Bebendo na fonte

ROSA, ROSA, ROSA
Nas retas há curvas,
há paradas de arrumação
Quem escolheu a busca
não pode recusar a travessia.

Nas retas há curvas
Felicidade se acha
é em horinhas de descuido.

Nas retas há curvas
A colheita é comum,
mas o capinar é sozinho

Nas retas há curvas
O senhor sabe o que silêncio é?
É a gente mesmo, demais.

Nas retas há curvas
O sertão é dentro da gente.
Nas retas há curvas
Viver é muito perigoso
Nas retas há curvas,
há paradas de arrumação.

BEBENDO NA FONTE
Rosa Sueli vinha caminhando pela rua ainda com os trechos que lera naquele site sobre Guimarães Rosa. Seus avós contavam que o escritor havia vivido ali na cidade durante um tempo e fora também ali que decidira abandonar a carreira de médico e se iniciar na de diplomata e escritor. Era muita coincidência, seus pais agora terem voltado a viver naquela mesma cidade dos avós falecidos. Receberam como herança uma casa com jardim e quintal. Rosa Sueli teria de se acostumar àquela nova vida, sem grandes shoppings, com cinemas, praças de alimentação e a tudo o mais.
-Guimarães Rosa… onde será que morou? Vou perguntar, fiquei curiosa.
Na calçada, viu uma cafeteria e na placa a informação de que acabara de ser inaugurada. Achou interessante, parecia com aquelas de onde viera.
Tinha tempo, a aula de inglês ainda demorava. Resolvera fazer os trajetos sempre a pé para ir se integrando aos espaços…
Entrou. Na parede lateral a surpresa, Guimarães Rosa esperava por ela, com um balanço a ser desfrutado. Era demais. Muita coincidência.
Rosa Sueli entrou, pediu um café diferentão que ainda nem conhecia – grãos especiais – e uma quiche de alho poró.
Escurecia e ela ficou ali entendendo o que havia lido minutos atrás em seu celular “Felicidade se acha é em horinhas de descuido”. Bebeu na fonte e soube que Guimarães Rosa seria seu mestre, seu guia, seu anfitrião naquelas grandes veredas.

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: Da Cafeteria Cheirin Bão Barbacena, MG

Vídeo: Canal Paco63980

Te Deum

Das duas primeiras palavras do primeiro verso, “Te Deum laudamos” (literalmente ‘A ti, Deus, louvamos’), deriva o nome pelo qual o hino ficou conhecido. O nome latino vem sendo usado a designar também suas traduções para os diversos vernáculos, mesmo fora do catolicismo.

O termo Te Deum também pode referir-se a um breve serviço religioso (de bênção ou agradecimento) baseado no hino.

Tradicionalmente, a autoria do hino é atribuída a Santo Ambrósio (m.397) e Santo Agostinho (m.430), na ocasião do batismo deste último pelo primeiro na catedral de Milão, no ano de 387.

O hino é usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício de Leituras, da Liturgia das Horas e outros eventos solenes de Ação de Graças.

No último dia do ano, as leis eclesiásticas concedem aos católicos a indulgência plenária, nas condições usuais, se estes recitarem um Te Deum em público no reveillon como gratidão a Deus pelos benefícios recebidos Dele durante o ano que finda. No cristianismo a gratidão sincera e cordial é considerada a chave para se receber mais dadivosos benefícios da bondade divina, por isso nada mais justo, digno e necessário esta demonstração de ações de graças por parte do fiel.”- Wikipedia

Ao trazer a célebre expressão, a peça sartriana,“Huis clos” (Entre quatro paredes), pondera que o outro, na verdade, é fundamental para o conhecimento de si mesmo. Isto é, o ser humano necessita relacionar-se com o outro para construir a sua identidade, processo nem sempre tranquilo e harmonioso.

O filme O Pior Vizinho do Mundo, protagonizado por Tom Hanks, evidencia e clareia o que é se viver em comunidade, pois mesmo que se tenha o maior grau de empatia e de compaixão, nem sempre se é aceito, quando não são verificadas as mesmas características, as mesmas ações e hábitos da vizinhança.

O INFERNO SÃO OS OUTROS

Ao sair de casa naquele fim de tarde, dona Generosa foi abordada pela vizinha da casa em frente, construída ali havia uns 5 anos. Muito entrona, já lhe perguntara antes quanto pagaria de aluguel, lhe pedira vasos de cerâmica que haviam acabado de ser entregues pela casa de flores. Já demostrara ser “intrigueira”, hipócrita, fazendo comentários perversos e invasivos sobre a forma de viver de dona Generosa por ali, sobre suas plantas, com risinhos de deboches… Ao que a senhora, mais velha, ignorou, desconsiderou, sem contudo entrar naquela política da boa vizinhança hipócrita, dissimulada, a que todos estavam acostumados no lugar; tudo cabotinamente naturalizado.

