CRONOS CRUEL
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo- Marcelo Lehninger regente
Canal: jorge coli
HOJE
Foto do CALENDÁRIO FLORAL, Poços de Caldas, MG
CLEPSIDRA
RELÓGIO ANACRÔNICO
Fotos de camélias do RECANTO JAPONÊS, em Poços de Caldas, MG, maio de 2016.
INVERNOS
CHEGANDO AO FIM
PROFUNDAMENTE
Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto extraído do livro “Antologia Poética – Manuel Bandeira“, Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pag. 81.
Post dedicado ao prazer de ver, de sentir, de motivar-se e de amar.
Gorjeio de passarinho
GORJEIOS
Manoel de Barros
Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se
inclui a sedução.
É quando a pássara está namorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.
Manoel de Barros, em “Ensaios Fotográficos”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
ONTEM AO LUAR
Ontem ao luar, nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste
O que era a dor de uma paixão
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas fitando o azul
Do azul do céu a lua azul
Eu te mostrei, mostrando a ti os olhos meus
Correr sem ti uma nívea lágrima
E assim te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima dos olhos a sofrer
A dor da paixão, não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mister sofrer, para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta ao luar, do mar a canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão?
Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte à beira-mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
Ouve o silêncio
A falar na solidão
De um calado coração
A penar a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente universal
E a dor maior
Que é a dor de Deus
Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Por que ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar desesperação
A teimar de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará.
(Composição de Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense)
GORJEIO DE MITOS
Carlos Quevedo- New Artwork: PONTIFEX
GORJEIO DE BOCA
AS AVES QUE AQUI GORJEIAM
(Envio da prima Angélica que todas as tardes recebe a visita dos mais de 300 passarinhos para lanchar em seu quintal).
Post dedicado aos poetas e cancionistas brasileiros que conseguem expressar mais do que apenas seus sentimentos particulares, mas também os de todos tornando-se, assim, “universais”.
Poesias: Odonir Oliveira
Vídeos:
1- Canal Mundo dos Poemas
2- Canal Observatório Natural
3- Canal Leonardo Thurler
4- Canal antuycuyen
5- Canal Odonir Oliveira
Lendo mãos que sentem
CERTAS MÃOS
LINHAS DAS MÃOS
MÃOS ENTRELAÇADAS
MÃOS QUE TATEIAM
MÃOS DO DESTINO
Dedicatória: Post dedicado ao encanto que certas pessoas provocam em outras tantas.
Correspondências de amor
TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21/10/1935
OLHARES
ENCONTROS
CORRESPONDÊNCIAS
SAUDADES INTERNAS
CARTAS DE AMOR EXPLÍCITO
CAIXA DE CARTAS
Post dedicado àqueles que ainda conseguem amar, sofrer e alegrar-se com um sentimento chamado AMOR.
Poesias: Odonir Oliveira
Imagens retiradas da Internet
Telas:
- A saudade, Almeida Júnior (1899)
- Arrufos, Belmiro de Almeida (1887)
Clubinho da leitura, viver é sonhar
O Clubinho da Leitura “Plácido José de Oliveira”, em Barbacena, pinta dias cinzentos com muitas cores. Encanta com cantos de vozes ternas e tenras o espaço inóspito de nosso cotidiano. Encena, com gestos e passos angelicais, as mais belas histórias de vida recriadas com varinha de condão.
SONHOS
JOGRAL DE POESIAS – NOSSA LEITURA MELHOROU MUUUUITO
LEITURA DE POESIAS COM FUNDO MUSICAL DE VIOLÃO- AGORA EU. AGORA VOCÊ
VAMOS CANTAR E TOCAR OS INSTRUMENTOS QUE TEMOS – AGORA EU.
DEPOIS TROCA.
AQUARELANDO NOSSAS HISTÓRIAS – NOVIDADES COLORIDAS
NARRATIVA ORAL SEM APRESENTAÇÃO DE ILUSTRAÇÕES- IMAGINAR FAZ VOAR
A PROMESSA DO GIRINO
Quero contar uma história
Que é muito emocionante
Um Girino bem pretinho
E uma Lagarta falante.
