Semana dos namorados

Uma semana cheinha de histórias e de poemas de AMOR. Semana dos namorados https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/semana-dos-namorados/ – Nesse cantinho, um pouco do que vi, vivi, e, portanto, pude recriar em palavras. O AMOR é um grande laço. Dedicado a TODOS OS MEUS AMORES ANTERIORES. Amem sempre !

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal DjavanOficial

Júlia e os junhos

AMOR ETERNO

Poços de Caldas sempre foi berço de mel, mel das luas de mel. Júlia sabia disso desde que se entendia por gente. Todos os pais de suas amigas passaram naquela cidade os momentos mais doces das realizações amorosas. Júlia acreditava que naqueles anos de 1970 já não seria mais da mesma forma. Outros hábitos, outros desejos, outros valores, outros planos … sentia que não viveria aquilo que tanto lhe narraram os casais mais velhos.

Foi de férias a Poços de Caldas, era fim de junho de 1976, ano em que completava seus 20 anos. O romantismo de cinema sempre percorrera suas noites e madrugadas de sonhos. Não esperava por príncipes encantados, mas por um grande amor, por um inesquecível amor.

Júlia estava acompanhada por primos mais velhos que, depois de anos de casados, haviam escolhido viver naquela cidade. Levaram-na pela Trilha do Cristo. Júlia rogou a ele um grande amor. Foram passear de teleférico. Parecia, ou melhor, sentia estar sendo observada, seguida mesmo, em todos os passeios. Quem sabe já não estaria sendo atendida em seu apelo amoroso. Depois seguiram para a rampa de voo livre, esporte novo, antes só visto nas praias do Rio, de Santos. Ficou encantada com aquilo. Quanta coragem tinham eles. Por um instante pensou ter visto o mesmo rapaz que a seguia, clandestinamente, nos passeios. Não, aquilo só podia ser fruto de sua imaginação.

No restaurante, pediram massa, vejam só, a comida mineira já estava sendo substituída às fartas pela culinária paulista. De novo viu o mesmo homem numa mesa ao fundo. Músicos entoavam canções a pedidos, um piano, um violino, uma bateria encantavam o pequeno palco à frente das mesas. Júlia lembrou-se do filme e pediu que tocassem An Affair to Remember, caso fosse possível. Os músicos ali parece que já estavam esperando por aquele pedido. Começaram a tocar. No mesmo instante o homem, que a seguira por todos os passeios, levanta-se vai até Júlia. Pergunta se aceita dançar com ele. Magnetizada por horas de companhia em todos aqueles passeios, levanta-se e dança. Outros casais e os primos dançam também. Chamava-se Enrico, era de Belo Horizonte, tinha 30 anos. E só isso soube dele.

Agora nesse junho de 2016, tendo atravessado por tantas rotas, Júlia voltava a Poços de Caldas. Estava sozinha. Pedira ao maestro do coreto da Praça que tocassem An Affair to Remember enquanto, sentada, observava os casais que dançavam naquela tarde.

Olhou para os lados, como se sonhasse um daqueles seus sonhos das madrugadas tantas. Um homem sai do Hotel em sua direção.

Gosta de histórias de amores? Há aqui uma categoria sobre elas: “Escutador de histórias de amor” -https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/escutador-de-historias-de-amor/

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: Poços de Caldas, MG

Vídeos:

1- Canal catman916

2- Canal Orquestra Romântica Brasileira – Tema

“Volver a Los 17”

CORRESPONDÊNCIAS
O tempo trouxe a lente da maturidade
O tempo trouxe exigências outras que não as anteriores
O tempo trouxe uma seleção maior que a natural
O tempo trouxe correio de cartas raras, selos raros, entregas raras.
Há no tempo uma busca da correspondência singular, antes inexistente.

