Qual a importância da literatura?

4ª EDIÇÃO

25 a 29 | outubro | 2023
10h às 20h

Praça da Rodoviária
Rua Custódio Gomes, 11
Centro Histórico de Tiradentes

Nessa quarta edição, a FLITI está cheia de novidades, com mais espaço e conforto para todos. Bem no Centro Histórico de Tiradentes!

Muita coisa vai acontecer nos cinco dias do evento: espetáculos musicais, exposições, mesas de debate com grandes escritores e
personalidades da cultura brasileira, contações de história, lançamentos de livro e, claro, o Ônibus Biblioteca. E muito mais!

Homenageado do ano: Fernando Sabino

A 4ª edição da FLITI acontecerá de 25 a 29 de outubro, e será em homenagem ao Centenário de Fernando Sabino. O escritor, jornalista e editor belorizontino recebeu diversos prêmios por suas obras, entre eles o Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.

Autor da terceira fase modernista, seus romances apresentam questionamentos existenciais e monólogos interiores. Contudo, o autor também é conhecido por suas crônicas urbanas e bem-humoradas, que tratam, de forma lírica, a realidade cotidiana, cativando, assim, seus leitores.

Serão cinco dias de imersão no universo do conhecimento e da literatura através do contato direto com escritores, ilustradores e personalidades ilustres do universo literário de Minas Gerais e de todo o país, para todas as faixas etárias.

As crianças crescem…

O Clubinho da Leitura “Plácido José de Oliveira”, em Barbacena foi um projeto de trabalho voluntário que realizei com crianças e adolescentes – antes apenas do meu bairro, depois recebendo os de outros bairros também. Passei a realizá-lo aos sábados para contemplar mais leitores. Os pais também levavam livros para casa. Fazíamos atividades nas quais atuava como MEDIADORA de leitura. Lemos, declamamos versos, representamos histórias lidas em casa ou em alguma atividade do Clubinho, desenhamos e pintamos com aquarela, fazíamos personagens de massinha, nos caracterizávamos como as personagens das histórias, jogávamos bola, peteca, jogo da velha, sempre contextualizando as atividades de leitura do dia.

Posts sobre o Clubinho da Leitura aqui: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/clubinho-da-leitura-de-barbacena/

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Crianças merecem cuidados

Aqui no blog, há uma categoria semana da criançahttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/- na qual estão registrados todos os posts que escrevi sobre elas. Fui professora por mais de 30 anos, 10 deles lecionando para os pequenos. Sou mãe e tenho sobrinhos. Não podemos ser negligentes com as crianças. Há que se respeitá-las, dar fala a elas e aprender com elas. Tudo isso enquanto é tempo. Depois, não se reclame, nem se lamente “no que aquelas adoráveis crianças se tornaram”. Os adultos são enormemente responsáveis por elas. Por todas elas.

Em meu canal de textos autorais no YouTube há uma playlist com a leitura de meus poemas infantishttps://www.youtube.com/channel/UCjD6ZiLlJOgDu5-lupIiWGw

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Leilão de jardim, Cecília Meireles

Leilão de jardim
Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis
nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Júlia Bueno – Tema

Diante de uma criança, Drummond

Aqui no blog, há uma categoria semana da criançahttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/

Diante de uma criança
Carlos Drummond de Andrade

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E, se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

Bisneto de Drummond

Leia aqui no blog: Um Drummond meninohttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/11/10/um-drummond-menino/

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Pedro Drummond

Meninos carvoeiros, Manuel Bandeira

Desde bem menina essa poesia de Bandeira me comove muito.

Meninos Carvoeiros
Manuel Bandeira

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

– Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles…
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

-Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

Aqui no blog, há uma categoria semana da criançahttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

Crianças são anjos

Leia aqui no blog a categoria semana da criança com poesias e histórias sobre elas: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/

DE MELANCIAS E CHOCOLATES

tarde de domingo
o caminhão de melancias
faz pregão da fruta
toda gente corre
pega a sua
paga a sua
felicidade

sentados na calçada
sentados no portão
sentados no passeio
abrem as melancias
escorre delas um sumo suco vermelho
tingindo a tarde
repartem nacos de prazer
dividem risos e gotas de doce
distribuem felicidade

Pessoa, aquele chocolate da menina
também é melancia.

