2022

69 NOVOS ANOS!
Quando se tem 68 anos, bem vividos, a gente já passou por muitas viradas de ano: quietinha na cama, ouvindo música na Rádio JB, em bailes de pré-carnaval, com caminhadas nas areias de Copacabana, com beijos na boca, com festa temática em casa no Farol de Itapuã, quietinha na cama, com carinhos e beijinhos até cansar, nas festas de largo em Salvador, acompanhada em uma barraca de camping em La Pampa, na Argentina, com pai, mãe, e seus filhos, netos deles, em casa, com queima de fogos em Santos, em clubes privados, com a cadela adorada … ufa!
Tantas experiências … agora aos 68 quero mais é fazer apenas o que gosto e viver em silêncio, com versos, flores e pássaros.
Aos mais jovens, vivam e acreditem. Será bom, mais tarde, terem vivido e acreditado.
Lindos 2022 a todos!

Texto: Odonir Oliveira

Vídeo: Canal Leon Campana

Amores-perfeitos

BARCO DE AMORES
Vi aquela barcarola sem vida
colhi amores-perfeitos
diversos
afofei terra
adubei de mãos quentes
salpiquei afetos
semeei amores de cores distintas
acompanhei seus botões
segui seu desabrochar
sorri com suas travessuras
bebi seu amanhecer
diariamente
Tenho a barcarola aqui comigo
em minhas mãos
acarinho os amores-perfeitos
mantenho com eles
um discurso só nosso
eles sabem agradecer cuidados.
Momentos há em que se fecham
nas manhãs, todavia, encantam-me
cismo sempre com fantasmas de jardins.
Ao anoitecer
alisam-me mãos e dedos
ofereço-lhes então
o que tenho de melhor
um travesseiro com meus braços
versos frágeis como alimento.

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal (meus amores-perfeitos na barquinha de cerâmica)

Vídeo: Canal Milton Nascimento

Bituca

Ponto de Encontro

(José Renato e Milton Nascimento)

Corro ao portão
Que esperança
Correio já passou e não deixou nada
Segura essa, coração
Vamos ver se amanhã a coisa muda

O telefone diz
A voz é outra…
Fala do trivial
Não faz mal. Agrada….
Olhar não mente e se mostrou
Narrando uma ansiedade
Quase nunca
É muito amor que se viveu
Pra se apagar na sombra da saudade
Que saudade

Onde se perdeu?
Onde se esqueceu?

Tudo tem seu momento

É tudo ou nada…
E lá no fundo sei talvez seja tarde
Só a imagem que ficou
Virá me visitar o pensamento

Virá me embriagar de fantasia
O teu perfume então estará na vida
A hora certa já passou
E o tempo não curou essa ferida

O muro cresce já subiu
E corro atrás da porta de saída…
A saída…

De te respirar…
De reconquistar…
De te respirar…
De reconquistar…

Corro ao portão
Que esperança
Correio já passou e não deixou nada
Segura essa, coração
Vamos ver se amanhã a coisa muda

Você já sabe: a música do Clube da Esquina será celebrada em um concerto inédito, com Milton Nascimento, nesta quarta, dia 29 de dezembro, às 20h30, no canal da Orquestra Ouro Preto no YouTube.

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Milton Nascimento

Feliz aniversário!

Além das violetas, essas também são as suas flores preferidas, né.

Querido Antonio Carlos, você me ensinou que não se deve agradecer o Amor, não é? Ama-se e basta. Conheci você em 1974, 10 anos mais velho que eu, um homem experiente, de barba intelectual, leitor de Sartre e amigo dos dominicanos. Eu, uma mocinha tonta, recém chegada do Rio, uma normalista em reconfiguração paulistana. Nem tudo foi como aquela tolinha de 21 anos esperava que seria, nem com você, nem com o resto da vida. Sou sentimental demais, versejadora demais … Duas coisas, pelo menos, sei que aprendi a fazer bem feitas: fui uma excelente professora e uma mãe dedicada a meus filhos. O resto, fico devendo. Não consegui fazer “tudo que seu mestre mandar”. Recebo por e-mail, todos os dias, as orações litúrgicas que você me envia, confesso, leio-as e interpreto-as por mim mesma, sem as interpretações dos religiosos que as acompanham em seguida. Prefiro beber em minhas taças aquele vinho bom. Li todos os seus livros de ficção e de direitos humanos. Sua amizade com Frei Betto, com Dom Paulo , com Dom Daniel – já lhe disse antes – foram modelando em você aspectos bem distintos. Nos últimos anos, quando passeamos por mais de uma vez pela Paulista, de braços dados, almoçamos juntos, eu apimentando sempre com meus apartes os seus relatos … ufa, faz 47 anos que temos ido nessas travessias, pelos sertões internos de nossas vidas; você, cosmopolita, metropolitano, e eu a cada dia mais mulher de roça, de província. Parabéns, meu primeiro amor em carne e osso. Saúde e força. Beijos.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal (amores-perfeitos que insisto em cultivar)

