E porque continuo plantando versos e cebolas…
Poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Odonir Oliveira
E porque continuo plantando versos e cebolas…
Poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Odonir Oliveira
“Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, exijo respeito não sou mais um sonhador. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor. E dou risada do grande amor …” Chico Buarque
Fotos de arquivo pessoal
Vídeos:
1- Canal Biscoito Fino
2- Canal Gustavo Rio Preto
“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar …” I
INTRODUÇÃO
– A senhora escreve, né?
– Escrevo; você também, né, não é analfabeta …
– Não, falo assim… é escritora. Preciso contar a minha história, antes de morrer. Tenho 70 anos. Daqui a pouco vou embora e aí ninguém vai saber.
– Por quê? Está doente, sabe que vai morrer?
– Não, me cuido, faço exames todo mês. Mas quero que a senhora escreva minha história. A senhora faz isso? É muita coisa.
– Eu gravo.
– Mas não quero com romance, meloso, não. É história dolorida, nem sei se alguém vai querer ler. Mas quero que escreva assim mesmo.
– Está bem. Escrevo.
Batem palmas na porta. Corre a mãe ao portão. Vê-se lá um rapaz de vinte e poucos anos, bem apresentado, cabelo curtinho e, dizendo-se batista, ameaça com voz de macho a mãe de Susie, naquele dia ainda Ítalo. Diz que naquela rua, ali da cidadezinha de Minas Gerais, na verdade, só uma família prestava. Garantia isso referindo-se à família de sua namoradinha de portão. A mãe de Susie faltou soluçar quando o rapazola lhe estendeu um bilhetinho em folha de caderno onde se lia uma declaração de amor de Ítalo a ele. Mulher mineira, de fibra, arregaçou as mangas e o pôs pra correr, não sem antes rasgar o bilhete e lhe dizer que a família de Ítalo era de gente de moral.
Ítalo correu a se esconder. Mas a irmã caçula ouviu tudo e não entendeu nada. Era dia de eleições e, logo, o pai deles viria pra casa. O que faria a mãe com aquela dinamite nas mãos, mesmo tendo rasgado o bilhete?
Anos sessenta, cidade pequena, família grande, irmão mais velho, irmã mais velha, irmã caçula, todos naquela casa. Pai, homem másculo. Irmão homem másculo. Como poderia ter acontecido aquilo ?
Lembrava de ter estudado até o quinto ano primário, ter ido sempre de mãos dadas com a irmã menor pra escola, caminhando pelas ruas. Era sensível, gostava das roupas coloridas das cantoras, sempre descritas por Cesar de Alencar e Paulo Gracindo, aos sábados à tarde e aos domingos pela manhã, na Rádio Nacional. Já adolescente, anotava nas folhas de papel de pão a sequência numerada da apresentação das cantoras 1- Marlene 2- Dalva de Oliveira 3- Dircinha Batista …
Ainda na mesma época, Ítalo mandara um bilhete para Telma, filha do encarregado e chefe de seu pai. Nele escrevia que queria ser seu namorado. O pai chefe armou um escândalo no trabalho, esfregando literalmente o bilhete na cara do pai de Ítalo e pedindo-lhe que não permitisse que o rapaz ficasse importunando a filha dele.
Chegando em casa, qual num fenômeno em cascata, o pai cortou-lhe de cinto, bateu-lhe muito na cabeça. A mãe gritava ”Na cabeça não. Não bate na cabeça”. Enquanto batia, sofria e enquanto sofria mais batia, pela humilhação recebida do chefe em ambiente de trabalho. Logo ele tão correto, íntegro, honesto.
Dias depois Telma começara a namorar o vizinho bonito de olhos verdes. A partir dali, Ítalo se olhava inúmeras vezes no espelho e repetia que era feio. Passou a comprar cremes, escondido. Depilar axilas e pernas, escondido. Queria ser bonito.
Jovem Guarda, cabelos grandes, sapatos salto carrapeta, blusas coloridas de babados, tudo na moda facilitava a tarefa de parecer mais bonito. Até o dia em que pulou do primeiro andar do prédio porque o pai levara o barbeiro em casa e o forçara a cortar o cabelo à príncipe-danilo. Quebrou o pé e passou a mancar o resto da vida.
Outro dia, por querer se mostrar mais feminino, Ítalo desafia o irmão mais velho e, depois, enquanto chupava uma manga sentado no balanço da árvore, recebe do outro, encolerizado, uma facada na perna. Marcado, fisicamente, de novo.
