“… Mas, de mãos dadas…”

O rapaz no programa da TV a cabo compartilha a reclamação de sua amiga “Todo homem me deseja e quer me comer, mas andar comigo de mãos dadas nenhum quer”

POEMA NARRATIVO
(ainda que metafórico)
Um homem faz serenatas diárias para uma mulher
Se…
Buscado, encontrado teteatemente, desconhece, evita, desmaia
Um homem lê versos, em completa solitude, devaneia, levita
Se…
Pesquisado, encontrado, frente a frente, nega, evade-se, desaparece
Um homem corteja uma mulher, assedia, persegue, declaradamente
Se…
Alcançado, visto tiquetotiquemente, desfaz, retira-se, encoberta-se
Um homem fala sacanagens, recita palavras chulas, seduz pelo inverso
Se…
Atingido, abraçado, alcançado, atado, evade-se, refugia-se, oculta-se.
Um homem é doce, solícito, solidário, fraterno, alma gêmea
Se…
Manifestado, declarado, flechado, alma gêmea
-Desculpe o engano. Sou gay.

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: margaridões do quintal

Vídeos:

1-Canal Denis Campos – Tema

2- Canal PiaNostalgia

Meu bem querer

MUCAMA

Fez que saía
deu a volta e entrou pelos fundos
enrodilhou a negra mocinha
riu dela
se esfregou nela
tapou sua boca
Clara dos Anjos sem defesa
moça donzela a sonhar com o seu Tião
esse capataz tinhoso, meloso, jocoso
riu dela
enfiou-lhe os dedos em dentro
ela se estrebuchou
riu dela
levantou sua saia
pressionou Clara na tina de lavar
ela gemeu
ele gemeu
Clara dos Anjos
Clara do seu amado Tião
Clara mais não.
Clara entregue, exposta, de costas
por medo
por pavor
ele gemeu
ela gemeu
Clara mais não.

MEU BEM QUERER

De Clara se encantou seu dono

De Clara se enfeitiçou seu dono

A sinhá se apercebeu

A sinhá se calou

A sinhá fez que não viu

A sinhá fez que desmereceu

O dono de Clara se fez seu amo e sinhô

De cama, a Clara

De matas, a Clara

De cantos, a Clara

O filho mestiço no ventre

O desvelo com Clara

O fascínio do sinhô

A sinhá se calou

A sinhá fez que não viu

Clara do ventre às mamas

Clara das mamas à mucama

A sinhá exige a venda

Aparta Clara do filho

De Sabará a Diamantina, uma

De Sabará à Corte, outro.

O sinhô campeia.

A sinhá se cala.

Clara dos Anjos

Zumbi dos sempres.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Biscoito Fino

Ardidas como pimenta

Tema do filme “Calamity Jane” (Ardida como pimenta), de 1953

ARDIDAS COMO PIMENTA

-Mãe, qual seu filme preferido?

-“Ardida como pimenta”, Doni.

O olhar de picardia,

a experiência percorrida

a acidez do olhar crítico

o pé atrás desconfiado

ardida como pimenta

que não lhe cobrassem açúcares

preferia salgados a doces

-Quem vive mudando não tem personalidade.

-Quem é admirada por todos…fuja dela.

Ardida como pimenta

a fornada genética

o tabuleiro do empadão

o café de coador de pano

os bifes acebolados

o alho pilado

o feijão de caldo grosso

a couve rasgada

o angu molinho com leite

As veias bailarinas ensinam

ardidas como pimenta!

