A hora do barqueiro. Ricardo Reis, in ‘Odes’ (Heterônimo de Fernando Pessoa)
ESPÍRITOS DA FLORESTA
Espíritos domesticam olhares, sentires e ficares, pelo cheiro, pelo vento, pelo sons do mato do sertão. Espíritos atraem por rochas, por águas, por céus. Espíritos nas florestas polinizam almas inquietas Para sempre.
O MENINO QUE HÁ EM MIM
Se me sei livre,
me vejo aprisionada
em um corpo
que não mais é o meu de nascimento.
Este que me carrega as forças
não tem o viço do outro
o peito cheio de sonhos
a cabeça enfeitada por desejos
as mãos de perseguir bolinhas de mercúrio dos termômetros.
O que sei é que o menino que havia em mim
já há muito deixou este corpo
e vive em outro
fresco de memórias
doce de afagos
encantado com um trem.
AQUELA FIGUEIRA
Na vereda encontrei aquela figueira. Fiquei ali. Copa magnífica. Dos verdes, todos. De denso, o tronco. De lastro, histórias De expressão, singular. Estáticas, ambas. Incomum. Raízes para sempre em mim.
LADO A LADO
gramínea nativa
purificando
enfeitando
decorando
alimentando
o ar que respiro
as matas em que piso
as casas que me acolhem
as estradas que me recebem
Não se dobra sozinha
Menos ainda em feixes
ar
terra
força
berço
união
Beleza !
O GRITO DAS CIGARRAS
Aquela vontade
Insuportável
Insustentável
Insuperável
De gritar
De fazer chegar
De mandar dizer
De pedir para contarem
Ah, gritar pelas ruas
Nas madrugadas peregrinas,
Um assobio ensurdecedor de cigarra.
RAÍZES DE HOMENS
Há certos homens que têm caules vigorosos.
São eles que semeiam a terra
afagam sementes
exalam perfumes de flores
recolhem os frutos doces.
Há certos homens que encostam as mãos na terra
a fortificam com seus dedos ásperos
a revolvem com palmas ardentes
a fertilizam com braços seguros.
Há certos homens que têm raízes em lugar de pés,
fincam-se inexoravelmente.
ORQUÍDEAS NATIVAS
flores
poemas seminais
imagens naturais
espalhadas aos ventos
crianças
sem pecado original
belas
puras
verdadeiras
brejeiras
parceiras
imagens
versos
crianças
espalhadas pelos ares, pelos mares,
pelos rios, pelos lagos
flores coloridas
almas coloridas
paisagens inesquecíveis.
TRILHAS
Obstáculo à frente.
Transpor.
Pedregulho.
– Vem, vem, me segue , me dá a mão. Vem.
– Estou com medo. Não.
– Não, vem; me segue aqui, cuidado.
trilha, chão, folha, pedra
Cansaço.
– Não vou conseguir.
– Vai sim, só mais um pouco. Eu ajudo, vem.
trilha, chão, folha, pedra
Viagem de dentro pra fora.
Dorso de almas
Canto de terra, água e pedra.
Promessa do prazer ao final.
Vem, mais um pouco, me segue.
– Sigo, me dá a mão.
Viagem de fora pra dentro
Conquistas, dificuldades, tropeços.
Encantamento.
Maravilhamento estético.
Natureza, artista de pincéis finos
Natureza, artista de melodias doces
Natureza, artista de lírica celestial.
Contemplação.
Entrega.
Silêncios internos.
Orquestra sob a batuta
De um regente maior.
Contemplação.
GRITO DE PAVOR
Minha pele em chagas
Meu tronco em dor
Quem me socorre?
Quem me vivifica?
Quem me reanima?
Minha casca em chagas
Meu dorso lancetado
Meu colo esvaziado
Quem me socorre?
Meu útero semimorto
Minhas folhas sobreviventes
Meu de dentro se esvaindo
Meu de fora resistindo.
Quem me socorre?