As ruas o fizeram um bobo, enganando-o, tomando dele, em rodinhas, qualquer objeto que usasse, o radinho de pilha que gostava de ouvir com o fone de ouvido chamado egoísta … Nada ficava com ele. Passou a ser atrativo, motivo de deboche e de maldades de homens nas portas dos bares, por onde passava. Aprendeu as maiores mazelas e podridões sociais nas vielas das noites soturnas. Sem limite entre o que se vê e o que se conta, retornava a casa e desaguava ali todos os impropérios e vilanias vistos pelas ruelas das malvadezas.
Nessa época já vivia no Rio de Janeiro e carregava a mãe para as filas dos programas de rádio. Tinha fascinação por isso. A mãe o levava afirmando “É meu filho mais infeliz. Se eu puder fazer alguma coisa por ele pra diminuir isso, eu farei. A cruz é minha. Os irmãos não têm que passar por isso. É minha.“
“Ela é fã da Emilinha, não sai do Cesar de Alencar …” II
NARRATIVA DOLORIDA
“Posso conhecer Ítalo ?” “Quando quiser. Vai ver como é um ser … estranho … indefinível .”
Frente a uma pessoa de olhos saltados, esbugalhados, fixos ao longe, sem encarar seu interlocutor, amedrontado, estamos. Quase sem cabelos mais, usa perucas de várias tonalidades e cortes, chapéus , sombrinha e muitos colares, anéis e pulseiras. Saias sempre muito curtas, transparentes, blusinhas mostrando alças do sutiã. Fala sem parar, repete inúmeras vezes o que acabou de dizer. Pela rua, é motivo de risos discretos a palavrões e ofensas. Caminha com uma bolsa grande e repete sempre que todos têm inveja dele. Parece se alimentar de xingamentos e falas repulsivas. Demonstra precisar da exposição, ainda que como animal raro em jaula urbana.
Observando seu comportamento, percebe-se que não assedia homens, não os provoca, não tenta envolvê-los. Recrimina casais de namorados que encontra pelas ruas, encoleriza-se e chega a agredi-los verbalmente, e até fisicamente, quando entra em crise. Contam que foi preso várias vezes. Quando interpelou com rudeza a filha de um juiz, esta chamou o pai e este deu-lhe voz de prisão. Ficou alguns dias na delegacia “Pra tomar vergonha na cara. É doente? Então a família que trate. Não somos obrigados a isso não”– teria declarado ao delegado o juiz.
Com a morte do pai nos anos noventa, passou a morar sozinho com a mãe, a sacrificá-la demais para obter o que desejava e financiar suas invencionices, dizem. Ao mesmo tempo que a adorava, a defendia de todos e tinha ciúme dos outros irmãos , sobrinhos e parentes, foi capaz de provocar nela um AVC, tendo que ter sido socorrida às pressas.
Nos últimos anos de vida da mãe, a tortura sofrida por ela era inconcebível. Não deixava que ele fosse internado, mesmo em crises … ministrava, sem que Ítalo percebesse, medicação oral no leite, para que ele ficasse mais calmo. Entretanto, contam, em dose menor que a prescrita porque, segundo ela, se fosse a indicada, ele “ficava muito alheio, e não aproveitava nada da vida”. Sempre comeu muito, repetindo muitas vezes sobremesas e guloseimas. Gostava da casa encerada, cheirosa e enfeitada com muitos bibelôs, toalhas de crochê e plantas. A mãe sucumbia a todos os seus desejos porque “ele é o mais infeliz dos meus filhos …“.
O pior de seu comportamento não estava em sua forma de se vestir, caminhar… eram os seus gastos. Passou a comprar em muitas lojas diferentes e não ter como pagar. A mãe, já octogenária , não dava conta de tantas contas, em tantas lojas. Coube a irmãos sair quitando suas dívidas, para satisfazer os pedidos da mãe. E Ítalo continuava compulsoriamente a fazer mais dívidas, mais dívidas.
A mãe faleceu. Nos dez anos seguintes, Ítalo vendeu a troco de nada, tudo que havia na casa dos pais, fez inúmeras incursões a hospitais em vários estados brasileiros, onde sabia que conseguiria uma cirurgia para mudança de sexo. Médicos iludiam-no, ele já com mais de 60 anos, a continuar a fazer tratamentos, tomar medicamentos, fazer exames, retroalimentando a invenção que ele tinha em sua mente perturbada. Isso aumentava sua compulsão por gastos e, mesmo com a pensão deixada pelo pai, superior à de muitas famílias com muitos filhos, ele gastava duas, três vezes mais do que recebia, contraía empréstimos … Contam que comerciantes vendiam, mesmo com os pedidos da família para que não o fizessem. Assinava promissórias, tinha contas em mercados, padarias, onde outras pessoas compravam e mandavam colocar em seu nome. Incontrolável panorama doentio.
