Sorriso de estrela

SORRISO

olhos vendados
sentidos despertos
duas covinhas móveis
um som impalpável
uma cor fluida
um gozo primeiro

olhos semi-abertos
sentidos atiçados
uma ruga aqui
umas marcas de impressão ali
ri
um gozo volátil em boca etérea

olhos abertos
oniricamente tateados
dois olhos, uma boca
um nariz
a um triz
de ser feliz

SORRISO DE ESTRELA

É quando no desespero de mim,
que encontro a ti
sorrindo repetidas vezes
com passos ouvidos
em reflexos mínimos
em espaços imprevisíveis
em momentos inesperados.

É quando miro estrelas
que encontro
teu lume no delas
tua silhueta na delas
teu dorso incomum no brilho delas.

É quando escurece
que estrelas em ramalhetes
te trazem a mim,
e em ti permaneço
pousada no céu.

αστέρι

gregos e troianos
namoram o cosmos
há luz e brilhos tantos

gregos e troianos
ouvem vozes e risos
há corridas e saltos

gregos e troianos
perseguem tempos e espaços
há navegantes nus nas estrelas

gregos e troianos
contam cores difusas nos céus
há gozos e ritmos líquidos alhures

gregos e troianos
narram sua teogonia em corpos
há sons de estrelas por todos os lados

CONVERSA COM ESTRELAS

Só, somente assim ser.
Acalanto de sossegos ninando aspirações.
Respostas ternas para enigmas ocultados.
Confissões em cantos únicos
súplicas, apelos, inquietações.
Aquiescendo dores inconfessáveis
segredos indizíveis
amores inexplicáveis.
Oráculos de almas em conflito.
Estrelas,
dos mistérios
à luz.

NOITE

Sei que é noite
porque de vento
e de ondas
os coqueiros respondem aos sinais.

Sei que é noite
porque ali
ficamos só nós dois
sem que nos percebessem,
que parecíamos
invisíveis.
Em simbiose de esperas
Em sussurros de combinações
Em movimentos de contemplações.

Sei que é noite
porque em meu corpo
sinto a noite
assim em todos os seus sinais.

Em tempo, ficarei sem escrever, por motivos particulares.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Gilberto Gil

2- Canal Odonir Oliveira

Sensações de pele

O BEBÊ

Vem aí um bebê
a mãe cose camisolinhas
a mãe borda roupinhas
a mãe tricota mantas, sapatinhos
a maninha caçula observa
tem 6 aninhos
gosta de correr
muito
gosta de subir em árvores
muito
gosta de correr atrás das galinhas e dos pintinhos
muito
a maninha caçula observa

a mãe vai de bata à maternidade
o pai vai junto
o pai volta a mãe fica

a maninha olha o bercinho ainda vazio e espera
quem virá com a mãe
um menininho ou uma menininha
a maninha caçula observa

volta a mãe toda zelosa
deita no bercinho o menininho
lindinho
a carinha de seus bonecos de borracha
chora à noite
chora de madrugada
a mãe levanta, 
nina, sussurra murmúrios
a menina acorda
a menina segue a mãe
a menina olha o bebê
a menina observa

ANJO DA GUARDA

menino pequeno
companheiro de travessuras
um ciúme ou outro
cuidados
defesas
ensinamentos
ida ao jardim de infância
havia infâncias
havia jardins
carinhos, afetos
sensações de pele
maninhos

JOVEM

campo de futebol
surfando ondas de mar
rock nas veias
rock nos ouvidos
lúpulo e levedura
céus e madrugadas
krishna, johrei
maracanãs
rock in rio
Cássia Eller
rock progressivo
garage rock
hard rock
heavy metal
rock nas veias
lúpulo e levedura
Pink Floyd
confortably numb
Led Zeppelin
Stairway To heaven

Led Zeppelin, Stairway to Heaven

Salve, mano. Hoje seria seu aniversário. Você se foi no ano passado e levou consigo um pouco de cada um de nós.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal.

Última foto dele no Parque Estadual de Ibitipoca , MG, com seu próprio celular

Vídeos:

1- Canal Astorte

2- Canal OLD TAPES

Não à indiferença !

CARAVANAS

Olho por dentro
desertos
vazios íntimos
moradia oca
abismo antropofágico.

Invado em mim as revoltas
Invado em mim todas as injustiças
Invado em mim todas as exclusões
Invado em mim todos os descartes

Cuspo escarro vomito
Abro portas janelas horizontes
Evado de mim a dor
Evado de mim as dores
Evado de mim predileções vãs
por mistérios magias imantações chãs.

