Quando entrar setembro …

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     OUVINDO O CORAÇÃO

Por mais de trezentos dias ouvi meu coração
 Por mais de trezentos dias ouvi seus suspiros e contestações
   Nada desprezei, nada sufoquei, nada neguei.
Dias, tardes, noites de escutas atentas e aflitas.
Portas abertas, portas fechadas, portas trancadas.
Janelas abertas, janelas fechadas, janelas trancadas.
Melodias, poemas, minhas estradas, lagos, cachoeiras, estrelas .
 Transfigurações de viagens idílicas em caminhos de terra vermelha e poeira.
  Moldura de telas pintadas a esmo, sem tintas ou pinceis.
Qual voo cego sem rumo nem porto, alcei espaços e tempos.
Nunca houvera antes voo de tamanha amplitude em meu coração.
Ah, que novo setembro inaugure beirais !

     

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Poesia: Odonir Oliveira

 

1º Vídeo: Canal Odonir Oliveira
2º Vídeo: Canal sérgio neves

Isso é felicidade?

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Na fase de vida em que me encontro, não mais nos 20 ou 30 anos de meus filhos, sei que se deve aproveitar TODOS os momentos na vida. Seja sentar escarrapachada embaixo do pé de manga, que amo, e chupar uma porção delas, dançar de rosto colado, barriga atrelada e beijinhos e beijinhos sem ter fim, até realizar um desejo secreto ou um prazer extemporâneo qualquer: dormir dentro de uma barraca de camping, acampar como mochileira, dormir e acordar na praia, fazer uma fogueira no mato pra cozinhar o que tiver de ser, beber uma pinga que nunca se bebeu antes, namorar um rapazinho novinho daqueles de que qualquer dama das camélias se perde nele, plantar jardins de flores para si mesma ou para o amado, compor canções inspiradas e gravá-las para que o mundo saiba disso, acreditar nas palavras mentirosamente adoráveis na hora dos corpos em si. Algo assim.

Estar feliz exala no ar; quando se caminha é de um jeito diferente, quando se trabalha é com uma tesão de vida, de ânima, de vontade de ser, fazer e acontecer.

Animais são perceptivos e cantam nas primaveras das vidas deles e das nossas.

Felicidade é uma questão de enfoque ou de desenfoque, é questão de querer e fazer.

E é fugaz também. Mas isso não invalida nada. Ao contrário, a meu ver, faz com que se aproveite mais dela ainda.

A vida dói e isso é bom. De dores também se vive, fazem crescer, fazem melhorar, fazem querer viver outras dores e de outras maneiras depois.

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(Maria é uma “sem-terra”. Quando ela chegou ao acampamento de Frei Umberto, no Brasil, ela não tinha nada, ela estava com fome, mas eles a ajudaram. Ela começou a trabalhar, a colher feijão, milho… Atualmente ela tem seu pedaço de terra, sua casinha, sua alma. Ela até mesmo faz curso para aprender a ler e escrever. Ela é simplesmente feliz).

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 ESTAR FELIZ
Feliz, assim
Feliz assado
Feliz instante
Feliz momento
Feliz comendo
Feliz bebendo
Feliz cantando
Feliz chorando
Feliz dando
Feliz recebendo
Feliz sendo
Feliz estando
Feliz com
Feliz sem
Feliz dentro
Feliz fora
Feliz de pé
Feliz deitado
Feliz junto
Feliz separado
Feliz instante
Feliz momento.

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O MENINO QUE LEVITAVA

Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados
De beber o mundo.
Mas era pouco.
Montava seu cavalo alado
Como se dançasse com ele.
Era doce o menino.
E partia ao encontro de seus marimbondos
de suas rãs e lagartixas.
Morcegos eram como flores do campo.

A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera
E nela menino, cavalo e aventuras seguiam,
bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha.
Mas era pouco.

Depois, pisar na água era um barulho celestial
Era cócega
Era música
Era verso
Era poesia.

