Meninos, vamos à luta?

À  LUTA

Ei você aí que tem
Ei você aí que viu
Ei você aí que recebeu
Ouve um lamento
Ouve um pedido
Ouve um direito.
 
Ei você aí que sabe
Ei você aí que usufruiu
Ei você aí que possui
 
Ouve um desejo
Ouve um sonho
Ouve uma vontade.
 
As paredes e os muros
deveriam ser etéreos apenas.

IGUALDADES SEMEADAS

Em todos os anos em que lecionei em São Paulo, estive entre os meninos das escolas  estaduais de Carapicuíba e as particulares da Granja Viana e depois na Vila Romana. Estive nas escolas municipais entre os jovens do Jardim Santo Elias, em Pirituba, e os do Morumbi. Sempre rompendo muros de um lado e de outro com a mesma força. Integrando alunos dos bairros ricos aos dos bairros pobres, com campanhas de doações de livros, de socialização das conquistas de uns a outros, com visitas aos mesmos equipamentos culturais ao lado de uns e de outros. E comigo outros tantos colegas de ofício.

Sentia que não eram uns e outros, mas apenas eles e eu, eles e o mundo, eles e a vida em São Paulo e no mundo.

Aprendia com eles, enquanto lhes ensinava as coisas mais elaboradas do conhecimento formal e ao mesmo também aprendia quando me ensinavam como eram, aquilo que queriam, como se sentiam.

Em 40 anos de ensino, pude, como poucos, medir e sentir as diferenças entre o tratamento dado a pobres e ricos, os valores ensinados em suas famílias, as dificuldades de relacionamento entre “os mais iguais e entre os mais diferentes”. Antes dos rolezinhos concretos, constatei rolezinhos emocionais, religiosos, funcionais e suas diversas formas de repressão.

Certa vez, jovens adultos alunos de escolas da periferia de SP foram convidados a se sentar no chão do Theatro Municipal para não sujarem as cadeiras do salão nobre. Aconteceu quando estava na Secretaria de Cultura, desenvolvendo “Educação é cultura”, em que eu elaborava projetos pedagógicos a serem desenvolvidos por professores em suas escolas, envolvendo todas as disciplinas – preparando os alunos , recheando-os- para o saboreio de um espetáculo teatral, de uma apresentação de coral lírico ou de música de câmara. Para que tivessem acesso a tudo o que é de todos. Um teatro municipal, literalmente, pertence aos munícipes, portanto há que se frequentá-los.

Occupy, occupy!!!

Quando receberam material escolar “de graça” e também uniformes nas escolas municipais, procurei elaborar projetos pedagógicos globais – com todas as disciplinas – para que calculassem quanto havia custado tudo aquilo aos cofres públicos, como deveriam ser conservados etc.o mesmo com a merenda escolar, lembrando aos meninos sempre que tudo aquilo estava sendo pago pelos impostos de todos os cidadãos, por aqueles que mantinham seus filhos nas escolas públicas ou não. Trabalhando sempre o conceito de cidadania, de igualdade cidadã . E isso eu levava para a parte pedagógica também. Aulas bem preparadas e bem executadas para os mais pobres e para os mais ricos também. Retornos sempre melhores entre os mais pobres, é claro. Muito mais valorizada como professora, me sentia poderosa e “vitaminada” por seus abraços e afagos cotidianos. Aprendi a gostar de ser autora de meus projetos, de minhas aulas diferenciadas, de estudar mais em momentos em que poderia estar me divertindo apenas, e com merecimento. Mas lecionar SEMPRE FOI PRAZER MAIÚSCULO!

Então, durante todos esses anos aprendi com meus companheiros de ofício a fazer aulas mais dignas de nossos alunos, fosse nas periferias com meninos  fora da faixa etária adequada,  com jovens carentes de afeto e em situação de abandono ou de semi-abandono, quer por pais nas favelas quer por pais em Miami e Paris…

Cresci vendo, e digo cresci porque cresci mesmo, no sentido mais alto, ao me misturar com gente. Ao compreender gente. Ao quebrar a cabeça pra romper muros e ensinar a nós mesmos a aprender a ser GENTE, assim maiúscula mesmo.

Creio que a educação tenha muita força. As escolas podem mudar  esse estado trágico de coisas que se vê, principalmente em SP, por falta de informação, formação ou até mesmo de simples esclarecimentos. Não sozinha, professor sozinho faz pouco para poucos, mas juntos… fazem muito para muitos. Testado e comprovado!

Não podemos perder pra uma rede de televisão ou duas, pra um, dois, três jornais, pra uma, duas, três revistas. SOMOS MAIS E MELHORES QUE ELES NO SENTIDO CIDADÃO E COLETIVO DO SER!!!

“Então, levanta e anda, levanta e anda, vai!”

VÊM APRENDER, MENINOS

chega, conhece
aprende
pergunta
dialoga
pergunta
responde
confronta
explica
reflete
pergunta
discute
argumenta
ouve
aprende.
 
Faz !

COMUNHÃO

bebe verso
come letra
sorve número
mastiga a história
namora a ciência
acorda com a geografia
aprecia a letra e a música
desenha a geometria dos sons e dos signos
encanta-te com as descobertas todas os dias
porque todo dia tem um futuro novo pra você.

 

Post dedicado a TODOS OS PROFESSORES BRASILEIROS.

Poesias e texto: Odonir Oliveira

Imagens da internet

1º Vídeo: Canal Emicida

2º Vídeo: Canal EmicidaOficialVEVO

 

Chico Buarque, as mulheres de si

CHICO, EU TE AMO !
 
Chico é um homem totalmente explícito.
Explico: entorna lirismo que nasce de um sujeito masculino, feminino, heterossexual, homossexual, marginal…
Derrama o escondido, o camuflado, o cabotino, em torrentes caudalosas sobre nós.
Chico explicita os eus de nós da forma mais bela. Liricamente.
 
 
“Passas sem ver teu vigia/ Catando a poesia / Que entornas no chão”
 
 

Outro dia me recomendaram não adicionar músicas de Chico aqui junto às minhas poesias, as ofuscariam, talvez. Refuto isso. AMO CHICO. Ele foi, é e será sempre meu inspirador. Desobedeço, portanto.

ESTAS ELAS

“Ele sabe dos segredos que ninguém ensina”
“Cala a boca, Bárbara”
Mastigue suas dores
Degluta seu sofrimento
Engula sua revolta.
 
“A vida é luta renhida
Viver é lutar”
Tropece em seus céus
Rasgue suas estrelas
Jogue fora suas bandeiras
Enrole seus tapetes de justiça
Encare seus tormentos
Por esses mares nunca dantes navegados
 
De novo.
 
 
 
 

MADRUGADAS

Quem está aí?
Ah, é você.
Entre. Fique imóvel.
Mantenha as mãos para trás.
Ouça.
Sinta.
Veja.
 
Quem é essa mulher?
pimenta rícino fel sangue
Quem é essa mulher?
pedra pau cuspe veneno
Quem é essa mulher?
tango rima ritmo gozo
Quem é essa mulher?
fogo ventre peito bunda
Quem é essa mulher?
vômito catarro urina suor
Quem é essa mulher?
céu-inferno manto sangrento
Quem é essa mulher?
ódio inveja rancor estupor
Quem é essa mulher?
 
Quem está aí?
Ah, é você.
Entre.
Ouça.
Sinta.
Veja. 

UM POEMA DE AMOR

Ah, que demorem essas noites a chegar,
que fiquem as tardes, congeladas, com o ardor de seus beijos,
que permaneçam em meu dorso seus toques firmes
que em meus ouvidos cristalizem-se suas palavras todas
que seu rosto, como um som, repercuta em meu colo
que  suas mãos cálidas entorpeçam minha voz incapaz
que seus pés se sobreponham aos meus como se me sustentassem a alma
que seus braços me envolvam com ternura e firmeza como um laço
que sua boca nada mais diga a não ser sussurros e apelos de ais
que seus olhos se fechem a apenas enxergar sabor em mim
que seus encantos estrangeiros e únicos não se percam com o escurecer
que sua língua armazene senhas de contato insubstituíveis
que seus dedos deslizem como seda no percurso de mim
que suas delicadas e sensíveis marcas se descubram por mim
que eu possa escurecer, com você, à chegada da primeira estrela.

INGENUIDADE

Flores do campo
Lagos e lagoas
Rios e versos
Cilada no tempo
Cilada de outono
Cilada em pontes queimadas
Cilada em árvores floridas
Cilada em palavras cofre
Cabotinismo semeado
Ingenuidade aflorada
Sedução
Jogo
Ludismos de estações em estações
Mediocridades contumazes.
Pobreza de sentimentos
Ciladas em vielas, em becos de estio.
QUANDO MEU AMOR VIER
 
Olharei em seus olhos
e lhe entregarei minha fala
em poucas palavras porque já conhece quase todas.
 
Tocarei em seu dorso
alisarei seus braços seu rosto e seus ombros
e sentirei que é de verdade um homem.
 
Subirei com ele
vagarosamente
meus degraus,
um a um,
para que sinta meu andar
meu jeito de ser uma mulher.
 
Oferecerei a ele meu vinho,
sem mesmo saber se de vinho ele gosta.
Sentarei com ele sobre o sofá,
colarei meu corpo ao seu,
entregarei a ele minha boca
porque dela sei que gostará.
 
Quando meu amor vier,
poderei dizer a ele,
e exclusivamente a ele,
 
– Estou perdidamente apaixonada por você !