A “PASSARELA PLÁCIDO”: Meu pai, durante mais de 10 anos, mandou cartas a políticos do Rio solicitando uma passarela que ligasse a rodoviária até o lado dos Armazéns Gerais, onde os passageiros que fossem para Duque de Caxias, Petrópolis, FNM e proximidades esperavam seus ônibus. Para fazê-lo, pedestres arriscavam suas vidas, fazendo a travessia com malas, crianças e quase sempre se registravam acidentes e até mortes ali. Após tantos anos e muitos envelopes, selos e tarifas gastas por meu pai (com reclamações de minha mãe) foi construída a imprescindível passarela. Meu pai nunca desistiu, guardava as respostas dos (assessores) políticos etc. Sempre que ia buscar um parente na “Novo Rio”, um visitante, recitava sua peregrinação missivista até conseguir a tal passarela – o que passou a evitar tragédias nas travessias de transeuntes pelas 2 pistas. . Dizia ser ”A passarela Plácido”. Meu pai era ardido como pimenta. E minha mãe dizia que de plácido ele só tinha o nome.

Rodoviária Novo Rio – Década de 1960

A antiga Rodoviária Novo Rio, hoje chamada de “Rodoviária do Rio”, foi inaugurada em 1965 por Carlos Lacerda então governador do Estado da Guanabara. A imagem retrata o terminal em seus primeiros anos de vida.
A Rodoviária do Rio possui papel fundamental no deslocamento da população e dos turistas que visitam a cidade. É utilizada por mais de 38 mil passageiros diariamente. Esse número chega a 70 mil em vésperas de feriados prolongados. São mais de 188 linhas intermunicipais, interestaduais e internacionais operadas por 41 empresas de ônibus. As 75 plataformas possuem capacidade para operar 234 embarques ou desembarques por hora.
A pesquisa é da página Memórias do Subúrbio Carioca e o acervo é da Rodoviária Novo Rio.

Fonte: Memórias do Subúrbio Carioca

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Fotos de minhas pimentas do quintal- hoje

Vídeo: Canal John LeGear

A fonte do lirismo

FONTE DE LIRISMO

vozes ao longe ensaiam um roteiro

cenas mornas

a atração

a motivação

a fonte

o lirismo

distante do burburinho

 bebe

ouve sinfonias celestiais

na fonte

bebe

na fonte

brisas de sílabas em rimas

bebe

na fonte

toques de peles vizinhas

bebe

na fonte

a mão divina a semear lirismo

bebe na fonte

perfumes de sílabas sem rimas

bebe na fonte

cores de arco-íris quentes

água da minha sede

bebe

ACALANTOS

Vivendo por décadas na grande metrópole, muitas vezes comprava fontes de pedra para adivinhar o som das águas dentro da minha casa. Podia ficar meditando por horas ouvindo o lirismo das águas a borbulharem só para mim. Creio que me traziam a natureza da forma mais singela que ali eu poderia ter.

Enquanto aguardava os tempos, fundava em mim os sonhos que se avizinhavam, alinhavava roteiros, costurava trajetos, até riscar minhas picadas definitivas. Voltei para a terra, para os rios, para os verdes. Escolhas últimas, contudo, primeiras. A existência juntando as pontas em mim.

Poesia e texto: Odonir Oliveira

Vídeos: Canal Odonir Araujo

Fotos de arquivo pessoal

Vozes de ventos

VOZES AO VENTO
Um turbilhão
sons vêm e vão
palavras soltas
frases soltas
interrogações
exclamações
interrupções
Um turbilhão em vão
bocas perdidas nos tempos
línguas perdidas nos tempos
Ouço
apenas eu ouço
alinhavo sentidos
ligo metáforas
costuro intenções
Um turbilhão em vão
uma dança de folhas
revelando emoções
agarro umas
me escapam
Solto outras
voltam em redemoinhos
Há eco nas ondas ao vento
Há verdes nas cores ao vento
Há olor de almas
Há fragrâncias vividas
Ouço vozes ao vento!