Desmanchar rotas citadinas
Mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas.
Era pouco
Porque o menino ria, ria, mas ria tanto,
que de prazer levitava.

E de baixo, em terra firme,
ninguém o alcançava
E não era pouco !

Texto e poemas: Odonir Oliveira

Fotos de aquivo pessoal

1º Vídeo: Canal M3mnon

2º Vídeo: Canal Human o filme

3º Vídeo: Canal Jukebox4all

4º e 5º Vídeos: Canal Odonir Oliveira

“Deixa-me ser poesia”

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POETAÇÃO

Não, não sou poeta de revoluções estéticas
porque não sou uma revolucionária mais.
Os anos vieram,
brinquei com eles,
brindei-os todos.
Hoje sou uma jardineira de rosas,
nos intervalos bebo versos,
mastigo pétalas,
danço com prazeres.
Não, não esperem de mim arroubos mais.
Escrevo o que escorre por meus dedos
o que sentem minhas mãos.

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ποιητής , poietés

Ah, pudesse eu, imitando deuses,
ser palavra criadora
ser a que produz, a que fabrica e confecciona.
Sou uma operária na poesia.
Já avisei a Safo que não serei ela.
Já me expliquei com Teógnis, aristocrata,
sou  plebeia, filha de fresador ferramenteiro,
não sei de lutas políticas o suficiente.
Já me entendi com Anacreonte, que pouco sei ser satírica
em versos de vinho e de amor.
Sou o que me fizeram.
Sou daqueles que me influenciaram.
Sou sombra deles, irremediavelmente.

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VERSOS ÍNTIMOS

Nem tudo que escrevo entrego.
Há versos que guardo.
Há versos que são presentes únicos a cofres únicos.
Há versos que me aturdem sem trégua.
Há versos que andam comigo por passeios matinais.
Há versos intrusos que engasgam meu sentir como pedras nas picadas estreitas.
Há versos que colidem com meu ir e vir de chicote e rédeas.
Há versos que não serão escritos.
Há versos que não serão lidos.
Há versos impublicáveis.
De minha intimidade gozam poucos.
Bem poucos.
Talvez apenas os versos.

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René Magritte

AOS OUVIDOS DE FERNANDO PESSOA

Falo baixo, Pessoa, que não é preciso gritar.
Não sei fingir a dor que deveras sinto.
Sou de ânima feminina, meu poeta.
Trago doses de dor, sem possibilidade de medições.
Visto um traje próprio para danças em par.
Gosto de ouvir sentimentalidades.
Não aguento palavras rudes, grosserias masculinas.
Sou mãos abertas ao aconchego.
Sou seios e ventre férteis às paixões.
Sou cabelos que exalam tato.
Sou pernas que enroscam suores.
Sou boca que lambe perfumes.
Pessoa: tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Como medir almas, se a métrica é fluida?
Como sentir que valeu a pena passar além da dor?
Sou fêmea, Pessoa.
Fêmeas têm outros jeitos de ser e de estar, saiba você.
Seus heterônimos são poucos.
Fêmeas são desdobráveis, flexíveis, sensíveis.
E todas em uma só.

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AVARANDADO

A taça de Dioniso me impele.
Não estou aqui.
Vou. Vou. Vou.
Olho, olho, olho.
Sinto, sinto, sinto.
Não tiro poesias das coisas.
Amo as coisas e elas tornam-se poesia.
Amo formigas e formigueiros, imagine.
Amo casas e telhados coloniais.
Amo cães e flores de todas as variedades.
Amo cachoeiras, rios, cascatas e chuva.
Amo sol, lua e estrelas.
Amo trens e estações vazias.
Amo música sem palavras e silêncio.
Amo risos de crianças e perfumes de amor.
Talvez por isso seja tão confessional e comum o que escrevo
porque as coisas sobre as quais versejo
estão prosaicamente aqui, ali, em qualquer lugar.
Não tiro poesia das coisas.
Amo as coisas e elas tornam-se poesia.

