CANTIGA Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui arde a tarde em sortilégios Aqui dorme a noite em sacrifícios Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui trago lança colorida Aqui tenho aromas e perfumes Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui cavaleira sou Aqui tropeço levanto em lances de dor Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui vagueiam nuvens desenhos de um cantador Aqui passeiam sonhos de encantos e sabor Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro?
OH, MINHA SERRA DE SÃO JOSÉ!
Oh, minha Serra de São José, que em outros tempos eu buscava. Oh, minha Serra de São José, sempre escondida dos meus desejos, das minhas realizações. Oh, minha Serra de São José, aqui tão perto de mim, tão cheia de brilhantes, de diamantes, aos meus olhos. Intransponível.
O TROVADORISMO As obras do trovadorismo são chamadas cantigas, pois eram escritas para serem declamadas (não havia cultura do livro na Idade Média, a população era em grande parte analfabeta e ainda não havia sido inventado o livro impresso), e frequentemente eram acompanhadas de instrumentos musicais, como a lira, a flauta, a viola. Enquanto o compositor (de origem) era chamado de trovador, o músico era chamado de menestrel. Chamava-se segrel o trovador profissional, cavaleiro que ia de corte em corte divulgando suas cantigas em troca de dinheiro.
CANTIGAS DE AMIGO
Embora compostas por trovadores homens, representam sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor seus sentimentos, sempre de maneira discreta, pois, para o contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo:
– as albas, que cantam o nascer do Sol;
– as bailias, que cantam a arte da dança;
– as barcarolas, de temática marítima;
– as pastoreias, de temática bucólica;
– as romarias, de celebração religiosa;
– as serenas, que cantam o pôr do Sol;
– as de pura soledade, que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.
TROVADORISMO O amor é um dos temas centrais do trovadorismo. É o eixo condutor das cantigas de amor e das cantigas de amigo. É comum o tema da coita (coyta), palavra que designa a dor do amor, do trovador apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa. Daí a origem da palavra “coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima de dor ou mazela.
Cantigas de amor Gênese da poesia amorosa que surgiria nos séculos seguintes, a cantiga de amor é cantada em 1ª pessoa. Nela, o trovador declara seu amor por uma dama, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada. A confissão amorosa é direta, e o trovador comumente dirige-se à dama como “mia senhor” ou “mia senhor fremosa” (“minha senhora” ou “minha formosa senhora”), em analogia às relações de senhorio e vassalagem medievais. O apaixonado é, portanto, servo e vassalo da amada e enuncia seu amor com insistência e intensidade.
Mesura seria, senhor, de vos amercear de mi, que vós em grave dia vi, e em mui grave voss’amor, tam grave que nom hei poder d’aquesta coita mais sofrer de que muit’há fui sofredor.
Pero sabe Nostro Senhor que nunca vo-l’eu mereci, mais sabe bem que vós servi, des que vos vi, sempr’o melhor que nunca pudi fazer; por em querede-vos doer de mim, coitado pecador. […]
(D. Dinis, em Cantigas de D. Dinis, B 521b, V 124)
mesura: “cortesia” senhor: “senhora”. Os sufixos terminados em “or” não possuíam flexão feminina. amercear: “compadecer-se, sentir compaixão” grave: “difícil, infeliz”
Nessa cantiga, o trovador espera que a dama tenha a cortesia de sentir compaixão por ele. Sofrendo, diz que foi infeliz o dia em que a conheceu e mais infeliz ainda o amor que por ela sentiu, tão difícil que não pode mais sofrer da coita, pois que há muito é sofredor. Sabe Deus que ele nunca mereceu esse sofrimento, sabe Deus que ele sempre ofereceu à dama o seu melhor e diz que ela é que quer vê-lo padecer, coitado pecador.