NEM JOIO NEM TRIGO
Há um atropelo em meu coração
nem joio nem trigo
sofreguidão
angústia
tropeços
quedas
precipícios
abismos
sangue sob pressão alta
a tensão
atenção
nem joio nem trigo
repilo os ventos
nem joio nem trigo
o dito e redito
conflito
desdito
maldito
nem joio nem trigo
acalanto aos ventos
confidências aos ventos
nem joio nem trigo

Poesias: Odonir Oliveira

Vídeos: Facebook de Odonir Araujo

Claude e Claudine

COMO CLEO E DANIEL

Naqueles anos 70, o corpo era fogo que ferve, o amor era fogo que arde e as convenções eram conversa para salas de jantar burguesas. Arriscava-se – utopias nada – fatos e atos eram exercidos com corações e mentes, em todas as dimensões individuais e sociais. Depois do existencialismo de Sartre, do feminismo – sem cartilha – de Simone de Beauvoir, do ‘’Faça Amor, não faça guerra’’ hippie, da geração beat de Kerouac e a contracultura, éramos nós os agentes de nossas vidas, documentos comprobatórios, certidões, régua e compasso não faziam parte de nossa checklist – digamos assim. As drogas pesadas ainda não haviam impregnado aquela geração. Talvez a erva mais popular fizesse parte de alguns cotidianos. No mais, era ler, aproveitar os dias e as noites e AMAR, mas AMAR muito. Se desses AMORES acontecessem frutos doces, assumiríamos a sua brotação, os criaríamos com sol, luz e fortaleceríamos nossos frutos com valores humanistas, solidários, repartindo fosse o que fosse, com outros.

Claude amou muito Claudine naqueles anos 70. Cursava arquitetura e a amada, artes. Ele na FAU. Ela na ECA. Foram anos de muitos papos repletos de cerveja, caipirinha e risos no Rei das Batidas, na entrada do campus, junto ao ponto do ônibus Circular. Ponto de encontro de gente muito jovem, linda, repleta de amor, de carnes duras e de peles sensíveis. Mãos quentes, bocas que pedem beijos, corpos que pedem sopros de vida.

Claude amou muito Claudine naqueles anos 70. Ambos moravam sozinhos, em bairros diferentes da cidade. Não tinham família em Sampa. Tinham vindo para estudar, se formar, trabalhar. E o AMOR era imprescindível para isso. Encontravam-se para o AMOR ora no apartamento de um, ora no de outro. Eram alegrias. Não faziam planos. Seguiam o curso dos dias. Outra coisa importante entre eles é que eram leais. Um era especial para o outro. Em tempos de pílulas anticoncepcionais, a cama brotava do asfalto, do barzinho, das carteiras da USP. Mas ambos eram especiais para si mesmos. Gostavam de sua intimidade conquistada aos poucos, de sua entrega e, sobretudo, de sua elogiável lealdade.

Claude amou muito Claudine naqueles anos 70. As décadas levaram os barcos por rios e mares distantes. Encontraram-se algumas vezes, com a lealdade de sempre. Mais velhos, menos corpos durinhos, menos peles macias, mas com a lealdade de sempre confidenciavam o que viviam, o que haviam construído, sucessos e insucessos. Leais.

Ontem, Claudine visitou o campus da USP.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

Filme noir

O DUPLO DE SI

ando em par

acordo os vãos das janelas entreabertas

um ser estrangeiro em cenas familiares

ando em par

vislumbro luzes de filme noir

portas fechadas por fora

portas fechadas por dentro

ando em par

a bruma abraça a noite

o vento gelado acaricia a tez

o sussurro atiça a memória

ando em par

 a serra corta a madrugada eterna

há um sopro de antiguidade nos ouvidos

uma bebida quente aconchega pensamentos

ando em par

olhos cerrados enxergam o futuro

mãos fechadas carregam as notícias

pés quentes confirmam os dias

ando em par

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Ennio Morricone

Os Inconfidentes da Borda do Campo

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN

ainda que tarde
arde
ainda que tarde
queima
ainda que tarde
sofre
ainda que tarde
chora