PREDICATIVOS DO SUJEITO

Meu pensar é um desafio
Meus caminhar é uma manhã
Meu joelho é uma maratona
Minhas pernas são um ímpeto
Meus braços são um berço
Minhas costas são um tronco
Meus pés são uma rota
Meus falares são cantares
Minhas mãos são meu refúgio
Meus seios são um cais.
Meu deitar é um encantamento
Meu colo é um desejo
Minha pele é uma fogueira
Meu umbigo é um aconselhamento
 
Meu coração
é um verso.
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BLUES DE ESTAÇÃO

pequeninas grandes
novinhas tenras
rijas macias
leves suaves
perfumadas aromatizadas
sagradas profanas
atrativas novidades
saborosas leviandades
prazeres ácidos
prazeres doces
prazeres uns
prazeres outros
prazeres

EXÍLIOS

exílios voluntários
exílio de coxas quentes
exílio de costas largas
exílio de pés enormes
exílio de mãos atrevidas
exílio de ventre berço
exílio de braços laços
exílio de membro aderente
exílio de pescoço salgado
exílio de orelhas atraentes
exílio de olhos mudos
exílio de cabelos outros
exílio de língua sonora
exílio de lábios profanos
exílio de boca sagrada
exílio de corpos nus
exílio de corpos nós
exílio de medos
exílio de gozo
exílio de tantos.
 

TARDE

A vidente avisara,
há décadas,
chegaria tarde.
 
Viria sem avisar
Absorveria dias, tardes e noites
Nada simples
Nada fácil
Nada certo.
 
A vidente advertira.
Viria sem botas nem botes
Viria sem rosto, mãos, nem pés.
Viria sem planos nem rastros
Viria sem aroma nem cor
Viria sem quentes nem frios
Viria inconcebível, insuspeitável, impossível.
 
A vidente vaticinara
Era tarde.
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TRAVESSIAS

 Vivo assim, sempre em travessias.
São rios, lagos e pontes.
São ruas, avenidas e estradas.
Vivo transpondo, atravessando, indo, seguindo.
Não há paradeiros
Não há desembarques
Não há estações nem portos.
Estou sempre em trânsito.
 
Meu trem não é de pouso.
Meu trem é de carga.

CABRA

Cabras machos
Mulheres de grelo duro
Jovens de peito estufado
Crianças esperançosas
 
Cabra macho
Resiste à faca
Resiste a cassetete
Resiste à Injusta
Resiste à máquina de ilusão
 
Cabra macho brasileiro
Tem sangue nas veias e nos olhos
Quer a Justa.
 
Resiste.
Resistimos.
Resistamos.

MARIA

Bebe veneno no frio
come veneno no calor
cheira veneno no quintal
olha a lua
fala com as estrelas.
 
Chora com as ondas
soluça com as serras
engasga com o sol.
descama com a fumaça.
 
Sofre com incertezas
emagrece com torpezas
engorda com durezas
desfaz-se em friezas.
 
Maria
faz travessias na garupa do cavalo torpe
que lhe encilha a alma.

NEGATIVAS

Não recebe
Não entrega
Não sabe
Não revela
Não conta
Não constrói
Não declara
Não aceita.
 
Devolve
Regurgita
Expele
Expurga
Expatria.
 
Perfura o peito
Perfura o seio
Perfura a existência.
 
Quão dessemelhado !
 

AMOR QUE HAVERIA

“É um filme kafkaniano”,
entrega o Ele.
“Eu diria que é uma comédia romântica”,
complementa a Ela.
 
Ela que caminhou por espaços íngremes
entende que os amores são múltiplos, concomitantes, diversos entre si.
O amor é um poliamor.
 
Ele acredita que cada tem sua história anterior que interfere.
Ela acredita que é amor aquilo entre os dois.
Ele pensa que o amor é simples, não é necessário ser complexo.
Ela duvida disso e pensa que o que Ele diz não é exatamente o que sente.
 
Ela carece dEle.
Ele bebe outros lábios e não carece dEla.
Ela se ressente de não ter podido tocar nEle e mostrar-se Ela, como é.
Ele nunca mostrou interesse em que Ela mostrasse  como é.
Apesar disso, há sons e imagens sensíveis que povoam um universo inteiro
entre Ele e Ela.
 
Negar o óbvio é fuga.
Negar o óbvio é medo.
Negar o óbvio é preferir o simples.
“Nada vai mudar meu mundo”- sentencia Ele.
“Tudo já mudou o meu” – declara Ela. 
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SIM

Sim, porque “eu te amo”
 
Sim, porque eu te amo, dei pra gostar de músicas de amor, outra vez;
Sim, porque eu te amo, dei pra gostar de cartas de amor, ora em nuvem;
Sim, porque eu te amo, dei pra conversar com as flores, os pássaros, os bichos que percorrem os caminhos;
Sim, porque eu te amo, dei pra recordar sorrisos e alegrias e piadas tolinhas outrora ouvidas;
Sim, porque eu te amo, dei pra adorar vegetais, verduras, pratos coloridos em geral;
Sim, porque eu te amo, voltei a ver os filmes que já vi, os que nunca vi e desejar fazer outros tantos;
Sim, porque eu te amo, encontro gente que me sorri adivinhando meu estado de constante prenhez amorosa;
Sim, porque eu te amo, fico a namorar a chuva pela janela, a ver escorrer enxurradas de barquinhos invisíveis …
Sim, porque eu te amo, abro sorrisos largos, antes desconhecidos;
Sim, porque eu te amo, dei pra dormir menos e viver mais;
Sim, porque eu te amo, passei a fertilizar a terra, a polvilhar nela sementes de abacateiros, ameixeiras, limoeiros, passiflora ardente;
Sim, porque eu te amo, espero o entardecer, o sol se por e o dia raiar de novo a suspirar;
Sim, porque eu te amo, dei pra aceitar mais as diferenças entre as pessoas, o percurso de cada uma, a beleza das animas;
Sim, porque eu te amo, encontro nas montanhas companhia solene para a reflexão, o assobiar dos bem-te-vis e a oratória das maritacas;
Sim, porque eu te amo, abro mão da cotidiana cobrança do ser e estar, do compulsório e eterno ressarcimento de tempo e espaço;
Sim, porque eu te amo entrego, em pacotes, manifestações de afeto e alegria como mínima  retribuição pelos sonhos sonhados;
Sim, porque eu te amo, entorno rios de lágrimas pela insegurança do meu amor e não do teu;
Sim, porque eu te amo, não me permito ser mais frágil como antes o fui e não polir esse último e único brilhante;
Sim, porque eu te amo, contraio vontades inusitadas de dirigir por estradas a esmo, easyridermente;
Sim, porque eu te amo, aguardo o sono e os sonhos em que símbolos e sons compartilharão sensações indefinidas, irracionais, incompreensivelmente deleitáveis;
Sim, porque eu te amo, conheço espaços nunca antes percorridos,  sabores nunca antes encontrados, sensações nunca antes experimentadas;
Sim, porque eu te amo, sei que estás no todo do meu caminhar e descubro que és a outra parte de mim em mim.
 
Sim, porque eu te amo.

AMAR É O QUÊ ?

Ah, meu amor
eu não esperava mais amar.
 
Amar é difícil:
ficamos frágeis, inseguros, duvidosos.
Amar faz-nos ciumentos do que antes não éramos
Amar deixa marcas jamais cicatrizáveis
Amar faz entregar aos outros nossas incapacidades.
 
Amar nos torna
compulsórios demais,
cotidianos demais,
corriqueiros demais.
 
Amar nos faz beber lirismo
em um copo
em um livro
em uma flor
em uma risada tola.
 
Amar é um sentimento,
é uma parte,
é uma fase,
é uma tormentosa viagem
em um oceano a esmo,
é um deleite de senhas descobertas,
é um sentar-se ao lado, nos silêncios compartilhados?
 
Amar se parece com o quê ?
 
Com um corpo dentro do outro
como encaixe de engrenagens que se integram
oferecendo trabalho?
Com um tempero harmonioso de manjericão, alecrim e salsa?
Com água de cachoeira pesando nos ombros
qual chicotadas de ânimo?
Com perfume de mãos deslizantes sobre flores delicadas?
 
Amar se parece com o quê?
 
Ah, meu amor
eu não esperava mais amar.
 

NÃO SEI ESCREVER SEM SENTIR

Não sou um fingidor
Não finjo sinceramente
Não furto lágrimas e risos de outros
Não absorvo dores alheias apenas
Sorvo as minhas nas deles e as deles passando pelas minhas.
Não sou um fingidor
Não sei fingir completamente
A dor que deverás sentem.
 

Dedicado ao maior amor da minha vida inteirinha, CHICO BUARQUE. (Bethânia que me desculpe).

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal Imagens de Chico retiradas da Internet

  Vídeos de diversos canais do Youtube

Clubinho da leitura: A PAZ ! “Eu fico com a resposta das crianças …”

Canal: Mário Schutz

 

Esperando a PAZ nas ruas, no campo, nas estradas, entre irmãos que falam o mesmo idioma, que nasceram e vivem no mesmo espaço territorial, que têm a mesma origem -negra, branca, indígena – esperando pela DEMOCRACIA sendo exercida como prerrogativa plena, esperando exemplos de justiça, fraternidade e amorosidade entre os que se consideram BRASILEIROS, sigo acreditando na resposta das crianças e, para elas, construindo um país cada dia melhor.

Por quê?

Porque o FUTURO É HOJE

 

O DIA DA REVOLUÇÃO

( criação coletiva das crianças do Clubinho da Leitura “Plácido José de Oliveira”)

Os ovos de vários pássaros andavam sendo roubados dos ninhos na época da Páscoa. Isso acontecia há muitos e muitos anos.

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Aí o coelhinho Pascoalino, que era do bem, resolveu tomar uma atitude e não fazer mais aquilo. Os seus irmãos não gostaram nada nada e foram contar pro seu Pascoal e dona Pascoalina.

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Enquanto isso, começava uma reunião entre as galinhas, os galinhos, os galos, as patas e até a dona Pombalina que também reclamou que roubavam seus ovinhos pequenininhos pra distribuir na Páscoa.

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Cada um deu uma ideia. Uns queriam que colocassem os coelhos na briga, fossem pra luta. Chegaram a chamar todos os bichos de asas do país pra isso. Começou uma verdadeira guerra.

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O coelhinho Pascoalino conversou com os animais de penas e os de pelos e chegaram a uma solução porque todo mundo queria a PAZ ali. Chega de tanto ódio, de tanta briga.

