OUVINDO O CORAÇÃO
Poesia: Odonir Oliveira
OUVINDO O CORAÇÃO
Poesia: Odonir Oliveira
O conceito de felicidade
Felicidade é algo bastante discutível, relativo e até fugaz.
Na fase de vida em que me encontro, não mais nos 20 ou 30 anos de meus filhos, sei que se deve aproveitar TODOS os momentos na vida. Seja sentar escarrapachada embaixo do pé de manga, que amo, e chupar uma porção delas, dançar de rosto colado, barriga atrelada e beijinhos e beijinhos sem ter fim, até realizar um desejo secreto ou um prazer extemporâneo qualquer: dormir dentro de uma barraca de camping, acampar como mochileira, dormir e acordar na praia, fazer uma fogueira no mato pra cozinhar o que tiver de ser, beber uma pinga que nunca se bebeu antes, namorar um rapazinho novinho daqueles de que qualquer dama das camélias se perde nele, plantar jardins de flores para si mesma ou para o amado, compor canções inspiradas e gravá-las para que o mundo saiba disso, acreditar nas palavras mentirosamente adoráveis na hora dos corpos em si. Algo assim.
Estar feliz exala no ar; quando se caminha é de um jeito diferente, quando se trabalha é com uma tesão de vida, de ânima, de vontade de ser, fazer e acontecer.
Animais são perceptivos e cantam nas primaveras das vidas deles e das nossas.
Felicidade é uma questão de enfoque ou de desenfoque, é questão de querer e fazer.
E é fugaz também. Mas isso não invalida nada. Ao contrário, a meu ver, faz com que se aproveite mais dela ainda.
A vida dói e isso é bom. De dores também se vive, fazem crescer, fazem melhorar, fazem querer viver outras dores e de outras maneiras depois.
(Maria é uma “sem-terra”. Quando ela chegou ao acampamento de Frei Umberto, no Brasil, ela não tinha nada, ela estava com fome, mas eles a ajudaram. Ela começou a trabalhar, a colher feijão, milho… Atualmente ela tem seu pedaço de terra, sua casinha, sua alma. Ela até mesmo faz curso para aprender a ler e escrever. Ela é simplesmente feliz).
O MENINO QUE LEVITAVA
Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados
De beber o mundo.
Mas era pouco.
Montava seu cavalo alado
Como se dançasse com ele.
Era doce o menino.
E partia ao encontro de seus marimbondos
de suas rãs e lagartixas.
Morcegos eram como flores do campo.
A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera
E nela menino, cavalo e aventuras seguiam,
bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha.
Mas era pouco.
Depois, pisar na água era um barulho celestial
Era cócega
Era música
Era verso
Era poesia.
Desmanchar rotas citadinas
Mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas.
Era pouco
Porque o menino ria, ria, mas ria tanto,
que de prazer levitava.
E de baixo, em terra firme,
ninguém o alcançava
E não era pouco !
Texto e poemas: Odonir Oliveira
Fotos de aquivo pessoal
1º Vídeo: Canal M3mnon
2º Vídeo: Canal Human o filme
3º Vídeo: Canal Jukebox4all
4º e 5º Vídeos: Canal Odonir Oliveira
POETAÇÃO
ποιητής , poietés
VERSOS ÍNTIMOS
René Magritte
AOS OUVIDOS DE FERNANDO PESSOA
AVARANDADO
Observação do mestre Graciliano Ramos que, ao se referir à arte de Cândido Portinari, dizia que ela morava dentro dele próprio. “Arte é sangue, é carne. Além disso não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos.”
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
1º e 3º Vídeos: Canal: Odonir Oliveira
2º Vídeo: Canal: ClassicalMusicTVHD
4º Vídeo: Canal Pablo De Giusto
DEDICATÓRIA: Esses versos são dedicados ao casal Eurilena e Zé Luiz, meus amigos de infância e adolescência no RJ ( primeiro amor um do outro ).