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Observação do mestre Graciliano Ramos que, ao se referir à arte de Cândido Portinari, dizia que ela morava dentro dele próprio. “Arte é sangue, é carne. Além disso não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos.”

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

1º e 3º Vídeos: Canal: Odonir Oliveira

2º Vídeo: Canal: ClassicalMusicTVHD

4º Vídeo: Canal Pablo De Giusto

DEDICATÓRIA: Esses versos são dedicados ao casal Eurilena e  Zé Luiz, meus amigos de infância e adolescência no RJ ( primeiro amor um do outro ).

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Post publicado também em meu blog no GGN:

https://jornalggn.com.br/literatura/entao-deixa-me-ser-poesia/

Mantras

 

TEM QUE SER JOVEM

Não envelheça
Tinja os cabelos de loiro
Faça ginástica
Faça corridas
Frequente academias
Use biquínis
use tangas
use fios dentais
use shorts
mostre as pernas
esteja bronzeada sempre
ria mostrando dentes claros
gargalhe regada a cervejas
tempere-se de pimenta sensual
siga as receitas
equivalha-se
equipare-se
brigue nas comparações.
 
Vença.

TEM QUE SER LEVE

Não traga bagagem
ria sempre
seja leve
Não traga história, dores e mágoas
Seja meu oásis, meu bálsamo, minha eterna juventude
Não me exija nada
Não me cobre nada
Não me peça nada
Não mendigue nada
Traga o álcool
Traga os orifícios às minhas permanências
sempre quentes, sempre lisos, sempre leves.
Não me questione
não me atormente
não me penetre.
 
Fique por quanto eu quiser
Fique por quanto eu beber
Fique por quanto eu me embriagar
Fique por quanto eu quiser.
 
Não seja.
Apenas esteja.

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EU E MEU VELHO

Quase sempre
acordamos juntos,
tomamos café, cada um do jeito que mais gosta,
vamos aos canteiros de flores,
vamos à horta,
tratamos das galinhas e dos patos
 
Quase sempre
rimos de nossas imperfeições,
gargalhamos de nossos prejuízos etários,
sentamos e descansamos ouvindo nossos bolerões embaixo da mangueira.
Quando há mangas, chupamos umas tantas, mas sem facas, mordendo a fruta.
Aí, sem mais nem menos, acho meu velho tão sensual mordendo mangas !
Chego mais perto, rimos, nos tocamos, nos beijamos.
 
Quase sempre
lemos poesias, ficção, ouvimo-nos um ao outro como música
nem sempre suave,
nem sempre terna,
nem sempre pacífica.
 
Nós dois somos a música.

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Versos escritos a partir do vídeo da pesquisadora Mírian Goldenberg sobre seus estudos e seu livro A bela velhice, e da leitura da obra Velhice, de Simone de Beauvoir.

Post dedicado ao casal Cleo Daher e Rui Daher

Poesias: Odonir Oliveira
 
Imagens: da Internet
Vídeos:
 
 1-Canal Pertersmusic
2- Canal cuidardoser
3- Canal Odonir Oliveira
4- Canal almorena0
5- Canal Café Filosófico CPFL
 

“BRASIL, minha voz enternecida”

O povo ao poder

Castro Alves

Quando nas praças s’eleva

Do povo a sublime voz…

Um raio ilumina a treva

O Cristo assombra o algoz…

Que o gigante da calçada

Com pé sobre a barricada

Desgrenhado, enorme, e nu,

Em Roma é Catão ou Mário,

É Jesus sobre o Calvário,

É Garibaldi ou Kossuth.

A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor

É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor.

Senhor!… pois quereis a praça?

Desgraçada a populaça

Só tem a rua de seu…

Ninguém vos rouba os castelos

Tendes palácios tão belos…

Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira…

Nas tocas da inquisição

Chiava o ferro na carne

Porém gritava a aflição.

Pois bem… nest’hora poluta

Nós bebemos a cicuta

Sufocados no estertor;

Deíxai-nos soltar um grito

Que topando no infinito

Talvez desperte o Senhor.