Releituras de Jacob do Bandolin
Cantigas de amigo Embora compostas por trovadores homens, representam sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor seus sentimentos, sempre de maneira discreta, pois, para o contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo: as albas, que cantam o nascer do Sol; as bailias, que cantam a arte da dança; as barcarolas, de temática marítima; as pastoreias, de temática bucólica; as romarias, de celebração religiosa; as serenas, que cantam o pôr do Sol; as de pura soledade, que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.
Oy eu, coytada, como vivo em gran cuydado por meu amigo que ey alongado! Muito me tarda o meu amigo na Guarda
Oy eu, coytada, como vivo em gran desejo por meu amigo que tarda e non vejo! Muyto me tarda o meu amigo na Guarda
(D. Sancho I ou Alfonso X [autoria duvidosa], Cancioneiro da Biblioteca Nacional, B 456)
Nessa cantiga, verifica-se que a donzela também sofre as penosas dores do amor, da distância entre ela e o amado, oficial da guarda, que há muito não vê. Percebemos, entretanto, que o discurso amoroso é mais sutil, não é dirigido diretamente ao rapaz; trata-se de um lamento de saudade.
Perdoa-me o atrevimento de saber-te na torre janela de meus amores
Oh, minha amada, motivo dos meus ardores
perdoa-me o atrevimento de saber-te nas nuvens janela de meus amores
Oh, senhora, escutai lamentos e dores de seu cavaleiro de esperas e de temores
perdoa-me o atrevimento de saber-te na varanda janela de meus amores
Oh, minha senhora que sofro por teus olhares
perdoa-me o atrevimento de encantar-me por tuas virtudes de saber-te em teu castelo janela de meus amores.
”O trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval, principalmente a partir do século XII. À época, não existiam ainda os Estados nacionais — a Europa encontrava-se dividida em feudos, grandes propriedades controladas pelos suseranos. O valor, na Idade Média, não era fundamentado no dinheiro, mas na posse territorial. Por esse motivo, o cotidiano medieval era marcado por muitas guerras, batalhas e invasões com o intuito da conquista de território.
Estabeleceu-se, então, uma relação de suserania e vassalagem: o suserano, senhor do feudo, precursor da nobreza europeia, oferecia proteção aos seus vassalos que, em troca, produziam os bens de consumo: cultivavam, fiavam, forjavam as armas etc.
Com o declínio do Império Romano, a partir dos séculos IV e V, o latim vulgar, língua oficial de Roma, passou a sofrer modificações entre os povos dominados. Foi nesse longo período da Idade Média que começaram a surgir as línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno e o catalão. No entanto, foi apenas no século XIV que o português surgiu como língua oficial; as cantigas dos trovadores foram, portanto, escritas em um outro dialeto: o provençal.
O TROVADORISMO As obras do trovadorismo são chamadas cantigas, pois eram escritas para serem declamadas (não havia cultura do livro na Idade Média, a população era em grande parte analfabeta e ainda não havia sido inventado o livro impresso), e frequentemente eram acompanhadas de instrumentos musicais, como a lira, a flauta, a viola.
Enquanto o compositor (de origem) era chamado de trovador, o músico era chamado de menestrel. Chamava-se segrel o trovador profissional, cavaleiro que ia de corte em corte divulgando suas cantigas em troca de dinheiro.
Havia ainda o jogral, cantor de origem popular que interpretava cantigas de outrem e compunha as suas próprias. As baladeiras ou soldadeiras eram as dançarinas e cantoras que também os acompanhavam nas apresentações e dramatizações das cantigas.
O trovadorismo foi um movimento itinerante, isto é, os grupos de trovadores e menestréis viajavam pelas cortes, burgos e feudos, divulgando em suas composições acontecimentos políticos e propagando ideias, como a do comportamento amoroso esperado de um cavaleiro apaixonado.
O amor é um dos temas centrais do trovadorismo. É o eixo condutor das cantigas de amor e das cantigas de amigo. É comum o tema da coita (coyta), palavra que designa a dor do amor, do trovador apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa. Daí a origem da palavra “coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima de dor ou mazela.
Os trovadores escreveram ainda outros dois tipos de cantiga: as de escárnio e as de maldizer, dedicadas a satirizar e ridicularizar.