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Resolveram distribuir cenouras e coelhinhos de chocolate. Ah, resolveram fazer umas galinhas e pintinhos de chocolate também.

Todos foram ouvidos e o Pascoalino disse assim,  que aquele era o DIA DA REVOLUÇÃO!

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FIM

Desenhando as possíveis soluções para o problema enfrentado pelos animais

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Post dedicado a todos aqueles que RESPEITAM CRIANÇAS, A NATUREZA e seu AMANHÃ. Por isso são VERDADEIROS, HONESTOS e acima de tudo HUMANOS.

Esse post é dedicado a meu pai, o mineiro PLÁCIDO JOSÉ DE OLIVEIRA, então.

Vídeo: Facebook e Instagram: de Odonir Araujo/OdonirAraujode

Travessias: hoje, ontem, amanhã

Atravessando mais uma vez …
Hoje, ontem, amanhã não são apenas advérbios de tempo. São mais que isso.
Só tem memórias quem viveu.
Seja individualmente, socialmente, afetivamente…
Critica-se muito quem vive lembrando o passado. Desprezam-se os saudosistas. Mas e a famosa lei do eterno retorno?
Li há muitos e muitos anos, que quando a gente fica mais velho, a gente volta pra casa, atribuía-se a Jung – não sei se a fonte está correta. Mas sei que a frase é correta.

Tenho percebido em gerações diferentes esse resgate. Filhos que voltam à casa dos pais, netos que voltam a casa destes que são os seus pais e assim vamos metaforizando nossas voltas, reencontrando nossas raízes, resgatando nossa infância, nossa juventude, nossa casa de dentro, digamos assim.

Creio que isso só pode acontecer quando já queimamos nossas arrogâncias de juventude, nossa sabedoria maior que a de todo mundo, nossa onipotência adolescente de querer inaugurar tudo do nosso jeito, como se fosse o melhor dos jeitos: o mais saudável, o mais sensato, o menos hipócrita.
A vivência vai-nos fazendo enxergar por dentro os seres humanos e, por conseguinte, o todo, o planeta também.
Viver é uma estrada longa. 
É como escalar, escalar, respirar com dificuldade e ir, ir, continuar indo… E encontrar depois, orquídeas no mato pelo caminho, céu de estrelas que se pode pegar com as mãos, e, ao descer, rios cheios de peixes em que se pode molhar os pés: vida, quase eterna!
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TRAVESSIAS

Vivo assim, sempre em travessias.
São rios, lagos e pontes.
São ruas, avenidas e estradas.
Vivo transpondo, atravessando, indo, seguindo.
Não há paradeiros
Não há desembarques
Não há estações nem portos.
Estou sempre em trânsito.
Meu trem não é de pouso.
Meu trem é de carga.

Paradoxo Final: Tesouro do Juventude

TESOURO DA JUVENTUDE

Uma das maiores frustrações da minha infância foi não ter em casa muitos livros, inclusive a maravilhosa coleção Tesouro da Juventude.

Minha professora da primeira série lia O livro dos Contos para nós e pedia que recontássemos suas histórias tal qual uma paráfrase. A beleza das personagens das ações maravilhosas e da magia das palavras para mim eram insuperáveis. Foi por isso, que certa vez, após a mestra ter lido uma dessas histórias, talvez a que mais tenha me encantado, fui reescrevê-la em casa como tarefa. E as palavras eram frágeis, os verbos não conferiam as mesmas ações às personagens, meus adjetivos não faiscavam como aqueles que ela salpicara sobre nós em sua leitura na classe. Foi por isso, que corri à casa da Edna, minha amiga, vizinha da casa ao lado, e pedi emprestado O Livro dos Contos, do T. da Juventude.

Li muitas vezes ali mesmo, que ela não me emprestaria para levar para casa. Quase decoradas as estruturas, eu, aos sete anos, consegui escrever quase tão bela história quanto a original.

No dia seguinte, na frente de todos, li a história com todos aqueles símbolos para mim inesquecíveis. A mestra repreendeu-me estimando que tivesse copiado; colado, portanto. Não considerou minha tarefa como feita.

Não compreendi por anos aquilo tudo. Hoje não me lembra mais o nome da referida história. Mas Sartre, em seu livro As palavras, me explicou direitinho como compreender esse meu gosto por saborear literatura.

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TARDE

A vidente avisara,
há décadas,
chegaria tarde.
Viria sem avisar
Absorveria dias, tardes e noites
Nada simples
Nada fácil
Nada certo.
A vidente advertira.
Viria sem botas nem botes
Viria sem rosto, mãos, nem pés.
Viria sem planos nem rastros
Viria sem aroma nem cor
Viria sem quentes nem frios
Viria inconcebível, insuspeitável, impossível.
A vidente vaticinara
Era tarde.

NEGATIVAS

Não recebe
Não entrega
Não sabe
Não revela
Não conta
Não constroi
Não declara
Não aceita.
Devolve
Regurgita
Expele
Expurga
Expatria.
Perfura o peito
Perfura o seio
Perfura a existência.
Quão dessemelhante!

AFIRMAÇÕES

Beijo-te a boca porque neste dossel estás
Beijo-te a boca porque numa sóbria embriaguez pousas em mim
Beijo-te a boca porque és onírico, fugaz e tépido.
Abro-te meus cofres para descobrires registros tênues
Abro-te meus cofres para beberes sólidos, líquidos e gasosos
Abro-te meus cofres para não indagares sequer um suspiro meu.
Encontro-te pelas manhãs nas curvas de mim
Encontro-me pelas tardes no lirismo de meus versos
Encontro-te pelas noites apenas para estares.

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MARIA

Bebe veneno no frio
come veneno no calor
cheira veneno no quintal
olha a lua
fala com as estrelas.
Chora com as ondas
soluça com as serras
engasga com o sol.
descama com a fumaça.
Sofre com incertezas
emagrece com torpezas
engorda com durezas
desfaz-se em friezas.
Maria
faz travessias na garupa do cavalo torpe
que lhe encilha a alma.

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Texto e poemas: Odonir Oliveira

Imagens de telas de René Magritte retiradas da Internet

A onça lograda e outras onças no Clubinho da Leitura, em Barbacena

Roseana Murray

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A partir de um fonograma A onça lograda”, do youtube, editado como presente para as crianças do Clubinho da Leitura, desenvolvemos um projeto de criação de uma história coletiva e de sua encenação.

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ISSO É UM DESAFIO PRA MIM

Vamos criar então.

No dia seguinte, ouvimos o fonograma no tablet (adoram quando usamos tecnologias), recriaram a história, deram seus pitacos etc. etc.

No Clubinho é assim: nem sempre vêm todas as crianças – AQUI NÃO É ESCOLA É UM CLUBINHO- portanto vem quem quer, quando puder PRA SER FELIZ.

Autoria de Sílvia Autuori, musicada por Cláudio Santoro. A interpretação é de Tia Chiquinha, que é a própria Silvia Autuori. A gravação é de 1950 e o lançamento de dezembro de 1951, a gravadora é a Odeon, disco 13.197-B-  Canal: Luciano Hortencio.

É claro que muitos vêm sempre, porque a felicidade aqui não mora ao lado; mora aqui, naqueles 90 minutos, duas vezes por semana,  em que estamos nós … e alegres. Podem crer que eu sou a que mais sente PRAZER com eles. São quase uns netos postiços …

O violão e a flautinha agora foram incorporados ao Clubinho. Não podem imaginar o que nasceu disso, então.

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“Pode chamar de Onça Enganada, Odonir,  é mais fácil”

Claro que pode.

Desenharam as personagens, recortaram umas e fizemos máscaras com suporte de mão; outras foram pintadas e inseridas em cenários.

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Achando uma flauta, Ana Clara, 6 anos, resolveu subverter a história e com seu capuzinho de coruja, que estava frio aqui, assoprou encantando a onça. ha, ha, ha

Como se não bastasse, depois de assistirem outos clipes, do canal  jnscam, com animais, propuseram “Vamos fazer uma história?!”

Ora se eu não acato na horinha!

Então escrevi o que falamos:

OUTRAS ONÇAS

ERA UMA VEZ UMA ONÇA QUE FICOU COM MEDO E FOI PRESA PORQUE FICOU COM MEDO.

ELA NÃO QUERIA FICAR SOZINHA E MANDOU CHAMAR TODO MUNDO, DO REINO DOS ANIMAIS PRA FICAR COM ELA.

OS  PRIMEIROS FORAM OS CÁGADOS. ELES CONVERSARAM  BASTANTE E CHEGARAM A UMA CONCLUSÃO.

SÓ QUE ELES FALARAM EM INGLÊS CANTANDO, E NINGUÉM DESCOBRIU NADA, NADA. FOI UM MISTÉRIO.

DEPOIS A NOTÍCIA FOI PARAR LÁ NAS RÃZINHAS QUE SÃO MUITO UNIDAS E DISCUTEM TUDO, TUDO JUNTAS.

A CHEFE DELAS BEM QUE CHAMOU AS LÍDERES, MAS OS FILHOTINHOS DELAS NÃO DAVAM SOSSEGO. VOCÊS SABIAM QUE CHAMAM GIRINOS. É, FOI O GUSTAVO QUE CONTOU PRA GENTE AQUI.

MAS NADA DA GENTE DESCOBRIR A RESOLUÇÃO NA CONVERSA. PARECIA QUE SÓ QUERIAM MESMO ERA DANÇAR E PULAR. ” QUE ENGRAÇADO, NÉ, ODONIR!”

ALGUÉM DEU A IDEIA DE PROCURAREM O TUCANO, QUE PARECIA MAIS SÁBIO QUE A CORUJA, APESAR DE AS HISTORINHAS DAREM A FAMA SÓ PARA ELA.

O TUCANO OUVIU TUDO, ANDOU DE UM LADO PARA O OUTRO, FEZ A REFEIÇÃO… E PROMETEU SÓ DEPOIS SE MANIFESTAR SOBRE AQUELA IDA À CASA DA ONÇA. SERIA VIÁVEL? PENSOU, PENSOU.

