O AMOR PRIMEIRO Rafael era menino sensível, gostava de brincar com objetos que criava, de desenhar coisas que imaginava, de sonhar sonhos sonhadores Rafael voava com asas de fantasia em tapetes mágicos com luzes de estrelas brilhantes nos céus Rafael fazia pipas com rabiolas enormes ficava contemplando sua dança aos ventos aos ares aos roteiros de flores Rafael se apaixonava facilmente tudo que via pela primeira vez era com sabor doce de paixão coloria com lápis de cores na ponta dos dedos tudo o que desejava colorir nada ficava sem sabor, sem cor, sem amor encantara-se aos doze anos sua Vênus era a Martinha chamou-a de Flor queria vê-la desabrochar pintá-la com seus dedos de lápis acariciar sua pele como pétala cheirá-la como às mangas do quintal Flor foi seu primeiro amor airosa quente encantadora sorridente
Em 1994, no auge da demanda por cantos gregorianos, ganhei esse CD encantador. São 15 canções brasileiras, emblemáticas, no espírito gregoriano. É mesmo de elevar aos céus. Gosto de objetos físicos, agora ouvindo o CD, percebi que muitos podem não conhecê-lo até. Foi gravado na Capela da Fazenda Ermida, em Jundiaí, em outubro de 1994. E por mais que buscassem estar sós em suas vozes, a natureza se fez presente com cigarras, grilos, cachorros, sapos, vento e chuva, insistindo em participar também. É uma preciosidade!
Entre as várias definições da estética musical moderna, uma, frequentemente, chama a atenção: a que diz ser o silêncio, uma sensação causada pelo som. Usualmente associado à ausência, tal definição de silêncio pode parecer, a princípio, um tanto estranha e paradoxal. No entanto, o que a estética aqui sugere é a relação complementarexistente entre silêncio e som.Esse é o princípio que norteia a ”música silenciosa”.
”Trata-se de um tipo de estruturação musical que através da repetição constantede seus elementos (monotonia), da previsibilidade de suas ocorrênciase da simplicidade de concatenação que, em geral, é apenas delineamento, leva o ouvinte à sensação de tranquilidade, equilíbrio, serenidade, ou seja, silêncio interior.Evitando elementos inesperados (surpresas), tensão dramática e oferecendo ainda a repetição como elemento possível de fixação da atenção, este tipo de músicatende a inibir a excitação, a ansiedade, o fluxo descontrolado de pensamento e preocupações cotidianas, levando gradativamente o ouvinte a um estado de relaxamento, quietude mental, apaziguamento, em suma, a um estado psicológico de interiorização. Esse trabalho é uma tentativa experimental de aplicação deste conceito estético – também presente, entre outras, na música europeia medieval, na música clássica da Índia, na música ”Zen” do Japão – ao cancioneiro popular do Brasil. […] A escolha do repertório buscou selecionar canções que expressassem sentimentos fundamentais do ser humano, bem como as que enfatizam formas integrativas do Homem com a natureza e com seus semelhantes”- Sérgio Bizetti
OS JOVENS E O AMOR Durante mais de duas décadas lecionei literatura brasileira no ensino médio (antes chamado de 2º grau). Ao tratarmos do Romantismo no Brasil, gostava de dar um tratamento histórico e social ao período. Em 1978, por exemplo, em Santos, percebia garotas gostando daqueles aspectos narrados, das descrições, do contexto cheio de conflitos ingênuos, elementos inesperados, soluções encontradas pelos autores para um final feliz nas histórias. E até os rapazes mostravam-se românticos, ou seja, gostavam daquelas narrativas sofridas e depois resolvidas ao final. Nos anos de 1980, já começava a perceber mudanças na postura de garotas e rapazes em relação aos romances românticos, resistência mesmo aos seus enredos. Fazíamos encenações, estudávamos o contexto sociocultural, a história do período etc. mas já não aceitavam mais aqueles temas tratados pelos romancistas. E nos anos de 1990 então… era um deboche só, achavam os protagonistas tontos, irreais etc. As garotas, ainda repletas de romantismos – mas sem quererem passar recibo – também riam, ironizavam etc. Lembrei-me do ”beijo BCG” o que salva da tuberculose, aquele que salvou Carlota de Cinco Minutos da morte e ainda fez com que ela e o protagonista narrador vivessem felizes em Minas Gerais, ao final. Trata-se do 1º romance de José de Alencar, folhetim de 1ª, com todas as características pertinentes a esse gênero, em capítulos, como nas novelas de TV. Depois publicou-o junto com A Viuvinha, outro exemplo do gênero. Enfim, hoje os funks têm suas letras que retratam o cotidiano das grandes cidades e as canções sertanejas atuais, idem. São crônicas de um tempo, de uma realidade sociocultural também. Serão estudadas mais tarde.
