“O sertão é dentro da gente”

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Fãs de Cinema

O popular é eterno

Amores de Chumbo

Acabei de rever AMORES DE CHUMBO, de 2017. Quem nunca assistiu assista. A exposição de 2 pontos de vista femininos, em anos de chumbo, traz reflexões importantes sobre o que tem maior importância: o amor individual, romântico ou o amor coletivo, social. O que é primordial em cada um. Vale trapacear, criar versões, a fim de se obter o objeto do amor desejado? E quando o tempo não pode remendar as costuras de vidas?

3 TEMPOS

SINOPSE: Um misterioso triângulo amoroso do passado ressurge anos depois. Miguel (Aderbal Freire Filho) e Lúcia (Augusta Ferraz) estão prestes a comemorar seu aniversário de 40 anos de casamento, mas a chegada de Maria Eugênia (Juliana Carneiro da Cunha) acaba atrapalhando os planos do casal, já que junto com seu retorno, voltam também as memórias dos amores vividos entre Miguel e Maria. Além dos horrores dos anos de chumbo, período da ditadura militar no Brasil.

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal urbanolevel

“Pronto, Falei”, o filme

“Renato (Nicolas Prattes) é um jovem tímido e inseguro, que expressa o que verdadeiramente pensa apenas através de e-mails. Escreve para o colega de trabalho (Romulo Arantes Neto), para a namorada (Kéfera Buchmann), para os pais… não esconde nada, diz tudo o que pensa. Absolutamente tudo! E na hora de enviar… não envia. Grava na pasta de rascunhos. Um dia, sem nenhuma explicação, todos os seus rascunhos são enviados e, de uma hora para outra, ele precisa enfrentar as terríveis consequências de ser quem realmente é.”

A verdade saindo do poço é uma pintura de Jean Leon Gerôme de 1896, que foi inspirada na seguinte parábola judaica:

Certo dia, a mentira e a verdade se encontraram.
A mentira disse para a verdade:
– Bom dia, dona verdade!
E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia.
Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam e vendo que realmente era um bom dia, respondeu para a mentira:
– Bom dia, dona mentira!
– Está muito calor hoje, disse a mentira.
E a verdade, vendo que a mentira falava a verdade, relaxou.
A mentira então convidou a verdade para se banhar no rio.
Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:
-Venha dona verdade, a água está uma delícia.
E assim que a verdade sem duvidar da mentira tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.
A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua.
Chocando e causando raiva e desgosto de quem a via em sua pura nudez, afinal, aos olhos de outras pessoas era mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua.
Assim a pobre Verdade volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo nele sua vergonha.
Desde então, a Mentira viaja ao redor do Mundo, vestida como a Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade, porque, em todo caso, o Mundo não nutre nenhum desejo de encontrar a Verdade nua.”

FONTE: Instagram e Facebook “A História Esquecida

DAS VERDADES… AGORA CHAMADAS DE “SINCERICÍDIOS

Vi no cinema, o filme “Pronto, falei” e gostei bastante da abordagem e dos planos de enquadramentos, forma e conteúdo completamente integrados e coerentes. Filme brasileiro, o que é ainda melhor.

Sempre gostei das pessoas, ácidas e apimentadas ( e não daquelas em banho-maria), que dizem o que pensam. Acredito serem muito corajosos os que agem assim, assumindo o dito, corrigindo o que fizeram – caso haja enganos etc. Fato é que os jogos sociais ensinaram às pessoas as mentiras, as omissões, as hipocrisias, a política da boa vizinhança – equivocadamente nomeada de tolerância. Não é. No jogo das máscaras, das personas, há sempre os que se escondem nelas e nunca ficamos sabendo o que pensam, como agem, reagem etc. Se lidamos com personagens, trata-se de teatro e não de vida real.

O filme aborda a fraqueza do personagem protagonista em dizer o que pensa por temer reações alheias, apesar de suas observações serem excelentes. Terceiriza autoria e vê quem se apropria delas tendo enorme sucesso. Falta-lhe, portanto, coragem. Mas isso é reflexão minha; o filme evolui, o personagem evolui, há clímax e desfecho interessantes. E bem realistas.

