JOSEPH, O SOLISTA
Sempre houvera sertões no coração de Joseph. Filho de pais alemães, crescera em Berlim e aprendera a devorar diversos instrumentos. O violino, por exemplo, era seu parceiro de todas as horas. Nada se igualava a ele, sequer se comparava à sensação de tê-lo no ombro. E depois, tocá-lo em forma e em cordas era prazer absoluto. Fora sempre seu companheiro em viagens, nas matas isoladas, nas longínquas paragens a que gostava de ir. Sozinho.
Jamais sonhara ser spalla em orquestra alguma, tocar para plateias difusas, pouco sensíveis às suas cordas, posto que pulverizadas em muitos outros sons. Seu maior sonho era estar sozinho, compondo, realizando seu ato melódico a dois. Isso o agradava, isso o satisfazia, isso o completava.
Na pousada da serra, pôs-se a compor por horas a fio, por dias a fio, interrompido apenas para alimentação inspiradora e sono de cansaço. Foi ao entardecer que alguém lhe ouviu as cordas e ficou, como uma miragem, a ouvi-lo e a seus toques no violino. Não quis incomodá-lo, apenas desejou beber daquela sua arte, não sabia nem quem fosse, não o via, apenas bebia sua arte. Por muito e muito tempo.
Joseph não compreendia aquilo, assim à distância, aquela mulher sentada no banco coberto de relva, de olhos fechados, ouvindo sua música. Por muito e muito tempo.
Em um fim de tarde, aconteceu sua apresentação em uma orquestra.
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Marcus Viana- “A Miragem”, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (short)