MENINO DE ASAS
No princípio era a terra
munido de bússola e timão
percorria as picadas mais empoeiradas
as estradas mais acidentadas
as cachoeiras, os rios e os montes
sempre risonho, cantante, pícaro
menino-homem cheio de asas para voar
atendia a todos os desejos
uma fada-madrinha na direção dos sonhos
encantador e companheiro
com as artes nas mãos
conheceu de meus os meus
soube das minhas desventuras e enganos
riu da persistência neles e deles
voou
voou para o nordeste
voou para o sul
sempre me contando
Estou decolando!
Meu anjo de guarda
me ouve
me apazigua dores
me faz ver o outro assim como ele é
me desempoeira ilusões
me avalia e me reconsidera de maus-tratos
o menino de asas está sempre nas nuvens
agora mesmo o vi daqui
agora mesmo falei com ele por aqui
Bendito seja !
ANJO REFLEXIVO
No meio-metade era a terra vermelha
um outro anjo reflexivo
mais velho
mais homem
realiza sonhos
aquela cachoeira
aquela igreja
aquele rio
aquela ferrovia
aquele museu
dispara sua bússola
informa a distância dos sonhos
o tempo a serem concretizados
ouve relatos
emite juízo
limpo da matéria-prima bruta das torpezas
reflexivo
timoneiro de minhas aventuras por terra
acompanha as outras, etéreas
auxilia, responde, pondera
homem íntegro
homem de caráter
sem dissimulações e embustes
facilita veredas para irmos ver e ouvir
Dona Aparecida e seu Teco
Dona Maristânia
Dona Fizica e seu Anézio
Dona Marilene- a Dica
Dona Maria
De posse do barco
vai de casa em casa
conhece meus irmãos, meu mundo
nada a esconder
nada em segredo
anjo de guarda abre asas de proteção
sobre meus ramais e caminhos
respeita
aconselha e é aconselhado
irmão do anjo alado mais novo
dá as mãos ao pai e à mãe
conduzindo-nos a todos
com firmeza e coragem
Bendito seja!
OUSADIAS
Com os dias passando, assim correndo,
há que se correr também,
há urgência em tudo.
Corro pra visitar aquelas cachoeiras nunca tocadas
corro para beber água gelada de serras amanhecidas
corro para falar “eu te amos” aos que nunca o ouviram de mim
corro para cozinhar delícias e, em comunhão, ofertar aos queridos aliados
corro para beber sabores que nunca experimentei por impossibilidades várias
corro para escrever letras, sílabas e linhas anoitecidas,
enquanto ainda consigo
andar
ver
falar
ler
respirar
me encantar.
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal calmaria