Ziraldo foi desenhar no céu

Vídeo: Canal Cortes 247


Canal Milton Nascimento

Antigamente, Drummond

Um encontro marcado com Fernando II

Fernando Sabino – 100 anos

Conheci pessoalmente Fernando Sabino numa noite de novembro de 1991. Fui assistir a uma mesa-redonda da qual  ele participava, em São Paulo. Ao final, ficamos conversando, autografou seu último livro que eu havia levado e foi mineiramente o contador de “causos”, que eu previa.

Contei a ele o trabalho que estava desenvolvendo com meus alunos do Colégio Galileu Galilei, nas sextas séries. Conforme eu lhe contava, seus olhos ficavam cada vez mais atentos. Pediu que lhe mandasse alguma coisa deles pra ele ler. Dando-me seu endereço e telefone em Ipanema, no Rio. Enviei as cartas dos meninos e meninas; nelas eles contavam do que mais haviam gostado no livro lido, faziam perguntas e mais algumas meninices tantas. Fernando respondeu uma por uma e mandou para o colégio.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Odonir Oliveira

Voluntariamente

Conspirações do destino

#TBT: eu, professora

Era o ano de 1988, eu lecionava em uma Escola Estadual, em Carapicuíba, SP, quando fui convidada a gravar com a equipe da TV Cultura, o Projeto Ipê daquele ano, tendo em vista o trabalho que desenvolvia com meus alunos. Todas as equipes das Escolas do Estado o assistiram e serviu de estudo para vários outros projetos pedagógicos. Meus alunos, simples e bem humildes, sentiram-se muito valorizados, importantes mesmo. Anos atrás levei isso para o YouTube, em 3 vídeos, para que ex-alunos tivessem acesso a esse material. Já li comentários de muitos deles narrando que seus filhos nunca os haviam visto e ouvido, quando meninos e adolescentes antes, e agora sim. Magia tem a EDUCAÇÃO !

Mais informações aqui: Sonhos revisitados, 30 anos depoishttps://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/08/30/sonhos-revisitados-30-anos-depois/

O vídeo mostra trabalho com alunos de 4ª série (5º ano), da Escola da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988. Há criação de histórias a partir de livros de Juarez Machado e Ziraldo. Registra-se também um exercício de refacção coletiva de texto produzido pelos alunos. Na sequência, entrevistam-se alunos sobre a forma de se ter aulas de Língua portuguesa, se gostam ou não. Há também a fala da diretora da escola sobre esse tipo de dinâmica de aulas.

O vídeo mostra aula em uma 6ª série (7º ano), da Escola Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988, quando se aborda a reescrita de estruturas linguísticas a partir de letra de música. Analisa-se a circunstância adverbial contextualizadamente, considerando-se a semântica . Entrevistam-se alunos sobre sua preocupação com erros de português, o quanto essa preocupação interfere em suas escritas e como fazer para transformarem erros em acertos, experenciando a língua. Trabalho em duplas para produção.

O vídeo apresenta trabalho com alunos da 7ª série (8º ano), da Escola Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, em 1988, a partir da leitura de literatura brasileira ”Vidas Secas” e ”Capitães da Areia”. Leitura coletiva de produção de texto sobre temas do Nordeste. Discussão, em roda de conversa, sobre o tema, a partir das obras literárias e dos textos informativos lidos, socializando-se o conhecimento entre os alunos.

Poesias: Odonir Oliveira

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Natal, compaixão e solidariedade

