Lua que alumia esses sertões todos das gentes brasileiras. Alumia, alumia todas essas gentes por esses Brasis de meu Deus!
Foto de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Odonir Oliveira
Lua que alumia esses sertões todos das gentes brasileiras. Alumia, alumia todas essas gentes por esses Brasis de meu Deus!
Foto de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Odonir Oliveira
CRÔNICA DA PASSAGEM DOS TEMPOS
Década de 1930 em curso.
Andam apressados os 5 irmãos pela Rua do Campo, dobram a esquina. Ziza dá a mão a Armando e Marcos, Itália dá a mão a Milton. Rumam ao Grupo, onde estudam no primário.
-Mais devagar, Duduia, quero ouvir a dona que toca piano nessa casa, espera.
-Na volta, agora ela nem deve ter acordado ainda, tem algum som do piano aí? É na volta, Milton.
-Eu vou apanhar umas rosas dessas grandes para minha professora, o portão está aberto, olha.
-Não, Marcos, na volta, a gente bate palmas e pede para dona Heloísa, se ela der… agora vamos indo. Os canteiros não vão fugir daí de uma hora para outra não. Na volta.
Década de 1960 em curso.
-Tá vendo Doni, essa casa era da dona Heloísa. Os canteiros de rosas ainda estão bonitos.
-Será que ela ainda tá viva, mãe. Ou será que tem alguém que cuida das rosas? Essas são das grandes, né?
-Não sei mais. Quando a gente vem pra cá, só nas férias, não vejo ninguém pra perguntar por ela.
-As casas eram assim grandes com esse terreno todo, mãe?
-Se eram. De perder de vista, vai até lá longe. O quintal cheio de pés de frutas, de jardim com dálias, lírios, tanta flor grande e bonita, só você vendo. Dona Heloísa deve estar viva ainda. Podia perguntar nessa outra casa do lado. Vem saindo uma moça de lá. Mas não conheço, deixa pra lá, Doni.
Década de 1980 em curso
-Tá vendo aquela casa ali, já contei pra sua mãe da dona Heloísa…
-Sei de cor, filha. Sua avó não falha na história. Cresci ouvindo repetir, repetir, repetir. Essa dona Heloísa é mãe do Hélio Costa da TV. Já deve ter morrido.
-Alguém me contou que está viva, mas não mora mais aí. E o jardim com as roseiras a gente nem consegue ver mais também. O muro é alto. Acho que os donos quiseram tampar tudo.
Década de 2020
A mulher desperta, septuagenária, com o metralhar da máquina na história de 90 anos. Corre e descobre que o que viveu, o que conheceu ninguém poderá demolir. Tem alicerces firmes, raízes com perfume de rosas e colorido de manhãs escolares ensolaradas. Para sempre.
Leia aqui no blog também Tecendo o amanhã – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/02/15/tecendo-o-amanha/
Texto e poesias: Odonir Oliveira
Foto de arquivo pessoal
Vídeos: Canal Odonir Oliveira
Fala de um colega professor nos anos noventa: “Ontem fiz faxina no meu apartamento; fica ótima quando estou com uma bruta duma raiva, desconto tudo na vassoura, no rodo “. Achei aquilo bem engraçado, pois sabia que em sessões de terapia, costumava-se socar almofadas etc. , mas dei credibilidade àquela fala do Alencar, mais ou menos assim: “de um limão… faço uma limonada”, “das pedras que me atiraram construí um castelo” e por aí vai. Gosto de faxinas, de cozinhar, de costurar, de semear… faço isso quando quero porque quero na hora em que quero. Simples assim. Do alto de meus 70 anos.
VOCÊ PRECISA FAZER UMA FAXINA EXISTENCIAL?
“Todos os dias de manhã, assim que eu acordo, escrevo cinco perguntas no meu diário.
Como posso transformar meu medo em coragem?
Como estou me sentindo agora?
Como vou gozar o dia de hoje?
O que é importante para mim nesse momento?
O que eu faria se não tivesse tanto medo?
Minhas respostas são sempre as mesmas: escrever, ler, trabalhar, caminhar na praia, conversar com meus melhores amigos Guedes e Thais, de 98 anos.
No dia 11 de dezembro, dia do meu aniversário, resolvi fazer uma “faxina existencial”.
O que é “faxina existencial”?
