TEMPLOS
colônia ação
colônia produção
colônia expropriação
suor, sangue, morte
colônia servidão
ouro devassidão
terra devassidão
minas devassidão
geraes espoliação
colônia entregue
colônia lesada
pátria esfolada
pátria esfomeada
lesa-pátria
acabada
CONFESSIONAIS
I
É um ponto
é uma meta
é um rumo.
Persigo
sigo
avanço.
II
Entranhas, noites, sussurros, segredos
histórias, cumplicidades, desvãos
Um leque, uma moeda, um retrato
um terço
um meio
um décimo de vidas
um centésimo de tristezas
um milésimo de revelações.
Revelações de últimos meses, de últimos dias e horas.
Confidências insuspeitáveis.
III
Bato à porta,
que fechada, me permite contemplações
Bato à porta,
que inerte,
me permite reflexões.
Bato à porta,
que signo, me conduz a leituras internas.
Adentro o adro sagrado, profana que ainda sou.
Bato à porta.
IV
Cruzeiro de joelhos
ainda que doam e sangrem feito penitência ignorada.
Cruzeiro do madeiro bento
Cruzeiro da Senhora do Carmo
respondendo por mim
entendendo a mim
respondendo a mim.
Cruzeiro cheio de luz dos dias frios de junho.
Minas escorrendo sempre por minhas veias.
V
Luzes em penumbra
altares, sinos e santos
toalhas brancas, presépios, mistérios,
ritos de vida e de morte,
encontros domésticos, casuais, sacramentados,
flores brancas,
perfume de rosas, jasmins, camélias e cravos brancos
Silêncios sigilosos de evocações
Humanos, sagrados pecadores.
OFERECIMENTO
ESTRADA, DERRAMA, ÓDIO
Passadas largas
tropeços
Passadas curtas
tormentas
Passadas trôpegas
Medo.
Quem vem lá?
É dia
Há pedras
Há marcas
Há dores
Há gritos
Há ferros
Há fogo
Há brasas
Há mortes.
Quem vem lá?
É noite.
Há choro
Há cortes
Há súplicas
Há berros
Há arrependimentos
Há delações
Há entregas
Há torturas
Há conspirações.
Há corpos.
Há retalhos de corpos.
Há deflagração de ódio.
Para sempre.
ORAÇÃO
CONFIDÊNCIAS A MINEIROS
Nesse século dezoito, nas pedras em que vivo,
correm notícias ao pé do ouvido
são encontros secretos de vontades rebeldes
são encontros secretos de amores proibidos
percorro becos e vielas
salto calçadas em ritmo lépido
contorno esquinas
atravesso pontes
salto muros
Ali está ele
lá estão também eles.
Há luz na morada de uns
Há espera nas derramas dos outros
Tenho ouro em mim.
TESTEMUNHOS
PATAS DE CAVALOS
Há que se ter medo.
Há que se ter cuidados
Há que se ter ouvidos, olhos e mãos de entender.
Há que se confidenciar a poucos.
Há que se omitir de muitos.
A pata, a opressão, a chibata, a inaceitação.
Seguem-nos, cercam-nos, amordaçam-nos
Calam-nos, sem perdão.
São muitos.
TELHADOS, EIRAS E BEIRAS
No cume do sonho a liberdade
No alto do monte a reflexão
Saltando por bandas, perseguindo uma flama, a vez
Juntando pedras e marcas a torre de um ideário libertador
Telhados, eiras, beiras escondem presságios devastadores
O que nos esperará ao final dessa outra derrama?
PAZ
Mundo, mundo, mundo
você é muito maior que meu leito
minha mesa
minha casa
meu homem .
Não posso esquecer
a rua,
a cidade,
o país.
Meu mundo é muito maior do que uma rima.
RIBANCEIRA
o pó da covardia empalidece a história
no limiar da ação o medo ancestral
na esteira da glória a fraqueza do caráter
os compadrios coloniais
a hipocrisia social contumaz
o acordo dos cavalheiros semelhantes
tudo repete o teatro dos costumes
chicote nas mãos do capataz
vilões mascarados de mocinhos
sinhozinhos em gritos estridentes
sangue correndo pernas abaixo
dores em chagas sociais
jogos de poder desenhando hipocrisias eternas
falta coragem de formar fileiras
falta coragem de traçar rumos
falta coragem de tomar as rédeas
a ribanceira espia os declínios
a ribanceira não expia as culpas
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal: Ouro Preto e Mariana (agosto de 2017)
Vídeos:
1- Canal Orquestra Ouro Preto
2- Canal Hawk Filmes