Amor é pra quem ama

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CASOS DE AMOR I

Olhou aquele homem pela primeira vez. Era estranho, grosseiro, rude, debochador, inquieto e estranho.

Nada nele lhe agradava em princípio. Ironizava mulheres apaixonadas, declaradamente apaixonadas, devolvia agressões verbais aos afagos e carinhos. Nada nele continuava a lhe agradar.

Cris estava acostumada a delicadezas de diversas espécies -palavras, lembranças, telefonemas, flores e graças masculinas. E femininas também.

Sempre fora grande amiga de homens, trocava com eles passes e fazia gols de tabelinha. Eram muito mais engraçados, muito mais diretos, muito mais sinceros até. Nunca entravam em competição, camuflada de amizade. Quando era era e pronto. Gostava mais dos homens.

Cris era professora de inglês. Naquele momento, ensinava num curso especializado para engenheiros, técnicos que chegavam ao Brasil para trabalhar nas multinacionais. Grande parte era de orientais. No bairro da Liberdade, em São Paulo, conheceu Toninho caipira, como era chamado pelos amigos da turma, do partido, do boteco pertinho da Consolação. Cris o achara , na verdade, um grosso. Gostava daquelas piadas pouco engraçadas, sempre falando de mulheres como carne de açougue. Chegaram a ter sérios embates. Ele dizia que se ela não gostava das piadas era porque não gostava de sexo e mais. Cris o derrubava em argumentações. Derrubava porque não permitia apelações rasteiras etc. e, sem isso, ele ficava de pernas quebradas. Os amigos riam dos acalorados embates e torciam por ela sempre.

Cris era amiga dos homens, torcia por eles, os aconselhava como mulher, quase sempre fazendo com que se colocassem no lugar das mulheres das quais reclamavam cotidianamente, fossem casos, namoradas, esposas, irmãs, quaisquer delas. Algumas companheiras de seus amigos por vezes sentiam ciúmes de tanto papo, tanto discurso, mas depois percebiam que não se tratava de briga por macho. Se havia algo por que Cris tinha ojeriza era briga por macho. Não entrava em bola dividida jamais. E em respeito às mulheres. Até seus amigos homens a criticavam por isso, mas era categórica, não brigo por homem algum, se está com ela, que fique bem com ela, o que tem que ser é honesto, declarar que tem uma outra pessoa, que curte aquela pessoa etc. nada de prolongar dores e desafetos. 

A  clareza de Cris era atraente não se podia negar. E mulheres a admiravam, com um pouquinho de inveja, sabia-se. E os homens a desejavam, ora se não. Mas era dura de roer.

Toninho caipira telefonou pra ela, mesmo estando  em férias, distante, em casa dos pais. Aquilo era um tanto estranho, Toninho, assim daquela forma, mostrando-se. Encantou-se quando lhe citou e pediu que ouvisse o tema de Casablanca e mais outras coisas.

Ficaram juntos por um ano e pouco. Quem os via notava que não eram mais aqueles rivais dos bons tempos. Ele ainda trazia as características do caipira de Casa Branca etc. mas sussurrava nos ouvidos de Cris Como foi que seu ex-marido perdeu uma mulher dessa, meu Deus. Cris ria e gostava dele.

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CASOS DE AMOR II

Guida era o apelido carinhoso de Margarida, uma mulher pequenininha, magrinha, de cabelos encaracolados e muito insegura. Não saía pra comprar nada sem uma companhia. Estava sempre precisando da opinião de alguém pra lhe confirmar se o vestido lhe ficara bem, se valia comprá- lo etc. Se, sozinha, era capturada pelas lojistas que lhe empurravam não aquilo que havia pedido, mas o mais caro, o que ninguém ousaria comprar etc. Virgínia a acompanhava e já ia respondendo às vendedoras Mas não tem esse aqui que está na vitrine não? Quando lhe respondiam Não, mas temos esse outro da coleção desse ano, veja. Virgínia respondia Não me importo com coleção, não coleciono roupas, queria aquele da vitrine por aquele preço, se não tem devem tirar da vitrine, né. E saíam. Guida se admirava da coragem de Virgínia. Alguns poderiam até considerar arrogância. Não era. Era segurança daquilo que queria, como queria e por quanto.