No dia 15 de maio de 2015, data da minha progressão para professora titular da UFRJ, fiz uma promessa: iria ficar um ano sem comprar absolutamente nada para mim.
Resolvi doar tudo o que não uso e ficar só com o que é realmente essencial. Doei para os meus alunos e instituições mais de 5 mil livros (foi o desapego mais difícil) e quase 80% das minhas roupas, sapatos, bolsas etc.
Na minha “faxina existencial”, resolvi também me afastar de todas as pessoas tóxicas, egoístas e perversas que me deixavam doente, inclusive no meu trabalho e na minha família.
Na semana passada, quando meu marido me perguntou o que eu queria fazer no meu aniversário, descobri que o que eu realmente precisava era limpar e organizar meu mundo externo para encontrar paz e equilíbrio no meu mundo interno.
Respondi: “Quero organizar meus livros, diários e cadernos de pesquisa”.
Ele reagiu: “Mas hoje é seu aniversário. Vai trabalhar o dia inteiro?”.
Respondi: “Hoje é meu aniversário. E é assim que eu quero passar o meu dia”.
Foi um aniversário maravilhoso. Estou fazendo a faxina até hoje, desde a hora em que acordo até a hora de dormir.
É o melhor presente de aniversário, de Natal e de Ano Novo que dei para mim mesma.
Antes de dormir, escrevo no meu diário tudo o que tenho para agradecer no dia que passou: minha saúde, meus amores, meus amigos, minhas amigas, meu trabalho, meu lar, meus propósitos.
Depois, faço um coração ao redor do que escrevi. Tenho sempre muito para agradecer. E você?
Gracias a la vida que me ha dado tanto…
FELIZ 2024!
Tamojuntas? “
Primeiras florezinhas daqueles amores-perfeitos que semeei. Presente colorido logo cedinho.
Texto e poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Odonir Oliveira
PAI LÍRICO
Não nasci uma Maria Julieta,
ao contrário, me sinto mais um anjo torto.
Não nasci em Itabira,
cidade de ferro nas calçadas,
ao contrário, nasci na cidade maravilhosa.
Não descendo de algum fazendeiro mineiro,
ao contrário, sou herdeira de mineiros de sangue inconfidente, libertário.
Não conheci as mazelas da religiosidade mineira extremada,
cresci livre em quintais e galinheiros.
Tenho, sim, versos nas mãos,
há mais de 60 anos,
tenho, sim, crônicas drummondianas
há mais de 60 anos
nas páginas que li.
Tenho, sim, verso e prosa
encharcados de perfume drummondiano.
Tenho, sim, uma forma e uma forma
de bolo de fubá e bule de ágata
na chapa do fogão à lenha,
uma chaminé que assa, lentamente,
pães na essência.
Tenho, sim, uma salvaguarda e uma desconfiança mineiras
em meu cotidiano,
em meu retrovisor,
em meu cenário poético.
Pai Drummond,
bem sabes do que falo.
Por falar em mineiridades, acompanhe o Instagram de Adélia Prado. Logo ela, que nunca concedeu nem haver orelhas em seus livros, agora lê seus versos nessa rede social. Ela o faz de forma natural, simples, verdadeira. É novidade. Vá lá. https://www.instagram.com/euadeliaprado/
Poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal-2017
Vídeo: Canal BAUDATV
ELEVADORES DAS DESIGUALDADES
-Você trabalha aqui? -quis saber um senhor no elevador.
-Sim, no apartamento X.
-Ah, bom.
No apartamento X, a moça comenta:
-A senhora sabe, esse prédio é chique, mas as pessoas querem saber da vida dos outros igual lá no meu bairro. Toda vez que subo, tem um dentro do elevador que me faz pergunta.
-Vou tomar providências quanto a isso. Você só deve se identificar aos porteiros, e eles já têm seus dados etc.
-Mas não são eles que perguntam não.
…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
O elevador para no andar X, a Moradora entra e cumprimenta um homem e uma moça jovem que olha algo no celular, vindos de andares superiores. respondem ao cumprimento.
-A senhora é proprietária? – interroga-lhe o homem.
A Moradora devolve-lhe a pergunta: O senhor é?
-Eu sou – responde o homem indignado com a devolução da mesma pergunta. Esse prédio está cheio de tanta gente nova.
-Moro aqui há X meses.
