Segredos femininos

CALADA, FICAVA A SUA AVÓ !
Ah, Doni, num vou querer viver muito mais não. Tá tudo muito diferente do meu tempo, num consigo aceitar mais nada disso. Ainda bem que daqui a pouco já vou embora mesmo – vó Natália nos anos de 1980.
Quando assisto a cenas inaceitáveis, aparece minha avó acendendo seu farol de valores e sinalizações. Talvez ainda mais fortes que os de minha mãe. (Quero fazer aqui um “anacoluto narrativo” oficial. Não considero mães seres perfeitos, sagrados etc. dos quais ninguém possa falar nada. Todas temos nossas imperfeições, pequenas crueldades, recalques, erros ao educar filhos etc. Somos seres humanos. Pra mim o resto é cegueira. Mães erram sim. E nós as amamos apesar de qualquer imperfeição).
Ouvi muitas vezes filhas de amigas, jovens de 20 e poucos anos se submetendo a procedimentos estéticos, a torturantes sessões de depilações completas, a escovas definitivas nos cabelos, também a processos de bronzeamentos naturais ou artificiais drásticos, e quando sondava delas as razões, rodavam, rodavam e chegavam a critérios alheios “todo mundo faz”, “hoje é assim”, ”nenhum homem hoje fica, namora uma mulher que não faça isso”. Sempre punha uma pimenta ou outra na argumentação, mas por considerar as mães, amigas, etc. acabava deixando por isso mesmo. Sentia pena daquela submissão ao consumo, aos padrões femininos vigentes, aos valores estéticos exigidos pelos machos, não por HOMENS.
A patrulha, e depois trincheira bélica, em relação ao controle de peso, quase nunca teve a ver com a saúde, as boas condições de bem-estar etc. mas com a obediência a leis externas a si mesmas. Quando passaram a ser questionadas sobre isso, se camuflavam naquele clichê aviltante “Quero estar bem comigo, quero ter alta autoestima, não é pra ser aceita e elogiada não, é pra mim mesma, quero entrar nas roupas que compro, mais gorda nada cai bem” etc. Sentia pena daquela submissão.
Certa vez me contaram que o namorado de uma garota de 20 anos fez observações sobre os pelinhos superficiais que ela tinha sobre os lábios, apontando-os e inquirindo-a se ela tinha consciência daquela cor mais escura sobre seus lábios. Senti pena dessa situação.
Homens sempre se sentiram atraídos pelos cheiros, odores, atrativos femininos. (Reza a lenda que o contrário também é verdadeiro). Durante anos constatei moças e mulheres disfarçando todos os seus odores (já cheguei a ler terríveis relatos de estudantes da Faculdade de Medicina da USP, publicados há uns 4 anos na mídia, nos quais futuros médicOs abominavam o ”cheiro de peixe” das mulheres e que, como ginecologistas, teriam que enfrentar). Senti muita pena desses seres humanos.
Convivi por muito tempo com mulheres QUE SE MEDEM, SE COMPARAM COM OUTRAS, sejam artistas da TV, cantoras, colegas de trabalho … sempre pela APARÊNCIA das outras. Não têm segurança daquilo que gostam, do que são, dos seus desejos e aspirações. Ao saírem às compras, por exemplo, carecem de uma amiga, de uma filha para aprovarem o que vão comprar. Nunca vão sozinhas. Necessitam se encaixar em grupos, bandos, manadas, desprezando quase sempre sua INDIVIDUALIDADE. Mulheres colorem seus cabelos insistentemente, querendo aparentar menos idade, mas as mãos as entregam – como se fossem alertas de conscientização de sua existência real. A voz também, por mais melosa que a mulher se proponha a ser, a rouquidão vem, os tons diferentes vêm … Sinto pena dessa situação.
Anos atrás, o marido de uma prima, em conversa a 3, registrou “Ainda bem que a gente namorou, casou e está junto há tantos anos, né V. Assim acompanhamos nossas perdas, deficiências, limitações etc. Porque se fosse pra arranjar outro par agora, como fulano, beltrano e sicrano ia ficar difícil’‘ e riu. Refleti sobre essa fala, visto que ambos estão na faixa dos 50 anos.
Em épocas de tanta conscientização de mulheres, direitos, reivindicações, onde estacionam essas posturas que se definem pelos outros e não por si mesmas? Contudo, sem cabotinismos, por favor. Não me venham desfilar discursos clichê, palavras de ordem e repetir comportamentos mais do que carcomidos, mas maquiados com cosméticos de ilusões!
Observo casais que jamais discutem seus relacionamentos, o sexual então, nem pensar. Há um medo incrustado nas mulheres de perderem o macho que as sustém, sem ele, serão julgadas incompetentes, mal-amadas, velhas, feias e daí pra baixo na escalada da incensada autoestima heteronormativa. Sinto pena dessa situação mascarada nas mulheres.
HOJE, as MULHERES se mantém sozinhas, criam filhos sozinhas, estudam, caminham e AINDA SE SUBMETEM a machos que se acham os bons, aqueles que as salvarão, aqueles que lhes darão a ”FELI(X)-CIDADE”? Acorda, mulher!
Amor, companheirismo, ombro amigo, colo, intimidade, tudo isso SÓ SE CONSEGUE COM CONFIANÇA. De ambas as partes.
Tenho pena de constatar que em 2021 haja homens e mulheres que se nomeiem assim, e não sejam HOMENS e MULHERES.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