NOSSOS COMPLEXOS ESCONDIDOS. ATÉ DE NÓS MESMOS

Vez ou outra escrevo me utilizando de falares regionais. No Facebook, uso trem bão, aquiii, cê bobo, nuuuuú, dimais da conta e mais. Outro dia um mineiro de BH, professor de Física, me questionou “Mas será que a gente fala desse jeito mesmo?”. Respondi que a fala ali descrita, sempre coloquial oral, em situações de intimidade nos meus pequenos trechos, era sim como a que ouço por aqui, inclusive com um vocabulário muito próprio dos mineiros. (No YouTube há inúmeros vídeos mostrando isso). Não sei se os mineiros de BH se comunicam como os do interior. Talvez, não.

Certa vez, em São Paulo, a caminho de Campinas, fui com minha cunhada a uma comemoração de casamento em um “sítio”. Não costumo ir a cerimônias de casamento em igrejas, nem a festas. Minha cunhada me convenceu dizendo que eram terceiras núpcias de ambos os noivos, de que ela era mineira, e de que eram gente simples (talvez os comes e bebes até fossem da cozinha mineira etc.) Fui.

Ao conversar com a noiva, citei a culinária mineira. Ela declinou do tema, disse que era muito calórica etc. Preferia outras, como a paulista, eclética e diversificada etc. Entendi e observei a comemoração integralmente, desde os comes e bebes, até os comportamentos dos convivas que desfrutavam da comemoração do casamento do renomado médico.

Em ambientes de trabalho, os jogos sociais tendem a ser completamente artificiais, muita gente que serve de capacho hoje pode puxar tapete amanhã, dependendo do grau de inveja, de ciúme, de maldade que tempera as relações. Tudo é muito cordial, muito civilizado… mas até a página 2. Ou 3. Duro é ter que conviver, diariamente, com tamanhas hipocrisias e falsidades. (Disso já me livrei, ufa!)

Há amigas minhas – por exemplo – que quase nunca leem o que escrevo, embora sejam da mesma área que a minha, apreciem os mesmos autores da literatura etc. Quando vejo, leram outros, às vezes com muito menos relações com elas etc. Talvez o que escrevam seja mais afável, mais conceitual, de melhor nível. Talvez. Mas estranho bastante isso. Eu, ao contrário, adoro ler o que escrevem, saber como pensam etc. Sinto-me bem fazendo isso.

FORMA E CONTEÚDO. EIS A QUESTÃO

Quando leio algum poema ou texto em prosa de um blogueiro, costumo me ater à forma em que foi escrito, beber nele meus conteúdos (levando as minhas chaves de interpretação) e não me preocupar em saber se o que foi escrito é real, se é ficção etc. Todos nós que cursamos Letras sabemos que não há nenhuma importância em se atrelar uma coisa à outra, mas sim de nos deleitarmos com o que foi escrito, com o que aquilo provocou em nós.

Outro dia, uma querida amiga virtual de Ribeirão Preto, mais jovem que eu, me perguntou se aquele conto que eu havia escrito era real mesmo ou era ficção. Respondi-lhe que TODOS os escritores unem as duas coisas, mesclam características de personagens, fazem descrições de cidades assemelhadas as que conheceu etc. A literatura está na FORMA DE SE ESCREVER. Conteúdo pode ser qualquer um. Aliás se for linguagem informativa, referencial, objetiva trata-se de jornal, revista etc. e não de crônica, conto, poesia…

Assim, comento apenas o que o texto provocou em mim. É suficiente. E quando comento.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: Da decoração ao lado do cinema

Vídeo: Canal Imagem Filmes

O amor venceu

POESIAS NO COTIDIANO
Ouço vozes dizerem versos
leio palavras dizerem versos
palmilho estrofes tantas
lustro rimas tantas
enxergo imagens na combinação das sílabas.
Os versos me alcançam na padaria
os versos me alcançam no filme visto
os versos me alcançam ao vento, ao frio
os versos me seguem na floricultura
os versos me enfeitam os canteiros
os versos me clareiam as manhãs
os versos me recitam o anoitecer
Ouço vozes dizendo versos…

Poesia: Odonir Oliveira

1ª foto: bastidor executado pelas mãos das “Bordadeiras do Timbaúba”, RN

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

O brilho eterno de uma mente sem lembranças

Hoje não há lembranças
Hoje não há lembranças para ver ou compartilhar, mas avisaremos quando houver algo para recordar.(Facebook)

Filme de 2004, indicado ao Oscar e vencedor como Melhor roteiro e Melhor Montagem, além de mais 20 outras premiações mundo afora.