Cinco Minutos, assim como A Viuvinha, foram escritos no início da carreira de José de Alencar. Assim como os outros romances caracterizados pelo romantismo ingênuo de Alencar, esses dois não fogem à regra, são feitos aos moldes de folhetim, curtos, quase infantis. Têm como pano de fundo o Rio de Janeiro. Cinco Minutos faz parte da fase urbana do escritor.
Resumo do livro
Cinco Minutos conta a história do casamento do autor com Carlota. No entanto, para o leitor, parece que está escutando uma história que não é para ele, já que Alencar dirige seu texto a uma prima. O leitor aqui é uma terceira pessoa, um “voyer” que fica entre José de Alencar e sua prima.
Ao mesmo tempo em que tenta levar o leitor a pensar que tudo é imaginário e faz parte das fantasias do autor, José de Alencar faz questão de narrar fatos verídicos da época, acontecimentos reais que marcaram o Rio de Janeiro no início do século. É tão minucioso nesse aspecto que até narra datas e horários etc.
Atualmente as histórias do autor romântico passam como que quase infantis e ingênuas para o leitor moderno. São narrações em que o amor sempre vence, decisões passionais de amantes, amor e amor e amor. À época, os folhetins eram lidos pelas senhoras burgueses. Exagerando-se um pouco na dose, poderíamos dizer que Alencar lembra remotamente, os livrinhos que embalam os sonhos de moças solteiras, no entanto não se pode deixar de dizer que sua escrita, linguagem, e modo estilístico são de extrema qualidade. Foi Alencar quem dissociou-se do modelo português da escrita para definitivamente inaugurar o texto nosso, brasileiro.
Os livros Cinco Minutos e A Viuvinha falam sobre a vida burguesa. Suas personagens são personagens que, no fundo, representam o ideal acabado da vida burguesa, tropicalmente reproduzida na Corte brasileira. Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está disponível, da primeira à última página, para satisfazer a todos os caprichos de sua imaginação. Sem compromisso profissional algum, o aspecto financeiro de suas peregrinações atrás de Carlota não chegam jamais a preocupá-lo.
Personagens
Protagonista: Personagem redonda, também narrador, pois conta a história em 1ª pessoa, não é citado seu nome. A história gira em torno do amor que ele sente por Carlota e a sede que sente em revê-la e estar ao seu lado.
Carlota: Personagem redonda, antagonista no começo, porque ela mesma impede o personagem principal de encontra-la, pois pensa ter uma doença incurável e não quer faze-lo sofrer, mas logo se rende ao amor dele.
Personagens secundárias e planas: A prima a quem a carta que contém a história é endereçada, a mãe de Carlota, o velho da canoa.
Enredo
Situação inicial: O protagonista é um homem fútil que não sabe o que é paixão, e vive uma vida rotineira e melancólica. Carlota, menina adoentada de 16 anos, o ama anonimamente, seguindo-o em festas e nas ruas.
Motivo desequilibrador: A história muda a partir do momento em que ele se atrasa cinco minutos e perde seu ônibus. Ao ter que tomar outro ônibus acaba encontrando Carlota, que não conhece fisicamente ou socialmente, mas que se torna uma obsessão em sua mente.
Clímax: O momento culminante é quando ela revela sua identidade, sua doença e seu amor por ele, mas logo em seguida o abandona, deixando-o com a escolha de ir a se encontro e presenciar seus últimos dias ou esquecê-la e não ver seu sofrimento.
Desfecho final: A volta do equilíbrio acontece quando ela se cura de sua doença e eles voltam casados da viagem e se estabelecem em “uma linda casa, toda alva e louçã”, que fica fora da cidade e “vivem felizes para sempre”.
