Os povos

Os povos

Na beira do mundo
Portão de ferro, aldeia morta, multidão
Meu povo, meu povo
Não quis saber do que é novo, nunca mais
Eh, minha cidade
Aldeia morta, anel de ouro, meu amor
Na beira da vida
A gente torna a se encontrar só

Casa iluminada
Portão de ferro, cadeado, coração
E eu reconquistado
Vou passeando, passeando e morrer
Perto de seus olhos
Anel de ouro, aniversário, meu amor
Em minha cidade
A gente aprende a viver só

Ah, um dia, qualquer dia de calor
É sempre mais um dia de lembrar
A cordilheira de sonhos que a noite apagou

Eh, minha cidade
Portão de ouro, aldeia morta, solidão
Meu povo, meu povo
Aldeia morta, cadeado, coração
E eu reconquistado
Vou caminhando, caminhando e morrer
Dentro de seus braços
A gente aprende a morrer só
Meu povo, meu povo
Pela cidade a viver só

Compositores: Marcio Hilton Fragos Borges / Milton Silva Campos Nascimento

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal anindya8q

Fantasia

FANTASIA é aquilo que as crianças têm que viver, seja conversando com bonecas, brinquedos, animais, flores. FANTASIA é alicerce para desejos, sonhos, projetos, caminhos. Pais e professores, independentemente das épocas em que vivem, devem favorecer o sonho, a imaginação, posto que estarão semeando a criatividade, a inovação, o prazer e o valor estético nas crianças. Crianças são sempre crianças, podem acreditar.

Esse vídeo do Grupo Ponto de Partida, lançado hoje, propõe excelentes trabalhos com a imaginação das crianças. Basta semear, fazer a mediação daquilo que elas estão vendo e ouvindo. O que será que cada uma delas veria pelo buraco de uma fechadura, por exemplo. Contar, desenhar, cantar, narrar, ufa, tanta coisa bacana.

FORMIGUEIROS

aprendi com as formigas
lições diversas
tive vontade de exterminá-las
devoraram todas as folhas das roseiras
mas deixaram as rosinhas
ao observar seu caminhar
tive ímpetos de matar uma a uma
cheia de ódio e selvageria
belezas suaves e ingênuas
destruídas por ferrões
entristeci-me de fato
dei tudo por perdido
ao léu, deitei meu projeto cor-de-rosa
desesperançada com canteiros
deitei sonhos ao chão
outros tempos
outros ventos
outras chuvas
outros alentos
novas folhas
novas flores
aprendi com as formigas
lições diversas

AVARANDADO
A taça de Dioniso me impele.
Não estou aqui.
Vou. Vou. Vou.
Olho, olho, olho.
Sinto, sinto, sinto.
Não tiro poesias das coisas.
Amo as coisas e elas tornam-se poesia.
Amo formigas e formigueiros, imagine.
Amo casas e telhados coloniais.
Amo cães e flores de todas as variedades.
Amo cachoeiras, rios, cascatas e chuva.
Amo sol, lua e estrelas.
Amo trens e estações vazias.
Amo música sem palavras e silêncio.
Amo risos de crianças e perfumes de amor.
Talvez por isso seja tão confessional e comum o que escrevo
porque as coisas sobre as quais versejo
estão prosaicamente aqui, ali, em qualquer lugar.
Não tiro poesia das coisas.
Amo as coisas e elas tornam-se poesia.

Aqui no blog: Trabalhos realizados com alunoshttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trabalhos-realizados-com-alunos/

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal GrupoPontodePartida

“Meninos, eu vi…”- IV

Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”

(I-Juca Pirama, Gonçalves Dias)