Quis voltar a viver no Rio, guardava imagem de adolescente da cidade. Fez-se a mudança, montou-se sua casa, em bom local e com proteção. Morou três meses naquele lugar. Quis voltar para a cidadezinha anterior. Fez-se a mudança. Ali, todos continuavam vendendo a ele, mesmo sabendo que não poderiam fazê-lo, conforme recomendações de seus familiares.
SEM FINAL FELIZ
Nada caminhou.
Não se considera transexual. Médicos dizem que sua doença já está irreversível.
Parentes revelam que atualmente não possui concentração mais nem para assistir a um programa de TV .
Chora ao telefone com irmãos, em seguida os agride, os inveja, os odeia. Seus irmãos relutam em ter qualquer tipo de envolvimento violento contra ele, mas também torna-se impossível qualquer outro relacionamento com ele; é desconfiado, não aceita vínculo afetivo.
Sabe-se que um endoidecimento nas famílias nunca vem sozinho. Há ali um ninho enlouquecido e que o mais frágil sucumbe primeiro. E depois outros, outros.
Não posso avaliar o que ocorreu na família de Ítalo, mas pude perceber que a mãe tinha razão quando afirmava “nenhum de meus filhos é feliz”.
Ítalo sabe que tem esquizofrenia. Deveria tomar remédios adequados e conviver em sociedade. Mas em qual sociedade? A que o gerou, desenvolveu e o alimenta?
Não toma medicação. E essa sociedade ideal não existe também.
Texto: Odonir Oliveira (escritos em 2016 e já publicados nesse blog)
Foto de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Arquivo Nacional
VOCÊ JÁ ENCONTROU O GRANDE AMOR DA SUA VIDA?
Há mais de 30 anos, desde meu primeiro livro “A Outra: um estudo antropológico sobre a identidade da amante do homem casado”, de 1990, até “A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade”, de 2023, busco responder à mesma questão: o que é “dar certo” no amor?
Na minha pesquisa, as mulheres dizem que, para o amor “dar certo”, é preciso cultivar o respeito, a reciprocidade, o reconhecimento, a intimidade, a escuta, a conversa, a confiança, a fidelidade, o companheirismo, a admiração, a amizade, a atenção, o tesão, o romance, o beijo na boca etc.
A lista feminina é interminável.
Já os homens foram econômicos: eles querem mais carinho, cuidado e compreensão.
Eu encontrei “o grande amor da minha vida” aos 57 anos.
Será que os outros amores que vivi não “deram certo” porque terminaram?
Ou será que só estou vivendo um amor mais maduro e companheiro porque vivi amores que “deram certo” enquanto duraram?
Aos 21 anos, quando me casei, eu queria ser uma mulher independente, trabalhar, ganhar meu dinheiro.
Dois anos depois, me separei.
Na época, meu trabalho era o propósito mais importante da minha vida (continua sendo) e, foi assim que, no meio de uma reunião, conheci meu segundo marido.
Dos 25 aos 27 anos vivi um amor lindo, mas imaturo: era insuportável viver com tantas briguinhas bobas e infantis.
Aos 33, casei com um homem que bebia muito e fumava dois maços de cigarro por dia, com sérios problemas de saúde.
Cuidei dele, até o dia em que descobri que ele me traía. Ele mesmo me contou que sempre transou, inclusive durante o nosso casamento, com “garotas de programa, porque é muito mais leve e divertido”.
Tempos depois, tive um casamento “cada um na sua casa”, com muitas coisas boas, mas com uma enorme dificuldade de comunicação.
E, aos 57, sem qualquer expectativa, encontrei o “grande amor da minha vida”.
Estamos tentando, todos os dias, que nosso amor “dê certo”. Dá trabalho!
Acredito que a pergunta mais importante para saber se meu casamento irá “dar certo” é:
Terei prazer de conversar e dar risadas com meu amor daqui a 30 anos?
Tamojuntas?
Foto de arquivo pessoal: amores-perfeitos agora cedinho
Vídeo: Canal Gal Costa
“[…] São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.” (Trecho final de A última crônica, Fernando Sabino)
SACADAS DE LUZ
-Olha, papai, olha!
a criança paralisa o pai
pela mão
a criança orienta o pai
pelos olhos
a criança ensina a luz
pela emoção
a criança faz o pai
ter esperança
LUA E ESTRELA
Na noite brilham as luzes
na noite piscam as luzes
na noite há estrelinhas coloridas.
Os olhares cansados
os olhares descrentes
os olhares doloridos
não enxergam mais as luzes.