ainda que tarde
maltrata
ainda que tarde

discrimina

ainda que tarde
luta
ainda que tarde
age
ainda que tarde

grita
ainda que tarde
executa
ainda que tarde
corta
ainda que tarde

extirpa

ainda que tarde
acolhe
salva
liberta

Vídeo: Canal Roberto Ribeiro -Tema

História de Nossa Terra III: Os Inconfidentes da Borda do Campo

Por Silvério Ribeiro

“A Inconfidência Mineira, movimento político tido como conspiratório e separatista, ocorrido na então Capitania das Minas Gerais, teve origem nas reivindicações dos principais (inconfidentes) contra a execução da Derrama, um dispositivo fiscal aplicado a partir de 1751 a fim de assegurar o piso de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto, ou seja, uma retenção de 20% do ouro em pó, em folhetas ou pepitas que era direcionada à Coroa Portuguesa. Os fazendeiros ou graduados afundados em dívidas seriam os mais prejudicados se a medida da Derrama se efetivasse.

A partir de 1787, a corrupção dos governantes da Capitania das Minas Gerais, aliada aos boatos de que a Derrama iria mesmo ser implementada, mesmo contra a vontade dos principais naquelas terras, fez desencadear um processo de resistência. Os ventos revolucionários que haviam desencadeado a independência das colônias norte-americanas, acenderam a chama iluminista em solo brasileiro. A ideia original de apresentação de uma reivindicação escrita destinada às mãos do novo governador da capitania, Dom Luiz Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça, o Visconde de Barbacena, transformou-se num ardil objetivando a tomada do poder por elementos mais radicais da capitania, em especial, pela tentativa de liderança desse movimento por um obscuro alferes da Cavalaria de Minas Gerais, de nome Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Os fazendeiros e aqueles envolvidos na decadente exploração do ouro nas Minas Gerais estavam insatisfeitos com a possibilidade da Derrama. O movimento de resistência começou entre poucos abastados, levando alguns alimentar a hipótese de irem além de uma simples declaração enviada ao governador no sentido de sustar, pelo menos, temporariamente, a execução da Derrama. O assunto que antes se desenvolvia em conversas de salão ganhou corpo entre clérigos, poetas e militares da capitania. Distorcidas as reivindicações originais contra os elevados impostos da Coroa, transformou-se a ideia num boato, iminente levante político-militar que resultaria na independência das Minas Gerais ou do Brasil.

Durante muito tempo permaneceu quase desconhecida a conjuração mineira, abafada ao longo da história. O discurso republicano de fins do século XIX, portanto, cem anos depois, trouxe à tona os desdobramentos da Inconfidência e na ânsia de criar heróis que justificassem o golpe político-militar que instalou no Brasil o novo regime, um mito foi construído.

Os Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, em sete volumes, sob guarda do Arquivo Público Nacional, contêm documentos detalhados do que foi apurado pelos governantes e a justiça da época, o envolvimento de distintas figuras do clero, das forças militares e da governança dos idos de 1789. Dentre os presos e condenados que somam quase duas dezenas de pessoas, além de outros que sequer foram ouvidos perante o tribunal, se destacam:

[…]

Na comarca de Rio das Mortes, área que envolvia também a Borda do Campo: Joaquim Silvério dos Reis, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira, Carlos Correia de Toledo e Melo, Luís Vaz de Toledo Piza, Domingos Vidal Barbosa Lage, Francisco Antônio de Oliveira Lopes e José Ayres Gomes.

[…]

A delação dos inconfidentes foi realizada por um ardiloso Joaquim Silvério dos Reis, devedor do fisco. O Visconde de Barbacena, espertamente, cancelou a execução da Derrama, providenciou a prisão dos envolvidos e pôs fim ao movimento em seu nascedouro.

Na Borda do Campo temos o registro da participação de seis inconfidentes: Domingos Vidal Barbosa Lage, exilado para Ilha de São Tiago de Cabo Verde; o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, degredado em Bié, na África; o seu irmão, o Padre José Lopes de Oliveira, encarcerado na fortaleza de Inhambane, em Moçambique; o Coronel José Ayres Gomes, que morreu no mesmo presídio, o Padre Manuel Rodrigues da Costa, residente na Fazenda do Registro Velho, o único dos seis que conseguiu retornar de seu exílio e Joaquim Silvério dos Reis, o delator.