Eles se apaixonaram.
Vejam só que interessante.
[…]
CONTAÇÃO DA HISTÓRIA
ESCOLHA LIVRE DAS PERSONAGENS- DRAMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA
A Lagarta apaixonada
Falou ao seu grande amor:
– Nunca mudes, viu querido
Eu te peço, por favor
– Eu prometo, disse ele
Mas com o coração de dor
Novamente se encontraram
Muito havia já mudado
Dois bracinhos no Girino
Por ela já notados
– Eu não queria esses braços-
disse ele magoado.
Por três vezes a lagarta
Perdoou o seu amado
Mas sua pérola negra
Já tinha muito mudado
A Lagarta então foi embora
Com o coração despedaçado
E até hoje o pobre sapo
Tá na lagoa a esperar
Que o seu lindo Arco-Íris
Volte a lhe procurar
Mal sabe o pobrezinho
Que ela foi o seu jantar
VAMOS FAZER MÚSICA, Odonir ?
Lagarta, girino, borboleta e sapo, todos cantaram e dançaram alegremente.
FILOSOFANDO
Eu pergunto: Mas por que não deu certo o Amor deles, se vocês mesmos me disseram que eles estavam apaixonados?
João Vítor esclarece: Porque ele não podia mentir pra ela que não iria mudar. Aí ela não gostou, né.
Ana Clara complementa: Mas ela também virou borboleta, ela também mudou.
Pergunto de novo: Por que eles não falaram que poderiam mudar, então?
Responde Rafael: Acho que o girino quis agradar a lagarta e não contou porque estava apaixonado por ela.
Responde Gustavo: Porque nem eles sabiam que eles iam mudar, né, Odonir.
SABEDORIA INFANTIL NOTA DEZ- concluo.
Post dedicado à Heloísa Cerri Ramos, uma professora de Português pra se admirar sempre. Colega de talento e dedicação enormes a seu ofício, muito me ensinou pelos ramais e caminhos da profissão. E que diz ser fã do Clubinho.
Texto e poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Roberto em meus amores
Roberto Carlos atravessa décadas da música popular brasileira. Com isso torna as suas canções nossas companheiras de vida, como os vizinhos que sempre nos conheceram.
Conversando com amigos por esses dias, cada um relatou que muitas músicas cantadas por ele perpassaram suas vidas de forma inesquecível.
Alguém me disse, recentemente, que era “ignorante” para entender poesias. E as músicas de R. Carlos? Ah, delas eu gosto.
Roberto é assim, popular, simples, direto aos sentimentos, semelhante a qualquer um, naquilo que canta. Dessa forma, muita gente se identifica com suas canções.
Há quem lhe cobre posicionamentos políticos, sociais, entre outros. Seguramente os possui, mas não deseja expressá-los por motivos que só ele conhece. Como muita gente também o faz. Até nisso ele é bastante comum: um homem comum.
Com influência de compositores da velha guarda carioca com seus boleros, sambas e canções de amor, Roberto Carlos deu fluidez aos seus estados emocionais como ninguém o fez, e por tanto tempo, em nosso cancioneiro.
Jovens o rejeitam, acham-no sentimental demais, nada contemporâneo. Suspeito que quem ama, de verdade, sofre, sente dor, insegurança, ciúme, sufoca mágoas, perdoa, esquece e depois tudo isso de novo etc. etc. Por isso, Roberto Carlos cala fundo nosso coração.
Quem me conhece sabe que sempre gostei demais das canções de Roberto Carlos.
ANINHADA NO COLO DE ROBERTO
SORRISO DE ESTRELA
AFIRMAÇÕES
DOSES DE LIRISMO
PALAVRAS DE TUDO
MERGULHO
ÀS ESTRELAS, OS PORQUÊS
CONVERSA COM ESTRELAS
HOMEM NU
DESEJOS DE LOUCOS
Post dedicado ao Kaká, ao Ri, à Marta, à Iana, ao Dinho, irmãos de fé há décadas, hoje morando em Brasília.