Um fogo de fora
apagando
um fogo de dentro.
Quem me socorre?
Quem me vivifica?
Quem me reanima?
Um broto.
NINHOS
garim
pan
do
grave
tos
PE-SA-DOS
l
e
v
e
s
pl
… umas
p… e …n…a…s !
oikós
domus
toca
covil
refúgio
ruivo
rubro
cordis
core
pro
criação
ninhada.
A SAGA DOS BARCOS
Não apague as marcas, deixe-as pelas águas, com os remos abandone-as a esmo entregue-as ao porvir dos rios serão as almas dos que chegarem de outras vezes.
Os silêncios e os murmúrios o que importarão, se o que sempre valerá serão os sonhos das águas e seu próprio silêncio.
Que restem as pegadas as súplicas os seixos as ramas que restem !
UNS BARCOS
Nessas ilhas de águas doces barcos à deriva ainda que juntos esperam anseiam dançam
o vento é forte dançam o vento é doce aguardam o vento é visgo acolhem
o vento não para de ventar o vento ajuda a navegar o vento, ainda que fraco, segura-os nessas águas doces líricas a não naufragar
CLUBINHO DA LEITURA DE BARBACENA “Plácido José de Oliveira”- MG
Trata-se de um trabalho voluntário que realizo com crianças e adolescentes, no bairro do Carmo, em Barbacena, desde 2014.
Os encontros acontecem duas vezes por semana pela manhã com um grupo de pequeninos e à tarde com os maiores.
Temos parceiros afetivos em São Paulo, Rio de Janeiro, Ipatinga, Diamantina que doam livros e produzem materiais primorosos para o Clubinho.
Aqui lemos, desenhamos, interpretamos, jogamos, dançamos e bebemos o mundo juntos. Ler tem que ser muito bom!
LER O MUNDO
bebo palavras
lambo ilustrações
sorvo metáforas, alegorias, hipérboles
de mim
de nós
de todos.
mastigo estrofes
degluto versos
sugo frases
chupo páginas
amo capas lombadas
devoro prefácios, sumários, epígrafes
Sou uma devoradora de livros
quase autofagia de meus mitos gregos
quase antropofagia de meus mestres poetas
quase dependência física de papéis escritos.
Essa sou eu.
Sei que é você.
Também.
ACEITANDO UM DESAFIO
Recriar a história dos dinossauros.
PALAVRAS DE TUDO
Minha vida é feita de páginas.
Sem ler não concretizo voos
Sem ler não amanheço nem anoiteço,
e se entardeço
é porque sou em mim mesma um feixe de páginas
qual bambu
em touceiras
de difícil esfacelamento, destruição ou perda .
Quando de palavras me guarneço,
é com elas que me acasamato do mundo,
me resguardo das dores simples,
me afogo nas mais complexas,
irremediáveis e etéreas.
Palavras alimentam meu corpo,
atiçam meus desejos mais incompreensíveis,
sensorializam meu cotidiano mínimo,
transformando-o em rasantes sobre oceanos.
O MENINO QUE LEVITAVA
Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados
De beber o mundo.
Mas era pouco.
Montava seu cavalo alado
Como se dançasse com ele.
Era doce o menino.
E partia ao encontro de seus marimbondos
de suas rãs
e lagartixas.
Morcegos eram como flores do campo.
A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera
E nela menino, cavalo e aventuras seguiam,
bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha.
Mas era pouco.
Depois, pisar na água era um barulho celestial
Era cócega
Era música
Era verso
Era poesia.
Desmanchar rotas citadinas
Mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas.
Era pouco
Porque o menino ria, ria, mas ria tanto,
que de prazer
levitava.
E de baixo, em terra firme,
Ninguém o alcançava
E não era pouco!
Tenho enormes preocupações com educação, em especial nesse momento aqui na cidade.
Meninos menores de 6 anos são praticamente forçados a escrever e, algumas escolinhas vivem mandando quantidades de tarefas para casa, que os meninos não dão conta ainda, nem querem fazer. Sobra aos pais, jovens, a tarefa de resolver os problemas.