-Se mora aqui há tantos meses, então é proprietária.
-Não. Sou Moradora. Proprietário é quem participa das reuniões do condomínio e vota.
Sem mais o que dizer, desceu na garagem com a jovem.
A arrogância de quem é proprietário de um apartamento em um dos mais novos e diferenciados edifícios de uma cidade de interior não aceita “misturas”, seleciona, deseja estar apenas em um condomínio com proprietários. Sente-se no direito de inquirir, de sacar seu preconceito e sua discriminação, talvez, atribuindo a si o cargo de Fiscal da Receita Federal. É provável que venham de ANDARES SUPERIORES.
Livro de ocorrências: registro de ambos os episódios.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
PROJETO DE LEI N.º 6.418-A, DE 2005
(Do Senado Federal)
PLS Nº 309/2004
OFÍCIO Nº 2943/2005 (SF)
Define os crimes resultantes de discriminação e preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou origem; tendo parecer: da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias, pela aprovação deste e dos de nºs 715/95,
1.026/95, 2.252/96, 1.477/03, 6.573/06, 987/07, 2.665/07 e 607/11,
apensados e pela aprovação parcial dos de nºs 5.452/01 e 1.959/11,
apensados, com substitutivo, e pela rejeição do de nº 6.840/02,
apensado (Relator: DEP. HENRIQUE AFONSO); e da Comissão de
Constituição e Justiça e de Redação, pela constitucionalidade,
juridicidade, técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação do de nº
2.252/06, apensado, com substitutivo (Relator: DEP. ALMINO
AFFONSO).
Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos |
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
Leia aqui nesse blog: No tempo das reparações I –https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2023/11/06/no-tempo-das-reparacoes/ No tempo das reparações II– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2023/11/08/no-tempo-das-reparacoes-ii/ No tempo das reparações III- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2023/11/28/no-tempo-das-reparacoes-soco-no-estomago/– No tempo das reparações IV– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2023/12/11/no-tempo-das-reparacoes-iv-a-vida-e-a-morte-de-um-poeta-da-quebrada/
Narrativas: Odonir Oliveira
Foto de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Gilberto Gil
UM NOVO DIA
Fica em silêncio,
respira o ar da manhã,
cumprimenta os passarinhos
com teu olhar.
Fica em silêncio,
contempla a lua
ainda no céu,
resistindo a ir embora.
Fica em silêncio,
deixa a espiritualidade
inundar teu ser.
Assim,
fica em silêncio.
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeos: Canal Odonir Oliveira
Em 24 de dezembro de 2015, ganhei esse blog de presente de Natal de meu filho. A ele dei o nome de Poesias de mãos que sentem.
Feliz aniversário com o WordPress.com!
Você registrou-se no WordPress.com há 8 anos!
Obrigado por nos escolher. Continue assim!
UMA IDEIA ANIVERSARIA
Minhas mãos sentem
mais que meus pés e meus braços
Minhas mãos sentem
mais que meus cotovelos, meus ombros
Minhas mãos sentem
mais que meu ventre e meu umbigo
Minhas mãos sentem
mais que meus lábios e meus olhos
Minhas mãos sentem mais
mais e mais
cada vez mais
enquanto me guiam por veredas emolduradas
de rios, barcos, árvores, trens, céus, flores e pássaros
Minhas mãos sentem
vertem lirismo
qual água cristalina
Minhas mãos sentem
incontrolavelmente
infinitamente.
(Meu blog aniversaria. Faz 8 anos)
ESTRUTURA DO BLOG
Nele há categorias das postagens, com alguns dos meus “ângulos” que, na verdade, são bem mais do que os que estão aqui, como em qualquer um de nós – acredito eu.