Vídeo: Canal Chico Buarque – Tema

“Uma coisa pode ser outra coisa”

Assisti a esse vídeo e é como se eu conhecesse Tom há muitas vidas. Penso e tenho muitas ações em vida parecidas com as dele. Inclusive, entendendo que um Amor entre duas pessoas – antes sentido de uma única e exclusiva forma – pode se transformar em uma sincera e verdadeira Amizade.

Vamos aprender a lidar com a morte? Vamos falar sobre ela, sobre cuidados paliativos? Vamos aprender a reciclar sentimentos, valores e ressignificar objetos? Vamos fazer a reconexão com a natureza? Eu gosto, eu aprendo todos os dias. Permita-se também.

Vídeo: Canal Chico Abelha

Natal de 2021

NATAL É TODO DIA
Umas crianças batem bola ao longe
Natal é todo dia
Natal é momento de alegria
Natal é confraternização
Natal é sonho
Natal é encantamento
Um trem apita ao longe
É gente chegando para o Natal.

NOITE MENINA
Na noite menina
as crianças brincam pelas ruas
ouvem-se vozes ao longe
Na noite menina
há alegrias nos corações
há união entre as pessoas
entre as famílias
Na noite menina
há vida nas janelas.

AS GRADES

O menino olha pelas grades
acha bonitas as luzes
acha bonito o colorido

O menino olha pelas grades
quer um Natal
como esse

O menino olha pelas grades.

CHUVA DE NATAL

Chove uma chuva fina
no jardim
Chove uma chuva fina
no quintal
Chove uma chuva infinda
na árvore de Natal

Os sinos
os laços
os pacotes
as caixas
deixam-se molhar
na chuva fina
desse Natal.

MUITAS ALEGRIAS NESSE NATAL !

Leia na categoria “Natal”, muitos textos narrativos e poesias que postei em outros Natais: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Última imagem retirada da Internet

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Natal icônico: notícias da região

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

-É verdade, encontrei com eles na sala de espera do embarque. Disseram que vai chegar por essas horas
-Você e seu jornal sempre querendo dar furos, acabam escrevendo fake news e fazendo com que nós todos pareçamos ter sido inexperientes, engolido barriga. Para com isso. Vocês nunca foram investigativos, vêm agora com essa má nota!
-Então, não noticie. Eu vou levar ao editor sim. Eram 3, de países diferentes e estavam vindo para a posse do Novo que vem chegando.

Naquele momento, os 3 a caminho do Novo, entendem que seria mais prudente enveredarem por outras rotas, simulando um rumo incerto, quiçá uma dúvida do Google Maps da Estrela, do Oráculo, das Runas. Deram meia-volta nas intenções de participação do Advento e não noticiaram mais o que estava, inevitavelmente, por vir. Seguiram em voos para o Cairo, outras rotas para Pequim, rodaram por Mumbai, Dubai, por Fez e Bangladesh até, depois de dias, aparecerem em Matões do Norte e se camuflarem por lá. Era tamanha a pobreza do lugar, que não seriam seguidos até ali. Jornalistas, governantes e escrevedores de notícias não descem até sertões tão áridos de renda tão baixa, quase nenhuma, como a deles ali. Era um bom lugar pra se esperar pelo Novo que viria logo. A Anunciação era ali, teria sim de ser ali.