MIGUEL EM MEU COLO

Menino Miguel brinca com a garotinha
Menino Miguel se cansa da brincadeira
Menino Miguel quer céu, mar, rua, lua
Menino Miguel quer correr
livre
Menino Miguel quer nadar
livre

Menino Miguel
quer viver
livre
Menino Miguel quer ir
com a mãe
com o cãozinho livre
à beira-mar
livre também
Menino Miguel é sonho, vontade, imaginação
Menino Miguel quer colo de mãe
Menino Miguel quer passear com o cãozinho também
Menino Miguel quer ser
livre
Menino Miguel quer sonhar, voar, navegar
no colo-abraço da mãe
mergulha
flutua
nas nuvens
no colo quentinho de Deus


As gentes lá embaixo são muito feias, menino Miguel
São, de verdade, horríveis !

O MENINO MÁGICO

Ei, menino,
quem tem sorriso de luz
bate a varinha de condão
sacode qualquer tristeza, aborrecimento …
quem tem sorriso de luz
ilumina vidas
encanta caminhos …
quem tem sorriso de menino mágico
navega sem limites
na aventura
no tapete dourado
da ternura, da alegria, do amor.

Vai, menino mágico, ser feliz !

PASSA-ANEL

sentados
mãos em posição de oração
agora eu
agora você
agora ela
agora ele
passa-anel
passa
passa
com quem estará o anel?
observa
analisa
conclui
adivinha
oxalá, achar um anel
fosse para sempre
a maior de nossas questões
oxalá fosse

QUISERA
ser fada-madrinha
de encantar meninos
viajar com eles pra fora
de todas as ameaças e perigos
arrumar sempre pra eles
mesa de aniversário
doces, balas, sucos e brindes
balões de assoprar repletos de surpresas
cantar com eles músicas
repletas de rimas, estribilhos e graças
quisera ser fada-madrinha
de encantar adultos-meninos
fazendo multiplicar neles
a bênção de encantar outros meninos e meninas
conduzindo-os a presentes e futuros
promissores
favoráveis
felizes

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal (crianças do Clubinho da Leitura Plácido José de Oliveira – 2014 a 2017)

Vídeo: Canal Sivuca – Tema

Se essa rua fosse minha…

Leia aqui no blog a categoria semana da criança com poesias e histórias sobre elas: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/

SE ESSA RUA FOSSE MINHA …
Ah, se fosse, princesinha
ah, se fosse
eu penteava seus cabelinhos
bem devagarinho
eu ia lhe emprestar todos os meus versos
meus colares, meus anéis, minhas pulseiras
minhas pedras, minhas conchas, meus livrinhos
Ah, se fosse, princesinha
ah, se fosse
eu ia ler historinhas e poemas
noite e dia, dia e noite pra você
eu ia expurgar qualquer dor, machucado, gripe, tosse
Ah, se fosse, princesinha
ah, se fosse
eu ia assoprar pra bem longe
todas as mazelas, todo o ódio e rancor circundantes
eu ia assoprar pra bem perto, bem pertinho
todas as alegrias, todos os risos, todas as gargalhadas
todas as estrelinhas, todas as borboletas, todas as joaninhas
Ah, se fosse, princesinha
ah, se fosse minha !
Bendita seja, menina-fadinha !

A Joaninha avisa a todos que seu dentinho de baixo está molinho, ok. Era a única da classe que não tinha tido dente molinho ainda. Agora já tem.

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Amadeus Kids

“O que você vai ser quando crescer”?

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PROFISSÕES DOS ANOS DE 1960
Quando a gente andava de bicicleta pelas ruas, a gente ia conversando sobre o futuro. Morávamos num pequeno distrito do interior do Rio de Janeiro e era com a Guanabara que sonhávamos.
Os meninos não pensavam em ser jogador de futebol. Já eram. Havia 3 clubes nas vilas operárias, na FNM, e eles jogavam lá. Não me lembro de nenhum deles querer cursar uma universidade, por exemplo. Meu irmão mais velho tornou-se engenheiro pela PUC-Rio, e anos mais tarde soube que 2 outros rapazes da idade dele haviam se formado médicos. No mais, nenhum. Serviam o Exército aos 18, apareciam com aquele corte de cabelo que as moças odiavam – num tempo de Roberto Carlos, Jovem Guarda, Beatles …
Ninguém quis ser modelo, cantora, chacrete ou algo assim.
Nós meninas, em geral, queríamos ser professoras, mas … gostávamos de ser representantes da AVON – “Avon chama”– era o slogan. Juntávamos vidrinhos vazios, enchíamos de alguma fragrância, inventávamos os catálogos, as bolsas e batíamos nas portas das compradoras. Aprendíamos a fazer as unhas e era presente costumeiro recebermos em aniversários um estojinho de manicure.
Também gostávamos de criar e montar coisas – a reciclagem de materiais – que só viria a se chamar assim décadas depois. Fazíamos toalhinhas de papel de embrulho, de papel de pão. Dobraduras picotadas. Ficavam verdadeiras toalhas de renda, dependendo dos cortes que fazíamos e do número de vezes em que dobrávamos o papel. Sim, porque ao abrirmos, vinham as surpresas impensáveis. Houve uma época em que aprendemos a fazer bichinhos com buchas de espuma, com olhinhos, fitas, uma gracinha.
Havia os programas da TV americana, em preto e branco, com aquele jeito americano de ser. Alguns filmes com mulheres que trabalhavam como secretárias, bancárias. Aí foi moda aprender datilografia etc. Minha irmã era professora em curso de datilografia, por exemplo.
Claro, também brincávamos de boneca, fazíamos roupinhas com retalhos para elas, tudo agulha e linha. Eu adorava.
Interessante é que não me recordo de brincarmos com maridos. Só com os filhinhos.
De resto, a gente brincava de jogar vôlei na rua, de pique-bandeira, de triângulo e facas que se atirava ao chão etc. Meninos eram muito, muito chatos, atrapalhavam tudo. E brutalhões também.
A gente, depois, começou a usar calça Calhambeque, bonezinho Calhambeque, chaveiro Calhambeque, a colecionar flâmulas e, por fim, a vestir caça Lee, não as importadas, mas as nacionais mesmo.
Na década de 1960, a educação brasileira ia até o ginasial, apenas. Tinha formatura com baile e tudo. Poucos, muito poucos conseguiam continuar os estudos. Pais não estimulavam, inclusive. Era preciso começar logo a trabalhar.