O Pontilhão, o rio, a estrada

CAMINHO DE SOL
Enxergou o moreno de longe
viu o moreno mais de perto
zoom no moreno
cabeça tronco membros
mãos cheias
pulseiras
unhas curtinhas
olhar de flores céus e árvores.
caminhos
luz
brilho brilho brilho
sol sol sol
sede sede sede 

BUCOLISMO
pele poros suor cheiros
músculos sangue mato cores
calor terra poeira
signos selas trotes
garupa nuca gozo encontro
bucolismo externo
bucolismo interno
bucolismo extremo

DOIS PÉS NO CHÃO
Deu que sonhar fica pequeno
quando se tem as rotas nas mãos
acordar cedo com cheiro de orvalho
dormir cedo com pirilampos
almoçar com bem-te-vis
jantar com perfume de damas-da-noite
cear com cheiro de amor
Deu que sonhar fica pequeno
quando se tem mãos grossas nos cabelos
braços fortes nos ombros e nas costas
pele ágil e quente alisando o lirismo
Deu que sonhar fica pequeno
quando o silêncio das vozes vem
quando as bocas se abrem e fecham em lábios uns e outros
quando um fogo queima as vontades ambas
Deu que sonhar fica pequeno
quando os corpos se lançam
quando os murmúrios se entendem.

VERSOS LIVRES
No instante em que te vi
árvore
aconcheguei-me em tua sombra mansa
Depois quando te vi
rio
naveguei canoa em teu barco doce
Em seguida quando te vi
pássaro
voei na nuvem dos teus olhos negros
Quando te senti
flor
bebi teu perfume embriagador
Enquanto te sabia
pele macia
rocei meus pelos dóceis em ti
Por fim ao te saber
infante
entreguei-me
aos teus braços e abraços
para o sempre.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: Alfredo Vasconcelos, MG

Vídeos:

1- Canal erospsiquejr

2- Facebook Odonir Araujo

3- Canal Clint Eastwood – Tema

Covardias masculinas

COVARDIAS MASCULINAS

Sigo pela estrada. Apeio de meu cavalo VW e me deixo estar ali. Respiro mato, bebo rio, ouço passarinhos, reflito, olhando pelo retrovisor, sobre o que já vivi. Quantos homens covardes já conheci, onde, quando …

Os gabolas da adolescência, sempre contando vantagem entre os outros garotos sobre aquilo que tinham feito com as meninas. Riam, se apoiavam, uns diziam que iriam tentar com aquela também etc. O prazer deles se media por competições. Jamais aceitei essas conversas na minha presença. E eles sabiam e não o faziam.

Muitas manhãs, levanto antes do habitual e, na sacada, fico observando galos e galinhas que são soltos para buscarem talvez o que não encontram no galinheiro e seguem explorando, ciscando aqui, ali. Reparo em seu comportamento instintivo, territorial … na postura altiva dos galos, na submissão das galinhas, dizem que essas aves são as mais tolinhas até. Observo e reflito.

Convivi em ambientes de trabalho, na Educação, primordialmente com mulheres, mas em cursinhos pré-vestibulares, cursos técnicos lá estavam os fanfarrões da vez cometendo suas graças datadas. “Hum, de calça branca, numa sexta-feira, tá na cara que vai trair, ”Aquela dá mais que chuchu na serra”. Perto de mim, levavam as respostas. Nos anos de 1980, já os desafiava “Cara, comigo não tem essa de ajoelhar e não rezar. E não vem com essa de encontro de coelho no mato, fast food não. Tem que saber rezar”. Riam e diziam que estavam brincando etc. Nunca admiti conversa safada sobre outras mulheres na minha frente.