O estratagema resultou exitoso. Ao chegarem lá, já encontraram os locais, reunidos, antevendo a chegada do Novo. Sabiam, reconheciam que ali estava a Esperança. Talvez fosse ainda mais difícil que de outras vezes, posto que os fariseus hodiernos eram mais fortes, bem nutridos, com passaportes bastante carimbados por paraísos fiscais e não aceitavam derrotas, secularmente. Haveria vendilhões de templos, malversação de recursos, exigências de Centro ampliado e muitas tristezas, quem sabe até uma crucificação. Entretanto, em Matões do Norte e região, todos tinham calcanhares rachados, pele ressecada, unhas sujas, bocas secas e famintas. Acreditavam no Advento, estavam ali para entoar um hino de luz, apesar das sombras. Sempre deve haver Esperança. E matões do norte se espalhavam por todo aquele enorme país de 8.519.000 Km².

JESUS
No mato denso nasceu Jesus
interessou-se desde logo pelos sons
do vento
da chuva
do gorjeio dos passarinhos
até dos grilos companheiros e dos sapos vizinhos.
Quem poderia ensinar viola pra esse menino, nesse fundão de mata, meu Deus?
Jesus fazia som com tudo que encontrava.
Jesus tirava o som de dentro de si.
Calado, quieto, sonhador
O homem passou no cavalo
Jesus correu até ele.
Não alcançou.
Na volta o alcançaria.
O homem tinha uma viola.
Estaria ali sua senha, sua fuga, sua história
O homem no cavalo um dia voltou.
Jesus o alcançou com o som que tirava de si.
O homem parou, ouviu, encantou-se.
Jesus saíra de si.
O homem trouxera a chave perdida no horizonte do menino.
Jesus melodia
Jesus sonho
Jesus futuro.

Mais textos e poesias sobre o Natal em: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/

Texto e poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: presépio dos meus vizinhos

Vídeo: Canal Coral Paraná

Natal: mensagens para você


CONVERSA COM OS VIZINHOS

-Quero te contar uma do seu saudoso pai. Um dia pegamos o mesmo ônibus às 10 h da manhã. Ele vinha cheio de sacolas do mercadinho que havia aqui pra baixo. E eu estava indo para a rodoviária, ao ponto final do ônibus.
-Ah, é? O que houve?
-Ele subiu no ônibus com a carteirinha de idoso, as sacolas e sentou. Passados 2 pontos, deu sinal pra descer. Estava descendo devagar, quando o motorista começou a reclamar dos velhos, que ”onde já se viu, 2 pontos e já deu sinal pra descer, é por isso que não gosto de parar para velhos” etc.
Seu pai ouviu e deu uma lição de moral no motorista, só na educação, e terminou dizendo que era direito dele entrar e descer do lotação e que TOMARA QUE ele, o motorista, pudesse chegar até a idade de seu pai, carregando sacolas, em atividade etc.
Nunca esqueci aquilo. Eu tinha uns 40 anos na época e trabalhava junto à cooperativa de ônibus. Esse motorista ficou meses e meses querendo saber quem ERA O SEU PAI, onde morava, queria ir pedir desculpas a ele, temia que entrasse com um processo contra ele etc.
Eu lhe disse que devia mudar a postura, errada, que tinha guiando, com rádio de pilha ligado e com som alto, mal sentado na direção etc.
Seu pai deu uma lição nele, inesquecível.
-Esse era o meu pai, seu Luís, ele sempre ficou ao lado do trabalhador, não abriria processo contra aquele. Queria era EDUCÁ-LO. Meu pai já passava dos 70, tinha enfisema pulmonar, falta de ar etc. se cansava e, por isso, teria subido naquele ônibus. Obrigada pelo PRESENTE DE NATAL viu, seu Luís, muito obrigada.

NATAL É TODO DIA

-Seu José, o senhor quer essa televisão? Pode levar.
-Ah, obrigada, eu só ando de bicicleta. Mas tenho um conhecido que faz carreto, vou pedir esse favor a ele e aviso a senhora, tá bom.

Semanas depois …

-O moço vai pegar um armário que ganhei, já tá desmontado e vem buscar a TV comigo.

Outra semana …

-Seu José, não vai vir pra buscar a TV?
-Ah, ele ficou me enrolando, disse que ia um dia, outro, acho que não vai querer não.
-Venha no domingo à tarde, deixe sua bicicleta aqui e me ensine o caminho que eu levo no meu carro pro senhor.
-Ah, puxa vida, eu vou. Obrigada

Domingo de tarde, fomos nós juntos e a TV.
Sorrisos da esposa, agradecimentos.
Alma leve.

