A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
Os Autos da Devassa são peças fundamentais do acervo do Arquivo Nacional e foram reconhecidos como patrimônio da humanidade pelo Programa Memória do Mundo da UNESCO em 2007.
Na imagem, folha da “sentença proferida contra os réus do levante e conjuração de Minas Gerais”, 18 de abril de 1792. Arquivo Nacional. Fundo Diversos Códices. BR_RJANRIO_NP_COD_0_005_v09
Joaquim José da Silva Xavier- Tiradentes, MG
“Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria pela libertação da minha pátria”
RECADOS DE DRUMMOND
São João Del Rei- MG
MEU ENCONTRO COM TIRADENTES
Autora: Isabelle Dourado- 7ª B- 14 anos–1999
Joaquim José da Silva Xavier- Palácio Tiradentes- ALERJ, RJ
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
Prados, MG
ESSA BARBACENA Barba -acena Sobe Desce Venta Queima sol Olha rosas Olha Rua Quinze Olha Escola de Cadetes Olha a Cabana da Mantiqueira Olha as pedras Tropeça Levanta Cai Levanta Olha mais Olha isso aquilo, olha Que Visconde de Barbacena que nada. Que cidade de loucos que nada Que gente boa de tudo! Ah, Barbacena! Acena traz teus filhos todos de volta Que a gente muda esse negócio de política leite com leite Vota de novo Muito bem E reconstrói esse país. Eh, Minas, Eh, Minas !
Manuel Rodrigues da Costa, Padre Inconfidente
Manuel Rodrigues da Costa (Queluz, Minas Gerais, 2 de julho de 1754 — Barbacena, 19 de janeiro de 1844) foi um sacerdote católico, revolucionário e político brasileiro que participou da Inconfidência Mineira e da Primeira Assembleia Nacional Constituinte do Brasil.
Nasceu no arraial de Nossa Senhora do Campo Alegre dos Carijós, sendo filho dos portugueses capitão-mor Manuel Rodrigues da Costa e de Joana Teresa de Jesus e neto paterno de Miguel Rodrigues da Costa e Inácia Pires. Era afilhado de João Rodrigues de Macedo, banqueiro do Império e proprietário do imóvel atualmente conhecido como a Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto.
Estudou no seminário da cidade de Mariana e ordenou-se padre em 1780, possuidor do Hábito de São Paulo.
Sempre residiu na sua fazenda do Registro Velho, no atual município de Antônio Carlos, na época ainda parte de Barbacena. Nessa fazenda, hospedou Joaquim José da Silva Xavier, que o convenceu a participar na Inconfidência Mineira. Após a delação de Joaquim Silvério dos Reis, foi condenado a degredo de dez anos em Lisboa, em dependências eclesiásticas. Também foram confiscados muitos de seus bens, dentre os quais metade da fazenda Tapera, um título de terras minerais, sua rica biblioteca, móveis, utensílios domésticos, dois escravos, tabaco e uma batina, que atualmente está exposta no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. A Fazenda do Registro Velho foi preservada por ser meação da sua mãe.
Depois de seu retorno ao Brasil, dedicou-se à administração da fazenda Registro Velho. Atuou também como industrial, tendo fundado uma tecelagem e se dedicado à fabricação de vinho e óleo de oliva. Auguste de Saint-Hilaire, em sua viagem por Minas Gerais, visitou-o e escreveu que o padre havia trazido de Portugal máquinas para fazer tecidos, utilizando lã de ovelha e linho, que produzia em suas terras. Estes seus projetos, no entanto, não foram bem-sucedidos. Nesta época também tornou-se um dos primeiros sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Em sequência à Revolução Liberal do Porto, foi eleito para as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa em 1820. Ao mesmo tempo, participou ativamente nos acontecimentos que levaram ao “Fico” e à Independência do Brasil.
Depois da Independência do Brasil, elegeu-se deputado por Minas Gerais à Assembleia Constituinte de 1823 e reelegeu-se para a Legislatura Ordinária de 1826, embora não tenha servido este último mandato.
Em 1831, Dom Pedro I, que o admirava, hospedou-se na fazenda do Registro Velho, condecorou-o com as Ordens de Cristo e do Cruzeiro e o nomeou cônego da Capela Imperial. Paradoxalmente, em 1833, o padre Manuel Rodrigues da Costa articulou na mesma fazenda o movimento que culminaria no 10 de junho da Revolução Liberal de 1842, as reações liberais ao primeiro Ministério Conservador de Dom Pedro II.