Espaço e ambiente
Espaço: A cidade do Rio de Janeiro, a cidade de Petrópolis, Minas Gerais onde eles se estabelecem no fim, além de vários países da Europa.
Ambiente: Calmo no começo e no fim. Doentio quando ele procura saber a identidade de sua amada e quando ele tenta chegar rápido ao Rio de Janeiro.
Tempo
Tempo cronológico: A história que é narrada se passa no ano de 1857.
Tempo psicológico: O livro é todo em flashback, pois o narrador conta a história que se passou dois anos atrás. Ele infere no meio da narração suas reflexões sobre a vida, os costumes, suas vaidades e seus conhecimentos sobre as mulheres.
Foco narrativo
O discurso é direto, o narrador em 1ª pessoa dá aos leitores uma visão parcial daquilo que está sendo narrado, a visão dele. Ele conta a história do centro, pois ele é o personagem principal, fazendo uso de vários canais para se comunicar com o leitor, palavras, reflexões, sentimentos, ações, etc… O livro é na verdade uma carta endereçada a uma prima, citada algumas vezes e usada na tentativa do narrador interagir com o leitor.
Considerações finais
O livro é um exímio exemplar do período romântico brasileiro, de estilo arrebatado e hiperbólico, predominante na linguagem característica do autor José de Alencar.
Sou obsessiva. Sou obsessiva sim. Tenho ideia fixa de justiça Tenho ideia fixa de comprometimento. Tenho ideia fixa de educação Tenho ideia fixa de doação e entrega.
Não tenho receio de dor. Não tenho medo de envolvimento. Não tenho pavor de amor.
Minha obsessão por ensinar seja a miúdos, maduros, graúdos passa pelo ato de amar.
Não restrinjam minhas ações. Não desprezem minhas veredas. Não me imponham o silêncio covarde. Não me limitem os braços e as pernas. Não me amordacem o verbo.
Defendo meus aprendizes como felina parida. Não mexam com eles. Não os ignorem Não os maltratem. Não os desprezem.
Somos raízes, mas também somos sementes.
ESPALHANDO LEITURAS
Em 2014, quando iniciei com as crianças do bairro um Clubinho da Leitura, elas ficaram encantadas. A mediação da leitura era raríssima nas escolas da cidade, talvez houvesse em algumas das particulares. Minha preocupação era a de alargar o público que desfrutaria do Clubinho, assim ensinei-lhes a propaganda das leituras, a fim de seduzir outras crianças, os pais, tios e avós de outras crianças e com isso incentivá-las a levar seus familiares a frequentar o Clubinho.
Em uma das primeiras atividades de divulgação dos livros escolhidos, lidos e mais saboreados, preparei-os para que fossem comigo fazer a ”publicidade” dos livros lidos, em síntese, do ato de ler – visando ao desenvolvimento da linguagem oral, da argumentação crítica e, principalmente, da socialização e diminuição da timidez do ato de falar em público, no bairro, nas lojas comerciais, nas residências, no Posto de Saúde,
Claro, eram os primeiros meses, nunca haviam tido experiência semelhante, mas aceitaram os desafios e foram, comigo junto. Os vídeos são bem rudimentares, como também éramos nós naquele ano de 2014. Eu os conhecendo, conhecendo os moradores do bairro e eles, ah, eles se fascinando com a MAGIA DE LER.
Distribuindo filipetas de divulgação do Clubinho, no Posto de Saúde, às futuras médicas, funcionárias, usuários e ao doutor que cuidava delas fazia tempo.“É tudo de graça, viu, pode chamar seus filhos”– repetiam as meninas.
Como não olhar você chegando pela estrada De um lado, oeste De outro, leste De um lado dia De outro, noite De um lado noite Do outro vermelhidão Fogueira incendiando céu, ar, imensidão? Como não adivinhar você Belo, forte, bravo, conquistador? Como não adivinhar você,
Novo dia, Que se abre dessa escuridão?