As mocinhas e os desfiles e concursos de Rainha da Primavera. As de 1967 do lado direito. E as de 1968, do lado esquerdo. Sou a última da esquerda, ao lado da mesa. Aos 14 anos.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Sasah

A criança em cada adulto

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Το παιδί είναι ο πατέρας του ανθρώπου. (William Wordsworth) – A criança é o pai do homem

 My heart leaps up when I behold
A rainbow in the sky:
So was it when my life began;
So is it now I am a man;
So be it when I shall grow old,
Or let me die!
The Child is father of the Man;
I could wish my days to be
Bound each to each by natural piety.

(“My Heart Leaps Up”, também conhecido como “the Rainbow”, 1802) – William Wordsworth (1770 – 1850)

“Meu coração salta
Quando vejo arco-íris no céu:
Assim foi quando minha vida começou;
Assim é agora que sou um homem;
Assim será quando eu envelhecer.
Ou deixe-me morrer!
A Criança é pai do Homem;
Eu poderia desejar que meus dias
Fossem conectados por piedade natural.”

A MENINA QUE SABIA DIZER
Entre casas de vila nasceu a menina.
De logo, acharam-lhe os dedos longos, de pianista famosa.
De rosto, encontraram nela traços de pimenta ardida
De observadora, perguntadeira, profetizaram sua inteligência.
Mas a menina gostava era de dizer.
A menina sabia dizer.
A menina tinha o que dizer.
A menina logo leu anúncios em bondes e trens em alto e bom som.
Depois, a menina escreveu palavras em paredes, portas e papeis.
Em muitos papeis.
A menina tinha palavras que lhe escorregavam pela língua,
saltando-lhe da boca infantil como pirilampos,
pairando em ouvidos alheios com assinatura.
A menina resolveu então
catar todas aquelas palavras que saltavam de si
reunindo-as em um ramalhete,
que de tão grande, tão grande, derramou-se por casas, ruas, avenidas…
Assim, muita gente pode saber o que a menina tinha tanto para dizer.

O MENINO QUE HÁ EM MIM
Se me sei livre,
me vejo aprisionada
em um corpo
que não mais é o meu de nascimento.
Este que me carrega as forças
não tem o viço do outro
o peito cheio de sonhos
a cabeça enfeitada por desejos
as mãos de perseguir bolinhas de mercúrio dos termômetros.
O que sei é que o menino que havia em mim
já há muito deixou este corpo
e vive em outro
fresco de memórias
doce de afagos
encantado com um trem.

A MENINA QUE OUVIA HISTÓRIAS DAS ESTRADAS
Domingos na janela da casa da avó mineira
sete irmãos caminhoneiros carregados de mineirices
narram a semana anterior, sentados na calçada
seus caminhões estacionados margeando a rua inteira
um rio de carrocerias de todas as cores
aventuras e desventuras
a menina ouve
a menina se fascina
imaginando aquelas viagens
o cigarrão enorme de palha se apaga
acendem uns os dos outros
metáfora da prosa
riem, narram o possível
o proibido fica para boleias cúmplices
cumprimentam os que passam
são interrogados sobre suas idas e vindas
escorrem-lhes prazeres da língua
Assim eram os ”Dorenço”.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal Various Artists – Topic