Em 1839, o padre Manuel Rodrigues da Costa foi entrevistado pelo também inconfidente José de Resende Costa Filho, que escrevia sua versão da Inconfidência Mineira. Era apenas o terceiro relato sobre esse movimento.
Foi o último dos inconfidentes a falecer. Foi sepultado na igreja matriz de Barbacena; no entanto, seus restos mortais foram perdidos durante a reforma dessa igreja no século XX.
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
Cartaz desenhado no Centro Histórico de São João Del Rei- MG
ENTREGANDO O OURO MINEIRO
Vídeo: “Descubra detalhes sobre a Conjuração Mineira”– Canal Band Jornalismo
Vídeo: “Ouro do Brasil ajudou reconstrução de Lisboa”– Canal Band Jornalismo
MEU ENCONTRO COM JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS
AUTOR: Murillo Soares Barreto – 7ª A– 14 anos
Vou contar uma conversa, uma simples conversa, mas que mudou todo um movimento.
Lá estava eu andando pela CASA DOS CONTOS, quando avistei, ao fundo de uma sala escura, um homem. Me aproximei para ver e lá estava Joaquim Silvério dos Reis, um militar de nosso movimento. Lá estava ele, cabisbaixo. Na mão, um copo e na mesa uma garrafa de vinho quase vazia.
– Posso me sentar? – perguntei, já puxando uma cadeira.
– Claro!
– Então, Joaquim, todos já se foram e o que você está fazendo aqui?
– Bebendo, bebendo, para esquecer os problemas.
– Mas que problemas, a Conjuração vem seguindo tão bem?
– Ah, a Conjuração, a maldita CONJURAÇÃO. Mas quer saber, eu sou humano e como qualquer ser humano, tenho problemas! Todos vocês só se preocupam com esse movimento e se esquecem de que têm famílias e vidas para cuidar!
Percebi que Joaquim estava tenso. Pensei que talvez a bebida o tivesse deixado tão nervoso. Alguns minutos de silêncio e resolvi tentar descobrir o que estava havendo com ele.
– Me desculpe, talvez tenha sido inconveniente. Vou me retirar, com licença.
– Não, fique. Sinto que se eu ficar sozinho, vou acabar fazendo uma besteira.
– Então me conte o que está acontecendo, Joaquim, só assim poderei ajudá-lo.
– Ninguém nesse mundo além de mim pode me ajudar.
– Mas, talvez, desabafar, ajude.
– Pois bem, afinal não tenho nada a perder. É o seguinte: eu estava em um dilema entre a lealdade e a paz definitiva.
– Não entendo.
– Bem, tudo se concretiza assim: eu estou falido, endividado na Corte e não são dívidas pequenas, mas se por acaso eu acabasse com toda essa CONJURAÇÃO, a delatando ao Visconde de Barbacena, tenho certeza de que minhas dívidas estariam completamente quitadas.
– Joaquim, você tem consciência do que está dizendo? Se fizer isso, além do movimento, a vida de todos nós estará acabada.
– E você acha que não estou pensando nisso também?!
– Chega, não vou ficar aqui ouvindo isso. Faça o que vier em sua cabeça e o que você achar melhor. Só que se eu tiver que lutar por meus companheiros, vou lutar, mesmo que tenha de lutar contra você.
Depois de me retirar da sala, pensei que talvez tivesse sido rude demais com Joaquim, mas decidi deixar que o destino levasse tudo aquilo à diante.