Faziam um par e tanto. Só encrencavam quando disputavam o amor dos dois amigos com quem viviam na comunidade à beira-mar. Uma corria pra arrumar as camas à noite, colocar o espiral contra pernilongos, a moringa com água. Quando a outra chegava e via, pronto, já era motivo de discórdia. Competiam pelo amor dos dois como se fosse por esposos amados. Eram, de verdade, amados. Os quatro eram amados. Elas por elas. E eles por eles. Viviam assim.

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Textos: Odonir Oliveira

Imagens: Fotografias de grafites do inglês Banksy

1- Mobile Lovers

2- (?)

3- Balloon Girl

Aromas e lembranças

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SONHOS DE AVÓ

perfume de sonhos na gamela de pedra
a lenha do fogão prepara os sonhos
o aroma da lenha queimando pelas chaminés das casas
as ruas enfeitadas de perfume
um cheiro de molho de macarrão com galinha
sempre um café num bule de ágata verde
um galinho de crochê no bico
perfume de bolo de fubá assado assim assado
a erva doce brindando os sentidos
o café coroando a hora vespertina

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NAS CASAS VIZINHAS

na rua de paralelepípedos escorrem cheiros
alho, sempre alho frito
no arroz, no feijão, na couve
bifes fritos, acebolados
refogando, fritando
barulhos de vozes e pratos
aromas de começos, meios e fins
doce de leite e queijo fresco
doce de abóbora fragrância inconfundível
perfumes cariocas tatuados da infância

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PERFUMARIA GENÉTICA

aqui tem padaria
inspiro
me inspiro
perfume de pão assando
está próxima, está nesse rumo
perfume de pão assando
aqui, é aqui
encontrei
agora é fragrância de chocolate
o bairro aspirando chocolate
os biscoitos da fábrica derramam chocolate em nós
delícias paulistanas
viver por aromas
saber dos aromas
sabor dos aromas
reconhecer os aromas
prazeres inigualáveis

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Dedicado ao amigo Luiz Jacob por ter lançado nesses últimos dias no Facebook uma faísca sobre aromas e instrumentos musicais pouco conhecidos. Tudo é inspiração, amigo. Há beleza em todos os lugares.

E viva, viva São Cosme e São Damião, data tão comemorada pela família da nossa amiga Conceição e que resgata tantas delícias e sabores de infância em mim.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Luna Lee

Travessias

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FLORES DAS LARANJEIRAS

sob essa bruma quente adomingada
alinho uns pensamentos
escrevo umas frases
sinto esse perfume
são as flores das laranjeiras
tão singelas e miúdas
tão inebriantes
ouço as maritacas em comício de primavera
é ela
a chama que vem
a chama que vai
sem olhos, gozo a vida viva
sem olhos, gozo a tepidez da tarde
a tarde que tarde !

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NOITE DE LUA CHEIA

vem chegando
depois de quatro semanas
outra lua
transpirando cor no meu céu
puro límpido e estrelado
o quintal é todo luz
às vezes a felicidade pode ser isso
uma lua cheia
um céu estrelado
uma carambola docinha, docinha
tudo assim
só pra mim

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ANCORADOUROS ETERNOS

Converso com minha amiga Marta, ao telefone. Ela em São Paulo. Falamos por uma a duas horas semanalmente. Marta é um porto seguro para meus portos inseguros. Tem mais de 80 anos, foi minha companheira de trabalho em escolas e é muito espiritualizada. Ouve, ouve, ouve, acompanha, acompanha, acompanha e sabe ler espíritos. As revelações que me faz sempre me surpreendem porque enxerga com muito mais olhos que eu. É um farol, talvez.

Por vezes, as situações sobre as quais conversamos estão tão nítidas que se tornam previsíveis, carimbadas por clichês vividos por décadas de experiência. Nesse momento rimos muito das previsibilidades encontradas.

Nesses ramais e caminhos fui.

Depois de muito desejar, fiz uma travessia por convicção. Deixei para trás uma metrópole, amigos, filhos, vida cultural vasta e fui embora. Amigas, até mais velhas do que eu, se admiraram da minha coragem, fazer isso depois de sessenta anos… aventuraram-se a considerar uma certa loucura, uma temeridade viver onde não se tem vínculos afetivos, com quem não se partilha dos mesmos valores comportamentais, sociais e políticos – e até religiosos – da mesma forma. Hoje, adoram ver as fotos de meu paraíso por opção, das incursões que faço pelos matos e lagoas, das noites estreladas e das luas, em todas as fases, que lhes conto e canto em prosa e verso.