ELA SE CHAMA MARIANA Foi no fim dos anos de 1970 que se conheceram na UFOP. Foi atração primeira no barzinho na rua de pé-de-moleque. Ela não era de Minas Gerais; ele, sim. Foram viver em repúblicas próximas, mas seu curso era de Humanas, portanto em Mariana. Ele cursava engenharia, em Ouro Preto. Mas … morando em Mariana. Naqueles anos, a agitação universitária era fatal. Ele fora presidente do Centro Acadêmico, e ela lia livros de artes, poemas, estudava arquitetura colonial . E sonhava. Foram amados e amantes durante todo o tempo da universidade. E depois, ainda se encontraram em cidades outras. Não haviam permanecido em Minas Gerais. Ele estaria vivendo no exterior e Mariana, na maior metrópole do país. Nos anos 2000, Mariana apresentara sintomas de cegueira precoce, aos poucos, mas cegueira. Afirmavam que ficaria cega, mais cedo ou mais tarde. Cega ou não, resolvera volver aos 17. Mudou-se para Mariana. Continuaria seu trabalho com esculturas e decidiu que ali permaneceria até o fim de seus dias. Ao chegar à cidade, percorreu de logo a estação. Sentou-se num banco da gare – como se esperasse por alguém – fez isso muitas vezes depois. Encontrou uma casa com requintes de simplicidade, como buscava. Bem perto, estabeleceu seu ateliê e daria aulas – trabalho voluntário – àqueles que se interessassem por esculturas e arte. Devolveria à cidade o que recebeu da Universidade Federal. Aos fins de tarde costumava visitar pontos em que vivera grandes alegrias na cidade. Era um estado de contemplação único. Sempre uma espera, sempre uma recordação, sempre um encanto. Mariana percorria Mariana como se fossem as mesmas, ela e a cidade. Observando visitantes entre as duas igrejas, fotografou em si os momentos que ali também estivera sentada, naqueles degraus. Recolheu–se à Igreja e rezou agradecendo a oportunidade de poder estar vendo e vivendo tudo aquilo de novo. Não estava cega. Via, via tudo aquilo que ainda precisaria ver. Agradeceu.
De pouca fala, poucos ditos, pouco lirismo De muito ritmo, muita ação, muita força.
Arrebatou-a com atitude. Sequestrou-a com veracidades. Raptou-a com fragrâncias no colo.
– Vamos pra Cuba?!
Pés que reconhecem pés, por décadas, mesmos poeirais de antanhos, mesmos, mesmas raízes nas flores de seus jardins mesmas brejeirices de meninices mesmos olhos claros em um mesmas pernas em outra fetiches-lembranças na estrada.
– Vamos pra Cuba!
SALSAS E SUSPIROS Naquela tarde, o carteiro tocara a campainha e surpreendera Gabriela (logo a ela que sempre brincava com ele Você por aqui? Pensei que tivesse me abandonado, primeiro só correspondências comerciais, depois nem isso. E ao vê-lo sempre lhe acenava e recomendava Da próxima vez, toque a campainha aqui me traga boas notícias ou uma carta de Amor, não desapareça não. ) Naquela tarde cumprira sua tarefa. Entregava a ela uma caixa e lhe pedia que assinasse o recebimento. Ela lhe agradeceu com uma mesura cortês. Gabriela, não aceitava que lhe chamassem de Gabi. Essa não sou eu. Sou Gabriela, aquela cravo e canela de Jorge Amado, não se esqueça – dizia sempre. Gabi era, era … Não era ela. Nos tempos da Sociologia na Universidade se encantara com o amigo Miguel, era homem de surpreender – como ela gostava – fazia graça, era espirituoso, criativo, adorava debochar dos burgueses que se entendiam os seres escolhidos, os melhores. De políticos corruptos então, nem se fale. Certa vez, desafiado por uma turma inteira, fez mesuras, cumprimentou e bajulou o mais corrupto dos corruptos naquele comício. O empresário da famosa companhia se derreteu com suas palavras