A linguagem que acaricia o espírito. Gosto de beber regionalismos, frases e expressões antigas, gosto de entender a etimologia dos termos, gosto de quem resgata falas e locuções expressivas. Aqui nas Gerais vivo pedindo traduções, isso quando não alcanço o sentido, dentro do contexto. Mas são falas que me acariciam como seda, veludo, plumas… Gosto de beber entonações diferentes e poder senti-las também.
ELZA E O AMOR ÚLTIMO
Cansada de mesmices, Elza se apaixonou por olhos imaginados, pele imaginada, mãos quase imaginadas. Elza acreditou que aquilo fosse um "tiro ao álvaro" no seu coração. Era tanta letra, tanta melodia, tanta história comum que pensou, e mais do que isso, sentiu que era pra valer aquele Amor. Faltava confirmar se aquilo tudo era aquilo tudo mesmo, tanta picardia, tanta revolta, tanta resposta na lata, tantos desvios e desvãos tais quais os de Elza, ou bastante semelhantes. Precisava estar.
Entrou areia no caminho, mas não areia assim de se limpar os pés, tirar os sapatos e se continuar na vereda. Foi areia molhada, pesada, vinda de todos os lados, por ventos, por enxurradas, nas redes, nos barcos, nas praias. Elza cuspiu sangue por tempos enormes; teve pus expelido por orifícios líricos, amargou humilhações familiares, não familiares a ela, mas a uma Elza desconhecida. E morreu.
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Texto: Odonir Oliveira
Foto de arquivo pessoal
Vídeo: Canal Adoniran Barbosa