VOLVER A LOS 17
Sofia adormecera pensando nos anos 70. A universidade se impunha sobre si. Despertara. Recordações dos conhecidos que já haviam falecido, dos almoços e jantares no “bandejão”, das agruras daquele período tão desesperançado, lembranças dos sonhos de mocinha, aos vinte e poucos anos, tantos desejos, tantas atrações de pele, tantas discussões deliciosamente sedutoras.
No que havíamos nos tornado, meu Deus! Quão difícil era sobre-viver no século XXI, tão diferente daquilo em que acreditavam. Sofia sentiu falta de algumas bocas tão conhecidas, de alguns beijos tão conhecidos, de camas, lençóis, travesseiros de braços masculinos doces, de mãos de terra, sentiu, sentiu, sentiu. Sonhou. Do sonho nada lembrou depois. Apenas de papeis escritos sendo levados de uma mesa ao ar livre, por ventos velozes. Só isso.
Logo cedo na caixa de cartas, encontrou um envelope. Sofia adorava envelopes e cartas. Tomou-o com o fogo de seus 17, 18, 19, 20 anos. Bebeu cada palavra ali, antes de abrir o envelope.
Deitou-se na cama, como uma meninota apaixonada pela vida e começou a ler. A vida vale as penas. Riu e “aprazerou-se” com aquelas palavras.

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Texto da carta: autor “anônimo”

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Mercedes Sosa

Amor, amores VII

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR : AMOR, AMORES

TARDE

A vidente avisara,
há décadas,
chegaria tarde.

Viria sem avisar
Absorveria dias, tardes e noites
Nada simples
Nada fácil
Nada certo.

A vidente advertira
Viria sem botas nem botes
Viria sem rosto, mãos, nem pés.
Viria sem planos nem rastros
Viria sem aroma nem cor
Viria sem quentes nem frios
Viria inconcebível, insuspeitável, impossível.

A vidente vaticinara
Era tarde.

”Brasileiros saem da selva. Os mexicanos vêm dos índios. Mas nós argentinos chegamos dos barcos” -Escrita por Litto Nebbia

ANGÚSTIAS POR UM FIO

Sobre as semanas dos namorados, leia: ‘‘Amor, amores I” – /https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/ “Amor, amores II” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/07/amor-amores-ii/  “Amor, amores III”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/08/amor-amores-iii/ – ‘‘Amor, amores IV” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/09/amor-amores-iv/ – ‘‘Amor, amores V” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/10/amor-amores-v/ – ” Amor, amores VI” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/11/amor-amores-vi/E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Vídeo: Canal Tom Frost

Amor, amores VI

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR: AMOR, AMORES

COMPANHEIROS DE VIAGEM
Nos dias de lúgubre cenário, há sempre quem nos faça companhia.
Há rostos, mãos, vozes, risos e ouvidos a nos velar as falas.
No banco, ao lado, na entrada, na saída, no percurso,
há sempre alguém sentado anonimamente.
Como querubins e serafins, colorem de humanidade nosso trajeto
São asas farfalhantes e desconhecidas que nos impulsionam ao desembarque.
Trocam-se confidências, revelam-se segredos, pedem-se conselhos
Depois, cada um desce do trem na estação pretendida
E a viagem continua.
Há sempre um companheiro na nossa viagem.

ERA UMA VEZ UMA MOÇA CHAMADA LEDA …

Capítulo I

Naquela manhã resolveu pegar o trem na estação e ir ao encontro do amado com o qual durante meses se correspondera na Caixa Postal de número 179.

Todas as semanas trocavam cartas sobre os mais diversos assuntos.

Enfim era chegada a hora de Leda ir ao encontro do rapaz com quem mantivera longos meses de prosa quântica, eletromagnética, osmótica entre outros temas mais particulares…

Assim, estava ela naquele trem a caminho da estação.

Como reconhecer Leda? Como saber que eram dela aquelas linhas com letra bonita de professora alfabetizadora, meu Deus!

Assim, sem saber quando chegaria, passava horas a fio na estação ferroviária entoando os versos que ele mesmo escrevera sob o visgo do amor que ela e ele haviam se derramado. 

Capítulo II:

Nada de Leda chegar. O jovem rapaz se esgoelava a chamar, clamar por ela. Nada. Rouco voltava para casa e Leda, nada.

Depois de uma semana, nessa espera descomunal — o que é o amor por cartas! – Leda chega, ouve aquela pessoa desesperada a gritar versos repetidos sem, contudo, encontrar acolhimento.

Para, estranha  e pensa que talvez não fosse ele realmente o autor daquelas cartas. Lembrou da história de Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, de que tanto gostara. Seria outro o autor daquelas cartas? Teria ele um primo, um amigo, este sim, realmente autor das cartas.

A dúvida terrível devassava Leda. Como saber, se ainda não falara com ele, se ainda não o tocara, nem de leve ouvira suas frases … apenas aqueles gritos repetitivos na estação. Não sei por quê lembrou os dedos que se tocam na Capela Sistina. Queria pelo menos tentar.