ENSINANDO E APRENDENDO: Cada adulto, cada professor e cada professora tem o dever de ensinar a solidariedade e a compaixão e praticar o que ensina, como exemplo de humanidade. Estudos mostram, deve-se ensinar o preço de cada presente recebido e, principalmente o seu valor. Quando mostramos quanto custou aquilo que receberam – sejam valores em dinheiro ou em esforços despendidos, seleção de escolhas a serem feitas etc. estamos também ensinando valores. Há crianças que só valorizam o que ganham se tiver sido comprado em lojas, roupas da última moda, parafernálias tecnológicas etc. Desaprendeu-se o valor do que é feito artesanalmente, individualizadamente e não em série, iguaizinhos para milhões de pessoas. Pena. Mas são os adultos os responsáveis por essa inversão de valores. Percebo avós que já nem sabem mais como presentear crianças e adolescentes, pois sabem que lhes desagradarão. Isso fere sentimentos de avós, podem ter certeza. E aí, para não errarem, dão dinheiro de presente. É preciso rever as humanidades e ensinar que fazemos parte de um TODO. Somos PARTE apenas. É preciso ensinar compaixão e solidariedade. Trata-se de um exercício que engrandece qualquer um. Construir presentes, cortar, desenhar, pintar, costurar, enfeitar, distribuir a outros é muito saudável. Estamos precisando de seres solidários, de seres que NÃO se importem apenas com os presentes que comprarão para os seus familiares, com a ceia que prepararão, com as roupas que vestirão e com os sorrisos que postarão no Instagram e no Facebook. A vida humana é MAIS do que isso. (Em tempo: Os coletores de lixo atrasaram 3 horas hoje. Aguardei na sacada, cuidando das flores, desci, cuidei das de baixo, voltei e os ouvi vindo. Aí desci e coloquei no saquinho o meu presente para eles. Para mim, era pouco, mas para eles foi muito. Cinco sorrisos e desejos sinceros e agradecidos de um Feliz Natal). Lindos.

UBUNTU

Se ando e enxergo, maravilho-me

Se paro e contemplo, pulso

Se ardo em sensações, vivo.

Se estou numa fala num gesto num sorriso, continuo.

Se toco a dor humana, emano

Se acarinho a terra vermelha, sou.

Se tenho compaixão, ajo.

Se tenho ainda a emoção, levito.

Se ando e enxergo, maravilho-me

PROJETO FOME ZERO

Início da década de 2000, março, os alunos receberam o material escolar distribuído pela Prefeitura de São Paulo. Pela primeira vez vinha numa bela sacola, como aquelas das papelarias famosas ou das lojas de shopping. Ali dentro havia cadernos universitários, lápis de cores, giz de cera, dicionário, canetas, lápis pretos, borrachas, régua, transferidor. Ah, uma beleza! Eles recebiam aquilo e se encantavam. Nas sacolas dos menores, das séries iniciais, ainda havia outros materiais pertinentes ao seu trabalho cotidiano nas aulas. Era um encantamento receber aquilo tudo e cheirar cada caderno novo, abrir as caixas de lápis de cores, folhear o dicionário. Parecia que uma fada madrinha havia deixado ali o material de cada um. Os olhos embevecidos, comoção total. Pura poesia.

Ao término das aulas, enquanto caminhavam pelas ruas, dando mãos aos irmãos menores, carregando suas sacolas e as deles, pulavam, cantavam, riam, pareciam ter vindo das compras, pareciam ser como os outros meninos que estavam acostumados a sair das papelarias com os pais, depois de terem escolhido os materiais escolares que desejavam, os mais caros , os mais bonitos. Mas eles sempre foram iguais a quaisquer outros meninos! Não seria o poder de compra que os diferenciaria. Não no que dependesse de mim.

No dia seguinte conclamei meus colegas professores a desenvolvermos um projeto para ressignificar aquelas mudanças que vinham ocorrendo na escola municipal: a distribuição do material escolar, as peruas que levavam e traziam os alunos de lugares um pouco mais distantes, as refeições oferecidas nos 3 períodos com arroz, feijão, carne, salada e frutas de sobremesa. ( Já recebiam a lata de leite em pó antes, e livros do governo federal – agora também ofertados ao nível médio e à EJA ( educação de jovens e adultos). Elaboramos e demos encaminhamento a um projeto que esclarecia o custo daquilo tudo, de onde vinham os recursos para aquelas aquisições, de como cuidar do material recebido, como encapá-lo, cuidar dele etc. Para isso foi necessário ensinar, sentar com eles, encapar com eles, criar etiquetas, capas personalizadas, talvez o rosto de um ídolo, talvez um poema, talvez o símbolo da disciplina, da matéria que o caderno abrigaria …

Os cálculos de quanto custavam os 2 uniformes de inverno e os de verão – que receberam também. Logo depois o custo do passe estudantil a que tinham direito e assim por diante. Projeto envolvendo muitas disciplinas escolares e a valorização do que recebiam. Conscientização de todo investimento em EDUCAÇÃO. Assim, quando mais tarde quisessem lhes arrancar aquilo a que tinham direito – direito adquirido – soubessem eles reivindicar, lutar mesmo pelo que buscavam.

DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS AOS MAIS NECESSITADOS

Depois da leitura da coleção de livros sobre Cidadania, de Edson Gabriel Garcia, algumas ações foram propostas: montar caixas com alimentos em cestas básicas para a população necessitada. Integravam-se assim à Campanha FOME ZERO, idealizada pelo grande Betinho. Integramos nossas ações a ações mais amplas e cidadãs, portanto. Encaminhamos à Sub-prefeitura Regional da Lapa, ao sub-prefeito, na presença do autor Edson G. Garcia e com cobertura do Jornal da Lapa. O autor, meu amigo, se encarregou da solicitação de divulgação, para que outras escolas pudessem se inspirar e ensinar o que os nossos alunos aprenderam.

Há aqui nesse blog uma categoria Natal – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/ onde podem ser lidas e ouvidas muitas histórias e poesias de Natal.

Texto e poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

O Ziraldo que conheci

“Zi, de Zizinha e raldo, de Geraldo, prazer em te conhecer”
Foi assim que conheci Ziraldo, em 1988, no stand da Editora Melhoramentos, na BIENAL DO LIVRO, em SP. Eu estava acompanhada de uma quantidade de alunos da Escola Estadual da Aldeia de Carapicuíba, São Paulo. Ele foi muito afetivo com meus meninos pobres, autografou livros e pediu que eles autografassem os deles para ele levar consigo. Eram exemplares de “Flicts e seus amigos”, uma resposta ao dele, ao 1º livro dele, FLICTS, “Só que a gente fizemos um livro mais alegre, acho que ele deve ter gostado, né”– falou um dos meninos.
O vídeo abaixo traz o registro do trabalho com essas crianças.
Ziraldo me contou nesse dia que estavam saindo “do forno” histórias em quadrinhos, mais baratas para que todas as crianças pudessem ler, visto que livros, em geral, eram caros para muitas crianças. Nós adoramos a ideia.
Anos mais tarde, me tornei leitora crítica do segmento de literatura infanto-juvenil da Editora Melhoramentos. A editora era Leila Bortolazzi (que ainda é) e conhecia meu trabalho. Fui a eventos de lançamentos lá com ele e pude vê-lo bem de pertinho em pequenas rodas de aproximação.
Mais tarde, quando lançou a A Vovó Maluquinha, A Professora Maluquinha e a Coleção Bichinho da Maçã, estive presente.
Frases de Ziraldo; “LER É MAIS IMPORTANTE QUE ESTUDAR”, provocando a incompreensão de uma leva de professores. Eu assinava embaixo, usava até um botton com ela. Entendia, como ele, que o ensino regular, normativo e apenas reprodutor não era mais importante do que a LEITURA; ela sim, livre, variada, encantada… que ensina a criar, a desabrochar, a aprender.
Em fins dos anos de 1990, criou a revista Bundas e cunhou o bordão “QUEM MOSTROU A BUNDA NA CARAS NÃO VAI QUERER MOSTRAR A CARA EM BUNDAS”. Era frasista como seu amigo Millôr Fernandes. Eu sempre adorei a irreverência de ambos. Desde os tempos de O Pasquim, no Rio.
Guardo dele muitas e muitas lembranças, e livros autografados.
No último fim de semana assisti por 2 vezes ao filme dirigido por sua filha Fabrizia Pinto, no Canal Curta, “Ziraldo, era uma vez um menino”, e me emocionei muito.
Ziraldo completou 90 anos e, mesmo debilitado por seguidos AVCs, ainda gravou vídeo em 2018 contra a ameaça que viria a acontecer ao nosso país. Estava certo.
Antes de aprender a ler, minha filha aprendeu FLICTS, em 1985. Eu, junto com ela.
Tenho imagens maravilhosas com seus livros em mim.

1988

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Odonir Oliveira (a partir de gravação da TV Cultura)

A gramática da poesia

GRAMÁTICA PARA QUÊ? PARA QUEM?

Gramática é norma. Existe na escrita, mas também na fala. É um traje que se veste para situações adequadas, intencionalmente ou intuitivamente. A linguagem verbal se efetiva quando comunica, quando expressa o que se quis expressar. E tem mais, existe uma gramática interna, nativa que explicita suas próprias regras. Fala-se as moça, mas não a moças – intuitivamente o artigo já seria suficiente para a identificação de plural. (Aliás há línguas que possuem regras semelhantes ou com a predominância do artigo, ou com a ausência dele, ou ainda apenas com o substantivo no plural. Basta). As línguas são vivas e se modificam. Ou como você acha que se formaram as neolatinas, por exemplo? Da conquista dos povos, na imposição do seu idioma mas, sobretudo, e com o tempo, da mescla da língua que já se falava naquele território conquistado com o latim.