É comum que haja paralelismo nas cantigas: cada ideia desenvolve-se a cada duas estrofes — ou, na verdade, cobras. A nomenclatura da época era diferente: a estrofe chamava-se cobra, o verso chamava-se palavra.”
CANTIGAS DE AMOR
Gênese da poesia amorosa que surgiria nos séculos seguintes, a cantiga de amor é cantada em 1ª pessoa. Nela, o trovador declara seu amor por uma dama, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada.
A confissão amorosa é direta, e o trovador comumente dirige-se à dama como “mia senhor” ou “mia senhor fremosa” (“minha senhora” ou “minha formosa senhora”), em analogia às relações de senhorio e vassalagem medievais. O apaixonado é, portanto, servo e vassalo da amada e enuncia seu amor com insistência e intensidade
CANTIGAS DE AMIGO
Embora compostas por trovadores homens, representam sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor seus sentimentos, sempre de maneira discreta, pois, para o contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo:
– as albas, que cantam o nascer do Sol; – as bailias, que cantam a arte da dança; – as barcarolas, de temática marítima; – as pastoreias, de temática bucólica; – as romarias, de celebração religiosa; – as serenas, que cantam o pôr do Sol; – as de pura soledade, que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.
Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui arde a tarde em sortilégios Aqui dorme a noite em sacrifícios
Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui trago lança colorida Aqui tenho aromas e perfumes
Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui cavaleira sou Aqui tropeço levanto em lances de dor
Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro? Aqui vagueiam nuvens desenhos de um cantador Aqui passeiam sonhos de encantos e sabor
Ó serra de meus tormentos que trazes de novas de meu cavaleiro?
NO TEMPO
era quase tarde ali ela apenas sem ele com ele era quase tarde ali apenas ela um sino plangente uma pétala de flor umas folhas ao chão era quase tarde ali ela apenas sem ele com ele uma música interna um fulgor interno uma carícia de vento frio na pele ali apenas ela sem ele com ele era quase tarde ali
TROVA
Soubesse ela seduzir pelos braços soubesse ela fascinar pelos pelos soubesse ela encantar pelos sorrisos fagueiros soubesse ela morder seu peito soubesse ela apertar seus ombros soubesse ela desfalecer em seu regaço soubesse ela ser folha e flor soubesse ela ser verão e primavera soubesse ela ser
CANTIGA DE ESCÁRNIO
Dona Duarte, que estiveste protegida em teu castelo alheia aos vassalos globais enclausurada em tua vaidade pueril aceita essa trova do mais puro escárnio e desprezo
Dona Duarte, que estiveste sob a lavra de tantos trovadores por que não seguiste Dom Dinis guardião da palavra nas artes aos senhores aceita essa trova do mais puro escárnio e desprezo
Dona Duarte, que cantaste loas a assassinos cruéis sem pejo ou caráter dona sandia na ribalta apagada aceita essa trova do mais puro escárnio e desprezo
Dona Duarte, vassala de funesto senhor de texto decorado que encenaste ato fétido e pútrido aceita essa trova do mais puro escárnio e desprezo
Dona Duarte, que epílogo derradeiro daquela que o povo se enamorou daquela com que o povo casou e enviuvou aceita essa trova do mais puro escárnio e desprezo
CANTIGA DE MALDIZER
Senhor do feudo brasilis, exproprias teu povo de esporas nos cascos cruel ensandecido vagas errante por entre a massa pulverizas a peste em atos e omissões sufocas o ar são espalhas a maldição apresentas a tua expropriação
Senhor do feudo brasilis, achas-te suserano de submissos vassalos não permites que F. com os teus asperges de M. os ódios ignóbeis debochas das chagas expostas satirizas os corpos insepultos escarneces das lágrimas fraternas espolias os bolsos dos espezinhados maltratas os nada favorecidos ofendes com teu riso até mesmo apadrinhados teus
Senhor do feudo brasilis, tua alma está encomendada.