Além de assustada, Leda estava temerosa.

Mas a estrada havia sido longa, o trem sacolejara muito, para ela perder a viagem, quiçá o frete.

Vamos em frente! Já que estamos na chuva, sem guarda-chuva, o negócio é deixar molhar.”

Lembrou-se da vontade que tinha, ao ler suas cartas semanais, de tocar nas mãos do remetente. Remetente este que ainda não recebeu nome nem sobrenome. Joel. Joel Machado. Um rapaz meio misterioso. A vida dele era um segredo.

Assim, sem se identificar, passou de lado, e aguardou até que ele fosse embora para deixar, também ela, a estação ferroviária.

Estava desconfiada, iria observá-lo durante um tempo.

Quem sabe fosse ele mesmo o autor das lindas cartas. Ou não. 

Fosse outro, pegaria o trem de volta, sem nem mesmo se identificar.

De noite, no hotelzinho em que se instalara, pensou nele, em tudo que lhe escrevera antes. Deliciou-se com suas palavras e, ouvindo no radinho de pilha uma canção, adormeceu.

Sonhos indecifráveis em seguida.

De que amor estamos falando mesmo?

(Texto publicado no GGN, em agosto de 2015)

Sobre as semanas dos namorados, leia: ‘‘Amor, amores I” – /https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/ “Amor, amores II” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/07/amor-amores-ii/  “Amor, amores III” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/08/amor-amores-iii/ – ‘‘Amor, amores IV” –   https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/09/amor-amores-iv/ “Amor, amores V” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/10/amor-amores-v/ – E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor”  https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho”  https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Roupa Nova

Amor, amores V

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR: AMOR, AMORES

NOTURNOS
uma camisa fluida
dedos deslizantes
boca de batom atonal
pescoço de semibreves
colo de breves
seios fartos em sol maior
dorso de semínimas
ancas de allegros
flor em dó menor
coxas em si bemol
pernas em sustenidos e colcheias
sem camisa fluida
sem semibreves e breves
sinfonia noturna
perfeição de acordes
sintonia perfeita
neblina
querubins serafins
sinfonia dionisíaca

OS CANTEIROS DE ALICE
A mulher Alice era semente de árvore boa. Nascera semeada por passarinhos de voo baixo, sempre na mesma região. Tinha cheiro de terra, maciez de pétala e beleza de flor do campo. Seu útero era um celeiro de sementes, aguardando ser germinado. Adocicava-se com o céu de nuvens dançarinas, perfumava-se com as flores da estação, bebia chuva aos goles. Era canteiro fértil. Amava.
Vivendo na cidade de mar, amar a esperar. Tinha saias floridas longas, batas indianas, cabelos encaracolados e soltos aos ventos. Muitos anéis e pulseiras de prata, tamancos de couro cru e incensos pela casa.
Acreditava que amar era amar e ponto. E pronto. Desconsiderava a posse de certidões de casamento, de certidões de imóveis … desprezava em sua vida atestados em papéis convencionais. Os papéis teriam que ser outros.
Em tempos de amor livre – era assim que chamavam, né, ir pra cama com quem pintasse a vontade – era o amor o que lhe satisfazia. Nunca fora atingida por uso de preservativos, nem fora adepta de prazeres solitários. Era o amor o que buscava. Mas de que amor estamos falando mesmo? Alice era semente de árvore boa, sabia o que queria.
Apaixonou-se Alice pelo frágil e doce homem dos cálculos 1, 2 e 3, da resistência dos materiais. Saíram tantas vezes para dançar. Aprendeu a beber vinho com ele – ah, a carta de vinhos, por favor – falaram muito de muitas coisas, da ditadura, de cinema, de jogos de futebol. O Campari dele, o Martini dela. Foram da dança à cama muitas vezes, repletos de gargalhadas e comunhão. Alice deu a ele a chave de sua casa. Por vezes, esteve lá, sem ela estar, tomou Campari, ouviu música e deixou para ela bilhetes em pedacinhos de folha de caderno, sempre afetivos e doces. De que amor estamos falando mesmo? Foram sementes. De um, semente em outro. Mudaram de rancho. Foram ficar mais juntos, sem papéis, sem atestados, sem documentos, sem propostas de aquisição ou contratos de aluguel. Foram ficar mais juntos.
Alice e o homem dos cálculos sabiam que eram sementes para muitos canteiros ainda. Eram jovens, cheios de esperanças e forças para muitas lutas ainda.
Naquele aniversário do homem amado, Alice passara o dia inteirinho, até quando já escurecia, plantando sozinha, regando, enfeitando canteiros na frente da casa-ninho em que habitavam. O homem amado chegou. Olhou, viu tudo aquilo tão florido, chorou. Abraçou Alice forte. Entre eles, uma barriga enorme de 7 meses também vinha sendo semeada. De que amor estamos falando mesmo?