Como é penoso ter que ensinar a norma culta escrita – e aprender – a quem não é usuário dessa língua! Quantas vezes vi alunos serem retidos (não por mim) em séries escolares por não saberem gramática, não “executarem gramática” em seus textos etc. Se uma criança pequena fala astrelinha, como vai escrever as estrelinhas; se o marceneiro fala “dei um nol, não sai mais”, como aceitar que a palavra é “nó”… Portanto, há que se ensinar a ler e a escrever com essa capacidade de entendimento e dar ferramentas aos alunos para que tenham bagagem e saibam usar a linguagem adequada em determinadas situações de uso, oralmente ou de forma escrita. E mais, cabe ao professor facilitar os diálogos. E não coibi-los. A lógica interna e a repetição social das palavras é tão forte que, certa vez uma professora, em um curso que eu ministrava, chegou a formular significados diferentes para grafias diferentes da palavra “problema”, escrita assim se referia a questões matemáticas e “poblema” eram os que encontramos na vida para serem enfrentados e resolvidos. Veja você a internalização do termo.

CLASSES GRAMATICAIS. VAMOS ESCREVER POEMAS?

O QUE É SUBSTANTIVO NAS POESIAS?

Muitos poetas escreveram versos apenas com substantivos. Que sensações, que expressividade haveria em poemas concretos apenas com substantivos? Daí emerge o conceito gramatical: são palavras que nomeiam, que dão nomes a objetos, animais, pessoas, sentimentos e a resultados de ações. Depois de uma visita a um supermercado (ou até antes), a um jardim, a ruas do bairro, nossa, quanto se garimpa para se organizar depois, para se distribuir em versos e estrofes. Sem pensar nas rimas – internas e externas.

Ao final dos passeios, haverá uma coletânea de poemas, totalmente substantivos. E o mais importante é que o conceito gramatical terá sido realmente experenciado na escrita.

OS ADJETIVOS SÃO SEMPRE POÉTICOS

Adjetivos são aqueles que caracterizam, determinam, diferenciam os substantivos; não só eles, mas também as locuções adjetivas. Já imaginou um poema com um único substantivo e repleto de caracterizadores?

Nesse meu poema há, inclusive, substantivos exercendo a função de caracterizadores. Já imaginou que questões interessantes podem ser feitas aos alunos?

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO

Registrar ações em um evento, um episódio, até dos mais corriqueiros em salas de aula, facilita um rol de ações que podem ser organizadas em sequência, enumeradas e distribuídas em versos e estrofes. Ah, e não precisam estar no infinitivo não, só no nome dos verbos; podem aparecer conjugados, até em tempos verbais diferentes. Já pensou que “prato cheio” para se refletir sobre a língua? Prosa poética também “orna” muito bem com sequência de verbos e pontuação.

AS CLASSES GRAMATICAIS DANÇAM JUNTAS PELAS ESTROFES

Meu filho ainda não era alfabetizado, tinha 5 anos apenas, e na volta da escola, em meio a um trânsito caótico com ele, desenvolvi um jogo com essas 3 categorias gramaticais, a partir do que víamos da janela do carro, geralmente quando estávamos parados. Árvore“ah, mãe é fácil, né, dá nome pra aquilo ali, é substantivo”. Dirigir – “moleza, você tá fazendo uma coisa, uma ação, é verbo, mãe”. E assim eu ia adicionando às minhas leituras teóricas como se ensinar classes gramaticais, a partir de situações contextualizadas, vividas e repletas de significado. E continuávamos nosso jogo. É, porque ele também perguntava, exercitando seu pensamento reverso ou reflexo, fazendo a “prova dos nove”. Aos 5 anos.

Aqui no blog há uma categoria dedicada aos professores: Trabalhos realizados com alunos https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trabalhos-realizados-com-alunos/ e no meu canal no Youtube há uma playlist com o processo em vídeos Trabalhos com alunos: https://www.youtube.com/watch?v=Sd05-w7BRsk&list=PLiGoruawiNp48BFd-W1BujiBYMBSxi9y4

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Palavra Cantada Oficial

“Vote no VI, no VTD, no VTI, no VTDI, no VL!”