Foi fácil, é fácil ? Não, não é. O que mais me encanta é a natureza. Nasci no meio de árvores, flores, mata e montanha no Rio de Janeiro. Vivi até os 15 anos por galhos e frutas como um azougue e adorando viver por lá.

Agora, nesses últimos tempos que me restam, resolvi juntar as pontas e dar um laço na minha existência. Confesso que na infância foi bem mais simples do que agora porque trago repertório, bagagem repleta, desfrutada, saboreada.

Talvez por se ter, naturalmente, aprendido a buscar mais, querer dos dias mais do que o mínimo, a travessia seja mais sofrida. Razões e desrazões chegam, o sabor e o saber caminham juntos. A verdade nunca é unilateral. A hipocrisia, as máscaras, o disfarce sempre são venais a qualquer ser.

Fiz a derradeira travessia. Estou nela.

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Poesia e texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Hang Massive

Voltas que a vida dá: rascunhando os gêneros

DRAMÁTICO

CHIFRES

Apartamento no décimo andar. Luz fraca de abajur de mesa. Uma poltrona. Um copo de pinga, Uma garrafa pela metade. A vitrola repete, repete, repete. O vinil roda.

– Por quê? Por quê? Num tinha que ter dado trela, ter dado espaço. Porque sabia que ia dá desgraça. Num era mulé pra mim, eu já sabia. Aquele mel no ombro, aquele olhar de cerveja né, eu sabia.

Um gole a mais. A música acaba. A música repete. A pinga acaba. A pinga repete.

–  Agora aonde é que ela foi, hem, onde é que ela tá? Sempre deixando pista, sempre mandando recado enviesado, sempre deixando aquele aroma dela por todo lugar pra chegar em mim. Eu sabia,  ia dá tragédia.

Um , dois, três goles. Caminha até a janela, estica o olhar pro céu.Sai da janela, tira o vinil. Senta. Levanta. Põe de novo o vinil. Lambuza as mãos de paixão escorrida, derramada. Mais um gole. Levanta e chora.

– Onde andará aquela miserável? Deve estar com ele, aquele cubano comunista…. deve estar. E pensar que eu fiz tudo que ela quis, hem … o mínimo toque, eu ia, eu seguia, eu buscava, eu levava, eu trazia, eu voltava. Filha da puta. Com aquele aroma, aqueles cabelos, aqueles peitos redondos , falsos, mas verdadeiros de tocar, de beber, de comer, de sobremesear. Desgraçada. Mexia o tempero como ninguém.

Vai urinar. Demora. Volta. A pinga bebe. O vinil toca. O peito chora. O coração sangra e respinga na cama. Está jogado na cama. O copo de pinga tombado e vazio no lençol. O corpo vazio no lençol. A noite vazia no lençol.

– Desgraçada, filha da puta.

Dorme.

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EPISTOLAR

Minha cheirosa

Nada de mensagem no Zap hoje. Achei mais romântico te escrever uma carta.

Você sabe que eu sou romântico. Já sei, já sei, você não gosta de homem meloso, piegas e tal, mas o que eu vou fazer, se sou apaixonado por você num tanto, que de ficar longe já me estilhaço em pedaços, faço rimas vagabundas e tolas gotejando amor e paixão?

Você é a única culpada. Lembra do nosso primeiro forró aí em João Pessoa? Você com aquela saia rodada, aquele cabelão solto – não prende os cabelos, por favor –  os seios embaixo da camiseta branca … meu desejo vermelho de dentro pra fora nos passos agarrados do nosso forró. Lembro até da nossa primeira latinha de Heineken. A sua acabou, fui buscar outra . Você sentada me esperando voltar. Achei aquilo lindo, você ter ficado ali me esperando. Foi ali que me apaixonei.

Não te esqueço, mesmo aqui de longe, minha loba, minha leoa, minha adorada morena. Quero forrosear até não poder mais. Me espera. Na próxima lua estarei aí. E vamos repetir, repetir, repetir. Dominguinhos que toque até não poder mais.

Mandei fazer forró no meu corpo que é pra não te esquecer nunca mais. Não tá entendendo, né, mas olha a foto. Tá no meu ombro, tá no meu braço, tá no meu coração.