“Tempo que me mediu. Tempo? Se as pessoas esbarrassem, para pensar – tem uma coisa! -: eu vejo é puro tempo vindo de baixo, quieto mole, como a enchente duma água… Tempo é a vida da morte: imperfeição.”
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”
“O senhor sabe o que silêncio é? É a gente mesmo, demais.”
Guimarães Rosa

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Ester Prado

2- Canal Rico Jazz

Casablanca: ”As Time Goes By”

TELA GRANDE

encantamento
som luz imagens
duas cores
muitas cores
poltronas
escuro
silêncios
magia
prazer
imaginação
delírio
sonho
ilusão fascinação perpetuação

CINEMA MONUMENTAL

Um filme circulava-lhe os pensares,
era longa-metragem sem intervalos
era cinemascope por vidros embaçados
era olhos fechados sem lanterninha
era roteiro de lembranças
ora sequência em plano aberto
ora close de rosto, dorso, pernas.
Num sacudir de trem moderno,
a memória da fumaça de fuligens dos seus antes.
Tudo era análise, avaliação.
Partes esparsas, excertos, segmentos de poemas,
trechos de melodias, frases sem contexto,
fragmentos de situações em versos,
inversos, postos, opostos, repostos, dispostos.
Numa estação insone,
um caminhar ansioso
um encontro de asas
um flutuar de prazer.

DESCENDO DA TELA

Mais uma vez, derretia-se em lágrimas com as cenas de Casablanca. Não sabia mais contar. Dezenas de vezes, dezenas de anos, centenas de audições da trilha sonora, milhares de lágrimas.

O que a emocionava tanto nesse clássico? Tinha na pele gastos e gostos de personagem a ser vivida. Gostava do enredo de comportamentos humanos que se espelhavam pela película. Gostava. Muito.

Toninho, o caipira, era de Casa Branca, imagine só. Formado em Física, com passagem pela engenharia, inconclusa. Objetivo demais, grosseirão demais. Adorava o filme Casablanca. O tema, então … Talvez fosse o único lume fora de sua objetividade. A esposa, formada em Biologia e Nutrição, reclamava. Queria filhos; ele, não. Traumas de infância, separado do pai adorado e sob a guarda da mãe, forte, independente, trabalhadora e trabalhadeira. Talvez achasse que não saberia ser um pai. Ninguém tinha certeza.

Lúcia o conhecera aí pelas metades. Não queria ofender, nem fazer sofrer a esposa de Toninho. Flutuava bissexta por seus braços fortes, apenas. Já Toninho encantou-se, exatamente com isso. Talvez.

Conversaram ambas. Toninho sobrou. A esposa fez revelações. Sincera, correta, sem medo do confronto, ao contrário, respeitosa, admiravelmente respeitosa, e madura. Já se conheciam, mas naquela tarde, no apartamento de Lúcia, o rumo dos três delineou-se. O casal com um menino, havia pouco mais de um ano. O pai, entre ausente e negligente, declinava de afetos. Lúcia entendeu um pouco mais as atitudes e sentimentos do caipira de Casa Branca.

Afastaram -se. Ele, quem sabe, sentindo-se traído por ambos os lados. Lúcia, cerebral e solidária. A esposa, dela não se soube mais. Talvez tenham permanecido juntos; ela amava Toninho. Muito.

Lúcia gostava muito do filme – que até conhecer Toninho não havia visto. Depois, viu, viu e viu no cinema, na TV, em VHS, em DVD, no Youtube.

Vivendo em Juiz de Fora, décadas depois, Lúcia conheceu um restaurante bastante tradicional, em companhia de amigos. Gostou.

Na noite da sexta- feira seguinte, retornou sozinha e pediu ao pianista Toninho Oliveira que sobrevoasse seus sonhos, executando As time goes by. Com prazer, o pianista a atendeu.

O restaurante já bem vazio, quase meia – noite. Ao final, Lúcia pediu- lhe que repetisse aquele presente, dizendo a famosaPlay it again, Sam mas nem chegou a concluir a frase. Toninho, o caipira, de décadas antes, de outro estado, entrava ali naquele instante – como uma aparição, deixando-a completamente surpresa.