Sobre as semanas dos namorados, leia: ‘‘Amor, amores I” – /https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/ “Amor, amores II” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/07/amor-amores-ii/  “Amor, amores III”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/08/amor-amores-iii/ – ‘‘Amor, amores IV” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/09/amor-amores-iv/ – E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal Elis Regina

Amor, amores IV

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR : AMOR, AMORES

SANDRA MARIA, A SECRETÁRIA EXECUTIVA
Uma mulher de quase um metro e oitenta e mais de 30 anos entrava agora na sala do executivo daquela multinacional. O chefe alemão a cumprimentava de forma cerimoniosa, mantendo distância profissional de Sandra Maria. Ela ouvia tudo, anotava e se retirava.
Trabalhava oito horas por dia e, de noite, ia para a USP cursar Letras. Escolhera o temido currículo V, com duas línguas e duas literaturas estrangeiras, além de língua e literatura brasileira e portuguesa. Mais de 150 créditos em quatro anos. Só mesmo Sigrid, a Sandra Maria, filha de alemães, vinda de Caxias do Sul, para tamanha batalha.
Morava sozinha num apartamento na Rua Frei Caneca. Mantinha discrição em hábitos, trajes, corte de cabelo e sorrisos. Quem conversava com ela estranhava seu nome. Dizia que sua mãe tivera uma amiga de infância com esse nome, lá no sul, e quisera homenageá-la. Era mulher regrada, composta, séria. Adorava cinema e, vivendo, na região da Av. Paulista, não perdia sessões. Eram o seu maior prazer. Às vezes, ficava horas no cinema, vendo de novo, de novo tudo aquilo. Amava Alain Delon, James Dean, Jean-Paul Belmondo, Marcello Mastroianni, Marlon Brando. Não lia legendas. Só imagens, trilhas sonoras. Amava suas interpretações. De que amor estamos falando?
Não dava conversa para colegas de faculdade, desprezados, diziam que apesar de linda, era mais frígida que uma pedra mármore. Sandra Maria começava a ouvir conversas nas rodinhas, mas logo se desinteressava e saía. Gostava era da biblioteca. Muito. Aos sábados costumava passar tardes lendo, anotando, estudando seus mestres ingleses, alemães. Nada de perder tempo com dispersões. Era um caso à parte. Claro, era mais velha que os colegas de curso, mas parecia ser muito muito mais velha. Nunca combinava trabalhos em grupo em seu apartamento, sempre em bibliotecas, centros de estudo. Seu lar era um santuário. Pessoal e intransferível. Amava estar só. De que amor estamos falando mesmo?
Na multinacional era, de certa forma até, temida pelas outras secretárias, por estagiários e serventes. Tratava bem a todos, mas sempre guardando distância.
Em casa, de chinelos, jogada nos almofadões no tapete, no chão, lia suas coleções de Amar é. Tinha diversas plaquinhas com os dizeres da coleção pela estante, em objetos de porcelana… Era uma romântica, a Sandra Maria.

Sobre as semanas dos namorados, leia: ‘‘Amor, amores I” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/  “Amor, amores II” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/07/amor-amores-ii/  “Amor, amores III”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/08/amor-amores-iii/ – E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Texto: Odonir Oliveira

