CONVERSA COM ELE
A máquina escreve o que gostaria de lhe dizer nos ouvidos,
em um de cada vez,
um mote
um tema
um verso
uma estrofe
um poema.
A máquina escreve como se falasse de minhas tormentas e dúvidas
o que não poderia gritar pelas noites vazias de ti
em meu teclado
em meu leito
em mim.
[…] ”Lembrei de quantos pacientes parecem ter na cabeça uma narrativa condicional quanto à forma como o amor acontece. Lembrei dos textos de Freud sobre a psicologia da vida amorosa e de como produzimos condições, negativas e positivas, para a escolha de nosso objeto de amor. Entre elas é comum encontrar uma espécie de horror à própria ideia de que devemos agir ativamente para nos propiciarmos situações nas quais a contingência do amor pode acontecer. Aqui a palavra-chave costuma ser: “natural”…. – Natural como sempre foi, amigos de amigos em turmas e festas ou baladas e barzinhos. Um exame mais apurado costuma mostrar que este natural indica apenas a retenção de condições nas quais outros amores aconteceram, em outras épocas da vida as quais, por exemplo, os amigos não estavam casados, as baladas tocavam rock progressivo e inexistiam aplicativos.
Apesar do aumento exponencial deste tipo de tecnologia na aproximação entre casais, há ainda efeitos residuais da primeira geração de usuários deste tipo de rede social. No seu agora clássico “Tinderellas” [1], Lígia Figueiredo e Rosane de Souza, detectaram três estilos de uso destes aplicativos:
1- O curioso, que conversa muito, mas fala pouco de si, demora para se envolver, tal qual um antropólogo que está pesquisando uma outra cultura.
2- O recreativo, que está em busca de diversão, que forma certos códigos e procedimentos para conectar-se a alguém ajustado para a ocasião.
3- O racional, que está olhando para a tarefa em busca de uma escolha de longo prazo, com forte intimidade e investimento de parte a parte.
Descobrindo-se com mais clareza o que cada um quer (seu estilo de uso), esclarecendo-se as condições e escolha (o tipo de apego) e estabelecendo-se com maior transparência do que se compõe o outro, seus traços e qualidades “dinheirais, sexuais e intelectuais”, nada poderia escapar ao procedimento. Bastaria se dar o trabalho de repeti-lo até encontrar o match, crush e seguir viagem. Mas não é isso que está acontecendo. A quantidade de sequelados pelos desencontros digitais, dos cansados de tanta oferta enganosa, dos que simplesmente não suportam a situação tal qual ela se apresenta ainda é muito grande.[…] Isso ajudaria a entender porque tantas pessoas têm ódio mortal dos aplicativos, como se eles vendessem uma falsa promessa, que na verdade estaria mais na nossa interpretação e uso sobre o que eles oferecem, ou seja, como método de encontro eles trazem este efeito iatrogênico de nos fazer acreditar que saber mais e mais rápido é melhor. Talvez sejam as mesmas pessoas que antes amaldiçoavam o amor romântico antes mesmo de ler seu manual de uso (Goethe, Balzac, Flaubert, Stendhal, Tolstoi, Clarice Lispector, Ana Cristina César, Hilda Hist e todos os outros). Isso nos leva a formulação de tipos e enquadramentos muito rápidos sobre o outro, sobre nós naquela situação. Isso aumenta a pressão urgente para decidir e não “perder mais tempo”. […] Em síntese, o amor digital não tem que ver com contrato, não tem que ver com livre escolha de mercadorias, não tem que ver com gostos semelhantes, nem com “tipos” ou “traços” humanos que se completam. Ele depende de nossa capacidade, cada vez mais rara, de suportar não saber e de agir em conformidade com o seu desejo, assim mesmo.”
(Christian Dunker, psicanalista, em Blog do Dunker)
Pertinência: Li ” AMOR VIRTUAL” – o último poema do Geraldo Cunha, escrito a 4 mãos, em seu blog Divagações & Pensamentos – e comentei que esse realmente parece ser um tema a ser escrito por muitas mãos, nos últimos tempos.
Artigo do Christian Dunker, na íntegra:
O que é preciso saber para que o seu crush seja o verdadeiro amor digital
Leia aqui no blog:
Virtualmente
Virtualmente
Plataformas
Plataformas
Poesia: Odonir Oliveira
Imagens retiradas da Internet
Vídeos:
1- Canal Mario Valladares
2- Canal Gal Costa – Tema