Sabe aquelas ”cantadas de pedreiro” na frente da obra, detestei sempre. Embora saiba que são atraentes a um grupo de mulheres, ficava imaginando quem eram aqueles homens em momentos íntimos, como agiam … Claro que eram simplistas, instintivos e não elaboravam nada daquilo, acreditando estar coroando o feminino, dando cartaz a elas, mostrando que os atraíam etc. Ao contrário, as desrespeitavam, levavam em conta apenas o seu prazer, acompanhando até o torcer de pescoços as bundas femininas, pois aquilo os seduzia, os inclinava ao seu prazer único, muitas vezes solitário até. Mulher-motivação. Quanto arcaísmo!

Em escolas, na hora das reivindicações salariais, por direitos, por mudanças, eram os homens os mais lisos, cabotinos, covardes. Falavam muito era por trás, nas reuniões calavam-se. Depois vinham se explicar sobre por que não haviam se posicionado abertamente etc. e que estavam conosco naquela luta … Tinha dó daqueles trapos de homens. De alguns deles tinha ciência estarem em casamentos falidos, vivendo casinhos extraconjugais e de outros até com uma segunda família conjugal. Quanta covardia para assumir o que sentiam, se posicionar. Às vezes ficava me perguntando se aquela plateia da adolescência, se os conselhos familiares de que homens podem tudo, que não devem se mostrar frágeis, afetivos, entregues não teria responsabilidade nisso tudo.

Tive amigos gays que sempre foram muito porosos a dores humanas, ombro amigo, sentindo tudo junto – e não só dores de amores, mas as de classe, as de família etc. Eram muito corajosos. Dois deles foram meus amigos em momentos cruciais de minha existência até. Não os esqueço nunca. Jamais quis saber se eram ou não eram gays. Eram os meus amigos fiéis.

Por outro lado, cheguei a conhecer homens fruto de uma educação machista por excelência que passaram a odiar – mais que eu – os meus ex-amados. Parecia uma coisa de ciúme do “meu ex” e não de ombro amigo a mim. A todo momento os depreciavam, ridicularizavam, os diminuíam, coisa que nem eu fazia. Entendia, olhando pelo retrovisor, que tinham identidade de gênero feminino. Jamais aceitariam isso, jamais pensariam isso, jamais elaborariam assim. Eram enrustidos em si mesmos, preferindo acreditar que sentiam ciúmes de mulheres e, assim, confirmando a si mesmos a sua masculinidade. Bastante covardes, portanto.

Mas fato é que crescemos, amadurecemos e nos transformamos. Alguns necessitam de terapias de apoio para reverem suas trajetórias. Álcool e drogas não ajudam. Ao contrário, deprimem, maltratam, iludem.

Procurei educar meu filho Pedro de forma bastante diferente daquilo que presenciei durante a minha vida. Namoradas o elogiam. Fico feliz com ele.

“Ah, bruta flor do querer, bruta flor!”

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: BR 040

Vídeos:

1- Canal Caetano Veloso

2- Canal BABYLON 2002

A flor e o amor

CUPIDO

Ah, me atinja Cupido,
que tenho pouco tempo
para enamorar-me
para sentir um rosto colado ao meu
uma boca premida a minha
uns braços enlaçados em mim
um cheiro de amor
querendo espraiar-se.

Corra, Cupido,
estou do outro lado da ponte,
que liga e não separa.

Vem, Cupido.

(junho de 2016)

A FLOR ENCARNADA
(Adriana Calcanhoto)

Esmagou-me a flor
Eu e meus buquês
Eu e meus porquês
A ecoar no vão
Retirou-se o chão
Debaixo dos meus passos lentos
Por caminhos tortos
Norte a contra-apelo
Afogada num sertão de lágrimas
Que inundei pra nada
Afogada no deserto dessa sala
A flor encarnada
O amor não gosta mais de mim
Nunca mais vi seu clarão
Serviu pra me trazer aqui
A esse canto sem função
A estrada desapareceu
Restei o que sobreviveu
Agora é só eu e meus breus
Só eus.