A palavra! vós roubais-la

Aos lábios da multidão

Dizeis, senhores, à lava

Que não rompa do vulcão.

Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,

Ai, cidade de Vendoma,

Ai, mundos de cem heróis,

Dizei, cidades de pedra,

Onde a liberdade medra

Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos

Tapou a destra da lei?

Onde a toga tribunícia

Foi calcada aos pés do rei?

Fala, soberba Inglaterra,

Do sul ao teu pobre irmão;

Dos teus tribunos que é feito?

Tu guarda-os no largo peito

Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas

Descansa extinta a nação

Fria e treda como o morto.

E vós, que sentis-lhe o pulso

Apenas tremer convulso

Nas extremas contorções…

Não deixais que o filho louco

Grite “oh! Mãe, descansa um pouco

Sobre os nossos corações”.

Mas embalde… Que o direito

Não é pasto do punhal.

Nem a patas de cavalos

Se faz um crime legal…

Ah! não há muitos setembros

Da plebe doem os membros

No chicote do poder,

E o momento é malfadado

Quando o povo ensanguentado

Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos

Do futuro para a luz,

Nós que o Calvário escalamos

Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro

Só temos fé no futuro,

Como alvorada do bem,

Como Laocoonte esmagado

Morreremos coroado

Erguendo os olhos além.

Irmãos da terra da América,

Filhos do solo da cruz,

Erguei as frontes altivas,

Bebei torrentes de luz…

Ai! soberba populaça,

Rebentos da velha raça

Dos nossos velhos Catões,

Lançai um protesto, é povo,

Protesto que o mundo novo

Manda aos tronos e às nações.

NÃO PODE TER SIDO EM VÃO

1º Vídeo: Canal Eduardo Oliveira

2º Vídeo: Canal bossanovaclube

3º Vídeo: Canal Annevaluri

Aboio: venham meus poetas, venham

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NA BOCA DOS POETAS
Gosto de beijar a boca de versos
gosto de acariciar docemente os lábios dos poetas
gosto de saber que são música
aos meus ouvidos
aos meus olhos
ao meu corpo inteiro.

“ABOIO”

Falo ou calo?
espero ou me atrevo?

Venham em meu socorro,
meus deuses e semideuses,
meu Drummond, meu Pessoa, meu Manoel ,
me deem a mão Cora, Adélia e Cecília,
venham, por favor, Guimarães, Clarice e Graciliano.

Falo ou calo?
espero ou me atrevo?
Acudam, com sua lira e sua fabulação, todos os meus magos, acudam.

Calcem-me suas botas de galgar píncaros, de beber mel e fel
Emprestem-me engenho e arte de Camões e Homero.
Corram, que meu tempo expira e ainda tenho que ir.
Corram, emprestem-me suas botas.

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Momentos há – dias, semanas, meses, anos – em que as mãos que sentem ficam mudas. Mas não, surdas. Então elas bebem vinho de lírica alheia para se fortificarem e voltarem a andar com as próprias pernas. Os pais poéticos sempre socorrem aqueles que bebem de seu vinho.