e agradeceu o voto que Miguel lhe prometia. Ao encontrar a turma, que observava tudo, desmanchou-se em gargalhadas e pediu desinfetante para as mãos. Anos mais tarde, infelizmente, fora contratado como geólogo, para detectar petróleo em regiões impossíveis de serem encontradas quaisquer manchas do óleo sequer. Depois caiu fora e sumiu no mundo. Gostava de isolamentos. Vez ou outra se comunicava com Gabriela. E olha que ela se mudara de endereço algumas vezes. Ele a achava. Quando Elis morreu, apareceu no apartamento dela com o disco póstumo do seu último show nas mãos. Comprei pra você, vou ficar uns dias na cidade. Riram e se divertiram por uns 20 dias. Depois se foi. Gabriela nunca fora mulher de colocar cangas em homens, ainda mais nos mais queridos. E nos amigos. Mas sentia falta de rir com ele, de suas pilhérias, de seus trocadilhos e respostas rápidas – humor de gente inteligente. De uma última vez descobrira um telefone fixo dele, resolvera telefonar e confirmar se o endereço ainda era o mesmo. Escrevera-lhe uma carta – adorava cartas, envelopes, correios, carteiros – queria contar-lhe as novidades, estava se mudando, e sua amizade era tão bonita, fazia tão bem a ela… Ligou, ele atendeu, reconheceu sua voz, e ela se identificou, mas nem deixou que falasse nada Estou ocupado agora. Não posso falar, ok. Gabriela se lembrou da canção de Chico e Tom, “Te ligo afobada/ E deixo confissões no gravador/ Vai ser engraçado se tens um novo amor” Gabriela era pimenta, adorava dançar salsa, no aconchego de um abraço apertado, rir, pilheriar, contar cousas, lousas e maripousas, e Miguel era o máximo. Ficou com o envelope que postaria queimando nas mãos. Pena, ele adoraria ter lido tudo aquilo e teria rido muito. Agora… o carteiro lhe entrega a caixa com O Milagre dos Peixes, do Milton Nascimento e o Buena Vista Social Club. Um bilhete curto com um poema de Miguel, aos moldes de seu ídolo Leminski. Gabriela que cultiva tomilho, alecrim, manjericão, cebolinha, salsinha e salsão, ficou ouvindo o dia inteirinho Ibrahim Ferrer. E dançando salsa enquanto regava seus canteiros.
CORDAS DE VIOLAS Aqui no meu peito dormem meu avô Zé e minha vó Natália nos verdes dos meus anos descansam meu vô Juquinha e minha vó Jovem trazem raízes nas mãos e nos pés envoltas na terra vermelha dos caminhos pelo túnel da Oeste seguem o rumo dos inconfidentes janelas olham dos sobrados de Drummond há pedras no meio dos caminhos há serras de pedras no meio dos caminhos o jovem pai vai estudar na Escola Agrotécnica a mãe entrega o pão da vida aos cotidianos há sempre um trem sobre nossas cabeças há um hospício holocausto nos trilhos do trem coretos ensinam alegrias nos domingos libertários cemitérios guardam nossos mortos aqui no meu peito guardo um bater circunspecto no chão que piso tem sangue de todos os meus por Minas Gerais sobrevoam pássaros eternos vêm dos céus aparo cada um acolho cada um guardo cada um aqui no meu peito
TERRA DE MINAS
Que bondade tem o garoto mineiro que ajuda a carregar embrulhos, mesmo sem precisão… Que prosaico é aquele “cê bobo” ao final das frases coloquiais … Que vontade é essa de ficar sentado na praça a tocar causos e prosas até o entardecer… Que permissivo é esse tom de confidência de quem jamais nos viu antes … Que adocicado é esse olhar de matutagem espalhado pelas calçadas … Que coisa caseira é essa que me enternece de água os olhos … Talvez seja encontro de sangue mineiro com sangue mineiro. Talvez seja um ponto de vista repleto de montanhas . Talvez seja essa vontade de encontrar o que uma vez se perdeu em mim.