Sobre o filme, leia: http://cinemaemcena.cartacapital.com.br/coluna/ler/521/casablanca-o-nascimento-de-um-classico

Poemas e texto: Odonir Oliveira

Fotos retiradas da Internet.

Vídeos:

1- Canal fiegepilz

2- Canal raquel schebling

3- Canal Clara Capelo

4- Facebook de Odonir Araújo

”Minha namorada”, uma geração

Cine FNM2

Assisti no Canal Brasil Minha Namorada, de 1970, 1º filme do diretor Zelito Viana.

MOLDURA

Atuações fracas, atores muito jovens, sem aulas de interpretação – poderiam ser esses os obstáculos para o sucesso do filme. Entretanto, por retratar hábitos e costumes da sociedade carioca dos anos 70, talvez por isso mesmo a atuação amadoríssima e naturalista dos jovens atores soe como um retrato daquele momento. Um registro de costumes e dilemas da juventude. Quase não nos damos conta de que se trata de uma película, e sim de pessoas comuns percorrendo seus caminhos, existindo e como que, por acaso, alguém tenha feito uns instantâneos deles, das aulas de francês – idioma que se valorizava como cultura real – e tantos outros flashes da vida real ali.

Tem, ainda, as atuações corretas de Fernanda Montenegro e de João Dória como os pais da mocinha. Enfim, o filme serve de moldura para uma cena carioca dos anos 70, quando libertação, uso de pílulas, amor vivo e a reinvenção de uma sociedade que, estamentalmente reconhecida, não agradava à nova geração. Geração que não concordava com os valores da hipocrisia social vigentes.

Vale assistir na íntegra. Principalmente os mais jovens que não conheceram, nem viveram num mundo muito diferente desse que hoje existe.

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Minha Namorada

Gênero: Filme/ Drama

Sinopse: Adolescente de classe média tem um namorado sério que os pais aprovam. De repente, ela conhece outro rapaz, com quem descobre ter maior identificação.

Elenco: Fernanda Montenegro, Jorge Dória, Arduíno Colassanti, Laura Maria, Ana Maria Magalhães, Pedro Aguinaga, Vera Maria de Paula, Antônio Cristiano

http://www.tvmap.com.br/c516880/Zelito-Viana-80-Anos-Minha-Namorada

FILMOGRAFIA DE ZELITO VIANA

1971 – MINHA NAMORADA

1973 – OS CONDENADOS

1977 – MORTE VIDA SEVERINA

1979 – TERRA DOS ÍNDIOS

1985 – AVAETÉ- SEMENTE DA VINGANÇA

2000 – VILLA-LOBOS-UMA VIDA DE PAIXÃO

2008 – BELA NOITE PARA VOAR

2011 – AUGUSTO BOAL E O TEATRO DO OPRIMIDO

2012 – SONS DA ESPERANÇA

Zelito Viana é irmão de Chico Anísio e pai de Marcos Palmeira

Fonte: http://www.adorocinema.com

Vídeos: Canal luciano hortencio

Trens

 

Lindas imagens de espaços e tempos que viajam na gente para sempre

Era assim sempre que acontecia nos verões da minha vida.

Na estrada já namorava as casinhas ao longe – quem moraria ali, como as crianças iriam à escola, como voltariam, não conseguindo adivinhar esses mistérios; assim, me fixava na paisagem como se fosse uma moldura dos meus sonhos de chegar e de partir.

Estradas sempre me percorreram fundo a alma.

Trem de carga, sem gente, que triste.

O país perdeu suas estações lotadas de pessoas de irem e virem.

Mas o bucolismo das estações ainda está tatuado em mim

Ainda que os vagões insistam em ser de carga apenas.

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TREM DE CARGA

Nos dormentes,
vagões vazios
dormem
solitários
de vozes
risos abraços beijos.
Despedidas ausentes
chegadas ausentes
encontros e reencontros
ausentes.

Carga pesada
fantasma
que apita
chegadas
partidas
sem paradas
sem estações sentimentais
sem coloridos de saias e calças roçantes nos corpos
sem cheiro de corpos roçando os sentidos
sem massa de almas
desejos súplicas.
Vagões de carga apenas
suportando o peso das remessas diárias,
eternamente. 