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Canal: andrezamcpa

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Canal: Henrique Fernandes

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Canal: xilosciente

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Canal: muito além

A HISTÓRIA DO ABOIO

O aboio é um canto de origem árabe, surgiu nos campos do deserto na atual região do Oriente Médio por volta do Século XI ou X, A.C. Era um canto de adoração aos deuses das religiões politeístas. No Egito se destacou no governo do Faraó Miquerinos cantado pelos seus súditos para lhe adorarem. Os fenícios foram os verdadeiros responsáveis por levarem a cultura do aboio para os gregos e os romanos, devido a serem os primeiros navegantes da História da qual temos registro, isso por volta do ano 600 a.c. Conta – se que no ano de 753 .a.c, data da Fundação de Roma um coral entoou o canto para agradecer a Rômulo pelo empenho em fundar aquela linda cidade em homenagem a os seu antepassados as margens do Rio Tibre, próximo ao Monte Palatino. Durante séculos o aboio foi um canto de adoração e dedicação aos deuses e as grandes autoridades do Mundo Antigo. O Papa Gregório II, Gregorius Secundus que foi o 89º Papa da Igreja Católica que governou de 19 de Maio de 715 a 11 de fevereiro de 731, adotou o canto como oficial da Igreja onde mais tarde foi chamado de canto gregoriano. Mesmo na Europa o aboio foi ligado à poesia que surgiu na África por volta do Século VIII a.c, e chegou na Europa por volta do Século XVI, d.c. Na Alemanha surgiu o decassílabo e em Portugal surgiu a quadra que foi destaque no trovadorismo. O aboio chegou ao Brasil no final do século XVI, trazido pelos africanos como canto de libertação do trabalho escravo que durou quase quatro séculos; a poesia foi trazida pelo poeta Bandarra ainda no século XVI, em folhetos, onde narrava a história do Rei D. Sebastião. Com o fim da escravidão no Brasil no final do século XIX, alguns escravos continuaram a trabalhar nas fazendas como vaqueiros e o aboio foi o canto de aproximação do vaqueiro com os animais.

Aqui no Brasil aconteceram as grandes inovações dentro desta musicalidade que se tornou uma cultura do povo nordestino e temos vários nomes que se destacaram na musicalidade do Aboio tais como: Vavá Machado e Marcolino, Galego Aboiador, Léo Costa, Zé de Almeida, Paulo Nunes, Carlos Cavalcante, Heleno Higino e Ivone Leão, Cara Véia, Chico Justino e Cícero Mendes, Atonio Neto, as irmãs Soares, Delmiro Barros, Coral Aboios, Quinteto Violado, Luiz Gonzaga e muitos outros, além dos poetas compositores e repentistas espalhados pelo Brasil afora. A palavra  aboio, etimologicamente, tem vários significados: para os orientais Canto de adoração aos Deuses, Canto de adoração para a Igreja Católica, Canto de Libertação para os africanos e Canto de aproximação do Vaqueiro com o Gado, no Nordeste do Brasil.

(Texto de Cicero Mendes, poeta, professor, historiador, filósofo, ator, compositor e aboiador, com edições gramaticais minhas.)

http://justinomendes.no.comunidades.net/a-historia-do-aboio

Fotos de arquivo pessoal: cidades mineiras

Res pública nacional

ACHADOS E PERDIDOS

Não me segurem
não me acudam
não me acalmem.
Minha boca escorre catarro vermelho
visgo
estrato de alma podre de fel
charco de ferida biliosa
amargor de pus em traqueia.
Não me afaguem
não me toquem acordes de violinos ou de acordeons
esse tango é noite
essa mordaça é fina.
Grito, grito e grito.
A boca é minha.
A purulência é minha.
O estupor é meu.
Os dentes que marcam a pele são meus.
O contrato que reproduz a ferida é mal cheiroso e meu.
É dor, é rasgo, é contágio.
Não há mais tempo para rotatórias.
Não há mais espaços para benfeitorias ou rapapés.
O osso roído, a carne exposta, o tumor revelado.
Fétido.
Ludibrioso.
Panaceico
Patético.
É escárnio, é troça, é truque, é fosso, é falso.

(Aos corruptos e corruptores da res pública no Brasil )

Poesia: Odonir Oliveira

Canal: Odonir Oliveira

 

Estradas … paradas … prazeres

Momentos há – dias, semanas, meses, anos –  em que as mãos que sentem ficam mudas. Mas não, surdas. Então elas bebem vinho de lírica alheia para se fortificarem e voltarem a andar com as próprias pernas.

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FALA, POETISA MINEIRA !

Canal: Pílulas De Poesia UFV

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CASAMENTO

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto extraído do livro “Adélia Prado – Poesia Reunida”, Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág. 252.

… TÊM DIAS QUE SÃO DE LUTA E … TÊM DIAS QUE SÃO DE BALANÇO !

