ENSINAMENTOS
“Coloca-te no teu lugar, mulher !
Olha ao redor, o tempo é de imagens, de viço, de gargalhadas.
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Aqui só pernas… fininhas
Aqui só seios … durinhos
Aqui só pele clarinha… bronzeada… lustrosa
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Aqui só vitrine, só perfume, só novidades …
Coloca-te no teu lugar, mulher !
Briga por teu homem, por teus homens, enfrenta, guerreia !
Enfeita-te, perfuma-te, enfeitiça …
Coloca-te no teu lugar, mulher! “
Setembros,
muitos,
trazem ensinamentos.
Não, não vou por ali.
Minha vereda é de raízes.
MAIS UM ANO DE VIDA
Um setembro depois do outro
gargalhadas, risos, sorrisos …
“Acorda, que se foram mais de seis décadas …”
responsabilidade inegável na bagagem
escolhas definitivas na bagagem
ações definitivas na bagagem
Não cabem nela mais arroubos, nem fortuitas ilusões
O tempo urge
A vida urge
A sensibilidade à flor da pele.
Setembros, de décadas em décadas, sempre ofereceram jardins de mudanças.
Florir !
VIOLÊNCIA MORAL
1-”É o capeta”
São 3 da tarde, um carro está estacionado na porta da garagem da casa, obstruindo a saída. Aguarda-se que se retire o automóvel. (Em outras situações semelhantes, a dona da casa, senhora de quase 70 anos, telefona para a autoridade competente, visto que já fazia mais de 24 h que um carro estava ali, como fosse dele a residência e pudesse parar onde quisesse. Sofre represália e ofensas verbais após a chegada do policial de trânsito e a pressão para retirada do carro).
Depois de 3 horas, um homem que parecia ser o dono do auto se aproxima, a senhora pergunta se é dele, responde que é de 1 que está conversando mais para a esquerda, com 2 outros na porta – VAZIA – de 1 deles. A senhora pergunta e pede que retire o carro, que está lá há horas, que da próxima vez que vier fazer uma visita, estacione na frente da casa de quem for visitar. O motorista pede desculpas e sai. O dono da casa, morador, rústico, recalcado por uma fala fanha, e agressivo, diz à senhora. ”ISSO É OU NÃO É O CAPETA? É VELHA, A IDADE FAZ ISSO”, continuando a proferir ofensas morais e psicológicas COVARDES para justificar e acossar quem estava CORRETA. Ela se retira pra evitar o confronto com o machismo explícito. Mora sozinha, sem macho em casa.
2- ”Você tem consciência disso, né?
Namorado acaricia o rosto da namorada jovem e chama a atenção para uma penugem sobre sua boca. Pergunta se ela tem consciência de que ali sua cor de pele é mais escura. Ela responde que é natural ser assim. Ele, insiste, desqualificando-a com aquilo. Mas depois continua usufruindo de seu corpo, normalmente, sem que aquilo fizesse qualquer diferença para ele. (Assim outros o fazem com o peso das suas mulheres, com o formato de seus seios e bunda e muito mais. Valorizam abertamente outras, diminuindo as suas. Contudo, continuam usufruindo de seus corpos). São chamadas de loucas, obsessivas, ciumentas, agressivas … Mulheres de pouca autoestima sofrem, angustiam-se, deprimem-se com muitas dessas atitudes de um machismo estrutural e se submetem a cirurgias estéticas, colorem os cabelos, fazem dietas cruéis … Umas mentem a si mesmas de que o fazem por si mesmas, porque querem, porque se desejam empoderadas etc. no fundo, são produtos do mesmo machismo estrutural que ignoram ou até repudiam.
Violência não é só a física não.
PRESENTES
Quem me sabe percorre meus gostos e sabores do meu jeito
Quem me sabe me enfeita de gestos singelos, significativos, majestosos
Quem me sabe me recheia de mimos a alma, com fragrâncias insubstituíveis
Quem me sabe me presenteia
diariamente
episodicamente
emergencialmente.
Quem me sabe me leva ao céu com um sinal
Quem me sabe entende meus ritos, meus riscos, meus gritos.
Quem me sabe está.
Leia também:
”Violências contra a mulher II”
Violências contra a mulher II
”Violências contra a mulher III”
Violências contra a mulher III
Poesias e texto: Odonir Oliveira
Vídeos:
1- Canal GNT
2- Canal Biscoito Fino