra…”

“Sertão sempre. Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.”

“A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro.”

“Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e se abaixa. Mas que as curvas dos campos estendem sempre para mais longe. Ali envelhece vento. E os brabos bichos, do fundo dele.”

“Mas nós passávamos, feito flecha, feito fogo, feito faca.”

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“Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”

DEUS

“Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo o rio… uma só para mim é pouca, talvez não me chegue.”

“O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?”

“A força de Deus quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se discutindo, se economiza.”

“Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus? Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo.”

“Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver.”

O DIABO

“Do vento. Do vento que vinha, rodopiado, Redemoinho: senhor sabe – a briga de ventos. Quando um esbarra com outro, e se enrolam, o doido do espetáculo.”

“Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não ditado: menino – trem do diabo? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes. … O diabo na rua, no meio do redemoinho.”

“Por mim, tantos vi, que aprendi. Rincha-Mãe, Sangue-d’Outro, o Muitos-Beiços, o Rasga-em-Baixo, Faca-Fria, o Fancho-Bode, um Treciziano, o Azinhavre… o Hermógenes… Deles, punhadão.”

“Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo.”

“E me inventei nesse gosto de especular idéia. O diabo existe e não existe. Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias.”

“Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.”

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AS GENTES

“Coração de gente — o escuro, escuros.”

“O que lembro, tenho.”

“Em Diadorim penso também. Mas Diadorim é minha neblina”

“Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o

sentir da gente.”

“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem o perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”

“O senhor não duvide – tem gente, neste aborrecido mundo, que matam só para ver alguém fazer careta… vem o pão, vem a mão, vem o cão.”

“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”

“Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias… Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza…”

“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.”

“Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?”

“As pessoas, e as coisas, não são de verdade! E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? Será que, nós todos, as nossas almas já vendemos?”

“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.”

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AS VEREDAS

“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”

“Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto.”

“Sozinho sou, sendo, de sozinho careço, sempre nas estreitas horas – isso procuro.”

“Eu careço que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero todos os pastos demarcados. Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado.”

“O rio não quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo.”

“Tempo que me mediu. Tempo? Se as pessoas esbarrassem, para pensar – tem uma coisa! -: eu vejo é puro tempo vindo de baixo, quieto mole, como a enchente duma água… Tempo é a vida da morte: imperfeição.”

“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”

“O senhor sabe o que silêncio é? É a gente mesmo, demais.”

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Guimarães Rosa
acendendo o pito na brasa do sertão
Minas Gerais, 1952
Foto por Eugênio Silva

OBSERVAÇÃO ROSEANA: Conheci, entrementes, um ator maravilhoso em cena (agora somos amigos no Facebook) que encarnou o filho em ” A terceira margem do rio: a de Dentro ” – releitura do conto de Guimarães Rosa.

Fascinada com sua voz e vez em cena. O grande Rosa aplaudiria de pé.

Aqui estão fotos da apresentação e dados de seu grupo Cia. Teatral Letras de Rosa

http://touzpin.wixsite.com/aterceiramargemdorio

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1º Vídeo: Canal LUBOR

2º  Vídeo: Canal Wilson Dias- Tema

3º Video:Canal: jonioj

GUIMARAES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

Disponível em PDF em: http://ow.ly/Bw2w301G34t

Coluna: Ipsis Litteris

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Post dedicado a esse homem TÃO DIFÍCIL DE SER VIVIDO, Guimarães Rosa. Quem poderia bebê-lo, encontrá-lo, segui-lo ? Quem conseguiria montar em seu cavalo e na garupa registrar tantas imagens e sons dos SERTÕES MINEIROS ? Quem ?

Leia também: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/08/02/na-terceira-margem-do-rio-a-de-dentro/