Foi nessas condições e com esses antecedentes, que dona Generosa acabava de ser abordada pela vizinha.

Boa noite, dona Generosa, a senhora aceita que o padre da comunidade venha visitar a senhora?

Por quê? – quis saber, desconfiada.

O Padre está visitando todos os idosos da comunidade, já visitou seu Jesus, dona Maria, seu José.

Mas por que visita apenas os idosos?

Não. A senhora sabe né, tem muitos idosos que vivem sozinhos, foram praticamente abandonados pelos filhos, vivem com depressão, aí ele visita, abençoa.

Bem, não é o meu caso, não me enquadro nessa sua justificativa. Além disso sou uma pessoa muito discreta, reservada, não mantenho hábito de receber pessoas em minha casa. Não frequento templos, nem acredito muito em padres, de maneira que…

Eu sei, mas se a senhora não aceitar, tudo bem, eu aviso a ele então.

Dona Generosa refletiu rapidamente sobre o que seria pior, ouvir o Padre ou ser o assunto da rua nos próximos dias.

Está bem, então. Quando ele costuma vir?

Vem na terça-feira, por perto de 2 da tarde. Não precisa oferecer café, bolo, nada. A senhora recebe ele numa salinha e conversa.

Aquilo incomodou demais dona Generosa. Aquilo, o quê? A visita do Padre ou a indicação, tendo em vista a anamnese feita pela vizinha de frente? Quem tem a autorização de medir a vida alheia a partir de régua própria? Fazer diagnósticos incapazes e infelizes a respeito do modo de vida de alguém?!

Dona Generosa conversou com os católicos frequentadores da paróquia a saber sobre o Padre. Obteve boas informações. Preparou-se para recebê-lo, não como Padre – ser escolhido pela liturgia católica etc. – mas como um interlocutor comum. Pensou Espero que ele também venha preparado.

Na tarde combinada, o Padre chega, toca a campainha e vem acompanhado de uma outra mulher.

O senhor é o Padre? E quem é ela?

Ah, eu sou secretária, acompanho o Padre, mas se a senhora não quiser, eu não entro.

Pergunto porque fui avisada de que viria apenas o Padre.

Podem entrar.

Conversam por mais de 2 horas, de forma amistosa e saudável. O Padre tem cerca de 50 anos e a secretária, talvez um pouco menos. Questionado sobre a razão da visita disse não ser verdadeira a justificativa. Ao contrário, havia visto idosos com mais de 80 anos muito ativos e cuidando de famílias inteiras ainda.

Dona Generosa compreende o currículo oculto proferido pela vizinha para justificar a visita futura. Tem, mais uma vez, pena. Lembra-se de Sartre.

Despedem-se.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal AvicennaPQP

Presente de grego

Presente Grego
Arthur Verocai

Debruçado na Grécia antiga
Nas ruínas, homens ou tribos
Ouço um grito de dois mil anos
Na garganta um nó, ferido
Meu presente de grego na gente escondido
Atrás das barbas de molho
Olho por olho
Pedra por pedra
Conta por conta

A ORIGEM DA TRAGÉDIA

Depois de caminhar pela Avenida Paulista, resolveu descer a Augusta e entrar naquele café, apesar da hora, final de noite, começo de madrugada. Sentou-se ali, em uma das mesas sob olhares de flores em garrafas; achou de um certo prosaísmo aquilo. Abriu o livro que comprara no sebo do centro da cidade, antes da sessão de cinema. Lera muitas páginas, tomando um café puro, depois um com leite e, por último, outro com creme. O atendente lhe oferecera uma fatia de bolo de chocolate, mas declinou. Olhou da mesa, e pediu um pedaço do pão-de-ló na redoma de vidro. Comeu dois pedaços e leu. Leu muito, como se conhecesse o tema. Talvez gostasse de literatura, talvez de literatura grega, talvez de filosofia, talvez de Nietzsche. Lia, comprometidamente. A chuva ameaçava desaguar por ali e ainda haveria de caminhar um trecho até atingir a Galeria e a estação do metrô. Foi indo.