Olho para fora
Fora estará o alívio ou a consternação
Fora estará o apanágio ou o desespero
Fora estará a suavidade ou a consumição.

Estradas
Caminhos
Veredas
Invernadas

Caravanas, reflexão.

EU, NÓS

Se ando e enxergo, maravilho-me
Se paro e contemplo, pulso
Se ardo em sensações, vivo.
Se estou numa fala num gesto num sorriso, continuo.
Se toco a dor humana, emano
Se acarinho a terra vermelha, sou.
Se tenho compaixão, ajo.
Se tenho ainda a emoção, levito.

Se ando e enxergo, maravilho-me

HUMANO

caminha
encontra, atende, ampara, acolhe
reparte, acarinha, ouve
socorre, ensina, auxilia
doa-se, pertence, assemelha-se
sofre, chora, cura
alegra, ri, cura-se
bebe em comunhão
come em comunhão
ama em comunhão

ser comum
ser coletivo
ser humano

DOAÇÃO

doa-ação
não se doa
doe ação
faça, aconteça, integre-se
junte-se, misture-se, reparta-se
mire, olhe, enxergue

seja um
seja dez
seja mil
seja um
sejam dez
sejam mil

doar não é dar
doar é ser
HUMANO

A palavra amor anda vazia.
Não tem gente dentro dela”

Manoel de Barros

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Cristina Caldas

Setembro

LÍRICA

conhece montes
visita ninhos de passarinhos
bebe água de rios com mãos em concha
suspira ao nascer do sol
entontece no vinho do anoitecer
saboreia pingos de chuva no rosto erguido aos céus
entrega corpo e alma às luas cheias
caminha sobre pedras de riachos muitos
vasculha matas fechadas com olhares fascinados
é sol
é estrela
é lua
é rua
é acorde
é vírgula
é reticências
é ritmo
é rima
é dor, flor, cor
amor
também

Virgem (23/08 a 22/09)

Sol, Lua, Vênus, Mercúrio e Marte em seu signo trazem brilho e destaque. Sinal de desejos amorosos, encanto pessoal e vontades poderosas. Trate-se com carinho !

Por Barbara Abramo – Universa/ Uol (31/08/2019)

MAIS UMA VEZ

Um setembro depois do outro
gargalhadas, risos, sorrisos …
“Acorda, que se foram mais de seis décadas …”
responsabilidade inegável na bagagem
escolhas definitivas na bagagem
ações definitivas na bagagem
Não cabem nela mais arroubos, nem fortuitas ilusões
O tempo urge
A vida urge
A sensibilidade à flor da pele.
Setembros, de décadas em décadas, sempre ofereceram jardins de mudanças.
Florir !

ENSINAMENTOS

“Coloca-te no teu lugar, mulher !
Olha ao redor, o tempo é de imagens, de viço, de gargalhadas.
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Aqui só pernas… fininhas
Aqui só seios … durinhos
Aqui só pele clarinha… bronzeada… lustrosa
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Aqui só vitrine, só perfume, só novidades …
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Briga por teu homem, por teus homens, enfrenta, guerreia !
Enfeita-te, perfuma-te, enfeitiça …
Coloca-te no teu lugar, mulher! “
Setembros,
muitos,
trazem ensinamentos.
Não, não vou por ali.
Minha vereda é de raízes.

PRESENTE

Quem me sabe percorre meus gostos e sabores do meu jeito
Quem me sabe me enfeita de gestos singelos, significativos, majestosos
Quem me sabe me recheia de mimos a alma, com fragrâncias insubstituíveis
Quem me sabe me presenteia
diariamente
episodicamente
emergencialmente.
Quem me sabe me leva ao céu com um sinal
Quem me sabe entende meus ritos, meus riscos, meus gritos.
Quem me sabe está.

ÚLTIMAS ESTAÇÕES

Nada importam cascas e capas
Nada importam tecidos e chapéus
Nada importam apupos e rapapés
Essencial é a alegria
Essencial é a simplicidade
Essencial é a cumplicidade.
Essencial é a bondade.
Os bolsos seguirão sem moedas
As mãos seguirão sem anéis
Os ombros seguirão sem afagos
As pernas seguirão sem apoios.
As últimas estações
não podem ser vias-sacras.
As últimas estações devem ser leves, francas e ternas.

Se a vida é um sopro,
há que se encontrar
quem a assopre com ternura.

Poesias: Odonir Oliveira

Imagens da Internet

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal AuntieSoul34

2- Canal JoãoBoscoVEVO

3- Canal Luiz lucio Merg