SEU TUCANO COMPREENDEU QUE SERIA MELHOR UM RESPALDO, DIGAMOS ASSIM, DE OUTRAS AVES, BATEU TAMBOR E CHAMOU AS ARARINHAS, QUE MUITO FALADEIRAS, NEM QUISERAM SE METER. “POR FORÇA DE NOSSA PROFISSÃO, NÃO NOS METEMOS NA VIDA ALHEIA. CADA UM VÁ AONDE QUISER. QUANTO A NÓS… RESOLVEREMOS OPORTUNAMENTE”

ASSIM FOI.

NA SEQUÊNCIA RESTOU AO PAVÃO, QUE TODO ENFEITIÇADO POR SUA PRÓPRIA BELEZA E PELO APEGO SEMPRE VELADO À ONÇA, INFORMOU A TODOS SEU CÓDIGO “SE EU ABRIR MINHA LINDA PLUMADA É QUE NÃO HAVERÁ PERIGO NA IDA DE TODOS LÁ. SE, POR OUTRO LADO, NÃO A ABRIR, SAIBAM QUE NÃO DEVERÃO IR.”

“NÃO DEU CERTO, ODONIR.”

Por que, Aninha?

“PORQUE ELE FICOU EM CIMA DO MURO. JÁ SEI, JÁ SEI. SÓ SE FOR PRA IR MAIS OU MENOS.”

“QUE NEGÓCIO É ESSE DE MAIS OU MENOS… OU ELE DIZ QUE É PRA IR OU QUE NÃO É, NÉ, ODONIR”- desafiou o irmão Gustavo. 

ENTÃO FORAM VISITAR A GARÇA ELEGANTE. PENSATIVA, PENSATIVA, NADA INFORMOU AO CERTO, SE SIM OU SE NÃO. COMO AS OUTRAS AVES CONSULTADAS, NÃO QUIS SE COMPROMETER. SÁBIA A GARÇA ELEGANTE!

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“JÁ SEI, JÁ SEI, ODONIR. A ONÇA VAI CHAMAR UM MONTÃO DE ONÇAS PRA AJUDAR ELA, LÁ NA CASA DELA. ASSIM SE ESSES BICHOS CHEGAREM… !”- concluiu Gustavo.

“VAI DAR B.O ! “- exclamou Aninha.

E o que é B.O. Aninha? – pergunto eu.

 “É BRIGA DE ONÇAS, NÃO SABIA?”

NO FINAL TUDO ACABOU EM ARAÇÁS E EM … BANANAS!

NINGUÉM DISSE SE IA VER A ONÇA OU NÃO.

Ah, o título … como sempre, votamos ao final das historinhas- escolheram entre vários: “OUTRAS ONÇAS”.

Gustavo foi vencedor por causa da ideia que teve de chamar outras onças para o final.

ESSAS CRIANÇAS SÃO SURPREENDENTES!

– VAMOS TOCAR FLAUTA E VIOLÃO, ODONIR?

VAMOS!

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ESSA MINHA ONÇA PINTADA É O MÁXIMO!

MANDA E DESMANDA NOS MENINOS. TEM 6 ANOS.

É MOLE?  PROMETE!

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Eu também me vesti de onça pintada, viu.

Aninha não deixou por menos. Colocou em mim uma peruca de onça, óculos de onça, pulseira de onça, capa de onça.

Gustavo me fotografou.

Mas vou poupá-los desse MICÃO.

Aqui eles sim são as estrelas. Eu, coadjuvante apenas.

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'Field Station Dinosaurs' park in Secaucus

'Field Station Dinosaurs' park in Secaucus

http://photos.nj.com/jersey-journal/2012/05/field_station_dinosaurs_park…

Vídeos:

1-Canal luciano hortencio

2-Canal Odonir Oliveira

Post (editado) publicado em set.  de 2015 em:  http://jornalggn.com.br/blog/odonir-oliveira/a-onca-lograda-e-outras-oncas-no-clubinho-da-leitura-em-barbacena

“Encontra-me em Vila Rica”, por favor …

POESIA EM MINHA VIDA

Encontros nas redes sociais me fazem relembrar de trabalhos que realizei com meus alunos, hoje homens e mulheres íntegros e cidadãos da melhor qualidade. Acredito que são estrelas que espalhamos nos céus e, de repente, nos aparecem em ramalhetes. E como é belo vê-los assim brilhando, cada um em sua esfera ou no cosmos, em suas atuações.

Sempre lutei para que seus trabalhos fossem vistos, reconhecidos e que autores de livros fossem conhecê-los, dessacralizando a visão fossilizada de que escritores são seres inatingíveis.

Tudo que produziam sempre divulguei para que servisse de estímulo à sua vontade de criar, de continuar criando vida afora.

Este post é uma merecida homenagem a meus garotos e garotas que estão por aí hoje, sendo HOMENS e MULHERES com letra maiúscula.

Obrigada por me engrandecerem toda uma existência, viu.

PROJETO “CIDADANIA”

UM POUCO DE CONVERSA

Havia, em um ano que passou, alunos, em classes diferentes, todos tão diferentes e ainda assim tão parecidos.

Havia uma professora que desejava trabalhar os conceitos da vida, os procedimentos da vida, os valores da vida.

Havia meninos e meninas querendo conhecer cada dia mais sobre a vida.

Encontraram-se e durante aquele ano de 1998 fizeram tanto, mas tanto, que não se contentavam mais com pouco. Queriam cada vez mais e melhor.

Já sabiam a música, agora queriam a letra. Já sabiam o compasso, agora queriam os acordes e o tom. Já sabiam os versos, agora queriam a prosa.   

Já sabiam os valores, agora queriam vivê-los. Já sabiam do tempo, agora queriam o espaço. Já sabiam da massa, agora queriam o volume. Já sabiam das paisagens, agora queriam habitá-las, percorrê-las, vivê-las. Já sabiam da escrita, agora queriam escrever. Já sabiam das cores, agora queriam colorir o mundo. Já sabiam da História, agora queriam fazer História. Já sabiam das letras, agora queriam autoria.

 Assim, caminharam, crescendo muito.

Em 1999, juntaram-se a eles outros professores. Estudaram, aprenderam. Fizeram com que muitos dos quereres acontecessem e, fazendo isso, fizeram Luz.

Agora? Há clarões e luzes por todos os lados!

Professora Odonir Araújo de Oliveira- 1999

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PROJETO CIDADANIA

“ENCONTRA-ME EM VILA RICA”

(7ªs séries ou 8ºs anos)

HISTÓRICO

Iniciamos o trabalho nas 3ªs séries em fevereiro e retomamos, no coletivo dos professores, questões que haviam ficado pendentes no ano anterior quanto a conceitos, valores e atitudes. Ao fazermos essa retomada, elencamos com destaque o tema CIDADANIA – seria o centro de todas as nossas atividades em 1999, ano que se iniciava. Cada componente curricular foi repensado em seus processos para atingir o que estávamos buscando.

Havia problemas intra-escolares e extra-escolares relativos à comunidade em que se inseria a maior parte de nossos alunos – agrupamento de moradias de autoconstrução nos fundos da escola, que ano a ano vinha crescendo e modificando nossa clientela – reflexo da crise social e econômica em que vivemos. Isso nos obrigou a reconhecer a necessidade de mudança de enfoque dado aos componentes curriculares e nos embrenhamos pelos temas transversais, que já eram tão urgentes e não percebíamos.

JUSTIFICATIVA

Optamos pelo trabalho com projetos globais e muito tivemos que estudar e nos reunir para desenvolvê-lo. Sabíamos, então, que a concepção de globalização vinculada ao tratamento interdisciplinar tinha a intenção de promover o trabalho dos professores de diversas matérias em equipe e de levar os alunos a descobrir que os temas estão relacionados entre si – a unidade do saber. Os alunos, após terem decidido, teriam que se engajar, assumir responsabilidades e serem agentes de suas aprendizagens.

OBJETIVOS:

1-Conhecer o país em que nasceram e vivem os brasileiros.

2-Tomar consciência dos problemas do Brasil.

3-Estudar as características físicas, históricas, antropológicas e culturais desse país.

4-Pesquisar possíveis encaminhamentos para soluções desses problemas.

5-Comparar valores sócio-culturais do século XVIII com os do século XX.

6-Conhecer os movimentos revolucionários acontecidos no país.

7- Estudar as diferenças de solo, população, vegetação e os recursos naturais existentes em

M. Gerais no século XVIII e no século XX.

8-Pesquisar vida e obras de autores e artistas mineiros em geral.

9-Conhecer o barroco mineiro.

10-Reconhecer as obras de Guignard e de Aleijadinho.

11-Leitura de versos dos poetas árcades brasileiros.

12- Leitura da obra “Encontra-me em Vila Rica”, de Paulo Condini, Editora Santuário.

13-Estabelecer o hábito da pesquisa como fonte de aprendizagem.

14-Valorizar o patrimônio histórico e cultural brasileiro.

15-Criação de identidade entre os cidadãos e o país visando ao cumprimento de deveres e à conscientização de direitos.

DESENVOLVIMENTO

CRONOLOGIA:

fevereiro a novembro/1999

PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS:

Profª Odonir Araújo de Oliveira (Português)

Profª Maria Marilene Muradi (História)

ÁREAS – COMPONENTES CURRICULARES

-Português

-História

-Geografia

-Inglês

-Educação Artística

-Ciências

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1-ESCOLHA DE TEMAS: (ESTÍMULOS INICIAIS)

Projeção do filme CENTRAL DO BRASIL.

Projeção de vídeos turísticos sobre a REGIÂO SUDESTE – Revista Caras

-Leitura do poema CARTAS CHILENAS de Tomás Antonio Gonzaga.

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2-LEVANTAMENTO DE PERGUNTAS: (avaliação inicial/ponto de partida)

-individualmente

-reunião em índice coletivo – por classe

Índice de uma das turmas

O que queremos saber?