Com um enorme guarda-chuva, escapando pelas marquises das lojas da Augusta, entrou e se refugiou primeiro no saguão, depois entrou. Sentou-se em uma das cadeiras e perguntou se ainda serviam café ou se já estavam fechando. O atendente disse que fechariam em uma hora e meia. Pediu um café simples e ficou admirando a chuva lá fora; depois pediu mais um, agora com leite. A chuva não passava, parecia não querer passar. Teria de ficar ali. Quando olhou uma das mesas do fundo, viu um livro solitário a esperar que o lessem. Sem jeito de perguntar ao atendente se era do estabelecimento mesmo, foi até lá e trouxe-o para si. Quem sabe lhe faria companhia naquela hora e meia com trilha sonora de chuva e trovões. Começou a conjecturar de quem seria o livro; no marcador artesanal nenhuma indicação. Edição antiga, portuguesa, talvez um leitor ou uma leitora portuguesa. Verificou quantas páginas já haviam sido lidas, que anotações havia nelas e traçou um retrato de seu dono. Teria que devolver ao atendente, talvez voltassem para procurar o esquecido por lá. Era intrigante a situação, despertava interesse, motivava a ser lido… até porque tinha predileção por literatura grega, mitologia, tragédias gregas e ainda não havia lido Origem da tragédia, de Nietzsche. Folheou mais a obra e nela havia um recibo de compra, uma nota fiscal de um produto, com nome e endereço. A nota pertenceria ao dono do livro? Não sabia. Mas achara conspiração demais haver encontrado aquele livro e um endereço com nome próprio em uma nota fiscal. Anotou os dados da obra e da nota fiscal.

Chamou o atendente, entregou-lhe o livro esquecido e saiu caminhando, agora já sob garoa fina. Sobre que tragédia Nietzsche quis avisar? O que viria pela frente?

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Arthur Verocai

Afeto e cuidados

O CINEMA E SUA CAPACIDADE DE EMOCIONAR: Gosto muito de cinemas, assim daqueles onde a gente compra ingresso, entra, senta em uma poltrona, assiste a um filme em tela grande, com som adequado, sem interrupções ou quaisquer heresias. Tenho um enorme prazer em comer amendoins salgadinhos, beber um aguinha, sem fazer barulhos na sessão. Gosto de rir alto, chorar alto, me emocionar alto. Por isso tenho preferido sessões de cinema durante os dias de semana, quando quase sempre estamos eu e a tela ali. Desde São Paulo, faço isso. Morava bem próximo a 8 salas de cinema e ia caminhando os 3 quarteirões que me separavam delas. Podia assistir a 2 sessões com filmes diferentes, inclusive.(Outro dia repeti isso por aqui também, um filme depois do outro porque ambos me interessavam).

A MAN CALLED OTTO – Official Trailer (HD)

UM HOMEM CHAMADO OTTO: Tenho por princípio não assistir a filmes, depois de ter lido a obra em que foram baseados. (Se for ler, será depois de ver o filme). Acredito que filmes e livros usam suportes diferentes e seria muito cruel com páginas escritas compará-las com fotografia, figurino, atuações, trilha sonora… Escrever roteiro para filmes é uma habilidade muito difícil, são feitos e refeitos muito mais que 10 vezes, por um ou mais roteiristas porque o que tem de prevalecer é a imagem; cinema é imagem. Assim não li o livro em que se inspira o filme “O Pior Vizinho do Mundo”, que estreou em todo o Brasil, na última quinta-feira, 26 de janeiro. Li algumas críticas, mas sempre se referiam a incapacidade de se detestar Tom Hanks, por mais que o filme desejasse etc. Achei bobagem. Fui ver e me emocionei muito. Otto não é o pior vizinho do mundo. Assista e verá. Costumo observar certos comportamentos humanos que diferem dos da maioria e refletir sobre eles. Durante anos em salas de aulas, fiz isso sempre. O aluno adolescente que gostava de “causar”, de chamar atenção por qualquer motivo etc. por atos de má educação, escatologias, deboches e até com bulling era um “carente pedindo socorro”, quase sempre. Amorosidades devem ser vividas, mesmo quando o objeto de nossas ações se recusa a recebê-las. Muitas vezes não foi acostumado a elas, pelo menos não gratuitamente. Sempre lhe exigiram uma contrapartida, um pagamento compulsório. A história individual escreve roteiros de vidas.

Splash conversou com Tom Hanks, protagonista de “O Pior Vizinho do Mundo”, que contou como foi interpretar um personagem tão diferente do que ele é. Conversamos também com Mariana Treviño, que interpreta Marisol, e com o diretor Marc Forster.