Detalhes sobre os inconfidentes da região da Borda do Campo:

Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Leiria Grutes (1756-1819) contratador e fazendeiro, foi o primeiro delator da conjuração mineira, natural da cidade de Leiria, no Reino de Portugal, então solteiro e residente na Borda do Campo, tinha ali várias propriedades, as fazendas da Caveira de Baixo, da Ressaquinha e da Trapizonga. Segundo atestou o Visconde de Barbacena, em 25 de fevereiro de 1791, Joaquim Silvério denunciou-lhe, oralmente, a conjuração, tendo-o feito logo depois por escrito a delação que se acha nos autos. A denúncia escrita é datada da Borda do Campo. Negociou a delação em troca do perdão de suas dívidas junto ao fisco. Joaquim Silvério sofreu um atentado anônimo, a bala, em junho de 1790, no Rio de Janeiro. Em Minas, na porta de sua residência, um homem levou coronhadas na cabeça à noite, quando se vestia com uma roupa parecida com a do contratador. Tentaram incendiar a sua casa e era xingado nas ruas. Mudou-se para Lisboa em 1794, onde ganhou uma pensão do governo. No mesmo ano, o príncipe regente Dom João lhe perdoou a dívida. Retornou ao Brasil acompanhando a Corte, em 1808, e fixou residência no Maranhão. Morreu em 1819.

Domingos Vidal Barbosa Lage (1761-1793) foi médico, um dos dois estudantes que se encontraram com Thomas Jefferson, líder revolucionário norte-americano, na França. Barbosa Lage era primo de Francisco Antônio de Oliveira Lopes e do Padre José Lopes de Oliveira. Barbosa Lage foi preso no dia 19 de julho de 1789 e conduzido à cadeia de Vila Rica. Ele foi a 27ª pessoa inquirida na Devassa, sofrendo diversos interrogatórios em Vila Rica e no Rio de Janeiro. Barbosa Lage foi considerado parte ativa na conjuração por saber de detalhes para se produzir pólvora no Brasil e também do conhecimento que possuía dos planos de Tiradentes de matar o governador da capitania, o Visconde de Barbacena.

Francisco Antônio de Oliveira Lopes (1750-1794) foi coronel do Regimento de Cavalaria de Auxiliadores de São João Del Rei e era proprietário de uma importante fazenda na Ponta do Morro, Termo de São José do Rio das Mortes, atual município de Prados. O coronel também exercia atividades de mineração e por sua riqueza, foi um dos poucos implicados na conjuração por idealismo, ao invés de problemas financeiros. Obeso, era chamado de “come-lhe milho” pela sua grande velocidade ao falar. Oliveira Lopes era primo de Bernardina Quitéria, esposa do delator Joaquim Silvério dos Reis. Francisco Antônio de Oliveira Lopes foi casado com a irmã de Domingos Vidal Barbosa, Hipólita Teixeira de Melo Carvalho, autora do famoso bilhete: “Tiradentes foi preso no Rio. Quem não é capaz para as coisas não se meta nelas. É melhor morrer com honra que viver em desonra. Quem não reagir será preso. Convoquem a tropa do Serro e façam um VIVA O POVO!”  O casal não tinha filhos, adotaram um sobrinho de Bárbara Eliodora, de nome Antônio.

Padre José Lopes de Oliveira (1740-1796), homem letrado, formado em Coimbra, nasceu na Fazenda do Ribeirão de Alberto Dias (atual Alfredo Vasconcelos-MG), onde passou a ser capelão a partir de 1763. A sua participação na conjuração mineira se devia à estreita ligação dele com Joaquim Silvério dos Reis, de quem era cunhado e também pelo envolvimento com seus outros parentes: Antônio Francisco de Oliveira Lopes (seu irmão) e José Ayres Gomes (primo).