 

VAGÕES

Há como um compasso aberto
no traçado de certas rotas.
Toca-se ao extremo a superfície
apoia-se a ponta seca nos dormentes
eriçam-se os cordeiros
empina-se a fornalha
queima-se um fogo eterno
por bancos, poltronas , estribos, trilhos.
 
Vagões vagueiam por espaços etéreos
de estradas verticais qual pássaros audazes.
Há como uma geometria desconexa de espelho,
imagens se opõem ainda que as mesmas.
 
Há um mistério no sussurro lamento
do apito de um trem.

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VARANDAS

passa boi passa boiada
um monte
uma cerca
uma invernada.
passa boi passa boiada
um açude, um aceno
um olhar até onde pude.
apito aviso
apito grito
apito choro
apito lembranças
apito conversas
apito promessas
apito chegadas
apito despedidas.
um túnel esgarçando em mim
uma luz no fim começo
no fim travessia
no fim revelação.

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JANELA

Era sol
Era água
Era lago, lagoa, rio.
Era amanhecer
Era entardecer
Era anoitecer
Era madrugada em sintonia
Era madrugada em sinfonias.
Era gelosia centenária
Era veneziana secular
Era peitoral histórico.
Era janela dos olhos.
Era explosão do sentir.
 

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ALMA DE LAGOA

Olhos perscrutam
sinuosamente
terra pedra árvore
água estática
luz morrente
lagoa nuvem céu espelho.
 
Mergulho no tudo
mergulho no nada
 
Cores
seres vivos distantes
seres distantes vivos.
 
Metamorfose
água – céu
nuvem água
 
Formas
reformas
signos.

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OLHOS DE VER

Ainda não
Agora sim ?
Ainda não.

Pés na água
Pés na terra
Pés no chão
Passos.
Agora sim ?
Ainda não.

Aguardo o instante
Aguardo a luz certa
O brilho certo
Aquela nuvem
Aquele movimento
Aquele tom

Giro o olho
Paro o olho
Encaro
Emolduro

Agora sim
Ainda, sim !

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UM  SÁBADO E UM RIO

“Clareia a manhã, é o dia marcado na margem do rio. Um trem ruma ao largo do rio. Um céu se abre em plumas e faíscas ao curso do rio. Umas ilhas de areia no curso, uma ponte, uma estação, outra estação. O sol se abre maior, a tepidez das águas de longe escorre pelos vidros do vagão. Imagens conhecidas desconhecidas congeladas nas telas das retinas eclipsadas por marchas de trilhos. O rio gêmeo ao trem segue em pedras, seixos, plumas e, no céu, nuvens quentes perseguem os vagões, qual anjos de guarda a encaminhar fadas e tapetes voadores em naus de velas e ventos eclipsados de dor. Que cheguem rios, lagos, lagoas perpassando ramais secos e caminhos férteis por águas mínimas de flores campestres e árvores nativas. Não há tempos tardios, sempre é cedo que o dia começa e estará ao meio. Nenhum traço de chuva, tempestade, raio, trovão. O rio corre. O trem corre. A manhã corre. O dia ao meio chegando. A hora seguinte no rumo, no sumo, no prumo, na água corrente, na vida corrente, no cavalo encilhado, galopando serras de viúvas, de moças solteiras, de virgens em transe. O rio costeiro, a tralha na garupa do cavalo baio acompanhando o tropeiro de olhar incomum serranamente contemplativo. Rio que vive, que segue, que escorre, rio que vai, rio que encontra o mar ainda que tarde.”

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CINEMA MONUMENTAL

Um filme circulava-lhe os pensares,
era longa-metragem sem intervalos
era cinemascope por vidros embaçados
era olhos fechados sem lanterninha
era roteiro de lembranças
ora sequência em plano aberto
ora close de rosto, dorso,  pernas.
 
Num sacudir de trem moderno,
a memória da fumaça de fuligens dos seus antes.
Tudo era análise, avaliação.
Partes esparsas, excertos, segmentos de poemas,
trechos de melodias, frases sem contexto,
fragmentos de situações em versos,
inversos, postos, opostos, repostos, dispostos.
 
Numa estação insone,
um caminhar ansioso
um encontro de asas
um flutuar de prazer.
 
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Texto e poesias: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal: cidades mineiras

1º Vídeo: Canal Odonir Oliveira

2º Vídeo: Canal sinfonicabrasileira