Aprender a aprender. E sempre.

17 de fevereiro de 2011, Sinpro, SP

Início de ano letivo

Mudanças nos tempos?

Crônica de domingo -Visitantes e turistas

Crônica de domingo- Amor de menina

Zezé e Edu

Zezé e Edu

Naquela manhã Zezé entrava na sala dos professores festejando, de forma discreta, mas festejando, a conquista de sua aposentadoria. Recebera do INSS todos os direitos e pretendia viajar nas férias que se aproximavam. Sempre lecionara História em escolas privadas e pretendia ir com seu marido Edu – mais jovem um pouco e ainda não aposentado – fazer uma viagem à Europa.

-Sabe, quero conhecer aquilo que sempre ensinei, enquanto ainda temos pernas. Vou usar o que recebi para fazermos isso. Vamos a Barcelona, inclusive, nosso sonho por décadas.

-Puxa, que bom concretizar sonhos, Zezé. Aproveitem.

Zezé era mãe de 3 filhos; o do meio era da idade da minha filha. Os 2 garotos haviam sido meus alunos.

Voltando da viagem, me relatou fatos, maravilhas, encantos, desencantos da viagem etc. Ambos ainda continuavam a lecionar. Eram mais velhos que eu, talvez uns 10 anos a mais.

Ainda os revi algumas vezes, depois daqueles anos de 1990. Soube que haviam construído e se mudado para uma casinha simples, no interior de São Paulo. O professor de Física – que cursara engenharia – e a professora de História estavam ali, desfrutando das delícias de ser e estar, com seus móveis e objetos comprados em Tiradentes, em outras cidades mineiras, dentro da história do país.

Naquele ano não declarei à Zezé o que desejava para depois da minha aposentadoria, embora ela soubesse de minhas raízes mineiras etc. Jamais me arvoraria por Europa ou por América do Norte. Desejava conhecer o que ainda não conhecia e nem sabia sobre meu país.

Fiz isso e pretendo continuar fazendo até enquanto tiver pernas, Zezé, literalmente. Ainda que para isso precise encontrar um apoio que siga mais ou menos os mesmos roteiros de vida que eu e me ajude a subir e descer degraus e rampas, sem a bengala de 4 apoios, mas com afeto.

Fatos reais que a memória me traz, ainda que já tenham se passado quase 30 anos. Beijos aos meus 2 amigos, onde estiverem.

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Roupa Nova

Crônica de domingo – Banho de realidade

A ESCOVAÇÃO DE DENTES
Depois da leitura do livrinho com suas crianças de 10 anos, a professora cheia de idealismos e ação em querer mudar o mundo, em ser útil, fazer a diferença, tece uma ideia: como o livrinho mencionasse a escovação de dentes, pediu que na segunda-feira seguinte cada aluno trouxesse uma escova de dentes, iria ensinar-lhes a escovação correta.
Depois do recreio, a sopa grossa de proteína de soja, distribuída nas escolas pelo governo estadual, não era insuportável apenas ao olfato, mas à visão… enfim, aos 5 sentidos, além disso grudava nos dentes qual uma placa plástica.
Na data combinada, dos 30 alunos, mais da metade não havia trazido uma escova de dentes. A professora, revestida do seu sexto sentido, marcou com eles uma nova segunda-feira para repetirem a aula coletiva de higiene, visto que uma metade apenas a observara colocar o creme dental – que trouxera de sua casa – nas escovas dos coleguinhas e acompanhara os movimentos da escovação.
-Isso lá é coisa pra trazer pra escola, tem que ensinar é ler e escrever – viera reclamar um pai, no fim do dia com a diretora, fazendo denúncia sobre a professora etc.
As duas, perplexas, analisaram o choque cultural, a miséria, a ignorância… e a professora percebeu que intuíra causas acertadamente.
-Professora, eu não trouxe a escova ontem porque minha mãe não deixou – revelara um garotinho privadamente – lá em casa só tem uma escova pra todo mundo, a gente escova sem pasta de dentes nem nada.
A professora combinara nova segunda-feira, dando-lhes nova data, compreendendo com eles talvez um esquecimento etc. mas devido ao banho de realidade a que vinha sendo submetida naquela semana, pensou que alguns até viessem a faltar no dia da escovação, temendo um seguido constrangimento.
Comentou os fatos com um casal de amigos muito próximos; o homem tinha uma pequena empresa de embalagens, de filmes que embalavam ofertas do tipo ”compre 1 e leve 2”,‘leve 2 xampus e ganhe uma escova de dentes”, sempre com cotas de desperdícios calculadas pelas empresas que ofereciam as ofertas. No mês anterior a grande empresa de produtos de higiene oferecera talco infantil com brindes de escovas de dentes em recipientes plásticos, coloridas e lindas. Resolveu, então, doar mais de 100 delas às crianças daquela escola estadual.
Na sexta-feira, portanto antes do combinado, a professora levou seus alunos, ao grande bebedouro do pátio, a escovar os dentes. Pegou a sacola, entregou uma escovinha novinha dentro da embalagem do estojinho, ensinou a abrir e, munida de 2 tubos de creme dental, solicitou ajuda de uma das meninas, que também ia apertando corretamente, de baixo para cima, a tal pasta de dentes. Foi uma festa, uns mostrando aos outros o perfume da boca, os dentes escancaradamente, culturalmente, socialmente, iguaizinhos aos de quaisquer outras pessoas que cotidianamente o faziam, sem qualquer reflexão.
Enxugaram bocas sadias e saudáveis nas toalhas levadas pela professora e retornaram à sala de aula. Assim sucedeu com as outras 2 turmas.
O choque de realidade permaneceu e se mostrou quando 2 irmãos, esticaram as escovinhas para a professora, devolvendo-lhe os objetos do efêmero prazer de se sentirem integrados e merecedores daquele momento. Devolviam, talvez fosse prazer demais pra eles, contudo encaravam como um prazer, um sentimento de pertencimento apenas emprestado, não definitivo.
-Aqui, moçadinha, essas escovinhas são de todos vocês, são presente de amigos que adoram crianças, tá bom, são suas, levem pra casa e escovem os dentes, após as refeições, mesmo se a pasta de dentes acabar, pode ser sem ela; o importante é escovar certinho, tá.
Na saída da escola, pode ver o pai que se queixara dela à diretora, no botequim, tomando sua pinga diária, rotineira, cotidiana, talvez 3 vezes ao dia, tal como ela recomendara sobre a escovação de dentes a seus alunos.