José Ayres Gomes (1734-1794) um dos homens mais ricos da região, fazendeiro, sócio de João Rodrigues de Macedo. Filho mais novo de João Gomes Martins, fundador do arraial que levou seu nome, mais tarde município de Palmira (atual Santos Dumont-MG), foi casado com Maria Ignácia de Oliveira, filha do Tenente-Coronel Manuel Lopes de Oliveira. José Ayres Gomes tornou-se proprietário das fazendas da Borda do Campo e da Mantiqueira, bem como dos sítios do Quilombo e do Confisco, onde plantava trigo e do Engenho, onde possuía um alambique. José Ayres Gomes, no somatório de suas propriedades, possuía um total de 114 escravos. Proeminente personalidade da capitania, subscreveu o requerimento em que vários proprietários e membros da comunidade do Arraial da Igreja Nova de Nossa Senhora da Piedade (atual Cidade de Barbacena-MG) solicitavam ao governador a elevação do povoado à categoria de vila. Na Fazenda da Borda do Campo ocorreram reuniões de inconfidentes e, várias vezes, Ayres Gomes recebeu o Tiradentes em sua propriedade. A ele foram atribuídos uns versos contra os portugueses que também influenciaram negativamente na decisão dos juízes da Alçada quando de seu processo. Era dito que o Coronel José Ayres Gomes costumava falar dos portugueses com muita injúria, liberdade e soberba, fazendo-se saber que era poderoso senhorio possuidor de quarenta e tantas sesmarias nas Gerais da Mantiqueira, jactando-se que no Brasil ninguém possuía maior ducado do que ele. A tradição conta que, detido, foi imediatamente levado preso para o Rio de Janeiro, não lhe sendo permitido despedir-se da esposa e dos filhos. Condenado ao exílio deixou escrito: Livro de José Ayres Gomes que deixa nesta cidade do Rio de Janeiro para se entregar a minha mulher D. Maria Ignácia de Oliveira e a meus filhos João Ribeiro, José Ayres, João Ayres Gomes e a meu compadre e Revdmo. Pe. Silvestre Dias de Sá para saberem das minhas dívidas e pagar-se as mesmas dívidas até onde chegar o valor dos meus bens para desencargo de minha consciência. Feito este 1º assento neste livro em 6 de maio de 1792 que como vou degredado para Moçambique, para o Presídio de Inhambane e poderei morrer para se saberem arrumar, e ainda que fiquem sem nada paguem a todos. (a) José Ayres Gomes. As suas propriedades foram levadas à praça e arrematadas por sua mulher. João Rodrigues de Macedo foi compadre e sócio de José Ayres Gomes. Macedo foi omitido nos processos da inconfidência mineira, mas é considerado uma das eminências pardas da conjuração.

