De flores e sementes

DAS BELEZAS E DE SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

As famílias que moram na minha rua estão aqui há 30, 40, 50 anos ou mais – estrangeira aqui só eu. Isso traz certas estranhezas, contratempos e aborrecimentos a ambos os lados. Não sou mulher de ficar na porta de vizinhas conversando, nem tampouco de fazer visitas, digamos, de intimidade. Gosto de privacidade, certo isolamento e solidão. Evito ser transtorno para vizinhos, desde cedo, aos 18, quando passei a viver sozinha em São Paulo. Sempre me acompanharam discos e livros e a cidade, propriamente dita. Assim, não tenho hábitos interioranos de visitações. Desde o início da pandemia, converso com minhas vizinhas por nossas varandas, sacadas e muros. E, com GRANDE AFETIVIDADE, tenho recebido presentinhos e lembranças de todas elas. São mais velhas que eu (à exceção de uma delas), já avós até. Trazem mudas de orquídeas, de suculentas, batatas Yacon, e hoje recebi flores de vandas (para serem secas) e limões cravo (ou limões rosa) porque mencionei que adorava. Vou fazer disso tudo mais do que uma limonada; faço uma crônica, então.

As flores nos fazem bem aos olhos, nos alimentam versos, lirismo, encantamentos e são irresistíveis. De beleza todos gostam, não é mesmo? Já as sementes !!! Bem, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é “- canta Caetano Veloso.

NUA E CRUA
Olho
sou galho seco
escorro de dentro um resto refugo de força
Sinto
sou pedra moldura cenário-parede separação
Reouço
marcas metros mudos surdos ecos absorção

Texto e poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Música de Interior

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