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

Crônica de domingo: A greve

A GREVE

Nunca havia participado de uma greve da categoria. Sempre lecionara apenas em escolas privadas em São Paulo, mas prestei concurso público e, em 1987, ingressei na carreira do magistério, como Professora de Português de Nível II (para aulas a alunos dos últimos anos do 1º grau). Logo me associei à APEOESP (para a qual, anos depois fui RE, representante de Escola, quase uma “delegada sindical”).

Em 1987 aconteceu uma grande greve durante o primeiro ano de Governo de Orestes Quércia. Várias categorias do funcionalismo se organizaram e mantiveram as grandes assembleias públicas semanalmente e, por fim, uma longa caminhada em direção ao Palácio dos Bandeirantes, quando sofremos com cavalos empinados sobre nós e tivemos que nos dirigir ao Estádio do Morumbi, bem próximo, para continuarmos a manifestação.

Confesso que me senti muito incomodada com muitos colegas que, sem consciência alguma de coletivo, de luta de classe, adoravam greves para ficarem em casa, irem fazer compras etc. e até darem aulas em outros lugares, aulas particulares etc. e o pior de tudo, sem comparecerem às assembleias públicas, ouvirem as questões de conjuntura, as decisões para os dias seguintes, nem votarem por elas. Estavam em férias.

Ainda sem conhecer direito a estrutura das Escolas Estaduais, quis saber da diretora Marina que saleta era aquela que ficava fechada à chave, e por quê.

Abriu-a, mostrou-me que ali ficavam guardados os materiais de limpeza que vinham do Governo. Mas vi coleções de livros. Veja bem, coleções, tanto de infantis, quanto dos grandes clássicos. Perguntei por que não eram usados por professores e alunos.

-Isso tudo é acervo, e eu tenho que dar conta. Não pode ser roubado. A gente não tem biblioteca, bibliotecária, nada. Então ficam aí nas caixas, pelo menos tenho a certeza que não sumirão.

Não vou fazer a reflexão aqui, deixo-a a cada leitor, trazendo a sua chave de compreensão, sua visão de EDUCAÇÃO e seus valores.

No meu curso Normal no RJ, aprendera a montar uma biblioteca, catalogar livros, fazer fichários, separar por categorias nas prateleiras etc. Aos 17 anos. Propus então que faria o mesmo com aquele grande acervo de livros novos, cheirando a novos, nos dias da greve. E nos de assembleias, eu iria para São Paulo, assistir, votar etc. Mas expus minha condição, eu queria usá-los com meus alunos, me responsabilizando por devoluções etc. e que ela podia confiar. Aceitou.

Foram muitos e muitos dias de greve. Se não me engano, sem conseguirmos sequer uma das reivindicações.(Depois em 1989 haveria outra ainda maior no Governo Fleury.)

Durante todos aqueles dias, eu me senti útil, não furava greve, mas desenvolvia uma semeadura para os alunos. Colheria depois, tinha certeza disso. Foi com esses alunos, cheios de livros nas mãozinhas, que desenvolvi Projetos de Escrita e Leitura em 1988 e fui selecionada pela Secretaria de Estado da Educação para gravar o Projeto Ipê de Língua Portuguesa daquele ano. Já publicado aqui.