Post publicado também em meu blog no GGN:
https://jornalggn.com.br/literatura/entao-deixa-me-ser-poesia/
TEM QUE SER JOVEM
TEM QUE SER LEVE
EU E MEU VELHO
Versos escritos a partir do vídeo da pesquisadora Mírian Goldenberg sobre seus estudos e seu livro A bela velhice, e da leitura da obra Velhice, de Simone de Beauvoir.
Post dedicado ao casal Cleo Daher e Rui Daher
O povo ao poder
Castro Alves
Quando nas praças s’eleva
Do povo a sublime voz…
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz…
Que o gigante da calçada
Com pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu,
Em Roma é Catão ou Mário,
É Jesus sobre o Calvário,
É Garibaldi ou Kossuth.
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.
Na tortura, na fogueira…
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem… nest’hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deíxai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.
A palavra! vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,
Ai, cidade de Vendoma,
Ai, mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.
Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhe o pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções…
Não deixais que o filho louco
Grite “oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações”.
Mas embalde… Que o direito
Não é pasto do punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal…
Ah! não há muitos setembros
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensanguentado
Diz: já não posso sofrer.
Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.
Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…
Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, é povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.
NÃO PODE TER SIDO EM VÃO
1º Vídeo: Canal Eduardo Oliveira
2º Vídeo: Canal bossanovaclube
3º Vídeo: Canal Annevaluri
“ABOIO”
Falo ou calo?
espero ou me atrevo?
Venham em meu socorro,
meus deuses e semideuses,
meu Drummond, meu Pessoa, meu Manoel ,
me deem a mão Cora, Adélia e Cecília,
venham, por favor, Guimarães, Clarice e Graciliano.
Falo ou calo?
espero ou me atrevo?
Acudam, com sua lira e sua fabulação, todos os meus magos, acudam.
Calcem-me suas botas de galgar píncaros, de beber mel e fel
Emprestem-me engenho e arte de Camões e Homero.
Corram, que meu tempo expira e ainda tenho que ir.
Corram, emprestem-me suas botas.
Momentos há – dias, semanas, meses, anos – em que as mãos que sentem ficam mudas. Mas não, surdas. Então elas bebem vinho de lírica alheia para se fortificarem e voltarem a andar com as próprias pernas. Os pais poéticos sempre socorrem aqueles que bebem de seu vinho.
Canal: andrezamcpa
Canal: Henrique Fernandes
Canal: xilosciente
Canal: muito além
A HISTÓRIA DO ABOIO
O aboio é um canto de origem árabe, surgiu nos campos do deserto na atual região do Oriente Médio por volta do Século XI ou X, A.C. Era um canto de adoração aos deuses das religiões politeístas. No Egito se destacou no governo do Faraó Miquerinos cantado pelos seus súditos para lhe adorarem. Os fenícios foram os verdadeiros responsáveis por levarem a cultura do aboio para os gregos e os romanos, devido a serem os primeiros navegantes da História da qual temos registro, isso por volta do ano 600 a.c. Conta – se que no ano de 753 .a.c, data da Fundação de Roma um coral entoou o canto para agradecer a Rômulo pelo empenho em fundar aquela linda cidade em homenagem a os seu antepassados as margens do Rio Tibre, próximo ao Monte Palatino. Durante séculos o aboio foi um canto de adoração e dedicação aos deuses e as grandes autoridades do Mundo Antigo. O Papa Gregório II, Gregorius Secundus que foi o 89º Papa da Igreja Católica que governou de 19 de Maio de 715 a 11 de fevereiro de 731, adotou o canto como oficial da Igreja onde mais tarde foi chamado de canto gregoriano. Mesmo na Europa o aboio foi ligado à poesia que surgiu na África por volta do Século VIII a.c, e chegou na Europa por volta do Século XVI, d.c. Na Alemanha surgiu o decassílabo e em Portugal surgiu a quadra que foi destaque no trovadorismo. O aboio chegou ao Brasil no final do século XVI, trazido pelos africanos como canto de libertação do trabalho escravo que durou quase quatro séculos; a poesia foi trazida pelo poeta Bandarra ainda no século XVI, em folhetos, onde narrava a história do Rei D. Sebastião. Com o fim da escravidão no Brasil no final do século XIX, alguns escravos continuaram a trabalhar nas fazendas como vaqueiros e o aboio foi o canto de aproximação do vaqueiro com os animais.