POESIAS: predominam, até porque são de mãos que sentem: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/poesias/
CRÔNICAS: dizem respeito a algo mais cotidiano, atual e relevante: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/cronicas/
PAISAGEM EXTERNA – NATUREZA: tenho predileção por flores, rios, matas, estrelas, lua, sol e me motivam a escrever: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/paisagem-externa-natureza/
#TBT: lembranças a partir de fotos e imagens que mergulham a memória na escrita ou vice-versa: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/tbt/
TRENS: sensações de quem gosta de ouvir o trem, de debulhar as estações uma a uma, de encontrar alegrias pela chegada e tristeza profunda pelas partidas: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trens/
CHICO BUARQUE: poemas e textos nos quais me misturo ao escritor e compositor durante mais de 50 anos: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/chico-buarque/
ESCUTADOR DE HISTÓRIAS DE AMOR: há um narrador que procede a oitivas das narrativas alheias: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/escutador-de-historias-de-amor/
ESCUTADORA DE HISTÓRIAS DE MULHERES: há uma narradora que ouve as narrativas femininas, nem sempre de amor: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/escutadora-de-historias-de-mulheres/
HISTÓRIAS DE CERTO REALISMO FANTÁSTICO: aqui as narrativas são tão inacreditáveis, que beiram o fantástico: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/historias-de-certo-realismo-fantastico/
CLUBINHO DA LEITURA DE BARBACENA: atividades e fotos que registram meu trabalho voluntário com crianças na cidade nos anos de 2014 a 2017: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/clubinho-da-leitura-de-barbacena/
TRABALHOS REALIZADOS COM ALUNOS: relatos em sequências didáticas de minhas atividades docentes, com processos e produtos: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/trabalhos-realizados-com-alunos/
PROFESSORES SEMPRE: textos que registram emoções e sensações vividas por professores: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/professores-sempre/
SEMANA DA CRIANÇA: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-da-crianca/
SEMANA DOS NAMORADOS: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-dos-namorados/
NATAL: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/
ESCRITORES PREFERIDOS: releituras, aspectos literários, poemas sob a inspiração de suas obras: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/escritores-preferidos/
CINEMA: poemas e crônicas a partir de filmes eternos: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/cinema/
MINI CONTOS: talvez não crônicas, mas sim mini contos: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/minicontos/
ROMANCE: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/romance/
SEM CATEGORIA: são os produtos escritos de difícil enquadramento em categorias: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/sem-categoria/
Todos são bem-vindos ao universo da poesia. Se desejar, deixe suas digitais em um comentário nas postagens; eles serão como as minhas palavras – plumas – que espalho pelos ares.
Não vendo livros, versos, nada…
Então venha.
Poesias: Odonir Oliveira
Vídeos:
1- Canal Egberto Gismonti
2- Canal Odonir Oliveira
PRESENTE DE MÃOS QUE SENTEM
Dona Camila foi minha vizinha na Vila Romana em São Paulo. Quando me mudei para a casa geminada à dela, ainda estava grávida de meu filho, e sua filha acabava de lhe dar um neto. Era de família portuguesa, como seu Manoel, seu marido. Tiveram antes algo como um comércio no centro da Lapa, onde vendiam salgados, feitos por ela. Assim criaram os 3 filhos. A mais nova tinha, talvez, apenas uns 12 a mais que minha filha. Todos cursaram universidades. Dona Camila usava aparelho para surdez, e eu logo passei a gostar dela demais. Era fervorosamente amiga, e eu que sempre adorei conversar com gente mais velha… Minha filha, então, nossa, aprendeu a fazer ovos de Páscoa com ela e a filha e muito mais. Eu sentia muita segurança em saber que minha menina estava em casa delas, ali ao lado. “Era uma casa portuguesa, com certeza”.
Depois, nasceu meu filho e foram sendo criados juntos, sempre amiguinhos. Eu os levava juntos a passeios culturais, diversões. Agilizei vaga para os netos de dona Camila na escola particular onde meu filho estudava e consegui por lá desconto para os seus 2 meninos. Meu filho mesmo não o tinha, mas o prazer de vê-los sempre juntos, crescendo como irmãos, muito me alegrava.
Quando vinha chegando o Natal, dona Camila preparava muitas, mas muitas tortas de goiabada para presentear os amigos. Envolvia-as em papel celofane, com um belo laço, com um cartãozinho de Natal e as entregava a cada um. Eu achava aquele cenário em sua casa a coisa mais linda. Uma mesa enorme repleta de tortas para serem presenteadas. O cuidado ao derreter a goiabada, por vezes ela mesma a fazia também, aquele perfume que saia pelos muros e invadia a minha casa… eram feitas por mãos que sentem, acariciavam nossos sentidos e por isso mesmo permaneceram para sempre em nós.
Perdemos o contato. Antes de vir embora para Minas Gerais, ainda cheguei a ir visitá-la em um apartamento onde estava morando, já viúva. Os netos cresceram: um engenheiro, o outro chef de cozinha em grandes restaurantes… O tempo de Natal nos renova e as recordações também, querida dona Camila.