OBSERVAÇÃO: Tenho agendado minhas postagens para os fins de noite porque sei que alguns leitores são de África e da Europa. Boas leituras. E não deixem de ver e de ouvir também os vídeos. Escolho-os com critério e vagar, sempre.

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Biscoito Fino

Provas de amor

Há muitas concepções sobre como se PROVAR O AMOR. Há quem necessite de serenatas, de poemas feitos para os e as amadas, comprovações de entrega, de doação, de abdicação, manifestações de ações loucas, de submissões, de contratos de não exclusividade, de contentamento com pouco, de tantas outras ações e demonstrações! Ariano Suassuna fala de seu amor por Zélia, em gravações de épocas diferentes. Imagino como Zélia se sentia ao ouvir tudo isso. Encantador mesmo.

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Território Conhecimento

Calendário

DORA
Ô, Dora
dor na hora
Dora
dóros, presente de grego
Dora
adora a hora
Dora
musa-ninfa
Dora
cor-calor-poesia
Dora
perfume-sabor
Dora
pele-músculos de flor
Dora
mora na nuvem
Dora
agora chora
Dora
seduz por fora
Dora
enfeitiça por dentro
Dora
mexe em corações e braços
Dora
aquece espíritos em sol maior
Dora
presente de gregos
Dora
por hora chora e ora
Dora, dóros
Doras

OLHOS DE TIGRE

Bagunçou tudo. Revirou suas gavetas. Falou alto com decisão. Falou baixinho em seu ouvido. Entregou-lhe prosa e perfume do novo, de novo. Entornou seu vinho. Sujou a toalha da mesa. Adorou a lasanha. Entrou com pés sujos. Trocou a música da vitrola. Dançou rock. Atirou cabelos molhados de louro e cinza, bem no meio do quarto. Falou verdades e mentiras com a mesma graça. Dourou o amanhecer. Enluarou as noites e as madrugadas. Citou e discutiu Nietzsche com sedução. Cantou em inglês. Ensinou Pink Floyd em carne e osso. Sabotou seus fracassos. Ludibriou suas certezas. Pintou seus olhos de gatinho. Passou-lhe o batom vermelho- madrugada. Cortou seus cabelos à máquina zero. Salgou-lhe língua, mamilos, umbigo e ardores. Caminhou de mansinho para não acordar o amor dormindo ali. Acordou o amor dormindo ali com mordidas de mel. Sapateou seus medos com afagos, toques, começos e fins. Escreveu frases de mel e fel no papel. Caminhou cedo, correu ao meio-dia, caminhou às tardes na autoestrada, abriu o portão ao anoitecer. Esteve sempre presente na terra, no fogo, na água e no ar. Foi nuvem que desceu naquela barraca de camping. Dançou o tango de sua pátria em sua pátria. Falou em castelhano em seu ouvido bêbado de paixão. Caminhou de mãos dadas provocando inveja em olhares azedos. Ensinou o desafio, a raiva, o grito, a pressa, o alívio. Foi gaivota, canário, sabiá. Leu seu corpo em todas as línguas. Escreveu em inglês, de propósito, para provocar leitura em suas línguas todas. Riu, riu muito, gargalhou alegrias e riscos de vida e de morte em um só gozo. Homem, escorregou suores dos pés à cabeça. Menino, inverteu a vida até seu último minuto.

Zé, homem-menino, eternamente nas nuvens. Morto ou vivo, assim.

DAS DORES

Das Dores
pinga dores lágrimas e lamentos.
Das Dores
verte sangue pus fedores.

Das Dores
amarga manhãs tardes noites
na clausura de subidas e descidas
em companhia solene de anjos, serafins e querubins.

Das Dores
entrega sua lira aos deuses
na esperança de que pousem em sua janela,
devolvendo-lhe luz, cor e o perfume dos dias.

Texto e poesias: Odonir Oliveira

Imagem da Internet

Vídeos: Canal Instituto Piano Brasileiro

As sortes

Os Nadies (Os ninguém)
Eduardo Galeano

As pulgas sonham em comprar um cachorro
e sonham os ninguém em sair de pobres,
que algum dia mágico
Chova de repente a sorte,
Que chova a cântaros a boa sorte;
mas boa sorte não chove ontem, nem hoje,
nem amanhã, nem nunca,
nem na garoa cai do céu a boa sorte,
por mais que os ninguém lhe chamem
e mesmo que lhes pique a mão esquerda,
ou levantem-se com o pé direito,
ou comece o ano mudando de vassoura.
Os ninguém: os filhos de ninguém,
Os donos de nada
.
Os nadies: os ninguém, os ninguém,
Correndo a lebre, morrendo a vida, foda-se,
rejodidos:
Que não são, mesmo que sejam.
Que não falam línguas, mas dialetos.
Que não professam religiões,
mas superstições.
Que não fazem arte, mas sim artesanato.
Que não praticam cultura, mas folclore.
Que não são seres humanos,
e sim recursos humanos.
Eles não têm rosto, mas braços.
Eles não têm nome, mas número.
Que não figuram na história universal,
mas sim na crônica vermelha da imprensa local.
Os ninguém,
que custam menos
que a bala que os mata.