Voltamos ao mundo dos moluscos que fez Piaget pensar sobre os homens… Deles a primeira coisa que vi foram as conchas. Eu vi, simplesmente, sem nada saber sobre suas origens. Ignorava que existissem moluscos. Não sabia que elas, as conchas, tinham sido feitas para serem casas daqueles animais de corpo mole que, sem elas, seriam devorados pelos predadores. Meus olhos apenas viram. Viram e se espantaram. O espanto: os gregos sabiam que é no espanto que o pensamento começa. O espanto é quando um objeto se coloca diante de nós como um enigma a ser decifrado: “Decifra-me ou te devoro!” Conchas são objetos espantosos. Enigmas. As conchas me fizeram pensar. […] “O objetivo da educação é ensinar as novas gerações a construir casas. É preciso que as casas sejam sólidas, por causa da sobrevivência. Para isso as escolas ensinam a ciência. Mas não basta que nossas casas sejam sólidas. É preciso que sejam belas. A vida deseja alegria. Para isso as escolas ensinam as artes. É preciso educar os sentidos.” Hume, ao final do seu livro Investigação sobre o entendimento humano, propõe duas perguntas, somente duas, que, se feitas, produziriam uma assepsia geral do conhecimento. De forma semelhante, e inspirado pela sabedoria dos moluscos e suas conchas, quero propor duas perguntas a serem feitas a tudo aquilo que se ensina nas escolas. Primeira: isso que estou ensinando, é uma ferramenta? Tem um uso prático? Aumenta o poder do meu aluno sobre o mundo que o cerca? De que forma ele pode usar isso que estou ensinando como ferramenta para construir a sua concha, a sua “casa”? Segunda: isso que estou ensinando contribui para que o meu aluno se torne mais sensível à beleza? Educa a sua sensibilidade? Aumenta suas possibilidades de alegria e espanto? Concluo com as palavras de Hume: se a resposta for negativa, então, “que seja lançado ao fogo” – porque nada tem a ver com a sabedoria da vida. Não passa de tolice e perda de tempo…
ARTE NAIF
É a arte da espontaneidade, da criatividade autêntica, do fazer artístico sem escola nem orientação, portanto é instintiva, e onde o artista expande seu universo particular. Claro que, como numa arte mais intelectualizada, existem os realmente marcantes e outros nem tanto.
Arte naïf (do francês, arte ingênua) é o estilo a que pertence à pintura de artistas sem formação acadêmica sistemática. Trata-se de um tipo de expressão que não se enquadra nos moldes acadêmicos, nem nas tendências modernistas, nem tampouco no conceito de arte popular.
Assim, o artista naïf é marcadamente individualista em suas manifestações mais puras, muito embora, mesmo nesses casos, seja quase sempre possível descobrir-lhes a fonte de inspiração na iconografia popular das ilustrações dos velhos livros, das folhinhas suburbanas ou das imagens de santos. Não se trata, portanto, de uma criação totalmente subjetiva, sem nenhuma referência cultural.
O artista naïf não se preocupa em preservar as proporções naturais nem os dados anatômicos corretos das figuras que representa.
Em, História das Artes – historiadasartes.com
O DESENHO DAS CRIANÇAS Sempre acreditei que as crianças tinham muito a ensinar. Fosse falando, desenhando, se expressando em toda a sua originalidade. Gosto dos desenhos infantis, converso sobre eles com seus desenhistas, peço que me contem, por exemplo, as histórias criadas a partir deles, o uso das cores – muitas vezes totalmente criativas – por que fizeram issos e aquilos. E valorizo demais o traçado de cada faixa etária. Estudei o grafismo infantil e aprendi muito com meus estudos. Jamais deve-se comparar o desenho de uma criança com o de outra, seja num desenho livre, sem tema, ou em representação gráfica de um poema, de um vídeo, de um filme. Recordo-me de ver 2 meninas, de aproximadamente 5 anos, em 1984, desenhando em minha casa. Uma delas desenhou no papel sulfite uma casinha, dessas que todos já desenharam, com arvorezinhas, caminho, chaminé, laguinho e patinhos e começou a pintar. A outra menina desenhou um caminhão grandão de onde saíam antenas, daquelas antigas que víamos sobre todas as casas. Perguntei sobre os desenhos. A primeira pouco explicou, visto que seu desenho era bastante claro, figurativo, autoexplicativo. A segunda contou que aquele era um caminhão que levava antenas para por na casa das pessoas e que lá dentro tava cheio delas. Depois, disse Queria tanto desenhar assim bonito como a Andreza, mãe. Expliquei às duas que eram formas diferentes de desenhos – livres – e que ambos tinham a assinatura delas, o jeito de cada uma. Minha filha, inclusive, havia inventado umas letras de forma e escrito no caminhão, representando a marca da fabricante de antenas. Carlos Scliar ilustrou o livro O menino no espelho, de Fernando Sabino, da forma mais naif, espontânea e infantil , como um menino que ouviu uma história e a ilustrou. Repare.