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
”LIBERTAS QUAE SERA TAMEN”
ainda que tarde arde ainda que tarde queima ainda que tarde sofre ainda que tarde chora ainda que tarde maltrata ainda que tarde discrimina
ainda que tarde luta ainda que tarde age ainda que tarde grita ainda que tarde executa ainda que tarde corta ainda que tarde extirpa
ainda que tarde acolhe salva liberta
A Igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada no antigo “Largo do Rosário”, mais tarde “Praça da Inconfidência”, hoje praça Dom Silvério, foi construída pelos negros escravos. Possui uma torre frontal e duas sacadas de velho estilo. Traz ainda uma cruz enorme, toda lavrada em uma só pedra inteiriça ,que denominou outrora o frontal do templo e hoje se encontra ao lado direito da Capela. Relatos históricos registram que o braço de Tiradentes está enterrado na Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Barbacena. Seu irmão, inclusive, morava na mesma rua dessa Igreja. Em frente a ela havia um pelourinho e atrás dela um “cemitério” onde eram enterrados os escravizados. “Cinco dos principais envolvidos no movimento, incluindo Joaquim da Silva Xavier e Joaquim Silvério dos Reis, tinham ligações com Barbacena. O dono da Fazenda da Borda do Campo, José Ayres Gomes foi expulso do Brasil, teve suas terras confiscadas e morreu esquecido em Moçambique, na África. O irmão de Tiradentes, Padre Antônio da Silva Santos e o delator Silvério dos Reis moravam na vila de Barbacena. O padre, na Rua Tiradentes, o traidor, na região do Pontilhão.”–https://www.ipatrimonio.org/barbacena…
RADIONOVELA- LIBERDADE MINEIRA CENA III – CAPÍTULO XV AUTOR: Antonio Bastos do Vale – 7ª C- 14 anos
(A cena passa-se em 1774, em Vila Rica, Minas Gerais, na casa de Cláudio Manuel da Costa. São oito da noite)
Cláudio: Querida, mande as escravas aprontarem logo o jantar que nossos convidados já estão para chegar.
Juliana: Mas quem você chamou, afinal, Cláudio?
Cláudio: Ora, nossos grandes amigos: Marilia, Dirceu, Maria Dorotéia e Tomás Antonio Gonzaga.
Escrava: Senhora, os convidados chegaram.
Cláudio: (apressado) Depressa, Juliana, vá receber os convidados e diga que estou esperando na sala de visitas.
Juliana: (sorridente) Amigos, há quanto tempo! Boa noite, Tomás. Como é que vai? Oi, Marília. Cláudio os está esperando na sala de visitas.
Cláudio: (contente) Amigos, como vão? Por favor, vamos jantar?
Marilia: Eu e Juliana temos muito que conversar.
Maria Dorotéia: É temos que colocar a conversa em dia.
Cláudio: E como estão indo as coisas para você, Tomás?
Tomás: Como sempre, dando duro e os portugueses roubando mais que podem.
Maria Dorotéia: É mesmo, estão cobrando impostos demais. E altíssimos.
Marília: Só falta eles cobrarem impostos de nossas roupas íntimas!
Cláudio: Eu não duvido nada. Do jeito que esses portugueses são, eles seriam bem capazes disso.
Tomás: Se algum dia alguém se rebelasse contra o Governo de Portugal, eu certamente estaria do seu lado.
Cláudio: Eu seria capaz de arriscar a minha vida pela liberdade.
Juliana: (irritada) Pare com isso, Cláudio, e vamos jantar em paz.
Acabado o jantar…
Maria Dorotéia: O jantar estava ótimo, Juliana.
Marília: Precisamos nos reunir mais vezes
Cláudio: Até mais, amigos.
Tomás: Foi um prazer.
Juliana: (cansada) Eles já se foram embora. Vamos dormir, Cláudio.
Cláudio: (sério) Mas sinceramente, Juliana, daria a minha vida pela nossa liberdade.
Juliana: (sonolenta) Vamos dormir, por favor, Cláudio.
Vídeo: Canal Jornal Minas
Os Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, em sete volumes, sob guarda do Arquivo Público Nacional, contêm documentos detalhados do que foi apurado pelos governantes e a justiça da época, o envolvimento de distintas figuras do clero, das forças militares e da governança dos idos de 1789. Dentre os presos e condenados que somam quase duas dezenas de pessoas, além de outros que sequer foram ouvidos perante o tribunal, se destacam:
[…]
Na comarca de Rio das Mortes, área que envolvia também a Borda do Campo: Joaquim Silvério dos Reis, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira, Carlos Correia de Toledo e Melo, Luís Vaz de Toledo Piza, Domingos Vidal Barbosa Lage, Francisco Antônio de Oliveira Lopes e José Ayres Gomes.
Em, História de Nossa Terra III: Os Inconfidentes da Borda do Campo, Por Silvério Ribeiro
É dia Há pedras Há marcas Há dores Há gritos Há ferros Há fogo Há brasas Há mortes.