Sobre Roberto Carlos, leia aqui no blog: ‘‘Roberto & Roberto”
Poesias: Odonir Oliveira
Coração em pedaços
CORAÇÃO ESPATIFADO
BANCO DE DADOS
CHÃO DE BARRO
DEMOCRACIA
COM LICENÇA POÉTICA
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Post dedicado à primeira mulher que ocupou a Presidência da República no Brasil: DILMA ROUSSEF
Trilhos, trilhas, trens
RETROVISOR
PAISAGEM
BRASÃO
O PASSAGEIRO
ESCOLHAS
BILHETERIAS
COMPANHEIROS DE VIAGEM
TRILHOS
DEDICATÓRIA
Dedico esse post aos ferroviários: muitos morreram sem ver a malha ferroviária reativada no Brasil; muitos dedicaram-se por décadas ao trabalho com trens e ainda aos amantes de trens que preservam a história ferroviária em nosso país, através de museus, exposições e viagens em pequenos percursos, como a ABPF, Associação Brasileira de Preservação Ferroviária.
Mãe, ” braba feito onça ” !
Sou um tantinho avessa a datas comemorativas, comercialmente estabelecidas. Entretanto, celebrar é comigo.
Gosto de celebrar nascimentos, amizades, aniversários, inaugurações e inícios especiais.
O Dia das Mães é uma dessas datas que gosto de celebrar, até muito antes de me tornar mãe.
Sempre quis ser mãe. Mãe de filho homem, inclusive. Nunca compartilhei de certas maneirices femininas com as quais convivia. Depois mudei meu ponto de vista e amo minha filha primeira e meu filho depois.
A vida me ensinou que a gente vai parindo filhos a vida inteira: os de sangue, os adotivos, os alunos, os amiguinhos, os sobrinhos, os netos … É um parir constante que implica CUIDAR, ACONCHEGAR, COMPREENDER, DOAR-SE, ACOLHER, AMAR.
Compreendo que haja mulheres que prefiram não ser mães. Entretanto, ficarão sem partilhar o DIVINO PRAZER DA MATERNIDADE. É um caminho na aprendizagem de se ser mais HUMANO.
Há mulheres que não tendo filhos seus de útero adotam outros. Há mulheres que além dos seus de útero adotam mais outros. Portanto, entendo, depois de décadas de vida, que …
É MUITO BOM SER MÃE.
(Imagem de tela do pintor italiano Pino Daeni retirada da internet)
FILHOS DA MÃE
(Imagem de tela do pintor italiano Pino Daeni retirada da internet)
MÃE, EU SOU VOCÊ ?
GAROTO DAS MEIAS VERMELHAS
Carlos Heitor Cony
Ele era um garoto triste. Procurava estudar muito.
Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa.
Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas.
Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só usava meias vermelhas.
Ele falou, com simplicidade:
“no ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo”.
Colocou em mim essas meias vermelhas.
Eu reclamei. Comecei a chorar.
Disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas.
Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas.
Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino
de meias vermelhas, saberia que o filho era dela.”
“Ora”, disseram os garotos. “mas você não está num circo.
Por que não tira essas meias vermelhas e as joga fora?”
O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés,
talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou:
” É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora”.
Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas.
“Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja,
ela vai me encontrar e me levará com ela.”
The Essences by Carlos-Quevedo on DeviantArt
Para Sempre
Carlos Drummond de Andrade
Por que Deus permite
que as Mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba.
Veludo escondido
na pele enrugada,
Água pura, ar puro,
Puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígios.
Mãe, na sua graça,
é Eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca!
Mãe ficará sempre
junto de seu filho!
E ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Poemas: Odonir Oliveira
Dedico esse post à minha mãe Itália, às minhas avós Natália e Jovercina Inácia, a meus filhos, em especial, por terem me tornado mãe, e a seus pais também Ricardo e Roberto (in memoriam).
Nada além de uma ilusão… Não.
Marc Chagall, The Promenade
Ilusão: [Do latim illuusione] S. f. 1. Engano dos sentidos ou da mente, que faz que se tome uma coisa por outra, que se interprete erroneamente um fato ou uma sensação, falsa aparência 2. Sonho, devaneio, quimera 3. Coisa efêmera, passageira. 4. Logro, burla, engano.
(Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda)
Muitos confundem ilusão com utopia, sonho e até com esperança. Mas viver sem ilusões é passar uma vida sem sonhos, sem perspectivas, sem desejos.
É ingênuo continuarmos com ilusões de fraternidade entre as pessoas, de amor entre os casais, de mais igualdade entre os homens, sejam eles de religião, orientação sexual ou classe social diferentes?
Ilusão parece ser o sentido puro que as crianças atribuem àquilo em que querem acreditar, por isso o defendem com todas as forças e tentam nos fazer acreditar também.
Os povos antigos tinham suas lendas para explicar o que não conseguiam apenas com o racional. E projetavam suas ilusões de conquistas e sonhos.
As questões da política mundial têm nos feito sucumbir às nossas ilusões primeiras, às vezes querendo torná- las derrotas e nos sinalizando que sonhar não é possível mais. “Não se vive de ilusões”.
O que seria então ter ilusões?
Vale a pena se ter ilusões?
Que teogonia é essa que nos demove do provável moto contínuo de nossas vidas que é ainda ter ilusões?
Os sonhos tornaram-se impossíveis?
Até para o amor e a paz ?
PAZ
Rob Gonsalves : https://www.facebook.com/RobGonsalves.Official/
Marc Chagall, Paris Through the Window
MULHER DE SAIA FLORIDA
Rob Gonsalves : https://www.facebook.com/RobGonsalves.Official/
HOMEM DE PALHA
Marc Chagall, Música
MEDO
Rob Gonsalves : https://www.facebook.com/RobGonsalves.Official/
“Quem sabe a vida é não sonhar”
Tigran Tsitoghdzyan: www.ttigran.com
Marc Chagall, Sobre a cidade
DOAÇÃO
” Certa vez vivia um povo no leito de um grande rio cristalino. A correnteza deslizava silenciosamente sobre todos eles, jovens e velhos, ricos e pobres, bons e maus. E a correnteza seguia seu caminho, alheia a tudo que não fosse sua própria essência de cristal.
Todas aquelas criaturas se agarravam como podiam aos ramos e às pedras do leito do rio, porque sua vida consistia em se agarrar e porque todas elas, desde o berço, tinham aprendido a resistir à correnteza. Mas por fim uma das criaturas disse: “Estou farta de me agarrar. Mesmo que meus olhos não vejam o que há pela frente, confio que a correnteza saiba para onde vai. Vou me soltar e deixar que ela me leve pra onde quiser. Se eu continuar aqui, imobilizada, morrerei de tédio!”
As outras criaturas riram e exclamaram: “Tola! Se você se soltar, essa correnteza que você venera a lançará, aos trambolhões e feita em pedaços, contra as pedras. Ela a matará mais depressa que o tédio.” Mas ela não lhes deu ouvido. Inspirou profundamente e se soltou. A correnteza lançou-a com violência contra as pedras, mas a criatura, embora machucada, estava decidida a não se agarrar novamente. E então a correnteza a trouxe à tona e ela não mais sofreu nem se lastimou.
As criaturas que viviam rio abaixo e não a conheciam exclamaram: “Vejam, um milagre! Uma criatura igual a nós, e no entanto voa nas águas! Olhem, é o Messias que veio nos salvar!” E a que eu tinha sido arrastada pela correnteza respondeu: “Não sou mais Messias do que vocês. O rio gosta de nos fazer voar, com a condição de que ousemos nos soltar. Nossa verdadeira missão na vida é esta viagem, esta aventura”.
As outras continuaram gritando, cada vez mais alto: “O Salvador! O Salvador”, mas ainda agarradas às pedras. E quando levantaram os olhos, ela tinha desaparecido. Ficaram sozinhas, criando lendas sobre um Salvador.”
ILUSÃO
Esse post é dedicado à minha amiga Martha Gracio, de São Paulo, que ouve, entende e acende o farol alto de sua torre sobre meus mares revoltos.