Do seu amor e por seu amor,

João

 

INSTRUCIONAL

COMO FAZER AMOR

Ingredientes

2 corpos

1 forró de raiz

3 ou 4 doses de pinga ( a gosto)

1, 2, 3 dançadas juntos (vai depender do ponto, se for necessário acrescente mais)

1 conversa de pé de ouvido bem pessoal (para amolecer as carnes)

10 sorrisos femininos

10 sorrisos masculinos

3 ou 4 apertos bem picantes (não exagere, senão desanda a receita)

5 ou 6 rodadas na pista (para amolecer os sentidos)

2 ou 3 alisadas nos cabelos masculinos

2 ou 3 alisadas nos cabelos femininos

1 alisada nas costas masculinas

1 alisada nas costas femininas

1 beijo na boca com borboletas nas entranhas

 

Modo de fazer

Vá acrescentando os ingredientes na ordem da receita

Espalhe tudo muito bem pelos corpos

Deixe acontecer no fogo o tempo necessário, até ficar tudo dourado.

Acompanhe, atenciosamente, para não queimar.

 

Porções

Serve 2 pessoas, bem servidas.

NARRATIVO

ÊXTASE

Tocam a campainha. Quem seria naquele momento tão especial. Não poderia abrir a porta naqueles trajes, com aquela expressão inequívoca no rosto, descendo-lhe dos olhos à boca qual um derramamento incontrolável.

Era ele que lhe entregava sofregamente um toque na nuca, um gesto suave no cotovelo, um ralar de suspiros anteriores. Era ele. E agora ter que abrir a porta assim de repente.

Por que interromper aquele ritual quase fluido de sonhadora presença? Por que quebrar o par mágico da situação inesperada com um toque de campainha? Por que deixar de auscultar-lhe o peito e saber-lhe a respiração? Por que  desgrudar-se do onírico, da ideia, da sensação suprema?

Ora, atender a campainha. Quem poderia trazer notícia melhor, quem poderia derramar-lhe outros embevecimentos? Quem no roçar de pelos saberia adivinhar seus excessos e devaneios naquele momento em evolução? Quem no emudecimento das explicações estaria ali fora a tocar aquela campainha? Não importava quem fosse, seria menor. Seria pior. Seria insuficiente.

Do meio do corredor até ao sofá, ouviu uma, duas, três vezes a campainha. Resolveu não deixar entrar ali  nada que fosse inferior a ele em si mesma.  O bônus reiterava o prazer, a satisfação com a visita etérea do corpo moreno e retilíneo a lhe pressionar todos os músculos.

Quem poderia ser melhor que aquilo que sentia em seu corpo naquele instante?

A insignificância de se estar com.

Além, a plenitude da ideia, o apreço pela invenção, a graça pela fantasia. Elementos complexos e sem o filtro da razão.

Que tocasse a campainha mil vezes que do sonho não sairia por nada.

Depois de algum tempo, olha pela janela e descobre que fora ele, o cavaleiro da fantasia, que estivera ali tocando duas, três vezes a campainha.

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LÍRICO

VIAJANTES

uma taça cheia
de vinho
tinto
goles lentos
goles gentis
goles parceiros
uma taça de vinho
vazia
uma taça de vinho
cheia
goles uns
goles outros
Dioniso, braços abertos
Διόνυσος,
Baco presente
presente do inconsciente
pensamento ausente
sonho sonho sonho
percurso de lua e estrelas
caminhos estreitos
Dioniso de braços abertos
Διόνυσος,
lua farol
estrelas estrelas estrelas
entrega.
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Poesias e textos: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Imagem retirada da Internet
Vídeos:
1. Canal Adriana Caitano
2. Canal Abílio Neto
3. Canal Acervo Origens
4. Canal thaís Juriti

A esperança vence o medo

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Esperando a PAZ nas ruas, no campo, nas estradas, entre irmãos que falam o mesmo idioma, que nasceram e vivem no mesmo espaço territorial, que têm a mesma origem -negra, branca, indígena – esperando pela DEMOCRACIA sendo exercida como prerrogativa plena, esperando exemplos de justiça, fraternidade e amorosidade entre os que se consideram BRASILEIROS, sigo acreditando na resposta das crianças e, para elas, construindo um país cada dia melhor.

Por quê?