Já os maiores tendem a detestar escola. Explico: na semana passada um professor de português “passou” para eles o filme Macunaíma, sem nenhum preparo ou desafio anterior. O rapazinho chegou aqui com um roteiro clichê para responder (com elementos que nada tinham a ver com a obra projetada, nada). Chegou falando mal do cinema brasileiro, de Macunaíma, dizendo que não tinha entendido nada etc.
Deu trabalho falar de cultura nacional com ele. Peguei a obra de M. de Andrade, lemos trechos, saboreamos a linguagem, contextualizamos os temas, desfecho, falamos das lendas amazônicas etc. etc.
Ao final, entendeu que cinema (novo) usa uma linguagem; literatura, outra.
Meu jovem Matheus é garoto brilhante. Já leu Machado de Assis e autores clássicos estrangeiros também. Não permitirei que matem o prazer de ler de meus meninos e os impeçam de valorizar e gostar da cultura nacional.
TRANS-CRIANDO o “Monstro” menino Manoel de Barros, as crianças do Clubinho brincam com letras, imagens, sons, pulos, gritos e sorriem. Talvez por isso mesmo sejam “leves, leves” e me ensinem aos poucos, aos pouquinhos, esta mesma leveza.
Mariana, o Rio Doce e a dor de todos os brasileiros
RODA DE CONVERSA
Problematização dos fatos
– Quem saiu prejudicado com a lama? Quem é o responsável por isso? O que devemos fazer para punir quem fez isso e não deixar que aconteça de novo? De quem é o Rio Doce? E o mar, de quem é?
FANTASIAS- “Agora eu era o herói….”
TEM CLUBINHO FAÇA CHUVA FAÇA SOL OU SE MACHUQUE UM JOELHO
Assim foi quando subiram para minha casa porque eu não poderia descer escadas.
Ao chegar, maravilhados, que tenho tantas mineirices pela casa, já em São Paulo chamavam minha casa de Consulado Mineiro. Os olhinhos percorrendo tudo. Muitos dos componentes da sala como pássaros, coleção de conchas, de Santíssimos eles já conheciam que já os levara ao Clubinho. Mas os olhinhos de João Víctor, um rapagão de…. 5 anos, bateram na minha Olivetti Bambina vermelhinha.
– Quer pegar? Eu trago pra você- ofereci.
Poucos minutos foram suficientes para ele aprender tudo daquela máquina, até que as cores da fita ficavam ora preta, ora vermelha.
– Olha, Odonir, a gente ‘digita’ e já imprime,. Que legal !
As descobertas deles são encantadoras porque sem amarras, sem muitas explicações, vou escutando, vou dividindo tarefas entre os maiores e os menores. Os primeiros já são contadores de histórias para os menores. Ouço e aplaudo.
Já pensaram o que é pegar conchas bem grandonas, de diversos tamanhos, procedências e cores, colocar no ouvido e descobrir coisas ali. Rubem Alves tem um texto lindo sobre conchas, que já li para eles. Uns entendem mais e explicam e eu, como Sócrates, tenho quase perguntas apenas.
Cada um oferece o que tem para oferecer. E formar pessoas mais críticas, observadoras e… risonhas faz bem pra caramba.
Cada um “lega” algo e de espécies diferentes. Valem mesmo são as nossas tentativas de ensinar crianças a gostarem de ler, a valorizarem a natureza salvando rios, árvores e consequentemente respeitando as pessoas. TODAS AS PESSOAS, sem tiranias, sem vilanias de quaisquer tipos.
Lindas imagens de espaços e tempos que viajam na gente para sempre
Quando eu era menina e vinha do Rio passar férias em Barbacena, me punha a ouvir o trem, a debulhar as estações uma a uma, em alegrias pela chegada e de tristeza profunda com as partidas.
Era assim sempre que acontecia nos verões da minha vida.