SUSPENSE NAS CAUSALIDADES: Durante todo o filme, ficamos buscando explicações para aquelas ações de Otto. Eu, claro, já alinhavara todos os índices expostos, todos os fios soltos do bordado e concluíra o mecanismo de causas e consequências na vida do protagonista. Há momentos completamente corriqueiros nas cenas – com os quais qualquer um se identifica – e outros, nem tanto. O cenho franzido de Tom Hanks, talvez seja um clichê de expressão, mas Otto é um clichê, Otto somos todos nós. Chorei bastante, com as cenas em flashback e autoexplicativas. A utilização dos recursos contemporâneos de comunicação – da tecnologia – em uma referência quase didática fazem refletir. Não deixe de ver.

A 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibiu, em janeiro, belas produções do cinema brasileiro, inclusive online. Devemos valorizar e assistir aos filmes brasileiros no cinema, sempre. Quando um deles não atinge o público esperado na 1ª semana, os exibidores o retiram de cartaz e inserem os famosos filmes americanos. Por isso a lei COTA DE TELA deve ser aprovada em definitivo para favorecer a indústria do Cinema Nacional.

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Sony Pictures

2- Canal Splash

De autoria alheia- I

ADMIRAÇÕES: Tenho certa admiração pelos escritores que cunham frases curtas com reflexões, observações a respeito do viver; hoje, com a leitura quase que exclusivamente por celulares, essa habilidade vem se tornando uma norma. Fabrício Carpinejar é um especialista em frutificar frases sobre relacionamentos humanos. Do lado de cá, passa-me a sensação de ser um grande OBSERVADOR dos seres humanos.

Do Facebook de Fabrício Carpinejar

Vídeo: Canal Vem Carpinejar

A liturgia da mata

LITURGIA: conjunto dos elementos e práticas do culto religioso, conjunto das formas (palavras, gestos) utilizadas na realização de cada um dos ofícios e sacramentos; rito.

Ora direis … tu não tens medo de pisar nessas matas ermas, solitariamente? E eu responderei que só quem ama é capaz de beber verdes, destemidamente.

ESTAR EM TI

Olho-te tela

olho-te na moldura

arrisco-me a estar em ti

seduzida pelos verdes

fascinada pelas aves

Arrisco-me a estar em ti

sem medos.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Contra corrente

MÃE, BRABA FEITO ONÇA

“Quem quer ser outra deixa de ser uma, mãe?”

“Quem quer ser outra é sempre outra e uma, filha.”

Aquela mulher era uma onça.

Parindo cinco filhotes de parto natural

Amamentando-lhes bocas por toda sua vida

Lavando, passando, cozinhando, costurando

Mãe mais que mulher?

Mulher bem maior que apenas mãe.

Dos ditos, sempre bem ditos, a sabedoria herdada do pai-avô por ventos mineiros.

Com olhar arqueólogo de almas, um chiste, uma picardia.

Ferro nos braços, nas pernas, no peito.

Coração de manteiga derretida e esconderijo de sentimentos.

Onça, minha onça mineira, eu também sou você, mãe?

Sou?

Dona Itália, minha onça mineira, tenho refletido muito sobre ser considerada uma estrangeira em terras de ancestrais, sobre destoar dos comportamentos comuns e cotidianos das pessoas, das famílias. Tudo causa estranhamentos, tudo provoca invejas e dissimulações. A absurda curiosidade sobre o que acontece dentro de casas alheias é assustadora. Manter identidade, viver contra corrente é custoso demais. Ah, e já estou ouvindo aquela sua voz me antecipando “Eu avisei.”

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos: Canal Odonir Oliveira

Ser ou não ser

Seu Teco e Dona Aparecida, meus amigos há quase 10 anos, colos de sabedorias, sabores e delícias de Minas Gerais.

SER
segue, ruma, avança
olha aqui, olha ali, olha lá
segue, ruma, avança
mira, foca, enfoca
segue, ruma, avança
nada à frente, nada em frente
nada a enfrentar
mira, foca, enfoca
segue, ruma, avança
nada impede, nada segura, nada interrompe
segue insano
segue único
segue inalcançável

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Odonir Oliveira

Benke

Benke, foi um menino da tribo Ashaninka que Milton conheceu quando foi em viagem à Amazônia a convite da “Aliança dos Povos Indígenas”. Houve uma ligação muito forte e bonita entre os dois.

VERMELHO
é sangue
é sangue de árvore
é sangue de ave
é sangue- veia
é sangue de ovas
é sangue de flor
é sangue torpor
é sangue pavor
é sangue grito- terror
vermelho sangue
doce rio vermelho exangue
em sua dor
em nossa dor.