Imagens retiradas da Internet

Vídeo: Canal Roupa Nova

Amor, amores III

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR: AMOR, AMORES

A MOÇA MODERNA DE OURO PRETO
Cursava Ciências Sociais e Antropologia na UEG, num tempo em que moças faziam, no máximo, História. Sophia se encantava com o ontem, muito mais do que com o presente real vivido. Muitas decepções a obrigavam a fugir para ilhas encapsuladas por pensamentos, filosofias e razões. Eram anos dourados. Eclodira a bossa-nova no Rio e tudo parecia ir bem. Mas havia um anátema sobre as cabeças. Será que só Sophia percebia aquilo? Suas grandes pesquisas nas bibliotecas da cidade a empurravam para conclusões nefastas. Não sabia o que viria, mas pressentia que seria uma noite longa, muito longa.
Nascera em Ouro Preto, deixara para trás as Geraes e fora buscar carreira universitária no Rio. No curso, só homens. Nos debates, só homens. Nos convites para artigos só se liam nomes masculinos. Sophia gostava de poesia. Era fascinada por Manuel Bandeira e, em uma tarde em Botafogo, chegou a conhecê-lo. Olhou magneticamente para as pernas dela. Sophia era morena, de grandes olhos verdes e muito capciosamente apresentou-se . “Meu nome é Sophia, poeta. Que pena não ser uma Teresa, não é?”. Ele riu e conversaram um pouco enquanto caminhavam, lado a lado na calçada em frente à Enseada. Lindo cenário para um encontro com um poeta como Manuel Bandeira.
Embora fosse uma mulher que desbravasse ambientes dominados por homens, Sophia era romântica. Muito. O amor estava com ela nas histórias que lia, nos poemas que lia, no passado que descobria e estudava. De que amor estamos falando? Seria platônico, ficcional, lírico? Qual seria?
1º de abril de 1964 reservara a eclosão do terrível. A UEG perseguida, professores foragidos, exilados. O hoje chegara de botas, a cavalo e em sirenes também. Sophia, então, refugia-se em seu mundo mineiro, na sua vila rica. Encontra asilo político e social na arquitetura do passado, nas ruas do passado, nas personagens do passado. Começa a escrever. De tudo um pouco. Ensaios sobre sociologia, antropologia, contos, poemas e começa a ensinar em uma Escola Estadual da cidade de Ouro Preto. Sua trajetória fora interrompida, com argumentos irrefutáveis. Viver era resistir.
Nas noites frias da vila, ao voltar da Escola com livros nas mãos, sempre tinha a companhia de Gérson, o colega professor de Português – um declamador de poemas românticos, de poemas de Vinícius e alguns de Manuel Bandeira. Foram aprendendo a se amar. De que amor estamos falando?

Sobre as semanas dos namorados, leia: ‘‘Amor, amores I” – /https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/ “Amor, amores II” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/07/amor-amores-ii/ E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Texto: Odonir Oliveira

Imagem retirada da Internet

Vídeo: Canal Mundo Dos Poemas

Amor, amores II

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR: AMOR, AMORES

DIRCE ME DISSE
Nos anos de 1940, só as “Filhas de Maria” achavam bons casamentos. E não bastava ser pia e honrada. Precisava parecer ser, senão de nada valeriam todas aquelas ingerências familiares, paroquiais, sociais.
Passeios com futuros pretendentes, só ao lado de irmãos mais velhos ou de irmãs – que eram ainda mais rígidos que seus pais, devido ao respeito e à obediência que deviam a eles. Confiavam aos irmãos a vigilância da moça virgem, casadoira, pelas ruas – muito claras – das cidades. No máximo, sentavam-se em um banco de praça, num gramado, sempre sem se tocarem. E a confiança depositada pelos pais, jamais desrespeitada.
Moças casavam virgens de todas as sensações, de beijos na boca, abraços, corpos em limites de corpos, de sentimentos pagãos.
Dirce temia gostar daquilo, temia e rogava a Deus a protegesse de fantasias vãs e prazeres da carne. Não queria nem ouvir falar daquilo, o que dirá sentir aquilo. Deus ouvia seus clamores.
Assim seguia com o noivo. “Noivado tem que ser curto, muita intimidade, braços dados, passeios em par … isso não ia acabar em boa coisa. Tinha-se que evitar.” Noivados curtos.
Diz que vez ou outra ambos os nubentes casavam virgem de tudo. Mas as casas de meretrício sempre ofereceram corpos quentes, sem restrições, a preços em conta, uma sífilis ou outra, curada com a penicilina. Percalços do amor. Mas de que amor estamos falando?
A festa de casamento era simples. Os retratos feitos antes, ou logo depois, nos “estúdios” dos retratistas. Em preto e branco eram as fotos, aquelas experiências e as noites de núpcias.
Quem tinha marido virgem, nem sabia bem o que fazer, nem ele. Geralmente havia um pejo, um pudor em se mostrar corpos. A luz apagada, os corpos sob os lençóis bonitos do enxoval. Lua-de-mel era passada em suas próprias casas, no isolamento, para evitarem disse-me-disse. Iam aprendendo o amor. No mesmo ritmo em que cuidavam da cozinha, cuidavam da cama. Iam assim se amando. De que amor estamos falando? Do que conheciam, do que sabiam que era assim mesmo, aos poucos, sem muita sofreguidão. Calados na hora dos corpos, rápidos e cotidianos. Sempre.
Dirce viveu com seu esposo até o fim da vida dele. No início dos anos de 1990, ele se foi. Ela ficou. Mas foi embora, menos de 10 anos depois.