  1. Em Mariana e Ouro Preto há favelas? (Renata)
  2. Com que idade Aleijadinho fez sua primeira escultura? (Carla)
  3. Quais os doze profetas de Aleijadinho? (Bruno)
  4. Por que Vila Rica passou a se chamar Ouro Preto? (Renan/Camila)
  5. Por que Tiradentes está com barba e cabelo comprido nas fotos em que está com a corda no pescoço? (Clélio e Joseph)
  6. As pessoas tinham racismo com o Aleijadinho? (Selma)
  7. A taxa de desemprego em Minas é igual a de S. Paulo? (Bruna e Letícia)
  8. Pedra-sabão tem sabão na sua composição? (Paulo)
  9. Onde estão os restos mortais de Tiradentes? (Paulo)
  10. Como a Prefeitura deu início às visitas à mina de Mariana? (Emanuela)
  11. Existem esculturas de Aleijadinho em outros Estados? (Juliana)
  12. Por que em Ouro Preto há tantas igrejas e esculturas barrocas? (Simony)
  13. Onde ficavam os escravos que não trabalhavam nas minas? (Amanda)
  14. O que é Barroco? (Milene/Émerson)
  15. Por que tem tantas igrejas em Ouro Preto? (Bruna/Selma)
  16. Há favelas nas cidades históricas de Minas? (Bruna/ Letícia)
  17.  As pessoas dessas regiões gostam de viver lá? (Bruna Gonçalves)
  18. Com quantos anos morreu Aleijadinho? (Karina/Camila)
  19. Aleijadinho vendia as suas esculturas? (Bruna/Bruno/Karina)
  20. Quantas pessoas ajudavam Aleijadinho a esculpir? (Simony)
  21. Que medidas as administrações de Minas Gerais tomam para preservar o patrimônio histórico? (Murilo)
  22. Quem descobriu o dom de Aleijadinho? (Rodrigo)
  23. Quantas igrejas Aleijadinho esculpiu? (Glauco)
  24. Existem indústrias em Ouro Preto? (Bruno/Rodrigo)
  25. Ainda existe ouro em Mariana e Ouro Preto? (Margareth)
  26. Qual a maior igreja de Ouro Preto? (Diego)
  27. Existem muitos roubos nas cidades históricas mineiras?(Camila)
  28. Há tanta poluição nessas cidades como tem aqui em S. Paulo? (Rafael)
  29. Aleijadinho só esculpia imagens religiosas? (Juliana)
  30. Que tipo de música os mineiros mais gostam? (Isabelle)
  31. As comidas mineiras são as mesmas dos paulistas? (Beatriz)
  32. Por que teve tantos Presidentes mineiros? (Estefânia)
  33. Por que querem privatizar a USIMINAS? (Roberto)
  34. Quanto tempo se leva de S. Paulo até Ouro Preto de bicicleta? (Gracilda)
  35. O que é pepita de ouro? (Michelle)
  36. Quais as palavras típicas dos mineiros? (Leandro/Diogo)
  37. Quem participou da Inconfidência Mineira? (Itamar)

3-SEPARAÇÃO DAS PERGUNTAS:

  • por campos: áreas/disciplinas/fontes de pesquisa

4-INÍCIO DAS PESQUISAS:

  • em classe (individualmente/em grupo)
  • em casa

Professores acompanham as pesquisas oferecendo material e socializando descobertas, a fim de que os alunos enriqueçam seus índices com novas indagações, ampliando seus estudos. Propõem atividades de busca para solução de questões.

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5-ATIVIDADES:

-Leitura compartilhada, e por capítulos, da obra ENCONTRA-ME EM VILA RICA.

-Estudo do momento histórico de que fala a narrativa da obra lida.

-Estudo do BARROCO no BRASIL e do BARROCO MINEIRO.

-Estudo da região histórica mineira: área, vegetação, população, produção agrícola e industrial, entre outros aspectos.

-Estudo das variantes lingüísticas (regionalismos mineiros)

-Pesquisa da vida de autores mineiros.

-Leitura de textos avulsos e obras completas de autores mineiros, em verso e prosa.

-Caracterização do texto instrucional (estudo e criação de receitas/cardápios/ guias turísticos)

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-Pesquisa e audição de músicas de grupos mineiros de música popular e erudita.

-Estudo das obras de ALEIJADINHO.

-Estudo e releituras de pinturas de GUIGNARD.

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RETRATO DE UMA FAMÍLIA, de Alberto Guignard, 1930sam_2438

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(Releituras do aluno Clélio Gonçalves de Souza e de Isabelle Dourado  das obras de Guignard)

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-Estudo do texto dramático -criação de  RADIONOVELAS

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LIBERDADE MINEIRA CENA III – CAPÍTULO XV

(A cena passa-se em 1774, em Vila Rica, Minas Gerais, na casa de Cláudio Manuel da Costa. São oito da noite)

Cláudio: Querida, mande as escravas aprontarem logo o jantar que nossos convidados já estão para chegar.

Juliana: Mas quem você chamou, afinal, Cláudio?

Cláudio: Ora, nossos grandes amigos: Marilia, Dirceu, Maria Dorotéia e Tomás Antonio Gonzaga.

Escrava: Senhora, os convidados chegaram.

Cláudio: (apressado) Depressa, Juliana, vá receber os convidados e diga que estou esperando na sala de visitas.

Juliana: (sorridente) Amigos, há quanto tempo! Boa noite, Tomás. Como é que vai? Oi, Marília. Cláudio os está esperando na sala de visitas.

Cláudio: (contente) Amigos, como vão? Por favor, vamos jantar?

Marilia: Eu e Juliana temos muito que conversar.

Maria Dorotéia: É temos que colocar a conversa em dia.

Cláudio: E como estão indo as coisas para você, Tomás?

Tomás: Como sempre, dando duro e os portugueses roubando mais que podem.

Maria Dorotéia: É mesmo, estão cobrando impostos demais. E altíssimos.

Marília: Só falta eles cobrarem impostos de nossas roupas íntimas!

Cláudio: Eu não duvido nada. Do jeito que esses portugueses são, eles seriam bem capazes disso.

Tomás: Se algum dia alguém se rebelasse contra o Governo de Portugal, eu certamente estaria do seu lado.

 Cláudio: Eu seria capaz de arriscar a minha vida pela liberdade.

Juliana: (irritada) Pare com isso, Cláudio, e vamos jantar em paz.

Acabado o jantar…

Maria Dorotéia: O jantar estava ótimo, Juliana.

Marília: Precisamos nos reunir mais vezes.

Cláudio: Até mais, amigos.

Tomás: Foi um prazer.

Juliana: (cansada) Eles já se foram embora. Vamos dormir, Cláudio.

Cláudio: (sério) Mas sinceramente, Juliana, daria a minha vida pela nossa liberdade.

Juliana: (sonolenta) Vamos dormir, por favor, Cláudio.

AUTOR: Antonio Bastos do Vale – 7ª C

CULINÁRIA MINEIRA

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VÁRIOS CARDÁPIOS DE RESTAURANTES

Estudo da linguagem televisiva: criação de programas de culinária para TV – com gravações em criação de vídeos

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SISTEMA MINEIRO DE TELEVISÃO – “TREM -BÃO” – PROGRAMA DE CULINÁRIA

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-Leituras de capítulos de ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de CECÍLIA MEIRELES.

-Apresentação de FESTIVAL DE POESIAS. (declamação de poemas e concurso com premiação dos 20 melhores: POETAS BRASILEIROS PEDEM PASSAGEM).

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VOTAÇÃO

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-Criação do JORNAL DA HISTÓRIA (manchetes e notícias do passado e do presente mineiro).

-Simulação do julgamento de TIRADENTES. (criação da argumentação oral e escrita).

Criação de texto publicitário bilíngue (inglês/português) para divulgação das cidades mineiras.

-Utilização da ENCICLOPÉDIA ELETRÔNICA ENCARTA, em inglês, nas aulas na SALA DE INFORMÁTICA, para ler e traduzir informações para o português, sobre o conteúdo pesquisado.

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-Estudo de outros MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS brasileiros e sua comparação com a CONJURAÇÃO MINEIRA.

-Leitura de textos jornalísticos sobre a questão do HERÓI. (entre outros “As barbas de TIRADENTES”, em AS ARMADILHAS DO PODER, de GILBERTO DIMENSTEIN).

Comparação das cidades históricas mineiras com outras cidades históricas brasileiras.

-Recriação de capítulos do livro ENCONTRA-ME EM VILA RICA.

-Criação de poemas ilustrados sobre MINAS GERAIS.

Apresentação dos trabalhos para o autor da obra, PAULO CONDINI, em visita à ESCOLA.

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(Escritor Paulo Condini autografa livros de alunos)

TEXTOS NARRATIVOS

-Produção de textos narrativos escritos pelos alunos ENCONTROS COM MINEIROS FAMOSOS encadernados em livro de capa dura.

MEU ENCONTRO COM JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS

Vou contar uma conversa, uma simples conversa, mas que mudou todo um movimento.

Lá estava eu andando pela CASA DOS CONTOS, quando avistei, ao fundo de uma sala escura, um homem. Me aproximei para ver e lá estava Joaquim Silvério dos Reis, um militar de nosso movimento. Lá estava ele, cabisbaixo. Na mão, um copo e na mesa uma garrafa de vinho quase vazia.

–          Posso me sentar? – perguntei, já puxando uma cadeira.

–          Claro!

–          Então, Joaquim, todos já se foram e o que você está fazendo aqui?

–          Bebendo, bebendo, para esquecer os problemas.

–          Mas que problemas, a Conjuração vem seguindo tão bem?

–          Ah, a Conjuração, a maldita CONJURAÇÃO. Mas quer saber, eu sou humano e como qualquer ser humano, tenho problemas! Todos vocês só se preocupam com esse movimento e se esquecem de que têm famílias e vidas para cuidar!

Percebi que Joaquim estava tenso. Pensei que talvez a bebida o tivesse deixado tão nervoso. Alguns minutos de silêncio e resolvi tentar descobrir o que estava havendo com ele.