Aqui no Brasil aconteceram as grandes inovações dentro desta musicalidade que se tornou uma cultura do povo nordestino e temos vários nomes que se destacaram na musicalidade do Aboio tais como: Vavá Machado e Marcolino, Galego Aboiador, Léo Costa, Zé de Almeida, Paulo Nunes, Carlos Cavalcante, Heleno Higino e Ivone Leão, Cara Véia, Chico Justino e Cícero Mendes, Atonio Neto, as irmãs Soares, Delmiro Barros, Coral Aboios, Quinteto Violado, Luiz Gonzaga e muitos outros, além dos poetas compositores e repentistas espalhados pelo Brasil afora. A palavra aboio, etimologicamente, tem vários significados: para os orientais Canto de adoração aos Deuses, Canto de adoração para a Igreja Católica, Canto de Libertação para os africanos e Canto de aproximação do Vaqueiro com o Gado, no Nordeste do Brasil.
(Texto de Cicero Mendes, poeta, professor, historiador, filósofo, ator, compositor e aboiador, com edições gramaticais minhas.)
http://justinomendes.no.comunidades.net/a-historia-do-aboio
Fotos de arquivo pessoal: cidades mineiras
ACHADOS E PERDIDOS
(Aos corruptos e corruptores da res pública no Brasil )
Poesia: Odonir Oliveira
Canal: Odonir Oliveira
Momentos há – dias, semanas, meses, anos – em que as mãos que sentem ficam mudas. Mas não, surdas. Então elas bebem vinho de lírica alheia para se fortificarem e voltarem a andar com as próprias pernas.
FALA, POETISA MINEIRA !
Canal: Pílulas De Poesia UFV
CASAMENTO
Texto extraído do livro “Adélia Prado – Poesia Reunida”, Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág. 252.
… TÊM DIAS QUE SÃO DE LUTA E … TÊM DIAS QUE SÃO DE BALANÇO !
Canal: Odilon Esteves
Canal: Fabio Amadeus
Foto de arquivo pessoal
Não sei quantos anos ainda me deixarão caminhar, ouvir, falar, viver … sei que tia Neyde (viúva do tio Moisés, irmão de minha mãe) vive, e repousam nela todas as raízes, folhas e ainda flores e frutos de nossa árvore geradora de valores, princípios e até de fins.
Parabéns tia Neyde.
Saúde e alegrias até o fim da estrada. De trilhos e trens.
UMA MINEIRA CHAMADA NEYDE GALDINO
Barbacena, agosto de 2016
Tia Neyde assistindo ao vídeo homenagem
FERVOROSA
PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DO CARMO – Barbacena, MG, julho de 2016
Poesia: Odonir Oliveira
1º Vídeo: Canal Odonir Oliveira
2º Vídeo: Canal: Afrodisia Ferraz de Souza
Paralela. [ Fem. substantivado de paralelo] Geom. Adj. (f.) 1. Diz-se de duas retas que, situadas no mesmo plano, não têm ponto em comum. S.f. 2. Reta que só tem em comum com outra um ponto no infinito.
INFINITO
TRILHOS
Andar nos trilhos
Trilhar caminhos
Dormentes acordando sentidos
encruzilhadas eternas
apitos que cortam uma noite que não termina
vozes segredadas entre dentes
vozes felizes por conquistas perseguidas ferrenhamente
idas vindas voltas encontros desencontros separações
bancos nas estações, repletos de ouvidos secretos e bocas atormentadas
Trens fazem anúncios sempre.
FLORAÇÃO
Na rota, um porto
Na reta, um ponto
insípido inóspito infértil
No tronco, uns galhos
Nos galhos umas folhas
secas opacas estéreis
Alma no trajeto
Curvas no caminho amargo
Gotas de perfumes
Pingos de cores
Chuvas de flores
fertilidade, sedução
produção
Poesia
Caminhos doces então.