[…]

Há 40 anos, outra lei fazia uma simplificação ainda maior das campanhas eleitorais. Trata-se da Lei Falcão

(Lei 6.339/1976), que transformou a divulgação das candidaturas no rádio e na TV numa verdadeira lista de chamada. Um locutor apresentava os políticos, e eles não podiam mostrar suas propostas.

A Lei Falcão determinava que a propaganda de rádio e TV para os pleitos municipais de 1976 deveria consistir apenas em uma narração do nome, do partido, do número e do currículo de cada candidato. Nas propagandas televisivas, havia ainda uma foto dele. No máximo, era permitido divulgar datas e locais de comícios.

O idealizador da norma foi o ministro da Justiça da época, Armando Falcão, tão identificado com a lei que acabou por batizá-la nos anais da história. Conhecido pela defesa aberta da censura aos meios de comunicação e pelo uso contumaz da frase “nada a declarar” em resposta a perguntas da imprensa, Falcão ocupou o cargo durante todo o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979).

Segundo o discurso oficial, Geisel, o quarto presidente da ditadura militar, promovia uma abertura política “lenta, gradual e segura”. Na prática, patrocinava iniciativas como a Lei Falcão, que buscavam frear o avanço da oposição. A lei foi uma reação ao resultado das eleições de 1974, quando o MDB, partido oposicionista, conquistou 15 das 22 cadeiras em disputa no Senado e 44% dos assentos na Câmara dos Deputados.

Oficialmente, a intenção era outra. Na exposição de motivos do projeto, o ministro Armando Falcão explicava que a ideia da restrição era “reduzir desigualdades” entre municípios grandes, com acesso amplo a televisão e rádio, e pequenos, onde esses recursos ainda não haviam chegado expressivamente.

Além disso, Falcão alegava querer “evitar tumulto” entre as cidades. Na época, as propagandas políticas dos municípios maiores acabavam sendo retransmitidas também para os municípios vizinhos, que estavam na área de cobertura das emissoras. Discussões de problemas e propostas acabavam extrapolando a população do próprio município, resultando em “confusão no eleitorado”, segundo ele.

“Dar a poucos municípios o direito de discutir seus problemas específicos, em campanha cujo raio de ação abrange muitos deles, é favorecer alguns e prejudicar a maioria. O projeto não tem caráter restritivo, mas o claro objetivo de adequar a lei à realidade”, escreveu Falcão.

Fonte: Agência Senado – https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/09/30/ha-40-anos-lei-falcao-reduzia-campanha-eleitoral-na-tv-a-lista-de-chamada

Canal Êgon Bonfim – Vale assistir e comparar a trajetória dos políticos que aparecem em 1985 nessa campanha e os destinos que tiveram até 2022.

PROJETO TRANSITIVIDADE VERBAL – 1985
Meninos e meninas da Escola Chácara Crescer viam pela primeira vez na TV a Campanha Eleitoral. Isso mexia com saberes antes não experimentados. Era preciso trabalhar conhecimentos, linguagem exercício de cidadania, conceito de democracia, ufa, tantos conhecimentos. Foi então que cada professor e professora da escola foi estudar e tornar mais didático o que a TV e o rádio mostravam naquele ano, antes das eleições municipais em São Paulo.
A Escola Chácara Crescer ficava em Cotia, em uma chácara. Usávamos as open class, salas sem portas ou janelas, mas apenas com muretas que davam para árvores, flores, canteiros e bosque. (*Leia-se Carl Rogers)
Havia quadra de esportes, piscina, refeitório – aberto – com aulas de marcenaria, de culinária, de música, de artes plásticas, de teatro, de horta, de natação etc. Além das disciplinas do currículo regular.
Contávamos com período integral, 3 vezes na semana. Os alunos liam livros após o almoço em redes, bancos, deitados, em almofadões, tudo que lhes fizesse confortáveis ao prazer de ler.
Nós, professores, fazíamos reuniões semanais nas noites de 5ª feira, ora em Cotia, ora em São Paulo, porque, como eu, muitos professores vinham de São Paulo. Era com a orientação da psicóloga Sílvia Lobo e da psicopedagoga Eloísa Fagali que aprendíamos sobre Paulo Freire, Emília Ferrero, Piaget, Vygotsky e tantos mais. E partíamos DA REFLEXÃO À AÇÃO.
Minha filha estudava na escola e aprendeu a ler com Paulo Freire. Aprendeu a fazer bolo de chocolate, salgados, marcenaria, estudava e tocava flautinha, praticava esportes, tinha aulas de teatro e de economia doméstica.

CAMPANHA ELEITORAL NA TV
Invadia as aulas aquele processo louco de se ver candidatos apenas com nome e número, sempre lidos pelo mesmo locutor. E agora? Há novidade nas campanhas.
A TV nos anos de 1980 era a Internet de hoje, as redes sociais de hoje. Cumpria ensinar nossos alunos a assistirem e refletirem sobre aquilo que estavam vendo ali.
Assim, meninos e meninas de 11 a 15 anos assistiam à noite ao Horário Eleitoral Gratuito e depois refletíamos sobre o que haviam achado, se acreditavam, de quais políticos haviam gostado mais etc. Era muito bom analisar tudo o que nos traziam. Tudo era novidade naquele ano.
Bem, passamos a estudar a TRANSITIVIDADE VERBAL.
Construíram suas plataformas para 5 partidos: VI (verbos intransitivos), VTD (verbos transitivos diretos), VTI (verbos transitivos indiretos), VTDI (verbos transitivos diretos e indiretos) e VL (verbos de ligação)
Tiveram que estudar CONCEITOS, criar EXEMPLOS (alguns criaram até jingles, imagine). Os comícios eram diários, durante uma semana inteira, com caminhada pelo bosque com cartazes, tambores, apitos e discursos. Aprenderam muito. E se informaram, se divertiram, criaram, e a Escola Chácara Crescer ainda fez, na véspera da eleição, uma votação com cédulas, apuração, anúncio do novo prefeito eleito na escola e tudo o mais. Tudo em 1985.

MAIS OU MENOS ASSIM:

VOTE NO VI : O partido que NÃO NECESSITA DE COMPLEMENTOS, não é dependente, tem sentido em si mesmo. Ex: A planta MORREU. VOTE NO VTD: O partido que governa com complementos, atua DIRETAMENTE com eles, sem PREPOSIÇÕES intermediárias. Ex: A professora LEU o texto. VOTE NO VTI: O partido que estabelece pontes com as PREPOSIÇÕES para INDIRETAMENTE complementar seu significado. Ex: Os alunos PRECISAM DE cadernos novos. VOTE NO VTDI: O partido que acolhe os DIRETOS, os INDIRETOS e complementa seus sentidos. Ex: A diretora ENTREGOU os livros aos professores. VOTE NO VL: O partido que faz a LIGAÇÃO entre os sujeitos e os seus predicativos, o mais democrático. Ex: A piscina ESTAVA suja. (Lembro que os enunciados seguiam nessa linha, em cartazes, representando cada partido “político”). Depois foi só alegria!

Saliento que esses alunos privilegiados economicamente, por serem filhos de sociólogos, professores universitários e de outros profissionais liberais, realizavam trabalhos sociais e comunitários conosco. Por exemplo, eu lecionava na Escola Estadual da Aldeia de Carapicuíba, próxima à deles e isso lá se dava de muitas formas. E o trabalho que eu desenvolvia ali era bem semelhante. Foi com eles que vivi a experiência de trazer o escritor Pedro Bandeira, quando iniciava seus escritos infanto-juvenis, para assistir a cenas de seu livro A Droga da Obediência – que muito o emocionaram, pois era a primeira vez que seus personagens saíam das páginas do livro e viravam gente, declarou o autor.
Hoje tenho notícia de que um desses nossos alunos da Escola Chácara Crescer é um bem-sucedido biógrafo (de Sócrates, de Nara Leão, de Caetano…), outros são músicos, programadores e compositores do “Instituto”, outros se dedicam ao teatro, à fotografia, ao jornalismo e há ainda outros que se tornaram bons profissionais liberais também.

*Carl Rogers foi um psicólogo estadunidense atuante na terceira força da psicologia e desenvolvedor da Abordagem Centrada na Pessoa.

Leia aqui nesse blog, na categoria: Trabalhos realizados com alunos -https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trabalhos-realizados-com-alunos/ sequências didáticas, com exemplos e ilustrações, que até hoje – em 2022 -são inovadoras.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal