Roteiro para as cinzas

QUANDO EU MORRER
Tenham em mãos a autorização escrita
Façam com que meu corpo em cinzas se torne
Disponham cada poeirinha de meu cerne em pote de cerâmica mineira
Sigam pela BR 265 até meu rumo ao infinito
Percorram toda a Av. Governador Israel Pinheiro
sosseguem um pouco e repousem meu olhar-pó na Serra de São José
concedam-me o direito de ouvir pássaros e cavalos
encontrem logo na entrada o Rio das Mortes
à esquerda e à direita
passem por ele e sigam até o século XVIII
parem na Praça da Estação
esperem a maria-fumaça vinda de São João Del Rei
deixem que eu-poeira ouça ainda uma vez
o meu trem eterno
vejam meu Ribeiro São José
depois sigam até o Largo das Forras
parem em frente ao muro dos inconfidentes
concordem que eu leve esse portal comigo
agora deixem o perfume das rosas em mim
permitam-se estar frente a frente com Nª Senhora
mãe como eu
Agora que já tenho em mim
a minha confidente fiel
a minha Tiradentes
retornem ao Rio das Mortes
sobre a ponte
espalhem minhas cinzas
do lado direito e do lado esquerdo
Torno à agua
Torno à essência original.

No século XIX, a tuberculose matava a população. Surgiu na literatura brasileira uma geração de poetas ultrarromânticos que cultuaram a morte como companheira, já que esperavam por ela. Aos moldes de Lord Byron, poeta inglês, aqui, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela também abordaram o tema da morte de maneira semelhante, tendo todos morrido muito jovens. Curiosamente, temos vivido desde 2020 na expectativa da morte, sem sabermos quem seguirá com ela como companheira de viagem.”Para morrer basta estar vivo”- diz o dito popular. Sem morbidez, mas realisticamente, é preciso saber disso.

”A Cidade de Tiradentes foi fundada por volta de 1702, quando os paulistas descobriram ouro nas encostas da Serra de São José, dando origem a um arraial batizado com o nome de Santo Antônio do Rio das Mortes. O arraial posteriormente, passou a ser conhecido como Arraial Velho, para diferenciá-lo do Arraial Novo do Rio das Mortes, a atual São João del Rei. Em 1718 o arraial foi elevado à vila, com o nome de São José, em homenagem ao príncipe D. José, Futuro rei de Portugal, passando em 1860, à categoria de cidade. Durante todo o século XVIII, a Vila de São José viveu da exploração de ouro e foi um dos importantes centros produtores de Minas Gerais.
No fim do século XIX os republicanos redescobrem a esquecida terra de Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, fazem uma visita cívica à casa do vigário Toledo, onde se tramou a Inconfidência Mineira. Mas foi o inflamado Silva Jardim que, de passagem por São José, sugere em seu discurso que o nome da cidade fosse trocado para o do herói, em lugar de um rei português. Com a proclamação da república, por decreto de número 3 do governo provisório do estado, datado de 06 de dezembro de 1889, recebe a cidade o atual nome “Cidade e Município de Tiradentes“. Após longos anos de esquecimento, o conjunto arquitetônico da cidade foi tombado pelo então Serviço do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 20 de abril de 1938, tendo sido, por isso, conservado quase intacto.” FONTE: Site Tiradentes.net

Poesia: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal :Minha Tiradentes, MG

Vídeo: Canal Elis Regina – Tema

6 comentários sobre “Roteiro para as cinzas

  1. Maria Mercês (via Facebook)
    Tenho orientações parecidas. Envolvem os quatro elementos. Vou escrever e colocá-las num envelope pardo pois tenho o CD com Sinatra para ser tocado durante a cerimônia de cremação. Farei isso sem perda de tempo.

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