–          Me desculpe, talvez tenha sido inconveniente. Vou me retirar, com licença.

–          Não, fique. Sinto que se eu ficar sozinho, vou acabar fazendo uma besteira.

–          Então me conte o que está acontecendo, Joaquim, só assim poderei ajudá-lo.

–          Ninguém nesse mundo além de mim pode me ajudar.

–          Mas, talvez, desabafar, ajude.

–          Pois bem, afinal não tenho nada a perder. É o seguinte: eu estava em um dilema entre a lealdade e a paz definitiva.

–          Não entendo.

–          Bem, tudo se concretiza assim: eu estou falido, endividado na Corte e não são dívidas pequenas, mas se por acaso eu acabasse com toda essa CONJURAÇÃO, a delatando ao Visconde de Barbacena, tenho certeza de que minhas dívidas estariam completamente quitadas.

–          Joaquim, você tem consciência do que está dizendo? Se fizer isso, além do movimento, a vida de todos nós estará acabada.

–          E você acha que não estou pensando nisso também?!

–          Chega, não vou ficar aqui ouvindo isso. Faça o que vier em sua cabeça e o que você achar melhor. Só que se eu tiver que lutar por meus companheiros, vou lutar, mesmo que tenha de lutar contra você.

Depois de me retirar da sala, pensei que talvez tivesse sido rude demais com Joaquim, mas decidi deixar que o destino levasse tudo aquilo à diante.

AUTOR: Murillo Soares Barreto – 7ª A

-Estudo dos MINERAIS extrativos das regiões mineiras no século XVIII e no século XX.

6-REGISTRO DO 3º ÍNDICE:

Recapitulação do trabalho realizado:

1-Índice individual

2-Índice coletivo

3-Sub – temas pesquisados e organizados.

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7-CONFECÇÃO DE UM DOSSIÊ DE SÍNTESE:

-O aluno reúne em um DOSSIÊ de síntese todos os aspectos tratados, pesquisados e todas as suas produções durante o PROJETO.O aluno cuida da apresentação de seus trabalhos de forma artística e criativa, como um PORTFÓLIO.(que é de sua propriedade) – elemento de auto-reflexão e avaliação.

-Relação de QUESTÕES PENDENTES, que tenham ficado sem respostas, ao final do DOSSIÊ.

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(Capas do dossiês das alunas Isabelle Dourado e Estefânia de Lima, respectivamente)

8-AUTO-AVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO:

-AVALIAÇÃO CONTÍNUA da evolução na solução dos problemas (perguntas a que se propôs a responder)

-AUTO-AVALIAÇÃO (escrita) – sobre o percurso desenvolvido e o produto do seu processo de pesquisa. (constando no DOSSIÊ DE SÍNTESE- “O que eu aprendi com todo esse Projeto, hem?”

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Auto-avaliação de uma aluna

Fazendo esse DOSSIÊ MINEIRO, eu me dei conta que sabia de coisas que eu nem sabia que soubesse. Eu fui escrevendo, escrevendo e quando me dei conta …Já nem sei mais de tão encantada que estou.

Eu tenho certeza de que tudo que eu aprendi ou escrevi nessa junção de conhecimentos, não foi uma “decoreba”, eu aprendi de verdade. É claro que que eu não sou um computador que armazena informações sobre Minas, mas meu conhecimento aumentou muito.

Assim que esse trabalho começou eu era leiga no assunto, tanto quanto desconhecia a existência desses lugares, quem dirá todas as informações registradas aqui.

Apesar de ter sido cansativo, porque é claro, eu busquei além do que eu já sabia, tive que pesquisar um pouquinho mais, embora eu já tivesse tudo, ou melhor, quase tudo esclarecido, além das horas de sono perdidas… nada foi em vão.

Eu fico mais contente ainda, quando lembro que tudo isso é BRASIL, o meu país, onde nasci e quero viver o resto dos meus dias, afinal, é essa a intenção: conhecer o país em que moramos, que por sinal tem histórias belíssimas para contar.

Posso falar de todo coração, são lugares como os que “conheci” agora, que me orgulham de ser brasileira. É, mas também não posso esquecer que Minas faz parte do meu conhecimento e da minha imaginação: essa é a única parte chata – quero ir a Minas Gerais!!!

Estou me orgulhando de mim, modéstia à parte.

Aproveito também esse espaço para deixar um abraço bem agradecido pra professora Odonir!!!  

Valeu muito. Ela merece! Esse não é o fim do dossiê, nem do trabalho, ainda é só o começo.

Isabelle Dourado – 7ª B

Barbacena- Acervo Bárbaras Cenas

Produção de texto individual sobre tudo o que se aprendeu durante o PROJETO (CARTA a alguém onde se enunciam as aprendizagens, constando no DOSSIÊ DE SÍNTESE INDIVIDUAL).

São Paulo, 16 de novembro de 1999

Meu amigo Ricardo:

Olá, tudo bem?

Estou lhe escrevendo essa carta para lhe contar o que estudamos na E.M.E.F. RUI BLOEM  esse ano. Não vou lhe contar tudo, mas como havia me perguntado que projeto havia estudado, vou lhe contar tim, tim, por tim, tim.

Começamos com o projeto Cidadania, assistimos a fitas de vídeo sobre uma região que lhe interessa – sudeste – destacando-se Minas Gerais. A professora Odonir nos mostrou um livro chamado “Encontra-me em Vila Rica”, todos nós compramos o livro – muito bom por sinal – nos envolvemos num trabalho mais profundo sobre Minas Gerais, estudamos tudo ou quase tudo, levantamos perguntas sobre o projeto, Aleijadinho, Tiradentes entre outros.

Como havia lhe dito, de Minas Gerais, só conhecia Teófilo Otoni. Hoje posso lhe dizer que conheço muitas outras cidades. Não que eu as tenha visitado, mas por estudar as suas características, a história da Inconfidência, a música, os grupos mineiros, entre eles “Só pra contrariar”, a culinária, eh….trem bão…, cada prato, cada doce! Devo ter engordado uns dois quilos, só por estudar esses pratos.

Mineiros, seus hábitos, suas artes…Uai ! se eu for lhe contar tudo vai dar umas cinco folhas !

Como no ano passado, a professora Odonir trouxe o autor do livro que estávamos lendo – Paulo Condini . Sabe, ele ficou muito emocionado com todo esse projeto.

No começo, quando a professora falou Minas Gerais, lembrei-me muito de você, que justamente tinha ido morar na Grande Minas Gerais!

Bem, o projeto ainda se desenvolve até o fim desse mês.

Ah, não posso me esquecer dos stands. É isso aí, o nosso trabalho foi exposto na DREM, MOSTRA A TUA CARA . Foi emocionante. Eu interpretei Carlos Drummond de Andrade, nosso maior poeta, como você sabe. Fiquei muito emocionada com todo o trabalho. Pra finalizar, fizemos um dossiê, onde havia tudo que estudamos.

Aprendi que nós, como brasileiros, temos que valorizar o nosso Brasil, pois ele, sem dúvida, é o melhor país do mundo.

Quem sabe, um dia, eu não irei a Minas Gerais e junto com você conhecerei mais sobre a arte do nosso país e degustarei as deliciosas comidas mineiras, que me dão água na boca só em pensar.

Sem mais, mando-lhe lembranças e estou com muitas saudades.

    Sua amiga,

                                                                          Bruna Cristina

(Desculpe se me esqueci de algo, é que o trabalho é muito extenso).

São Paulo, 16 de novembro de 1999

Bênção, vô Manuel:

Lembra que eu lhe disse que eu estava fazendo um projeto sobre Minas Gerais? Pois é, eu já estou quase terminando ele, mas pode continuar mandando curiosidades sobre Minas.

E as enciclopédias que o senhor me deu. No começo eu não lia, mas depois descobri que lá havia bastante assunto sobre Minas.

Na parte da música, falava de Ataulfo Alves e Ari Barroso, com as músicas “Aquarela do Brasil” e “Amélia”.

E a receita de ambrosia que o senhor tentou ensinar para minha mãe?

E ela aprendeu, mas foi com a Jú!

E a literatura? Tem o Ziraldo, de quem o senhor me contava a história do Maluquinho.E o Drummond? Eu adorei a poesia “José”.

Ah, vô, bem que o senhor podia dar uma passadinha em Ouro Preto! Pena que o senhor mora aí em Montes Claros!

Eu também aprendi a linguagem dos mineiros: “uai”, “sô”, “trem bão”…

Mas eu nunca vi o senhor falar assim!

Ah, eu não posso esquecer de Guignard, um pintor mineiro! Eu aprendi a fazer um quadro dele!

Bom, vô, acho que vou terminar por aqui.

Depois eu escrevo falando da carta para o Itamar Franco que vamos escrever!

             Peço a bênção de novo e um abraço do seu neto Clélio.

9-AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES:

-Comparação entre a avaliação e auto-avaliação.

-Discussão e registro, em assembléia, do próprio processo vivido e em relação ao grupo (aluno-aluno/aluno-professor/professor-professor).

-Estabelecimento de uma nova seqüência onde se tomam decisões sobre um NOVO PROJETO sobre um NOVO TEMA (SÃO PAULO)

10-EXPOSIÇÃO DO MATERIAL:

-Apresentação para a COMUNIDADE ESCOLAR (alunos/professores/funcionários e pais) dos PRODUTOS do trabalho.

-Apresentação dos alunos e seus trabalhos no CONGRESSO DE EDUCAÇÃO da DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO –DREM, MOSTRA A TUA CARA – nov/1999.

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– Trabalho apresentado em diversos encontros de professores de ESCOLAS PÚBLICAS e de ESCOLAS PRIVADAS em S. Paulo.

– Trabalho publicado na  REVISTA DO PROFESSOR – RS. nº 66/2001

11-MATERIAL:

-livros de literatura brasileira, enciclopédias, INTERNET, jornais, vídeos, filmes, livros didáticos dos diversos componentes curriculares, pedra-sabão, ferro, aço, fotos, gravuras, guias de agências de turismo, dicionários, TV, vídeo, aparelho para CD, retro-projetor, filmadora, máquina fotográfica, fogão, geladeira.