Porque o FUTURO É HOJE

DOMINGO, DIA DE REFLEXÃO I

Antigamente tinha menino à beça pra gente mandar varrer um quintal, capinar um terreno…. hoje? Não tem um, quando a gente precisa …

Sabe essa frase? Nunca disse, mas ouvi bastante por aqui, em 2012, 2013. Reclamava-se que os garotos não queriam mais fazer essas tarefas. Respondia-lhes que AGORA ELES ESTUDAVAM, QUERIAM IR MAIS À FRENTE. Por conta da exigência de ter de frequentarem escola, terem vacinações concluídas e mais e mais, o BOLSA FAMÍLIA havia propiciado essas mudanças ( a despeito da falta de CONHECIMENTO SOBRE ELE, sobre o valor pago, quem faz as listas etc.) 

Aqui no Clubinho da Leitura tive um aluno brilhante que iria bem em qualquer prova de seleção, fosse para a Escola Técnica Federal daqui (iniciando o ensino médio) ou no ENEM (para uma universidade federal em Juiz de Fora, São João Del Rei). Acontece que foi abandonado a sua própria sorte. A mãe NÃO quis mais nossa orientação. Teve que começar a trabalhar pra ajudar em casa, SEM PAI, com 2 irmãs menores e só a mãe trabalhando.

Encontro pouco com ele. Mas ainda cheguei a lhe oferecer ajuda no ano passado para o ENEM e mais. Entretanto, já estava trabalhando . Muito. Na luta diária. Agora, diz que a mãe vai tentar uma bolsa de estudos pra ele na Faculdade Particular de propriedade dos poderosos na região (engrossando o público ”pagante” da instituição – que é fraquíssima, inclusive).

Meu menino, COMO TANTOS OUTROS, 18 anos, voltou a ”varrer quintal, capinar o mato”

Não aceito retrocessos.

Gosto do meu país.
E o meu país É O BRASIL.

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DOMINGO, DIA DE REFLEXÃO II
”O almoço está servido. O jantar está na mesa”

Sabe isso? Nunca tive. Incomoda-me alguém estar ali PARA ME SERVIR. Nem em restaurantes. Peço que traga o prato, mas eu mesma me sirvo.
Não tenho DNA de ”senhor escravocrata” que necessita SER SERVIDO. Meu pai era fresador ferramenteiro. Minha mãe, dona de casa.

Vejo esposas até hoje, 2018, servirem, fazerem os pratos dos maridos, dos filhos adultos. Meu Deus , que relação doida é essa? Precisam disso para se sentirem TÃO NECESSÁRIAS assim? Isso vai além do carinho …

O mesmo com EMPREGADAS DOMÉSTICAS, nunca gostei. Nunca tive. Se preciso, em algum momento, de um serviço em especial, pago para que ME AJUDEM porque faço junto, acompanho e pago, como o faço com qualquer pessoa que tenha um OFÍCIO e o realize para sua sobrevivência: técnico em computadores, eletricista, jardineiro, costureira, marceneiro, professor, médico, qualquer um.

NÃO TENHO DNA em processo de CASA GRANDE e SENZALA, aliás creio que minha família sempre foi da senzala. NÃO almejo frequentar a CASA GRANDE. Prefiro as senzalas diárias, operadoras, construtoras, ativas, com suores particulares.

NUNCA quis ir viver em Miami, sequer conhecer. Não gosto de viagens de cunho explorador e consumista. Nem para a Europa.
Gosto do meu país.
E o meu país É O BRASIL.

(Eu sou só AMOR. Quer?)

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Textos originalmente escritos para o Facebook por Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: Bonecas jogadas na esquina. Nem os coletores de lixo quiseram recolhê-las. Vi com pesar essas bonecas assim detonadas. Não sei se porque lido com crianças e jovens por toda a minha vida, mas causou-me tristeza pela violência, pelo consumismo – que deve tê-las substituído por outras, que logo serão por outras e outras. Vou recuperá-las, reciclá-las e doar a outras crianças que gostem do SONHO e da FANTASIA. Assim como eu, talvez.

VÍDEOS:

  1. Canal Aline Berto
  2. Canal Morris MANILAINTHEJUNGLE

Outros setembros virão!

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ELA É MENINA

– Vem tirar retrato, vem
Para de correr, pega a sua Catita
Vem, menina.

Há um dourado no sol carioca
Há um cheiro de orquídeas nos recantos da mamãe.
Ela sorri , meio moldura-cenário
O arquinho de florzinhas nos cabelos
Os cabelos penteados na horinha da foto
Na foto, Catita arrumadinha, penteadinha também
Uma infância capturada pela magia do instante

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ELA É PROFESSORA

Não me apontem os erros de meu pai
Ele ensinou caráter, honestidade, vergonha na cara
Ele ensinou que a vida é luta diária
Ele ensinou que ensinar é eterno.
Ele ensinou que a verdade sempre prevalecerá
Ele ensinou a não sermos cabotinos
Ele ensinou que a divina comédia não é uma obra literária
Ele construiu, com sua engenhosidade,
quadro-negro, apagador e sonhos.