‘AUTOBIOGRAFIA COMPLETÍSSIMA’
Eduardo Galeano (1940/2015)
“Nasci no dia 3 de setembro de 1940, enquanto Hitler devorava meia Europa e o mundo não esperava nada de bom. Desde muito pequeno, tive uma grande facilidade para cometer erros. De tanto errar, terminei demonstrando que ia deixar uma profunda marca da minha passagem pelo mundo. Com a sã intenção de aprofundá-la, tornei-me escritor, ou tentei sê-lo. Meus trabalhos de maior sucesso são três artigos que circulam com meu nome na Internet. Na rua as pessoas me param, para me parabenizar, e cada vez que isso acontece começo a desfolhar a margarida: – Me mato, não me mato, me mato… Nenhum desses artigos foi escrito por mim”.
In: O caçador de histórias.

Soneto Infeliz
Eduardo Hindi

Favela, comunidade miserável, campo de extermínio.
O frio sentimento, a farda, o fuzil, apertam o gatilho,
Sai a bala feroz, em busca de sangue e morticínio.
Entre gritos e dor, outra mãe negra perde seu filho.

A estatística da morte engole mais uma criança.
Ágathas e Kauans e Jeniffers e Victors e Kauês.
Alvos negros, inocentes vítimas de cruel matança,
Futuros abreviados, condenados pela cor da tez.

A aristocracia canalha, de interesses rasteiros,
Cobre de vergonha e infamidade aos brasileiros
Ao proclamar, ímpia: pobre bom é pobre morto.

Nunca imaginei que viveria período tão nefasto
Deus miserável e filicida, não é pai, é padrasto.
Se soubesse, não teria nascido, seria um aborto.

Eduardo Hindi é meu amigo desde os tempos de USP. Hoje geólogo e professor da UFPR.

E porque os dias andam tristes demais, as minhas bananeiras resolveram pinçar uma lua cheia pra mim.

Leia mais sobre Galeano: “Eduardo Galeano, o eterno caçados de histórias” – evhttps://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/13/cultura/1460558448_983667.html

Imagens retiradas da Internet

Fotos do meu quintal

Vídeo: Canal SDV II

Em tempos de São João, éramos meninos

Nas noites de lua cheia, nos invernos de minha meninice no Rio, em Xerém, ah era tudo lindo mesmo !

BAGAGEM COLORIDA
Anos, décadas
Ruas, cidades, países
Cada dia me lembrou um
Outra vez uma frase, um fato e até uma canção me lembrou outro.
Na bagagem colorida
um calor de fogueira na face
um painel brilhante de sorridentes expressões de rostos
um facho de luz de passeios de bicicleta, idas ao cinema,
um cofre repleto de bailes e de festas dançantes em domingueiras caseiras.
Nada, nunca foi esquecido.
Carrego comigo minha bagagem colorida
Nela vêm um pedacinho de vestido, uma capa de LP, uma foto
até mesmo páginas de um caderno de recordações.
Bagagem colorida que não se descolore jamais.
Padroeiro da nossa terra, pastor de nossas infâncias
não houve espaço, tempo ou experiência que superasse os invernos de mim.

SÃO JOÃO SINFÔNICO DA OSBA | ESPECIAL QUARENTENA PROGRAMA/FICHA TÉCNICA

1.Esperando na Janela (Targino Gondim/Manuca Almeida/Raimundinho Do Acordeon) Arranjo: Marcelo Caldi Paródia: Edu Krieger Cantor: Gilberto Gil Músicos: Priscila Rato e Francisco Roa (violinos), Serghei Iurcik (viola), Ygor Ghensev (violoncelo), Gabriel Couto (contrabaixo), Andrea Bandeira (flauta), Carlos Prazeres (oboé), Pedro Robatto (clarineta), Jean Marques (fagote), Dayanderson Dantas (trompa), Joatan Nascimento (trompete), Marcelo Caldi (sanfona), Gilberto Santiago (zabumba) e Humberto Monteiro (triângulo).

