ROTEIRO DE UM FILME
Eliana nascera no Campo das Vertentes e se mudara muito cedo com os pais e a irmã mais novinha para a maior metrópole do país. O pai, bom marceneiro, teria mais chances de trabalho por lá. E a mãe, a que carregava o piano, o incentivara a ir em frente, morar ali, mesmo que no começo fosse na periferia, mas depois iriam chegando mais para os bairros melhores.
Assim foi, cresceram as meninas, depois mocinhas já começaram a trabalhar e estudar à noite. Suas raízes estavam grudadas em seus pés e, por mais que voassem, estavam sempre fincadas no Campo das Vertentes.
Agora, adultas, com seus filhos adolescentes, estudando, voltavam às terras de ouro, de escravizados, de igrejas coloniais…
Como em um filme repleto de Amor, Eliana e Élida se viam naquelas pontes, de bem longe, de mais perto, de bem pertinho. Sabiam que nelas havia os bancos de pedras onde se negociavam os escravos para a exploração das minas, para o trabalho duro nas fazendas, como em um leilão de objetos.
Sabiam da Revolta de Carrancas, das mortes dos Junqueira, do maior enforcamento de escravizados da História Colonial. Sabiam. O Campo das Vertentes lhes chegava em cenas, em flashs… Como se ambas fossem personagens naquele cenário, enxergaram-se ao longe. Eram mulheres enraizadas em sua terra. Talvez nunca tivessem saído dali. Talvez.
Sobre a Revolta de Carrancas, procure por textos e vídeos do Prof. Marcos Ferreira de Andrade, da UFSJ, especialista nos estudos aprofundados sobre o tema. Também aqui: https://esquerdadiario.com.br/A-Revolta-de-Carrancas-a-maior-rebeliao-escrava-da-provincia-de-Minas-Gerais
Texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal: São João Del Rei, Campo das Vertentes, MG
Vídeo: Canal Tiago Iorc