Canal: Odilon Esteves

Canal: Fabio Amadeus

Foto de arquivo pessoal

Neyde Galdino, uma mineira de 88 anos

Não sei quantos anos ainda me deixarão caminhar, ouvir, falar, viver … sei que tia Neyde (viúva do tio Moisés, irmão de minha mãe) vive, e repousam nela todas as raízes, folhas e ainda flores e frutos de nossa árvore geradora de valores, princípios e até de fins.

Parabéns tia Neyde.

Saúde e alegrias até o fim da estrada. De trilhos e trens.

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UMA MINEIRA CHAMADA NEYDE GALDINO

Menina mineira de muitos irmãos
Pai, mãe e o Espírito Santo
zelam, cuidam, ensinam, protegem.
Vida de menina,
anos vinte, anos trinta
alegrias, aprendizagens, brincadeiras, sonhos.
Anos quarenta
trabalha, produz, operária de ser e ter
Menina-moça , anos cinquenta,
noiva, casa, cuida, trata, cura
mãe, esposa, mulher.
Mulher de um único e eterno amor,
Do seu Moisés
Produz, trabalha,
Costura presente e futuro
Constrói casa,  presente e futuro.
Canta, veste e prepara os que se despedem da vida.
Ergue um lar, dois, três
A casa dos filhos
A casa dos netos
A casa dos bisnetos.
Orações, santos e águas bentas
por um, por dez, por cem.
Tia que tem alegria pra dançar, cantar e ser com orgulho
Uma amiga das amigas da terceira idade.
Tia,
que ainda abre cofres de segredos aos poucos,
quase nove décadas de espíritos santos e de Espírito Santo nas mãos,
de terços e de águas bentas em vidrinhos rendados,
com seus santos conhecidos, clamados, ofertados, agradecidos,
das memórias distantes, de longas narrativas confidenciadas,
das memórias mínimas, de tempos próximos equivocados e fluidos
Única fonte,
última fonte.
Tia Neyde,
que ouve, como eu, os apitos do trem de carga
duas, três vezes ao dia e pergunta se eu também ouvi.
Tia Neyde que quer saber da saúde, da tristeza, da alegria.
Tia Neyde que agradece as rosas,
os presentes de santos,
as imagens e as comidas que recebe de nós,
muitas vezes
muitas vezes
muitas vezes
Tia, permaneça.
Permaneça, tia.
Em nós,
Para sempre.

 

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Barbacena, agosto de 2016

Tia Neyde assistindo ao vídeo homenagem

FERVOROSA

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PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DO CARMO – Barbacena, MG, julho de 2016

Poesia: Odonir Oliveira

1º Vídeo: Canal Odonir Oliveira

2º Vídeo: Canal: Afrodisia Ferraz de Souza

Caminhos paralelos

sam_2756Paralela. [ Fem. substantivado de paralelo] Geom. Adj. (f.) 1. Diz-se de duas retas que, situadas no mesmo plano, não têm ponto em comum. S.f. 2. Reta que só tem em comum com outra um ponto no infinito.

INFINITO

vernáculo
sem fim
sem limite
que não cessa
inumerável
incalculável
intensidade extrema

TRILHOS

Andar nos trilhos
Trilhar caminhos
Dormentes acordando sentidos
encruzilhadas eternas
apitos que cortam uma noite que não termina
vozes segredadas entre dentes
vozes felizes por conquistas perseguidas ferrenhamente
idas vindas voltas encontros desencontros separações
bancos nas estações, repletos de ouvidos secretos e bocas atormentadas
Trens fazem anúncios sempre.

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FLORAÇÃO

Na rota, um porto
Na reta, um ponto
insípido inóspito infértil

No tronco, uns galhos
Nos galhos umas folhas
secas opacas estéreis

Alma no trajeto
Curvas no caminho amargo
Gotas de perfumes
Pingos de cores
Chuvas de flores
fertilidade, sedução
produção
Poesia
Caminhos doces então.

Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
1º Vídeo: Canal Universal Music Brasil
2º Vídeo Canal edumota
3º Vídeo Canal Odonir Oliveira