– Põe os óculos, menina, depressa
você não quer ser professora?
Arruma os óculos.

Não deu tempo.
Já era, depressinha, a professora.

 

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ELA É FEMININA

O lenço de seda estampado
na camponesa-menina de olhar brejeiro
um rosto, um rasgo de invenção
um risco de futuros
um traço de imaginação.

O lenço de seda estampado
na menina pouco mocinha, moleca
veloz e inalcançável nas brincadeiras de pique
o suor, a boca seca, a corrida sem paradas

O lenço de seda estampado
cristalizado no feminino da menina
na fotografia apenas.
O feminino foi gestado
muito muito tempo depois.

 

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ELA É OBSERVADORA

O olhar observador, contemplador
Reconhece o inusitado, o incomum, o especial
Sobe em goiabeiras e de cima contempla
Sobe em mangueiras e de cima vislumbra
Sobe em caquizeiros e de cima se encanta

Desce e segue as formiguinhas
Desce e acompanha as cigarras, as borboletas …
Desce e se enternece com os pintinhos, os patinhos …

Das janelas dos ônibus, namora as estradas, as estrelas …
os trens percorrem suas viagens de sonho
os montes, os rios, as nuvens, o gado nelore …

Observa e reflete
subjetivamente reflete
analisa
calcula, reflete, avalia, registra
É de virgem
perfeccionista, analítica, detalhista,
reflexiva.

– Menina, desce da nuvem, menina !

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ELA É SENSÍVEL

Olhou o rio por mais de uma hora
acompanhou a folhinha e a flor, até desaparecerem do cenário,
mas não abriu mão delas
correu, deu a volta e as reencontrou ao longe.

Sentou e escreveu uns versos, uma prosa, um canto
Esticou as pernas e tombou para trás, era nuvem agora
Olhos fechados, sonhou-se
ela mesma menina-adulta
corpo outro, alma mesma
sonhos outros, alma mesma
voz outra, alma mesma
rosto outro, alma mesma
mãos outras, alma mesma.

Foi nuvem na nuvem
Foi estrela nas noites e nos amanheceres
Foi lua nova, lua crescente, lua cheia, lua minguante.

Olhos abertos
nada a se envergonhar
nada a perseguir
nada a se desmerecer.
Tudo que era noite virou dia
Tudo que era dia foi noite.

Menina.

 

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Barbacena, 10 de setembro de 2018

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Acervo Do Choro

2- Canal cinara09

3- Canal Rita Tavares

 

 

 

 

 

 

Metáforas de um Brasil

Querelas do Brasil
Maurício Tapajós e Aldir Blanc

O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapir, jabuti, liana, alamanda, alialaúde
Piau, ururau, aqui, ataúde
Piá, carioca, porecramecrã
Jobim akarore Jobim-açu
Oh, oh, oh

Pererê, camará, tororó, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará

O Brazil não merece o Brasil
O Brazil ta matando o Brasil
Jereba, saci, caandrades
Cunhãs, ariranha, aranha
Sertões, Guimarães, bachianas, águas
E Marionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos de Jobim-açu
Oh, oh, oh

Jererê, sarará, cururu, olerê
Blablablá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil, SoS ao Brasil
Do Brasil, SoS ao Brasil
Do Brasil, SoS ao Brasil

Tinhorão, urutu, sucuri
O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, Cordovil, Cachambi, olerê
Madureira, Olaria e Bangu, Olará
Cascadura, Água Santa, Acari, Olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, Olará
Do Brasil, SoS ao Brasil
Do Brasil, SoS ao Brasil

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Aquarela do Brasil
Ary Barroso

 

Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro

Vou cantar-te nos meus versos

O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil! Pra mim! Pra mim!

Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil!

Deixa cantar de novo o trovador
À merencória luz da lua
Toda canção do seu amor
Quero ver essa Dona caminhando
Pelos salões, arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Brasil! Prá mim! Prá mim!

Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiferente

O Brasil, samba que dá
Para o mundo admirar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil! Prá mim! Prá mim!

Esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Ô! Estas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar

Ô! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil !

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