2.O sertão melhorou tanto que nem parece o sertão Bule Bule

3. Lamento Sertanejo (Dominguinhos/Gilberto Gil) Arranjo: Jean Marques Músicos: Dayanderson Dantas, Davi Brito e Adelson Lemos (trompas), Joatan Nascimento e Emerson Souza (trompetes), Michele Girardi e Hélio Góes (trombones) e Renato Pinto (tuba)

4. Gostoso Demais (Dominguinhos/Nando Cordel) Arranjo: Marcelo Caldi Cantora: Mariana Aydar Músicos: Priscila Rato, Karina Petri, Eduardo Salazar, André Silva, Jonas De Souza, Ivan Quintana, Helena Ibarra, Lírida Lima (violinos), Serghei Iurcik, Thiago Neres, e Paco Garcés (violas), Luiz Daniel Sales, Maurício Kowalski (violoncelos), Gabriel Couto (contrabaixo), Andrea Bandeira (flauta), Marcelo Caldi (sanfona), Gilberto Santiago (zabumba) e Humberto Monteiro (triângulo).

5. Sabiá (Luiz Gonzaga/Zé Dantas) Arranjo: Marcelo Caldi Cantor: Geraldo Azevedo Músicos: Francisco Roa, Jonas de Souza, Rogério Laborda, Filipe Vital, José Fernandes, Lucas Ávila, Arthur Lauton e João Campos (violinos), Laura Jordão, Laís Guimarães, Ícaro Smetak (violas), Ítalo Nogueira e Tatiana Crilova (violoncelos), Gabriel Couto (contrabaixo), André Becker (flauta), Marcelo Caldi (sanfona), Gilberto Santiago (zabumba) e Humberto Monteiro (triângulo).

6. Coco pra São João Beija Flor – Adaptação (Versos Improvisados) Bule Bule

7. Noites Brasileiras (Luiz Gonzaga/Zé Dantas) Arranjo: Marcelo Caldi Cantor: João Cavalcanti Músicos: Priscila Rato e Dâmaris dos Santos (violinos), Serghei Iurcik (viola), Guilherme Venturato (violoncelo), Gabriel Couto (contrabaixo), André Becker (flauta), Gustavo Leal (oboé), Pedro Robatto (clarineta), Jean Marques (fagote), Dayanderson Dantas (trompa), Joatan Nascimento (trompete), Marcelo Caldi (sanfona), Gilberto Santiago (zabumba) e Humberto Monteiro (triângulo).

8. O Brasil ainda chora a morte de Gonzagão Bule-Bule

9.Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) Arranjo: Marcelo Caldi Participação: Público da OSBA Músicos: Priscila Rato, André Silva, Eduardo Salazar, Mario Soares, José Fernandes, Mario Gonçalves, Helena Ibarra, Lucas Ávila (violinos), Serghei Iurcik, Laura Jordão, Ícaro Smetak (violas), Thomaz Rodrigues, Tatiana Crilova (violoncelos), Gabriel Couto (contrabaixo), Antonio Carlos Portela (flauta), Marcelo Caldi (sanfona), Gilberto Santiago (zabumba) e Humberto Monteiro (triângulo).

Intervenções de repente e cordel: Bule Bule Coordenação de gravação e edição de vídeos: Ivan Quintana e Hélio Góes Mixagem e Masterização de áudio: Tupynambá (Vavá Furquim e Beto Santana)

Última festa de São João, em Xerém, em 2018

Leia aqui no blog: “São João baiano”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/23/sao-joao-baiano/ “Santo Antonio, pastor da minha infância” –https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/12/santo-antonio-pastor-da-minha-infancia/

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal OSBA – Orquestra Sinfônica da Bahia

Flores sempre

FLORES NO OUTONO DE MIM
Volto de ter com elas.
De mãos sujas de terra e verde,
trago-as em fotos,
como se fossem bebês
Revelo suas poses
frente, perfil, sozinhas, acompanhadas,
instantâneos de meu jardim,
rosas
azaleias
primaveras
palmeiras fênix
coroas de cristo …
Quão difícil é poemizar com flores
porque muito mais belas são elas
que meus versos frouxos e pálidos
a lhes prestar quaisquer favores.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Odonir Oliveira