Quem vem lá? É noite. Há choro Há cortes Há súplicas Há berros Há arrependimentos Há delações Há entregas Há torturas Há conspirações. Há corpos. Há retalhos de corpos. Há deflagração de ódio.
Para sempre.
AS REUNIÕES DOS REVOLTOSOS
-Chamem o prático dentista; vamos precisar dele, corre por essas estradas e sabe conversar na língua desse povo; será necessário na divulgação das ideias, semeará o que pretendemos.
-Não podemos mais perder o que ganhamos, entregar tudo à Rainha e ela entregar tudo aos reis ingleses. Leiam a Constituição Americana, lá teremos os ideais necessários para fortalecer a nossa República de Minas. Somos ricos, podemos nos separar e nos manter com nossas riquezas. Vamos chamar o alferes Joaquim José, sim.
-Vamos dar a ele a Constituição Americana? Só temos em francês, padre. Quem lerá para ele?
-Bárbara o fará, mas sem aparecer aqui em nossas reuniões; o marido a informará. Encontrem o alferes.
“Tiradentes: como as profissões ajudaram o herói nacional” -Vídeo: Canal Band Jornalismo
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
PATAS DE CAVALOS Há que se ter medo. Há que se ter cuidados Há que se ter ouvidos, olhos e mãos de entender. Há que se confidenciar a poucos. Há que se omitir de muitos. A pata, a opressão, a chibata, a inaceitação. Seguem-nos, cercam-nos, amordaçam-nos Calam-nos, sem perdão. São muitos.
QUEM ERA O EMBUÇADO?
CONFIDÊNCIAS A MINEIROS Nesse século dezoito, nas pedras em que vivo, correm notícias ao pé do ouvido são encontros secretos de vontades rebeldes são encontros secretos de amores proibidos percorro becos e vielas salto calçadas em ritmo lépido contorno esquinas atravesso pontes salto muros Ali está ele lá estão também eles. Há luz na morada de uns Há espera nas derramas dos outros Tenho ouro em mim.
CREPÚSCULO – sentido próprio: claridade no céu entre a noite e o nascer do Sol ou entre seu ocaso e a noite, devido à dispersão da luz solar na atmosfera e em suas impurezas. sentido figurado: o tempo de duração dessa claridade, antes de se firmar o dia ou a noite.
CREPÚSCULOS A jovem Denise cursava a Universidade Federal com muito esforço, trabalhando durante o dia e estudando à noite. Já no último ano do curso havia ido visitar seus avós no interior mineiro e manifestado vontade de conhecer Tiradentes, a cidade com a qual sonhava sempre. O padrinho de batismo tinha automóvel, incomum por ali. Pediu que a levassem até a cidade. Denise vivenciou cenas de seus sonhos. Era uma nesga de felicidade antes intocável: casas coloniais, cavalos e cavaleiros pelas ruas, quitandas vendidas em vidros e potes, nas janelas das casas, decoradas com toalhinhas de chitão. Artesanato criado pela população local, móveis rústicos de mãos artísticas, muito crochê, muito bordado, muito fuxico, muita costura familiar… tantas belezas! Ao caminhar por aquelas ladeiras, encontrava janelas que refletiam o céu, jardins de dálias e margaridas, tabuletas com inscrições na entrada das casas. Entrar e sair das 5 igrejas de mil e setecentos era como estivesse na porta dos céus. Denise passara um dia inteirinho bebendo saberes e sabores em Tiradentes. As décadas foram passando, a aposentadoria chegava. Ao receber seu último salário, presenteou-se com uma visita de dois dias à cidade de seus sonhos, para onde não mais voltara. -Não vai não, Denise. Vai pensando que tudo ainda é daquele jeito de antes… e não é mais – advertia-lhe a tia-avó. Não vale a pena voltar a lugares que se amou muito anteriormente “Minas não há mais”, lembra? Teimosa, foi. Ao chegar, deixou sua maleta na pousada e conversou com o rapazinho de origem humilde que a administrava. -A senhora quer saber de uma coisa… quando tá ruim no resto do país, dólar alto, juros altos, aqui tá bom. Em vez dos turistas de posse viajarem pro exterior, vêm pra cá. Aí a gente ganha com isso, a economia dessa cidade é só o turismo. -Mas você acha que as