Sobre as semanas dos namorados, leia  ” Amor, amores I”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/06/06/amor-amores-i/ E em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Texto: Odonir Oliveira

Imagem retirada da Internet

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

Amor, amores I

UMA SEMANA INTEIRINHA PARA SENTIR E REFLETIR : AMOR, AMORES

NO TEMPO DA VOVÓ
No fim do século XIX nasceram meus avós. Sei um pouco sobre esses tempos. Amor? De que amor poderíamos falar na primeira década do século XX? Sim, porque meus avós se casaram logo depois. Ela, aos 15 e ele aos 17.
Moças eram adestradas para procriação. Aprendiam a cozinhar, costurar, bordar, a fazer remédios pra cuidar da família. Poucas aprendiam a ler e escrever.
Moços precisavam ser trabalhadores, garantindo algum futuro. Poucos aprendiam a ler e escrever.
Ambos tinham que ser saudáveis, sem fraquezas físicas, a lhes garantir filhos com saúde. E sem fraquezas por bebida, por jogo, por mulheres de casas de tolerância. Se fossem tementes a Deus, melhor.
Amor? De que amor poderíamos falar dentro desse contexto?
Amor nascia era depois com a convivência, com os cuidados que a mulher dedicava ao seu marido etc.” Muitas os tratavam por ”senhor meu marido”. E deles cuidavam, ajudando-os na lavoura, com a criação, com algum pequeno comércio…
Ainda não tá esperando neném, não? Tá demorando.
A gestação de filhos era tema pertinente a todos. Sogros e sogras, vizinhos, paroquianos e padres – todos exercendo pressão para a consumação das famílias.
Mulheres esperando neném disfarçavam seu estado – coisa que evidenciava terem sido praticados atos sexuais – usavam batas largas, vestidos largos e, saíam de casa com mais raridade. Estavam meio santas, gestando seus meninos Jesus.
Amor de homem pela mulher ficava evidente era quando ele se apresentava como provedor, abastecedor de víveres, sem lhes deixar faltar nada em casa.
Às mulheres que passavam por dificuldades financeiras, tendo que cozinhar, lavar, passar cozinhar, lhes era concedida a permissão dos maridos para fazerem alguma coisa em casa, vender, para ajudar a pagar as contas.
Amor, o que era mesmo o amor? Esqueçamos o AMOR ROMÂNTICO, o AMOR CORTÊS. (Não existe isso às cinco da manhã, ainda no escuro, quando se acende o fogão à lenha e ferve-se a água pra coar o café.)
Do que homem gosta mesmo é de cama. Toda noite a mulher tem que estar ali pra ele. É direito dele. Pra isso casou, senão não casava. Esse negócio de amor é muito bonito em romance de água com açúcar. O que um homem quer é ter mulher em casa, na cozinha e na cama todo dia.
Com minha mãe foi assim, comigo é assim. Vai ser sempre assim.
Homem bom é o que não deixa faltar nada em casa. É rígido com os filhos, ajuda a educar, ensina a obedecer.”
”Mulher boa é a que cuida da casa, tem boa saúde, tem muitos filhos, cuida deles e do marido. Mulher não pode viver reclamando a toda hora não. Nenhum homem tolera isso. Tem que obedecer o que o marido disser que é pra ser feito.
Assim, um casamento dura para sempre. Eu acho que amor é isso
.”

Sobre as semanas dos namorados, leia em outros junhos aqui no blog: ”Amor começa tarde VII” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/06/12/amor-comeca-tarde-vii/ “Dias dos namorados VII”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/06/12/dias-dos-namorados-vii/ “Amar o amor” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/11/amar-o-amor/ “Amor, 12 de junho” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/06/11/amor-12-de-junho/

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Foto em P/B: Facebook BarbarasCenas

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro