OBSESSÃO
Sou obsessiva.
Sou obsessiva sim.
Tenho ideia fixa de justiça
Tenho ideia fixa de comprometimento.
Tenho ideia fixa de educação
Tenho ideia fixa de doação e entrega.
Não tenho receio de dor.
Não tenho medo de envolvimento.
Não tenho pavor de amor.
Minha obsessão por ensinar
seja a miúdos, maduros, graúdos
passa pelo ato de amar.
Não restrinjam minhas ações.
Não desprezem minhas veredas.
Não me imponham o silêncio covarde.
Não me limitem os braços e as pernas.
Não me amordacem o verbo.
Defendo meus aprendizes
como felina parida.
Não mexam com eles.
Não os ignorem
Não os maltratem.
Não os desprezem.
Somos raízes, mas também somos sementes.
O MENINO MÁGICO
Ei, menino,
quem tem sorriso de luz
bate a varinha de condão
sacode qualquer tristeza, aborrecimento …
quem tem sorriso de luz
ilumina vidas
encanta caminhos …
quem tem sorriso de menino mágico
navega sem limites
na aventura
no tapete dourado
da ternura, da alegria, do amor.
Vai, menino mágico, ser feliz !
DOU O PEIXE OU ENSINO A PESCAR ?
Esse ditado vem sendo usado de maneira cruel em relação a muita gente. Em relação às crianças e adolescentes então …
Criança tem que ir à escola, socializar-se com outros, conhecer outros núcleos de relações além do seu familiar. Há até crianças e adolescentes que nem núcleo familiar possuem. Ao contrário, aquele arremedo de dores, machucaduras e mágoas internas marca para sempre suas vidas. E na maioria das vezes, no inconsciente. E não me refiro apenas às classes sociais mais pobres não. Violências intramuros em apartamentos, condomínios etc. também ocorrem.
Na escola existe a chance de a criança ser ouvida, de se tomar alguma atitude para coibir violências e abusos que estejam sendo cometidos com elas ( caso possam ser ouvidas na escola).
A ludicidade na criança precisa ser observada, desenvolvida, respeitada, pois será ela a responsável por toda a criatividade do ser adulto, em todas as áreas. É preciso brincar.
Uma coisa é brincar de professora, de dona de casa, de secretária, de vendedora, de bancária e outra é EXERCER ISSO COMO TRABALHO OBRIGATÓRIO.
E na ”sevirança do empreendedorismo”… dois rapazinhos tocam a campainha e vêm oferecer brigadeiros. Olho-os da sacada e respondo que não quero.
”A senhora tem 20 centavos, só pra me ajudar, então”
Entro, reflito e volto.
Pergunto-lhes da sacada quanto é cada brigadeiro
”2 reais”
Compro 3. Gostei da embalagem, até tampinha tem.
MINHA LIÇÃO DA TARDE: Quase ia transformando os meninos em ”pedidores de esmolas”. Preferi valorizar o seu trabalho de vender a diminuí-los, mesmo que inconscientemente.
DAS CRIANÇAS
Vejo adultos e velhos empunhando armas de papel com fotos,
vejo ódio que escorre de suas digitais em documentos sem cor,
vejo crianças alegres e confiantes embalançando-se de futuro
Prefiro as crianças
Prefiro o toque doce de dedos leves em minha pele
Sou um colo quente a acolher esperança.
Mesmo assim.
LAR DO CAMINHO, Juquitiba, SP (fundada em 1974)
Sobre a ONG
”Hoje abriga e educa 80 crianças e jovens, em 6 unidades localizadas no interior de SP: Juquitiba, com 40 crianças de 2 a 13 anos; Itatiba e Jundiaí, com 3 “Unidades” para um total de 26 adolescentes, de 13 a 18 anos, e Taubaté, com 2 casas para 14 “jovens especiais” com sérios problemas cognitivos.