outras pessoas não têm direito a conhecer tudo isso também? -É bom assim porque seleciona a clientela, né. -Soube que as pessoas não têm cinema aqui, nem teatro e sofrem com muitas mazelas, tiveram que ir viver na periferia da cidade até. -É, mas pra muita gente foi melhor, os alugueis aqui ficaram muito caros, só os ateliês e os restaurantes mais chiques aguentam pagar. A população da cidade é pequena, não consegue comprar o que é vendido aqui não. -A mão-de-obra foi aproveitada nos hotéis e nas pousadas, fazem quitandas, doces, artesanato pra vender dentro delas, por exemplo? -Aqui tem falta de mão-de-obra, tem que contratar de fora. Mas se alguém quiser ir ao cinema e gozar de outras coisas vai a São João Del Rei, uai. -Mas são moradores daqui, têm o prefeito e a administração daqui para isso, não é mesmo? -Só sei que melhorou muito pra nós, muito mais turistas, muito mais dinheiro… -Mas e a população? Tem aprendido, tem se informado sobre o valor histórico da cidade, pois só se pode defender aquilo que se conhece. Ou só o comércio é que melhorou? Tantas pousadas e hotéis como os das grandes capitais com academia de ginástica, sauna, alta gastronomia etc. -É pra atender a quem pode pagar, uai. -Entendi. Denise deveria ter escutado sua tia-avó. “Minas não há mais”– como escreveu Drummond.
Era assim, o menino que havia em mim. Era assim, a matinê de domingo, a torcida pelo mocinho, a alegria de ver o bem vencer. Era assim, sempre um sim. Era assim
BÁRBARA E AS CIDADES HISTÓRICAS Fora em um tempo que antecedera ao Natal que Bárbara foi conhecer as cidades históricas mineiras. Era 1994, e seu encantamento pela prosa mineira nascera bem antes. Não perderia a oportunidade de conhecer aquelas ruas, vielas e igrejas do século XVIII. O convite dos amigos da universidade viria a calhar. Aceitou. Ficariam em casa de parentes deles em São João Del Rey. No 1º dia acordaram bem cedo e foram conhecer Sabará. Que encanto, repetia Bárbara aos amigos. No 2º dia foi a vez de Congonhas do Campo, quase não conseguiu deixar a Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, a sala dos ex-votos, o enorme adro com os Profetas de Aleijadinho, os Passos, o Centro Cultural da Romaria… a cada rua, descida e viela era envolvida por uma religiosidade ímpar ali. No 3º e no 4º dias foi conhecer o berço das Minas Gerais, Mariana, e respirou Liberdade em Ouro Preto. Pensou em não voltar mais pra São Paulo, ficaria para sempre naquele entardecer, naquelas pedras, naquelas ruazinhas estreitas. Para sempre. No 5º dia e no 6º dias, descansaram em São João Del Rey, no aconchego dos familiares dos amigos, ouvindo causos e prosas repletas de mineiridades do café da manhã ao jantar. Visitaram o Memorial Ferroviário, a Igreja de São Francisco de Assis, o Memorial Tancredo Neves, o Solar dos Neves, a linda Catedral de Nossa Senhora do Pilar, por fim fizeram visita à Lagoa Azul e a cachoeiras de São João. Bárbara andava por terrenos conhecidos, embora nunca tivesse estado por lá. No 7º dia, tomaram a Maria Fumaça e foram a Tiradentes. Já era dia 23 de dezembro e ela voltaria na tarde de 24 para São Paulo. Ao ver e ouvir Tiradentes, percebeu seu encontro eterno com a cidade. Talvez de tudo que ouvira muito antes, somando-se àquilo que bebera em doses sensíveis durante a última semana, decidira, seria ali onde permaneceria até o fim de seus dias. Em todos os Natais seguintes não precisaria retornar. Ali já seria o seu retorno, a volta a casa. Decidiu.
TIRADENTES
MÃOS DO DESTINO Que traçado é este, destino, que insistes em me fazer trilhar? Por que me fizeste acreditar na leitura de minha mão? Como conseguiste aspergir de morenice essas minhas noites de luar? Quando estaria mais perto a estrela que me sorria e tão alto luzia ? Que rota é essa de ramais tortuosos que me estendes sem termo ou chegada? Responde, destino, que não suporto mais ter que desvendar-te!