ORAÇÃO AO RIO

Senhor das matas,

Senhor dos tempos,

traga tento

traga compaixão

traga discernimento

aos que carregam bolsos cheios de moedas

aos que assinam acordos cheios de moedas

aos que nutrem

os mais cruéis níveis de exploração.

Senhor das matas,

limpa os rios das ambições privadas

encharca os rios de verdes

encharca os rios de peixes

encharca os rios de borboletas

encharca os rios de flores e frutos.

Senhor das matas,

faço essa oração em silêncio.

Leia aqui no blog: “A vida não é útil”, Ailton Krenak – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/08/08/a-vida-nao-e-util-ailton-krenak/

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal SidneyMelodia

2-3-4- Canal Odonir Oliveira

Minha melhor faceta: a de professora

UMA EXCELENTE PROFESSORA

Se alguém me perguntar o que fiz de melhor na vida, não teria dúvida, nem pararia pra pensar, responderia Fui uma excelente professora. Traço da minha personalidade desde que brincava de escolinha aos 5, 6 anos, e meu pai achava aquilo muito engraçadinho, por isso mesmo construiu um quadro-negro na parede pra mim, fez um apagador e me dava umas moedinhas pra comprar giz. Eu passava horas brincando de professora, quase num palco, em um monólogo desses de autoria própria.

Quando fugi pra frequentar uma escolinha no fim da minha rua, quem nem era escolinha de verdade, pois uma moça mais velha dava umas aulas – talvez algum reforço escolar – fui lá, em trajes impróprios e com um pedaço de pão embrulhado no papel que o enrolavam na padaria. Minha mãe contava isso, sempre rindo muito. Procurou por mim e não deu outra, me achou lá, pedindo pra estudar.

Aos 6 anos fui pra a Escola do Círculo Operário, seriam classes de alfabetização. Ali aprendi a ler na Cartilha que eu queria, com a Dona Nadege, que foi minha professora em 1959 e 1960. Depois, já sabendo ler, brincava de corrigir cadernos, dava certos, com C grandes etc. Os cadernos eram os escritos por meus irmãos que terminavam o ginasial, portanto, cadernos de anos anteriores.

Sempre gostei muito de ler – embora não tivesse livros em casa, nem bibliotecas nas escolas, nem na FNM. Quando um livro me caía nas mãos – como a Coleção da vizinha do Tesouro da Juventude – eu devorava. Gostava de histórias, as imaginava, inventava em cima da goiabeira vermelha, às vezes na das brancas; era como se viajasse, ah e narrava, sempre narrei. Até estudando para provas, decorando o que era preciso, eu o fazia falando alto – o que fazia meu irmão Odecio, 11 anos mais velho, tirar o maior sarro do meu jeito de estudar “Tá dando aula aí, Doni?”– batendo na porta ou na janela do quarto.

Sempre fui professora. Essa semana meu ex-aluno de redação por 4 anos, André Pilli, hoje diretor de cinema em Los Angeles, relembrou de nossas aulas e escreveu no YouTube “Professora, que saudade”.

Em 2015, meu aluno Felipe Tena, também de aulas de redação, bem jovenzinho entrou na POLI-USP para cursar engenharia. Mandou-me um e-mail lindo que tendo chegado em um daqueles dias em que a gente se vê humilhada, diminuída, rechaçada e não quer nem acreditar que aqueles fatos ocorreram, me trouxe um sabor de doce na boca, me fez muito bem, quase um antídoto contra o Mal. Escreveu ele: “Bom , agora mais adaptado à Poli , consegui fazer novos amigos , organizar meu tempo de estudo e ser aceito na empresa junior da Poli! Comecei a trabalhar. Estou muiitooo animado , principalmente , porque poderei colocar em prática o que estou aprendendo nas aulas. Bom , estou muito feliz agora !
E tudo isso foi graças a uma incrível professora que tive, que não apenas me ensinou a escrever, mas também que me motivou a ser um melhor ser humano e a nunca desistir! Obrigado por ter sido parte da minha vida !!! 
Sem você acho que não estaria onde estou !!
Do seu eterno aluno, Felipe Tena”

Sem usar de falsa modéstia, reconheço que a melhor faceta, meu melhor papel sempre foi o de professora, mais do que o de mulher, de mãe, de… sempre foi ser professora o que me deu as maiores alegrias, os maiores reconhecimentos, foi sendo professora, uma excelente e dedicada professora, que consegui deixar meu legado aos jovens, hoje todos boas pessoas e muitos com até mais do que 50 anos.

Eu agradeço muito a Deus e ao meu pai por terem conspirado a meu favor e me iluminado nessa vereda que percorri.

Sempre fui uma excelente professora!

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeo: Canal My Vinil HQ 2023