Insistente e perene,
desponta a lua
porque nela
todos precisam acreditar.
COMUNICADO OFICIAL
Devido à problemática do calor,
informamos que
todos os Papais Noéis
estão se inclinando
a refrescar-se
a negar a neve
a tirar a roupa…
e cair na água.
Leia aqui no blog textos e poesias na categoria Natal – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/natal/
Poesias: Odonir Oliveira
Foto de arquivo pessoal
Vídeos: Canal Odonir Oliveira
PACTOS NARCÍSICOS
aos iguais reverencio
aos letrados bato palmas
às cotas dou as costas
aos bem parecidos, grito bravo
aos conhecidos avalizo vaidades mesmas
às cotas dou as costas
aos vizinhos de casta glamurizo identidades
aos de olhos e peles claras incenso realizações
às cotas dou as costas
pactos narcísicos
pactos miseráveis
pactos de sangue
Excelente programa de 2021, com o qual se pode aprender mais. Não perca.
Poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Roda Viva
1958
PEG-PAG
“Eu sou a dona de casa
Nos “peg-pagues” do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo…” Gita, Raul Seixas
–Comprei com credicorpo. Gostou?
-Esses seios? São meus, fui eu que paguei, são meus sim.
Veruska e Andreia respondiam no coiffeur do bairro nobre. Depois na sala contígua, depilação integral, unhas de porcelana e no fim da tarde, branqueamento de dentes, igual ao das atrizes globais, com o mesmo profissional inclusive.
No último fim de semana prolongado Veruska empinara suas protegidas performances naquele hotel praiano no Guarujá. Comidas de primeira, o deputado federal lhe reservara o que havia de melhor. Não cobrava nada dela, ao contrário, pagava. Muito bem. E a exibia entre os seus iguais. Coroa com mais de 60, cabelos brancos, adocicava-se com os seios pagos em Veruska. Bebia vinho neles, untava-se nela com cream cheese, brindando as madrugadas com Veuve Cliquot Brut. Acreditava ter aquilo por que pagou. Veruska, idem. Recebia como acompanhante, linda, fresquinha, de seios fartos, com gestos adoravelmente carinhosos e gritos de prazer.
O Macho avaliava o custo-benefício e se regozijaria com ela em mais outros fins de semana prolongados.
Andreia tinha seios miúdos, de bicos pequenos, era branquinha, sem sol na pele macia, sustentada pelos mais caros cremes, trazidos da Europa, pela amiga comissária de bordo. Acompanhante registrada no menu do empresário de eventos internacionais, fizera cursos de pompoarismo, sexo tântrico e sabia se mostrar menininha doce, imberbe, falando baixinho, quase sussurrando, quando lhe perguntavam algo, a dois. Era muito procurada. Disposta a experimentar tudo, disposta a aceitar o pedido feito pelo Macho a quem acompanhava. Ah, vou querer o mesmo que você. O que está bebendo, vou te acompanhar, então.
Costumava trabalhar por 2 dias apenas e tinha Machos bastante fixos, quase únicos mesmo. Aquela doçura toda, aquela pele clarinha e macia pediam quase exclusividade. Para isso, a taxa de consumação era maior que as de outras. Fingia ser namoradinha, noivinha… e todos os que os encontravam poderiam adivinhar, de longe, que o eram. Daí a tabela ser mais alta. Pousadas incríveis, hotéis incríveis… passeios incríveis.
Acompanhante, garota de programa, prostituta são epítetos.
Leia mais sobre em: “Mulheres não são pessoas no capitalismo, apenas corpos, diz Silvia Federici”- https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/11/mulheres-nao-sao-pessoas-no-capitalismo-apenas-corpos-diz-silvia-federici.shtml– “Garotas de programa dobram lucro durante F-1, gringos não pecincham”-https://www.uol.com.br/esporte/ultimas-noticias/2023/11/02/garotas-de-programa-dobram-lucro-durante-f-1-gringos-nao-pechincham.htm –Saiba mais sobre os Supermercados Peg-Pag em: https://varejoemdia.com/2018/07/02/peg-pag-usina-de-inovacao-do-varejo-1/
Texto: Odonir Oliveira
Vídeo: Canal tamanhodococo
SORRISO DE ESTRELA
É quando no desespero de mim,
que encontro a ti
sorrindo repetidas vezes
com passos ouvidos
em reflexos mínimos
em espaços imprevisíveis
em momentos inesperados.
É quando miro estrelas
que encontro
teu lume no delas
tua silhueta na delas
teu dorso incomum no brilho delas.
É quando escurece
que estrelas em ramalhetes
te trazem a mim,
e em ti permaneço
pousada no céu.