FELIZ NATAL !
Há aqui nesse blog uma categoria Natal– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/ onde podem ser lidas e ouvidas muitas histórias e poesias de Natal.
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Música Boa
UM NATAL
Quando menina
nunca desejei ser bailarina.
Preferia lousa, giz e apagador.
De meias brancas,
novas,
de sapatinho branco,
novo,
íamos, família grande
pai, mãe, cinco filhos
cultivar nossas saudades
de avôs, avós, tios, primos,
distantes,
noutra cidade
noutro estado
noutras vidas.
Natal era enfeitar uma árvore com bolas de vidro
“Cuidado, não toque, que quebram”.
Natal era preparar uma comida diferente e aguardar presentes,
simples,
quase sempre entregues antecipadamente,
que meu pai não cultuava ritos estrangeiros, nem neve em árvore,
nem hipocrisias.
Natal era um dia como outro qualquer
porque por seus ensinamentos,
todos os dias são dias novos
de sapatos brancos e meias brancas
como os de um doce Natal.
24/12/2015
ALEGRIA DO PRESENTE
Infâncias
alegria
presentes
presenças
esperas, suspiros
presépio, orações, cantigas
hora esperada
sininho que bate
figura bonachona de vermelho e branco
conversas, risos, surpresas
admiração, agradecimentos
sorrisos sagrados
alegria incomparável
BEIJO DE PRESENTE
Ainda que me dessem
os mais raros presentes,
ainda que me entregassem
os mais valiosos presentes,
ainda que me dissessem
as palavras mais elaboradas,
nada,
nada
nada
seria mais valioso, mais rico e mais mágico
do que o beijo de uma criança
como um presente.
1982
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Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeos: Canal Odonir Oliveira
A distribuição dos presentes
Durante a década de 80, quando minha filha Carla era bem pequena, já em novembro começávamos a ”sessão do desapego material”, o aprendizado da doação. Separávamos bonecas, arrumávamos as peças dos joguinhos, as roupinhas das bonecas, os enfeitinhos – tudo com o que ela já havia brincado muito e podia dar a outras crianças. Limpávamos as carinhas das bonecas, lavávamos os ursinhos de pelúcia, consertávamos caixas de jogos com durex. Era uma FESTA. Nada podia estar estragado, afinal as crianças iriam ter que brincar com aquilo. Depois fazíamos pacotes de presentes com celofane colorido, lindos laços e íamos acumulando.
Na semana do Natal, bem próximo da data, saíamos distribuindo às crianças de rua, em casas de alvenaria próximas, por viadutos. Ela sentia as ”perdas”, mas aprendia o sentido de doar. Fizemos isso por anos. Colocávamos no porta-malas e íamos parando e tirando aos poucos. Distribuíamos da janela. E as crianças às vezes diziam ”vou chamar meu irmão.’‘ Ao que eu respondia, ”volto já”. E ia mais pra frente e retornava pouco depois com outro presente.
Era Natal GRANDÃO mesmo. E eram eles que NOS PRESENTEAVAM.
Na década de 90, quando MINHA MÃE FOI FICAR COMIGO em SP, o Natal chegando, ela viu a minha arrumação. Os brinquedos agora eram MASCULINOS, meu filho aprendeu a fazer o mesmo. Ganhou certa vez um GRANDE POSTO DE GASOLINA, com muitos elementos, pecinhas etc. Doamos o posto GRANDÃO. Fizemos grande pacote com celofane amarelo, para que a criança que o recebesse visse o que era.
MINHA MÃE quis ir junto. Meu Pedro abriu mão de ir, e ela foi, do meu lado no carro. ”Deixa eu ir, Doni, sempre quis fazer uma coisa assim, deixa”. Era um pouco perigoso porque quase não andava, usava a bengala, tinha o Parkinson … Fomos à noitinha. Repetimos o mesmo ritual – da zona oeste à zona sul, ruas, esquinas, viadutos.
Era Natal GRANDÃO mesmo. E eram aquelas crianças que NOS PRESENTEAVAM.
A doação de brinquedos, ainda bons, ensina a fraternidade, a repartição de alegrias. E isso se carrega para sempre, em quaisquer que sejam as situações de vida.
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Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Biscoito Fino