VIRNA, A ADVOGADA CARIOCA
Desde que a mãe de Virna, ainda bem jovem, assistira no cinema A Rainha Margot, decidira que sua primeira filha se chamaria Virna, como a Virna Lisi, na personagem Catarina de Médici, do filme.
Virna crescera em Copacabana. Filha de um engenheiro e de uma advogada, que bem novinha engravidara e tivera Virna. Já a mocinha era cria das areias de Copa, frequentara os melhores colégios da zona sul, fazia inglês no IBEU, teatro no Tablado e resolveu que seria advogada, talvez atriz de teatro também. No momento certo escolheria. Optou por estudar Direito e se especializou em Vara de Família. Talvez por isso mesmo, sempre se esquivasse do casamento. Homem ali no seu apartamento, nem para comemorações. Namorava, mas gostava de estar só com suas manias e suas predileções.
Os anos se passaram e as filhas de suas primas, em Ouro Preto, a convidaram para umas palestras na Semana da Filosofia por lá. Indecisa, a princípio, acabou aceitando. Algo a seduzira por lá. Talvez as montanhas, talvez… não sabia dizer.
No ano seguinte, deixou a sua Copacabana e foi morar em Ouro Preto. Com quase 60 anos, independente, sem marido, nem filhos, conheceu ali um grupo de poetas, artistas plásticos, gente que gostava de chorinho, de samba… e um moreno jambo que não era da cidade, mas passou a fazer-lhe a corte (para adequar a linguagem aos tempos do ouro). Parecia tão interessado nela…mas Virna, traquejada, logo entendeu que aquilo era fogo de palha do donjuan mineiro. As filhas das primas a estimulavam a aceitar aquele poeta bissexto, afinal ela não tinha homem nenhum etc. Tolinhas – pensava Virna – nada conhecem do mundo. Basta que eu o procure, queira saber mais dele ou que declare meu interesse, que sumirá do mapa. Isso se não fizer coisa pior. As moças não acreditavam.
Virna não queria sofrer o que por vezes já havia sofrido no Rio, portanto, fez com elas o teste. Sabia no que iria dar.
Não sabia. Foi pior, bateu o telefone, ofendeu-a publicamente, jamais quis ouvir qualquer explicação. Mudou do estado sólido, para pastoso e por fim líquido.
Virna, em toda a sua existência no Rio, jamais fora tão humilhada, comparada, desqualificada como o fora por aquele mineiro. De repente, um poeta sensível e doce, vestiu o escudo do aço de suas entranhas. Triste e exemplar para as filhas das primas. Virna, sem querer ser cabalística, foi fatal. E por fim, sofreu muito, porque não há MULHER que suporte ser humilhada, desqualificada, destruída por um homem.
Virna sempre assiste de novo, e de novo A Rainha Margot.

Leia também: “Meninos, eu vi…”-I – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/09/20/meninos-eu-vi -“Meninos, eu vi…”-IIhttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/09/22/meninos-eu-vi-ii/- “Meninos, eu vi…”-III- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/09/25/meninos-eu-vi-iii/

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Andrew Bergamo

Ô, trem, sô!

COMPANHEIROS DE VIAGEM
Nos dias de lúgubre cenário, há sempre quem nos faça companhia.
Há rostos, mãos, vozes, risos e ouvidos a nos velar as falas.
No banco, ao lado, na entrada, na saída, no percurso,
há sempre alguém sentado anonimamente.
Como querubins e serafins, colorem de humanidade nosso trajeto
São asas farfalhantes e desconhecidas que nos impulsionam ao desembarque.
Trocam-se confidências, revelam-se segredos, pedem-se conselhos
Depois, cada um desce do trem na estação pretendida
E a viagem continua.
Há sempre um companheiro na nossa viagem.

Há uma categoria especial aqui no blog: Trenshttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trens/

Poesia: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Far Out Recordings

“Meninos, eu vi…”- III

Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”

(I-Juca Pirama, Gonçalves Dias)

DEMOCRACIA

Bandeiras flamulando

Gente nas ruas

Papeis picados, santinhos, faixas

Músicas pelas ruas.

Votar pela primeira vez.

Participar da Nação

Encontrar caminhos, buscar soluções, acreditar nas mudanças.

Votar pela primeira vez.

Voto do rico igual ao do pobre

Ilusão de justiça

Ilusão de solidariedade

Ilusão de igualdade.

Por quê?

Leia também: “Meninos, eu vi…”- I- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/09/20/meninos-eu-vi-i/- “Meninos, eu vi…”II –https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/09/22/meninos-eu-vi-ii/

Poesia: Odonir Oliveira

Vídeo: Canal joanukgarcia

Gente do bem

MÉDICO DA ROÇA

Aí, no meio da consulta, alguém chama o médico de família, que sai da sala, vai atender e volta com um queijo artesanal.

-Estou parecendo médico da roça, cada dia ganho uma coisa. Essa semana já é o 5º queijo. Leva pra você.

-Não, você ganhou, Mauro, é seu.

-Nada, nem damos conta em casa de tanta coisa que eu ganho aqui no Posto.

-Hahaha

Meu amigo, “médico cubano”, – como ele mesmo diz – “sou internacionalmente conhecido aqui no bairro”.

Desde 2014, sempre percebi nele uma humanidade e tanto. Meu amigo jornalista de São Paulo, autor, até lhe escreveu uma dedicatória linda, valorizando o ofício do médico de família, porque lhe contei em 2015 como exercia sua profissão de forma íntegra, dedicada, humana.

Como nunca tive Planos de Saúde, desfrutei sempre das condições do SUS, aqui, ali, acolá, e encontrar um profissional tão consciente como meu amigo Mauro, me trouxe – e traz – muita segurança. Nossa comunicação se dá por e-mail e, se necessário, compareço à UBS, pertinho de casa. Sempre medica com precisão e faz visitas domiciliares (como quando fraturei as 5 costelas), ou me orienta sobre sintomas, exames, precauções e indicações. Seus filhos também seguiram na área médica e sabem a importância de acolher e de tratar bem quem deles precisa.

Gente do bem.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Odonir Oliveira