Poesia: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Cazuza
IDENTIDADES GARIMPADAS
Em meados dos anos 80, Ísis conheceu Antonio Carlos em uma reunião da categoria. A retomada do cinema tardava, e ele deleitava-se com seus curtas, meio documentários, docudramas, mas sem muitos recursos para voar. Inscrevia um ou outro em Festivais de Curtas, os exibia em Cinematecas, tudo muito cult. Era quase um hobby aquilo tudo. Nesse ponto conheceu Ísis. Os amigos lhe diziam que ela era a Eva do Adão. A mãe o batizara Adão. O pai Antonio Carlos autorizou o Toninho, como tratamento afetivo e familiar para Adão. Ficaram amigos.
Com a retomada do cinema nacional, Toninho seguiu em frente, criou uma produtora de vídeos, uniu-se a ONGs e continuou seu trabalho em defesa de matas, rios, lagos, indígenas … buscando conscientizar corações e mentes com suas produções. Ísis foi trabalhar com ele e sua pequenina equipe. Cabia a ela roteiros, incursões poéticas, elaboração dos planos de gravação. A admiração por ele era grande. Sempre se mostrando um homem simples, defensor da vida simples, da cultura nacional. Admirado por isso. Seguiram, e com a ECO92, por seus filmes, a produtora tornou-se bastante conhecida.
Logo foi convidado para produzir filmes publicitários. Depois, aderiu totalmente ao mercado publicitário. A sedução, sempre ela, fez com que Toninho, aquele Toninho, delegasse a produtora a outras mãos e olhos, e ele permanecesse apenas na publicidade. Ísis desligou-se da produtora. Ísis desligou-se dele.
Olhando pelo retrovisor, relia alguns dos bilhetinhos que ele lhe deixara no mural da sala de reuniões, no começo de outros tempos.
“Uma poetisa
Sou um fã da super-craque no trato com as palavras.
Seus poemas sobre as águas – lagos, rios e cachoeiras […] dão um brilho extraordinário às cenas comuns do cotidiano.
Não sei expressar a emoção ao ser confrontado com a informação, que as minhas imagens em movimento podem provocar a imensa veia poética original, guardada para amadurecer e aflorar em sintonia com as batidas do coração da poderosa poetisa parceira” .
Sem mais saber o que dizer, com muito samba no pé, mando beijos pra ela.
[…]
Estou indo agora filmar umas orquídeas, só pro’cê. Contei do seu poema pro meu entrevistado, li pra ele, ele disse É, mesmo?”
Nos anos seguintes Toninho vencera o Prêmio Caboré de Publicidade. Ganhara muito dinheiro. Viajara muitas vezes aos E. Unidos. No Brasil, frequentava as praias mais badaladas da turma cult, de atores, atrizes, cantoras e passara a viver em outro mundo. Em outros mundos. Ísis perdera aquela admiração que tivera por ele. O homem simples, que gostava de gente simples, de viver de maneira simples, teria se revelado um blefe de ocasião, agora desmascarado pela sedução. Tudo que negara antes, agora era pactuado de forma doce e aceitável.
Nas idas e vindas aos E. Unidos fora indicado a prêmios. Depois o ápice, ao maior deles em Cannes. Vencedor. Era um vencedor. Leonino, vencedor.
Das vezes em que a turma toda nos anos 90 se reunia no Bar do Alemão, para fomentar a discussão de uma sociedade mais justa e solidária, restaram as cadeiras, as mesas e os chorinhos, a MPB, as fotos nas paredes. Toninho ainda frequentaria aquele bar?
Ísis, estando na cidade, chegou cedo. Era sentar e esperar. Ouviu chorinhos. Relembrou tudo aquilo, riu, chorou. Alguém a viu por lá, mandou mensagem pra ele. Ela aguardou mais um pouco. As mesas iam se ocupando aos poucos. Numa segunda-feira …
Depois das 10, chegou Toninho com um amigo, que vinha abraçado a uma namorada.
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Eduardo Gudin – Tema
“Eu quero pretagonizar algum trabalho”, Ailton Graça
Sobre o mesmo tema, leia aqui no blog: ”Eunice, a rosa negra”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/03/15/eunice-rosa-negra/ “Nós, todos negros brasileiros”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/11/19/nos-todos-negros-brasileiros/– “Sobre pretos (negros), escutar, aprender e ser empático“- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/11/20/sobre-pretos-negros-escutar-aprender-e-ser-empatico/ – ”África, me perdoe”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/09/24/africa-me-perdoe/–
Vídeos:
1- Canal Assis Figueiredo
2- Canal TV Cultura