12-OBSERVAÇÕES / CONCLUSÕES:

– Registro das QUESTÕES PENDENTES nesse PROJETO, delas nasceram os temas para o PROJETO-2000.

LEIA TAMBÉM: Trabalho realizado no ano anterior (1998) com as mesmas turmas.

”Contos de mistério, viagens de trem”

Contos de mistério, viagens de trem

Post (editado) , mas originalmente publicado em: http://jornalggn.com.br/blog/odonir-oliveira/numa-toada-mineira-eh-minas-eh-minasfazendo-a-travessia

Texto elaborado por: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Amo o meu país ! Meu país é o BRASIL!

QUERO UM PAÍS NAÇÃO

Quero rios admiráveis
brasileiros amáveis
de dentes completos
com cultura acessível
beijos amistosos
abraços sinceros
sonhos realizáveis
desejos coletivos
alegrias sociais
barrigas cheias de letras
barrigas cheias de eletricidade
barrigas cheias de água potável
barrigas cheias de ruas saneadas e saudáveis
barrigas cheias de pensamentos e reflexões.
Quero gente dançando e reivindicando
Quero caminhadas e blocos de ritmos, em consagração
Quero jovens plenos de conhecimento e decisão
Quero irmãos vivendo com mais merecimento e menos sofrimento
Quero mais paz nas ruas, no campo, na lua.
Quero olhar o céu como quem já se vai
deixando um país nação
mais intenso a todos
os que nele ficarão.

http://ajurspartesbrasil.blogspot.com.br/2012_06_01_archive.html

Cresci com meu pai patriota , mineiro, brasileiro, repleto de seus símbolos, a recitar quase diariamente seu ‘ódio’ a Joaquim Silvério dos Reis- cavaleiro da triste figura’ que, diferentemente de Dom Quixote, era mote para meu ralado no joelho em alguma arte na rua, ou em alguma sutura no pronto-socorro por peraltice ou desobediência.

Silvério dos Reis, o traidor, que teve muitas terras aqui por Barbacena, inclusive as que hoje sediam o MUSEU DA LOUCURA, antes Hospital e “colônia dos loucos”.  Este personagem histórico em minha casa era muito mais forte que Judas. De Calabar e de outros tantos pela vida, vim saber muito depois.

Ensina-se o perdão etc. etc. até consigo essa sublimação social, para uma convivência politicamente correta, talvez. Mas no fundo, no fundo, a traição é marca.

Traições políticas, traições entre ‘amigos’, traições amorosas… estas, então, seriam motes para tratados e tratados.

Traição é palavra inglória, pois que demanda contexto. Entretanto os símbolos que carregam, pela história, em nós, esses são cicatrizes profundas.

Muitos brasileiros hoje têm um sentimento inverso ao que Affonso Celso defendia ao escrever seu livro Porque me ufano do meu pais, nos idos de 1900. Isso é bom ou é ruim? É resultado de massa crítica ou de falta de crença na pujança do país e na capacidade de resiliência de seu povo?

Qual era o papel dessa obra naquele momento e qual o papel dos meios de comunicação hoje? Sempre desejaram o mesmo para o Brasil?

Vivendo há pouco mais de dois anos e, pela primeira vez, em uma cidade que não é metrópole, reconheço diferenças entre esses brasis e, cada vez mais, tenho ORGULHO de ser brasileira. Fato é que constato, principalmente nas metrópoles, uma geração novíssima que se envergonha de seu país. E isso para quem não pode votar aos 18 anos, nem aos 19, nem aos 20, primeiro porque “não podia e pronto”, depois porque morava em área de segurança nacional, é doloroso demais.

Carla Erhardt interpreta Bárbara, na adaptação de Ruy Faria (ex-MPB4), da obra de Chico Buarque e Ruy Guerra, “Calabar – Musical”. Trecho gravado no Teatro Popular de Niterói em maio de 2008.

Ufanismo; O vocábulo “ufanismo” deriva do verbo ufanar-­se, que significa ter ufania, jactar­-se, vangloriar­-se.

 Ufania é o estado ou qualidade de ufano, vaidade exacerbada, jactância, orgulho que representa uma atitude ou sentimento adotado por aqueles que se vangloriam exageradamente das riquezas ou belezas naturais do Brasil, bem como de suas realizações em vários campos (economia, artes etc). Tendo como base o panorama literário que corresponde o final do século XIX, alguns autores como Oliveira Viana, Nina Rodrigues, já lastimavam o atraso brasileiro resultante da inferioridade étnica, enaltecendo a raça superior branca que constituíra a Europa. É no início do século XX, após a consolidação da República, que começam a surgir as correntes nacionalistas que se remetem às riquezas do país.

POR QUE BRASILEIRO SENTE FALTA DO BRASIL?

Quando estive em terras de Pinochet e de Alfonsin, lá pelos anos 80, embora estivéssemos em terras de hermanos, a falta que sentia de meus irmãos brasileiros era enorme.

Ao ouvir, certa feita, uma conversa em português, que não conseguia localizar de onde estava vindo,  em Viña Del Mar, corri por aqui por ali até encontrar quem eram os brasileiros, falar com eles e ouvir meu idioma.

Era como uma senha, talvez. Não havia internet, obviamente, e as ligações telefônicas internacionais eram caras.

Gosto do sol dessas montanhas, que fui agora ali fora admirar e lá fiquei, sem nenhuma vontade de ligar TV, nem ler portais que sejam portadores de más notícias.

Passagem para a França

DEUSES DE AQUARELA

Louvo cores
louvo carícias de ondas
em  areias sensíveis.
Louvo  tonalidades,
subtonalidades,
como  tingidas por deidades
inequívocas.
Louvo por  encontrar
no céu
no mar
na areia
mais do que céu mar areia.
Louvo  o chão de meu torrão
porque não tem o Tejo.
Mas tem meu mar
meus rios,
meus lagos e minhas lagoas.
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Trecho do espetáculo “Ser Minas Tão Gerais”, do grupo de teatro PONTO DE PARTIDA e MENINOS DE ARAÇUAÍ, de Barbacena, MG (as citações no início do vídeo são trechos da canção “Milagre dos Peixes” de M.Nascimento e trechos do poema “Visão” de Carlos Drummond de Andrade).

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E eu? Sigo com esse barquinho …

Se Deus existisse…

Texto e poesias: Odonir Oliveira

Imagens retiradas da Internet

1º Vídeo: Canal Odonir Oliveira

2º Vídeo: Canal juremasong

3º Vídeo: Canal Cidinha Tricolor

4º Vídeo: Canal Carmelo cantora e atriz

5º  Vídeo: Canal RobDigitalBR

6º Vídeo: Canal Elson de Paula

Que mulher sou eu? 8 de março

Olha aqui … hoje, amanhã e sempre serão dias das mulheres. A data tem sim importância histórica por lembrar o fato que gerou  e impulsionou a luta pelas conquistas atuais. E ainda teremos muito que lutar para alcançar todos os outros direitos a que fazemos jus.

Sou uma mulher comum. Nada de especial em gênero, número e grau. Sou do signo de virgem, carioca, de ascendência mineira e de oráculos gregos. Sou um pouco Antígona, Medeia e Filomena. Componentes perceptíveis de  Prometeu e Afrodite. Sou pagã e sacra, segundo as estações.

Vivo uma paideia  numa ágora ateniense, em pleno século XXI.

MULHER DIARIAMENTE

Não está vendo ali?
É uma mulher.
 
Tem cheiro de mulher
Tem jinga de mulher
Tem sorriso visguento de mulher
Tem redondos e doces de mulher
Não está vendo ali?
 
É uma mulher.
 
Chora aos baldes como mulher
Ensina aos ventos e tempos como mulher
Arremata discursos com exclamações sem vírgulas como mulher
Cuida de seres animais, vegetais e humanos como mulher.
Não está vendo ali?
 
É uma mulher.
 
Enfeita o cenário
Compõe a moldura
Derrama tintas
E socorre feridas.
Não está vendo ali?
 
É uma mulher.

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CABEÇA, TRONCO E MEMBROS

Sangrou, chorou, morreu.
Renasceu, sofreu, morreu.
Gozou, sorriu, rezou, morreu.
Pariu, amamentou, morreu.
Criou, sofreu, chorou, morreu.
Dormiu, sonhou, chorou, morreu.
Trabalhou, amargou, acabou, morreu.
Renasceu, coloriu, entregou, morreu.
Escutou, aconselhou, partiu, viveu.

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MÃE, EU SOU VOCÊ?

“Quem quer ser outra deixa de ser uma, mãe?”
“Quem quer ser outra é sempre outra e uma, filha.”
 
Aquela mulher era uma onça.
Parindo cinco filhotes de parto natural
Amamentado-lhes bocas por toda sua vida
Lavando, passando, cozinhando, costurando
 
Mãe mais que mulher?
Mulher bem maior que apenas mãe.
 
Dos ditos, sempre bem ditos, a sabedoria herdada do pai-avô por ventos mineiros.
Com olhar arqueólogo de almas, um chiste, uma picardia.
Ferro nos braços, nas pernas, no peito.
Coração de manteiga derretida e esconderijo de sentimentos.
Onça, minha onça mineira, eu também sou você, mãe?
 
Sou?
 
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MULHER, PROJETO DE SER ULTRA-ROMÂNTICO

“Cale a boca, que mulher não fala assim.”
Mulher tem que ser dócil, perfumada, colorida
Mulher tem que ter a malícia de enganar
a curvatura do despiste,
a leveza de ludibriar sem desmerecer o ludibriado.
 
Mulher tem que acatar, acalentar, afagar, encantar.
Mulher é frasco, embalagem, pacote bonito de fitas de seda.
Mulher tem que saber o seu lugar e ocupá-lo com prazer.
 
“Quem quer saber do meu prazer? Você quer?
Senta aí que eu te conto”.