Padre Manuel Rodrigues da Costa (1754-1844) nasceu no Arraial de Nossa Senhora do Carmo Alegre dos Carijós, filho dos portugueses Capitão-Mor Manuel Rodrigues da Costa e Joana Teresa de Jesus. Era o Padre Manuel Rodrigues afilhado do rico João Rodrigues de Macedo. Estudou no seminário de Mariana e ordenou-se padre em 1780. Manuel Rodrigues sempre residiu na fazenda de sua propriedade, a de nome Registro Velho. Nessa fazenda, o Padre Manuel Rodrigues, hospedou o Tiradentes que o convenceu a participar da conjuração mineira. Os interrogatórios que lhe foram feitos nos dias 30 de junho de 1789 e 22, 29, 30 e 31 de agosto de 1791 declarou ter 35 anos de idade e viver de suas ordens, expôs, em resumo, ter conhecido o Tiradentes quando da época da chegada a Minas do Visconde de Barbacena e que o descontentamento entre o povo era grande com o saído governo corrupto de Luiz da Cunha Menezes. O envolvimento de Rodrigues com o Tiradentes foi confirmado por outros conjurados e ele foi acareado com o Coronel José Ayres, o Coronel Francisco Antônio e Padre José Lopes. O historiador Joaquim Norberto  afirma que, Tiradentes vindo do Rio se hospedou no Registro Velho e falou ao Padre Manuel Rodrigues sobre um levante que se estava organizando na capitania e que este sabia que essas coisas estavam mais adiantadas do que presumia o alferes e que orientara o militar a ser mais prudente e não tocar em tais assuntos com qualquer um e tomar cuidado para que nada de mal lhe acontecesse. Preso, Manuel Rodrigues foi exilado, mas, conseguiu voltar ao Brasil após o fim de seu degredo em Portugal, dedicando-se à administração de sua fazenda, a do Registro Velho. Em sequência à Revolução Liberal do Porto, foi eleito para as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa em 1820. Rodrigues participou ativamente dos acontecimentos que levaram ao Dia do Fico e à Independência do Brasil. Elegeu-se deputado por Minas Gerais à Assembleia Constituinte de 1823 e reelegeu-se para a Legislatura Ordinária de 1826. Em 1831, Dom Pedro I, que o admirava, hospedou-se na Fazenda do Registro Velho, condecorando-o com as Ordens de Cristo e do Cruzeiro e nomeando-o cônego da Capela Imperial. Em 1833, foi o Padre Manuel Rodrigues um dos articuladores do movimento que culminaria com a Revolução Liberal de 1842. Rodrigues foi o último dos inconfidentes a falecer e foi sepultado na Matriz de Nossa Senhora da Piedade em Barbacena.

NOTA DA REDAÇÃO: Silvério Ribeiro é Pesquisador e Escritor.

Artigo completo e bibliografia em: https://barbacenaonline.com.br/historia-de-nossa-terra-iii-os-inconfidentes-da-borda-do-campo/?fbclid=IwAR29Ph-P9Y_2vT4CnfPyX8ei91fETSUT_AXp2O4e3hyPFrQ7dZ6U_9MIpQI

PATAS DE CAVALOS

Há que se ter medo.

Há que se ter cuidados

Há que se ter ouvidos, olhos e mãos de entender.

Há que se confidenciar a poucos.

Há que se omitir de muitos.

A pata, a opressão, a chibata, a inaceitação.

Seguem-nos, cercam-nos, amordaçam-nos

Calam-nos, sem perdão.

São muitos.

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

2-3-4 Monumento a Tiradentes, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Barbacena, MG (onde consta foi enterrada uma parte do braço ou da mão do Alferes Joaquim José da Silva Xavier)

5- Monumento a Tiradentes, em Tiradentes, MG

“Mulher e flor é comigo mesmo”, Juarez

Chico Abelha trouxe um personagem que mistura o Carlinhos, de “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego – polvilhando Alagoas e Pernambuco na infância do cabra-macho-menino com Riobaldo, de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa – permeando sertão dentro de si. Juarez é um homem que abandonou a escola aos 7 anos, saiu de casa aos 8, bebeu até a última garrafa, abandonou a seca rumo a São Paulo, com uma trouxinha, mulher e filho pequenino. Chegou a Monteiro Lobato, por mãos cristãs que lhe apresentaram caminhos de trabalho e sabedoria. É um longa-metragem de encher os olhos, de emocionar. Por isso Chico se emocionou também. É um filme no qual o entrevistador falou pouco porque o roteiro tinha assinatura, o personagem construiu o roteiro por si só. Muito obrigada por nos oferecer um personagem que puxava a ”pexeira” e agora gosta da beleza das flores. Muito, muito obrigada. Vida longa ao Juarez.

UM DIA AINDA FAÇO UMA CASA NO MEIO DO MATO, PRA VIVER EU MAIS MEUS CACHORROS E MEU GATO“, Monteiro Lobato, São José dos Campos, SP- Canal Chico Abelha