Na estrada já namorava as casinhas ao longe – quem moraria ali, como as crianças iriam à escola, como voltariam, não conseguindo adivinhar esses mistérios; assim, me fixava na paisagem como se fosse uma moldura dos meus sonhos de chegar e de partir.
Estradas sempre me percorreram fundo a alma.
Trem de carga, sem gente, que triste.
O país perdeu suas estações lotadas de pessoas de irem e virem.
Mas o bucolismo das estações ainda está tatuado em mim
Ainda que os vagões insistam em ser de carga apenas.
TREM DE CARGA
Nos dormentes, vagões vazios dormem solitários de vozes risos abraços beijos. Despedidas ausentes chegadas ausentes encontros e reencontros ausentes.
Carga pesada fantasma que apita chegadas partidas sem paradas sem estações sentimentais sem coloridos de saias e calças roçantes nos corpos sem cheiro de corpos roçando os sentidos sem massa de almas desejos súplicas. Vagões de carga apenas suportando o peso das remessas diárias, eternamente.
VAGÕES
Há como um compasso aberto
no traçado de certas rotas.
Toca-se ao extremo a superfície
apoia-se a ponta seca nos dormentes
eriçam-se os cordeiros
empina-se a fornalha
queima-se um fogo eterno
por bancos, poltronas , estribos, trilhos.
Vagões vagueiam por espaços etéreos
de estradas verticais qual pássaros audazes.
Há como uma geometria desconexa de espelho,
imagens se opõem ainda que as mesmas.
Há um mistério no sussurro lamento
do apito de um trem.
VARANDAS
passa boi passa boiada
um monte
uma cerca
uma invernada.
passa boi passa boiada
um açude, um aceno
um olhar até onde pude.
apito aviso
apito grito
apito choro
apito lembranças
apito conversas
apito promessas
apito chegadas
apito despedidas.
um túnel esgarçando em mim
uma luz no fim começo
no fim travessia
no fim revelação.
JANELA
Era sol
Era água
Era lago, lagoa, rio.
Era amanhecer
Era entardecer
Era anoitecer
Era madrugada em sintonia
Era madrugada em sinfonias.
Era gelosia centenária
Era veneziana secular
Era peitoral histórico.
Era janela dos olhos.
Era explosão do sentir.
ALMA DE LAGOA
Olhos perscrutam
sinuosamente
terra pedra árvore
água estática
luz morrente
lagoa nuvem céu espelho.
Mergulho no tudo
mergulho no nada
Cores
seres vivos distantes
seres distantes vivos.
Metamorfose
água – céu
nuvem água
Formas
reformas
signos.
OLHOS DE VER
Ainda não Agora sim ? Ainda não.
Pés na água Pés na terra Pés no chão Passos. Agora sim ? Ainda não.
Aguardo o instante Aguardo a luz certa O brilho certo Aquela nuvem Aquele movimento Aquele tom
Giro o olho Paro o olho Encaro Emolduro
Agora sim Ainda, sim !
UM SÁBADO E UM RIO
“Clareia a manhã, é o dia marcado na margem do rio. Um trem ruma ao largo do rio. Um céu se abre em plumas e faíscas ao curso do rio. Umas ilhas de areia no curso, uma ponte, uma estação, outra estação. O sol se abre maior, a tepidez das águas de longe escorre pelos vidros do vagão. Imagens conhecidas desconhecidas congeladas nas telas das retinas eclipsadas por marchas de trilhos. O rio gêmeo ao trem segue em pedras, seixos, plumas e, no céu, nuvens quentes perseguem os vagões, qual anjos de guarda a encaminhar fadas e tapetes voadores em naus de velas e ventos eclipsados de dor. Que cheguem rios, lagos, lagoas perpassando ramais secos e caminhos férteis por águas mínimas de flores campestres e árvores nativas. Não há tempos tardios, sempre é cedo que o dia começa e estará ao meio. Nenhum traço de chuva, tempestade, raio, trovão. O rio corre. O trem corre. A manhã corre. O dia ao meio chegando. A hora seguinte no rumo, no sumo, no prumo, na água corrente, na vida corrente, no cavalo encilhado, galopando serras de viúvas, de moças solteiras, de virgens em transe. O rio costeiro, a tralha na garupa do cavalo baio acompanhando o tropeiro de olhar incomum serranamente contemplativo. Rio que vive, que segue, que escorre, rio que vai, rio que encontra o mar ainda que tarde.”