REDE SOCIAL? REDE DE AFETOS

-Por favor, tem como me ajudar, não consigo sozinha, já tentei todos os tutoriais… quero entender o que aconteceu.
-A senhora sabe, aqui a gente só faz manutenção de computadores, reconfigura etc. a senhora já fez. Tente a L. celular, mas tem que ir lá no Rosário, eles não atendem telefone. É só zap e tal.
-Obrigada, eu vou.

Horas depois …

-Boa tarde, por favor, você pode ver o que aconteceu, de repente, com minha conta nessa rede social, tem vindo essa resposta por 24 horas etc. Creio que tenha desconfigurado algo, não tenho base conceitual para lidar com isso.
-Eu faço pra senhora. Vou tentar vários caminhos.
-Olha, pode atender seus fregueses, eu posso esperar todo o tempo, não quero atrapalhar vocês, por favor.

Enquanto atendem, observo que, apesar das máscaras, são 3 moças de pouco mais de 20 anos, todas lindas e com um desprendimento exemplar. Nessa idade eu ainda era uma bobona.

Quase uma hora depois …

-A senhora vai perder a outra conta, teremos que fazer uma nova, tudo bem?
-Claro, por favor.

Faz todos os procedimentos, qual uma enfermeira num PS. Escreve o zap pra mim – que não costumo usar nunca – e pede que lhe informe, caso haja mais algum problema no computador com a rede.
Agradeço, puxo uma nota de valor alto e lhe estendo, fazendo-lhe todas as reverências merecidas.
– Não, não posso aceitar. A gente nem faz esse tipo de serviço aqui.
Peço que aceite.
-Já sei. Vou colocar na nossa caixinha de Natal dos funcionários, ok, olhando para as outras balconistas.

Em casa, novos problemas. Ela tenta resolver pelo zap comigo, mas confesso que já desistia. Fui dormir.

Na manhã seguinte fui até a loja logo cedo, com computador em punho. Ela configurou tudo, deixou um tutorial mineiro salpicado de pão de queijo e ambrosia pra mim, por escrito.

Voltei pra casa, sem ter a certeza de que aquela mocinha mineira, vestida de anjo de procissão, tinha a clareza dos seus gestos naqueles 2 dias. Ou se fora apenas a sua intuição de GENTE BOA que prevalecera. Dividiu a caixinha com as colegas, não semeou inveja ou rivalidade e fez com que aprendessem uma lição de Natal. E eu também aprendi.

Natal é todo dia e a ajuda que se dá aqui se recebe de volta ali, sem que sequer a relacionemos a que fizéramos anteriormente, posto que natural.

Textos: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

1ª imagem retirada da Internet, sem autoria

Vídeo: Canal Roupa Nova

Luto

LUTOS. Nos 2 últimos anos, além dos lutos que vamos tendo que enfrentar durante toda a nossa existência – e não por mortes unicamente – perdemos parentes, amigos, artistas queridos … uma coroa de espinhos, antecipada pela pandemia. Sempre me interessei muito pelo tema ”lutos”, lendo, assistindo a palestras e em terapias. Ontem, assisti ao vídeo que segue abaixo, extremamente simples, um bate-papo, mas completamente embasado pela literatura teórica acumulada sobre o tema. Resolvi compartilhar aqui porque acredito, como se expõe no vídeo, que muitos lutos que NÃO tenham sido elaborados posteriormente “às mortes” voltam a atormentar outras mortes, outras perdas e as ampliem de forma substancial. O vídeo também sugere que não se deve dar os pêsames a quem perdeu alguém e explica o que se pode dizer e fazer nessas ocasiões. Vale a pena assistir, inclusive porque aponta caminhos para as Ceias de Natal, depois do LUTO. Não deixe de ver, ok.

NA ROTA, UM PORTO
Chapéu de aba larga florido
vestido de fustão e renda
botas de cadarços
luvas brancas de seda.
Colo branco, rosto pálido, boca rósea
Olhar distante
jardim florido de rosas, rosas, rosas …
Pés de amoras, pitangas, goiabas
Perfume de lenha pão bolo café
Cavalos nas calçadas,
homens de chapéus bengalas,
meninos em calças curtas
Olhar distante
Horizontes perdidos em espaço e tempo.

Poesia: Odonir Oliveira

Vídeos:

1-Canal Chico Abelha

2- Canal John Barry – Tema