Penso que professores devem lutar, coletivamente, por melhores condições de ensino, por Programas de Ensino eficazes, por melhores salários e, individualmente ou em parceria com colegas, desempenhar um trabalho de qualidade.

PAGUEM O QUE EU VALHO!

Leia aqui sobre a Escola Aldeia de Carapicuíba e veja os trabalhos que realizei com os alunos no ano seguinte: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2023/03/02/tbt-eu-professora/

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Cris Caldas – Minha Trilha Sonora!

Clubinho da leitura: uma experiência encantada

O Clubinho da Leitura “Plácido José de Oliveira”, em Barbacena foi um projeto de trabalho voluntário que idealizei e realizei com crianças e adolescentes – antes apenas do meu bairro, depois recebendo os de outros bairros também, nos anos de 2014 a 2017. Passei a realizá-lo aos sábados para contemplar mais leitores. Os pais também levavam livros para casa. Fazíamos atividades nas quais eu atuava como MEDIADORA de leitura. Liamos, declamávamos versos, representávamos histórias lidas em casa ou em alguma atividade do Clubinho, desenhavam e pintavam com aquarela, faziam personagens de massinha, caracterizavam-se como as personagens das histórias, jogavam bola, peteca, jogo da velha, sempre contextualizando as atividades de leitura do dia.

CLUBINHO DA LEITURA DE BARBACENA (encerramento de atividades de 2015). Nessas fotos: mostro quando assistiram aos últimos vídeos criados para elas, pelo canal jnscam, do YouTube, tentaram pegar as frutinhas araçás da tela e criaram uma história coletiva: “JÚNIOR, MUITO MAIOR QUE UM GIGANTE”. Depois se vestiram com as fantasias – que adoram- dançaram, lutaram, desenharam cada um o seu personagem “JÚNIOR” e fomos fazer bolinhas de sabão. Quanto prazer me dá ter de novo a mesma idade que eles! Obrigada ao JONES, do canal jnscam – parceiro de Ipatinga, nosso GRANDE AMIGO, quase do tamanho do JÚNIOR da historinha… “de tão poético e incomum”. Obrigada ao risonho e doce RUI DAHER, meu amigo do peito, de São Paulo, incentivador desse trabalho. (Texto escrito em dezembro de 2015. Material criado pelas crianças enviado por Correios para os dois parceiros em Ipatinga e em São Paulo).

Crie um clubinho da leitura aí na sua rua, no seu prédio, no seu condomínio também. Bom trabalho!

Leia aqui todos os posts com as atividades desenvolvidas na categoria Clubinho da Leitura de Barbacena -https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/clubinho-da-leitura-de-barbacena/

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: 2015


Vídeo: Canal PartimpimVEVO

#TBT: eu, professora

Era o ano de 1988, eu lecionava em uma Escola Estadual, em Carapicuíba, SP, quando fui convidada a gravar com a equipe da TV Cultura, o Projeto Ipê daquele ano, tendo em vista o trabalho que desenvolvia com meus alunos. Todas as equipes das Escolas do Estado o assistiram e serviu de estudo para vários outros projetos pedagógicos. Meus alunos, simples e bem humildes, sentiram-se muito valorizados, importantes mesmo. Anos atrás levei isso para o YouTube, em 3 vídeos, para que ex-alunos tivessem acesso a esse material. Já li comentários de muitos deles narrando que seus filhos nunca os haviam visto e ouvido, quando meninos e adolescentes antes, e agora sim. Magia tem a EDUCAÇÃO !

Mais informações aqui: Sonhos revisitados, 30 anos depoishttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/08/30/sonhos-revisitados-30-anos-depois/

O vídeo mostra trabalho com alunos de 4ª série (5º ano), da Escola da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988. Há criação de histórias a partir de livros de Juarez Machado e Ziraldo. Registra-se também um exercício de refacção coletiva de texto produzido pelos alunos. Na sequência, entrevistam-se alunos sobre a forma de se ter aulas de Língua portuguesa, se gostam ou não. Há também a fala da diretora da escola sobre esse tipo de dinâmica de aulas.

O vídeo mostra aula em uma 6ª série (7º ano), da Escola Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988, quando se aborda a reescrita de estruturas linguísticas a partir de letra de música. Analisa-se a circunstância adverbial contextualizadamente, considerando-se a semântica . Entrevistam-se alunos sobre sua preocupação com erros de português, o quanto essa preocupação interfere em suas escritas e como fazer para transformarem erros em acertos, experenciando a língua. Trabalho em duplas para produção.

O vídeo apresenta trabalho com alunos da 7ª série (8º ano), da Escola Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988, a partir da leitura de literatura brasileira ”Vidas Secas” e ”Capitães da Areia”. Leitura coletiva de produção de texto sobre temas do Nordeste. Discussão, em roda de conversa, sobre o tema, a partir das obras literárias e dos textos informativos lidos, socializando-se o conhecimento entre os alunos.

Poesias: Odonir Oliveira

Vídeos: Canal Odonir Oliveira