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios E navega nele ainda, Para aqueles que veem em tudo o que lá não está, A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Fernando Pessoa
VERMELHO
é sangue é sangue de árvore é sangue de ave é sangue- veia é sangue de ovas é sangue de flor é sangue torpor é sangue pavor é sangue grito- terror vermelho sangue doce rio vermelho exangue em sua dor em nossa dor.
CURSOS
Corro
socorro
morro
recorro
entorno
torno
sorvo
movo
retorno
novo
provo
renovo
curso
recurso
impulso
pulso …
DISCURSOS
Falo
calo reparo ensaio falo
Penso
sinto penso sinto penso sinto
Morro
entrego nego renego corro
Escorro sangue
por margens
ribeiras
mangues
Encharco peles
ensaboo mãos
enxáguo braços
pélvis e dorsos
Renasço verde
repleto de seixos
ardendo em chamas
colhendo raízes
em mim.
LEITOS
Onde me deito,
leito sagrado,
corre espuma
desce torpor
exala ardor
concebo imagens
imagino paisagens
coloro personagens.
Estou vivo em margens,
passagens de um rio
passagens de um corpo
passagens de um afluente
entornando vida em mim.
LEGADO
De meu pai mineiro,
nascido em Alto Rio Doce,
recebi um rio.
Guardei de suas palavras
o doce do nome,
a vida das águas,
o sublime barulho de seu correr
em meus ouvidos.
De meu pai mineiro,
herdei suas margens verdes
seus passarinhos cantores
suas pedras limadas nas águas
suas nascentes e foz.
De meu pai mineiro,
aprendi a beber água limpa de mãos em concha
ao dedilhar seu nome, doce rio Doce.
De meu pai mineiro,
guardo um grito
uma revolta
uma revolução.
– Filha, não deixe.
Não aceite.
Lute, busque, altere
Interfira.
Ah, doce rio Doce,
legado de meu pai!
O MENINO QUE LEVITAVA
Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados De beber o mundo. Mas era pouco.
Montava seu cavalo alado Como se dançasse com ele. Era doce o menino. E partia ao encontro de seus marimbondos de suas rãs e lagartixas. Morcegos eram como flores do campo.
A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera E nela menino, cavalo e aventuras seguiam, bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha. Mas era pouco.
Depois, pisar na água era um barulho celestial Era cócega Era música Era verso Era poesia.
Desmanchar rotas citadinas Mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas. Era pouco Porque o menino ria, ria, mas ria tanto, que de prazer levitava.
E de baixo, em terra firme, Ninguém o alcançava E não era pouco!
Na vereda
encontrei aquela figueira.
Fiquei ali.
Copa magnífica.
Dos verdes, todos.
De denso, o tronco.
De lastro, histórias
De expressão, singular.
Estáticas, ambas.
Incomum.
Raízes para sempre em mim.
NUA , SEMPRE NUA
Meu corpo catedral
de vitrais simples
sem retoques de coloridos resplandecentes
recebe luz e vibra quando tocado.
Meu corpo barco
carrega meu navegante espírito,
marujos de braços firmes de olhares incomuns
marujos de peles ágeis de mãos quentes e rostos invulgares.
Meu corpo cofre
instala sementes de flores selvagens de frutos da paixão,
recebe mel de frutas silvestres de sabor estrangeiro.
Post dedicado a PLÁCIDO JOSÉ DE OLIVEIRA- meu pai, ex- metalúrgico de boa cepa.
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