Os principais cuidados institucionais são dirigidos à preservação das individualidades de cada criança; ao forte investimento em educação e formação profissionalizante; no apoio psicológico regular; à promoção de um ambiente afetivo e acolhedor; à assistência básica com qualidade; à estrutura física ampla, equipada e bem cuidada; à capacitação dos funcionários e ao apoio aos ex- residentes.
Mais de 1000 crianças e jovens já viveram no Lar do Caminho. A grande maioria tem, hoje, uma vida digna e independente, uma carreira profissional em desenvolvimento, e constituem suas famílias. Muitos são hoje voluntários engajados ao nosso projeto.” http://www.lardocaminho.org.br/
O LAR DO CAMINHO e eu: No início da década passada, conheci – através da minha amiga Heloísa Ramos – o LAR DO CAMINHO, em Juquitiba, SP. Fiquei encantada com a ONG, que recebia crianças e adolescentes vítimas de abandono ou de abusos no núcleo familiar, indicadas por juizados de menores, acompanhamentos psicológicos etc. Pude ter acesso a relatos de fazer até corações de aço amolecerem e quererem ser voluntários naquele trabalho. Estive algumas vezes por lá, conversando com professores sobre literatura, dialogando com a moçadinha, conhecendo dormitórios, refeitório, áreas de lazer, bibliotecas, ufa, um paraíso em meio a muito verde e muito calor humano. Havia também os passeios que faziam a equipamentos públicos na cidade de São Paulo, acompanhados de voluntários – seus familiares por escolha, de um lado e de outro – em idas ao teatro, passeios a parques, piqueniques em parques – ”madrinhas e padrinhos” que se dedicavam a serem seus familiares por laços de afeto. Certa vez fui a uma ”Feira Cultural ” lá e desenvolvi uma oficina com eles, leituras de poemas, interpretações com figurinos levados por mim e acrescentados pela ONG. Foi espetacular. Depois, almocei com eles, senti que alguns gostavam de colo e outros não aceitavam qualquer tipo de toque físico … eram assim. E nos faziam muito mais BEM do que nós podíamos fazer a eles. Agradeci muito tê-los conhecido e reconhecido.
”Infelizmente, o abuso sexual é um dos tipos de violências que levam crianças a terem medo de viverem nas suas próprias casas. De acordo com o balanço anual do Disque 100, 17 mil crianças e adolescentes foram vítimas de violência sexual ao longo de 2019. Em 73% dos casos, o crime ocorreu na casa da própria vítima ou do suspeito. Os principais abusadores foram os padrastos (21%) e os pais (19%). ” https://observatorio3setor.org.br/noticias/70-das-criancas-que-vivem-nas-ruas-do-brasil-sofrem-violencia-domestica/
ABUSOS DIÁRIOS
É noite
noite muito fria na zona oeste paulistana
uma menina chega à janela do carro
vidro fechado
sinal fechado
”Compra, dona”
Negativa
”Vai pra casa, você corre perigo”
”Que perigo, dona?”
”Um tarado pode te agarrar e colocar dentro do carro”
Menina, assustada
Mulheres adultas sentadas observam, se movimentam
”Qual delas é sua mãe?”
”Nenhuma. Elas vêm comigo”
”Vai pra casa, nesse frio !”
A menina aborda o carro de trás.
Sinal aberto.
Vidas fechadas
MESES DE OUTUBRO AQUI NO BLOG:
Desde 2016, no mês de outubro, faço uma série dedicada às crianças. Caso se interesse, procure aqui.
2016: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/10/
2017: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/10/
2018: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/10/
2019: https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2019/10/
Leia ainda:
”A cada 15 dias morre uma criança vítima do trabalho infantil no Brasil”
ONG ”LAR DO CAMINHO”
http://www.lardocaminho.org.br/
Poesias e texto: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Vídeos:
1- Canal ZeGeraldoVEVO
2- Canal Aline Berto
Um comentário sobre “Semana da criança: violências e abusos”