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MENINA MOÇA

A beleza dele só pra mim?
O beijo dele só pra mim?
O olhar dele só em mim?
O riso dele especial em mim?
A dança dele só para mim?
O abraço dele só em mim?
A canção dele só pra mim?
O poema dele só pra mim?
O afeto dele só pra mim?
 
Rosa e azul,
azul e rosa,
pares dançados
pares trocados
pares troçados
pares sonhados
pares conquistados
pares lançados
pares ansiados
pares destroçados
 
Vermelho e negro

 

MULHER DE OUTONOS

Calem-me aqueles que conseguirem.
Não vai ser fácil.
Aprendi a escrever com letras maiúsculas o de dentro de mim.
Não consigo mais esquecer como se faz.
 
Beiro as últimas estações de uma existência
Delas colho flores nas primaveras
Recolho folhas secas e murchas nos outonos.
Ensandeço e ardo nos verões
Quedo semimorta de cansaço nos invernos de meu sofrer.
 
Não quero mais amores que já tive.
Não quero mais emoções que já vivi.
Não quero mais dores que já senti.
Não aceito mais meios, terços e quartos.
Gosto de inteiros, cheios, amplos e grandes.
De tudo que estiver comigo
seja o que for
seja quem for.
 
Sou mulher.
Estou nos outonos de mim.
Faltam-me poucos meios-dias e meias-noites
Assim desejo-os inteiros.
Nada pela metade.
Ainda que só eu mesma é que saiba
o que é inteiro e o que é apenas metade.

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PROFESSORA, ESSA MULHER

Como um presságio, seu mestre mandou:
“Toda mulher deveria ser professora para poder ajudar na educação dos filhos mais tarde”
Faremos tudo que seu mestre mandar.
Até a página dois, querido mestre.
 
Trabalhadora, trabalhadeira,
segue a mulher no caminho das escolas, dos alunos,
com sua varinha de condão.
Magias retiradas de tapetes mágicos e cartolas de coelhos sábios,
cantarolando melodias de bruxas do bem,
disparando saberes e sabores de seus mestres gregos,
qual um desses seres brotados das páginas
de seus ensinadores livros encantados.
 
Corre por avenidas, estradas, sobe ladeiras, escadas
entrega mensagens de anjos, serafins e querubins aos infantes meninos
que bebem suas artes, palavras e mágicas
como fossem verdades únicas,
quando não passam de pequeninas estrelas
a brilhar, algum dia, nos céus.

Samba da Criola Doida

Por Cami Rocha

Odonir Oliveira- Publicado em 7/3/2016

Eu tinha dez anos quando meus pais ficaram sem dinheiro para manter eu e meu irmão na escola particular e fomos estudar na prefeitura. O ano era 1997 e as coisas na EMEF Rui Bloem eram bem diferentes com o que estava acostumada. Pra começar, fiquei durante um tempo sem professora de português. Toda vez que chegava mais cedo em casa por causa das constantes aulas vagas, minha mãe ficava preocupada. Não ter aula de português, uma disciplina BÁSICA e FUNDAMENTAL, como ficaria o meu aprendizado? Uma vez minha mãe foi reclamar com a diretora da escola e escutou“Mãe, eu estou preocupada com as alunas de 13 anos que estão grávidas no momento. Desculpa, tenho coisas mais importantes pra me preocupar”.

Na sexta série conseguimos uma professora fixa, mas não me lembro do nome dela. Os boatos nos corredores do Rui Bloem era que o pessoal da minha sala tinha sorte, porque a professora que ensinava a outra metade das classes da sexta série era uma bruxa. O nome da professora era Odonir. Minha melhor amiga na época tinha aula com essa professora temida e reclamava horrores. Minha amiga tinha lição de casa, a professora passava projetos, lia poesia. Eu não estava aprendendo nada disso.

Lembro que a professora Odonir iniciou um projeto de leitura que acabou envolvendo todas as sextas séries. Muitos dos meus colegas de classe estavam achando um absurdo “ela nem era a nossa professora” e depois teve mais um “boicote” porque o livro era “caro demais”. No final todo mundo leu o livro da Isabel Vieira que se chamava “Quem sequestrou Marta Jane?”. Eu lembro que no final os livros saíram a preço de custo e a professora Odonir trouxe a escritora na escola pra conversar com a gente sobre o livro. Numa escola de prefeitura em 1998, sem apoio nenhum, trazer uma escritora no Rui Bloem era um grande feito.

Naquela época foi plantada a sementinha da leitura em mim. Eu já gostava de ler e acabei me interessando mais. Acabei pedindo para a minha mãe comprar outros livros da Isabel Vieira. Li todos os livros disponíveis dessa autora na época e comecei a frequentar a biblioteca da escola. No ano seguinte (se não estou enganada) a professora Odonir acabou pegando todas as turmas de sétima série e eu tive o prazer de ser aluna dela.

Antes de continuar com essa história, preciso pintar um pequeno cenário para vocês. Quando comecei a estudar no Rui Bloem, era uma escola bem desacreditada. Ninguém usava uniforme, não havia muitos professores, tinha algumas gangues dentro da escola. Aos poucos as coisas foram melhorando para nós alunos (não sei quanto aos professores). Mesmo assim, ainda tinha muita briga, uma série de alunos bem problemáticos. A nossa professora de matemática simplesmente não conseguia dar aula direito. Ela tinha um filho com necessidades especiais e alguns alunos caçoavam por disso. Ninguém respeitava a prof. Lóide. Os meninos, dia sim e dia não, furavamTODOS os pneus do fusquinha amarelo dela. Ela nem podia mais estacionar o carro em frente da escola. A maioria dos professores tinha receio de certos alunos. Vi muita gente mandar o professor calar a boca. E eles se calavam diversas vezes. Uma vez escutei que tinha um cara lá (que por sinal estava na minha sala) que ia armado pra escola, que era chefe de boca. Se isso era verdade ou não, eu não sei. Mas havia um pessoal que botava medo ali.

A professora Odonir sempre foi muito enérgica. Ela nos fazia pensar, refletir, realmente fazia valer aquele nosso tempo na escola. Agora no Rui Bloem tinha até festival de poesia (que eu participei de livre e espontânea vontade). Ela nos fez pesquisar sobre os poetas e escritores de Minas Gerais e São Paulo numa época que não existia Google. Toda semana eu estava na Biblioteca de Pirituba pesquisando sobre algum projeto que envolvia as aulas de português e literatura. Ela nos fez preparar dossiês, recitava poesias, lembro até que organizou um debate entre os alunos na época das eleições para a prefeitura de São Paulo. Cada grupo defendia um candidato e, daquele jeitinho, a professora Odonir nos ensinava argumentação. Na oitava série escrevemos inúmeras dissertações porque tínhamos que estar preparados antecipadamente para o vestibular. Ela não tinha medo de aluno, impunha respeito (levei bronca diversas vezes porque sempre falei mais que a boca) quem fazia bagunça e não respeitava a autoridade dela em classe, era colocado pra fora.

Chegou o dia em que fui pra escola e estávamos de aula vaga de português. Da professora Odonir. Como assim? Ela NUNCA faltava! E se tinha que se ausentar, deixava atividade. Mais tarde circulou a notícia que a professora tinha sido ameaçada de morte por um dos alunos. Não sei se ela ficou ausente uma semana ou quinze dias, pra mim foi uma eternidade. Eu estava chateada e com um pouco de medo. Ameaça de morte é coisa séria.

Então depois de um tempo, a professora voltou pra escola. Voltou pra nossa turma. Lembro que pisou dentro da nossa sala e um engraçadinho cantou baixinho a marcha fúnebre. Mesmo assim, ela não se curvou. Explicou a situação com clareza para classe e disse que iria continuar exercendo a sua profissão e que não tinha medo de bandido disfarçado de aluno. E que não iria nos abandonar e ficaria no Rui Bloem até o final das aulas, contrariando as recomendações da polícia e de sua família.

Quando eu cheguei ao primeiro colegial (agora em escola particular através de uma bolsa de estudos) eu realmente entendi o que a professora fez por todos os seus alunos ali na prefeitura. Entrei no ensino médio com uma imensa bagagem literária e gramatical. Ela nos preparou pra vida do vestibular, aguçou a nossa curiosidade, formou pesquisadores, despertou o interesse pela leitura. Não sei se todos os meus colegas na época aproveitaram tanto quanto eu aproveitei. Mas a oportunidade foi dada. Ela realmente tinha vontade de nos ensinar, de fazer a gente aprender.Professora Odonir se importava de verdade.

Essa semana é a semana do Dia Internacional de Luta das Mulheres. Não é uma data comemorativa, é uma data de luta. Quero começar a semana contanto pra vocês essa história de perseverança da professora Odonir. Toda vez que penso nesses acontecimentos, agora com os olhos da maturidade, eu me emociono. É preciso muita força e resiliência de ser professora, de levantar todos os dias e saber que pode não voltar pra casa e mesmo assim ir. Munida de cadernos e livros, enfrentar uma classe com quarenta pré-adolescentes eufóricos e QUERER estar . Resistir. Ensinar. Lutar todos os dias. Mas lutar de verdade. Esta deve ser apenas uma nota de rodapé na história desta mulher maravilhosa, que levou a sério sua profissão de ensinar e formar pessoas. Com ela não tinha aula vaga, não tinha corpo mole. Desde cedo nos preparando para a vida fora das paredes da escola.

Recentemente o Facebook me trouxe notícias da professora-poetisa. Atualmente ela publica suas poesias em um blog Mãos que Sentem e mantém e organiza o“Clubinho da Leitura de Barbacena” voluntariamente. É um trabalho inspirador e transcendente. Imagino que introduzir o gosto pela leitura de uma forma tão lúdica nessas crianças deva ser uma experiência mágica. Ler é mágico. A Professora Odonir é a melhor Mágica que eu conheço.

http://sambadacrioladoida.blogspot.co

RESPONDENDO:

m.br/2016/03/odonir-oliveira.html

Obrigada, querida Camila, você me engrandeceu o dia.

Beijo da Odonir

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Marcio Leon