Sempre admirei quem desenha, gosto de observar a criação, como traçam, como representam … é lindo. O Clubinho da Leitura, durante seus 4 anos de encantamento, pode recriar vídeos de canais do Youtube, de poesias, crônicas, enfim, reler e recriar o que gostaram. Foi lindo!
As cobras a partir do vídeo do Canal do Youtube, jnscam, sobre a JARARACUÇU.
Construindo personagens da crônica “O médico e o monstro”, em “Pra Gostar de ler”
Recriando obras de artistas plásticos
Desenhando histórias lidas
Essa moçada do Clubinho da Leitura adora criar; são os DESIGNERS do futuro.
A autora faz um estudo minucioso dos desenhos, do desenvolvimento do grafismo infantil, das suas etapas, das cores e seus simbolismos e da localização do desenho no papel, assim como as fases são estudadas por autores como Piaget, Vygotsky, Lowenfeld, Derdyk, entre outros, e faz este estudo baseada na Arteterapia. Cada um destes aspectos é muito importante tendo em vista a “análise” dos desenhos infantis. O livro contém desenhos de crianças da escola pública e da escola particular, traz a parte teórica na qual a autora vai se reportando para “analisar” tais desenhos, ainda traz a teoria referente às representações e apresenta algumas informações referentes ao desenho das crianças com necessidades especiais.
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal (desenhos da moçadinha do Clubinho da Leitura, em 2015)
Completamente descrente do ser dito humano que cancela seu número de telefone, sua Internet por erro. Impedindo qualquer reclamação – porque você já não existe mais lá, nem seu CPF, como se tivesse morrido. Todos os protocolos anotados, atendentes, dias e horários também. Após mais de 7 dias, “reconhecem o erro”, reinstalação do telefone, sem Internet, não pode mais ter aquele plano etc. Não avisam que instalaram um plano mínimo, sem nenhuma das características do outro, há mais de 8 anos, sem qualquer ocorrência, em todos esses anos, de falta de pagamento etc. Não avisam que tal plano possui essas novas características e que só poderá ser alterado após a 1ª fatura ser enviada, portanto, cometem VIOLÊNCIA MORAL, refletindo no FÍSICO como uma surra de DESUMANIDADES etc. A máquina, robô, dá respostas mecânicas. O ser humano, quando explica, complica, sem ter respostas, conhecimentos, orientações desencontradas para os fatos ocorridos. Violências, todos os tipos de violências. Você se sente um capacho, onde limpam os pés do estrume das vacas dos currais. E, deve permanecer em silêncio, aguardar, acatar. Registra-se ocorrência “protocolar” na Anatel. E …
O filho da vizinha, jovem, que faz home office, socorre, traz víveres para alimentar a Internet, acompanha a saga telefônica, aconselha, orienta, acalma. Um querubim desses que vem voando, observa que há lá embaixo um ser em apuros, aterrissa, e vem em seu socorro. A mãe dele lhe dá uma muda de roseira pra você se alegrar um pouco. Um anjo desses …
Um corpo machucado, por quase 7 décadas de lambadas de muitos seres ditos humanos, desce 2 lances de escadas com um saco de lixo, leve, a ser depositado adequadamente à espera do pessoal da coleta. Depara-se com uns matinhos, umas ervas daninhas nascidas na guia da calçada de sua casa. Começa a arrancá-las com a mão mesmo, colocando-as no saco de lixo. Algumas, muito enraizadas, não conseguem sair dali. Desiste. Aceita. Não deu. Talvez não tivessem mesmo que ser arrancadas, visto que tão presas às suas raízes etc. O homem passa, cumprimenta Bom dia. Bom dia. O homem volta, traz uma colher de pedreiro e começa a arrancar aquelas últimas que não conseguiam ser arrancadas. Um afago poético. Um serafim desses que … Apresenta-se. Conheci sua avó, suas tias, brinquei muito com seus primos. Meu nome? Meu nome é João.
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Centro de Memória Sindical Música e Trabalho