Saudade

A “coita amorosa”

TROVADORISMO
O amor é um dos temas centrais do trovadorismo. É o eixo condutor das cantigas de amor e das cantigas de amigo. É comum o tema da coita (coyta), palavra que designa a dor do amor, do trovador apaixonado que sente no corpo a não realização amorosa. Daí a origem da palavra “coitado”: aquele que foi desgraçado, vítima de dor ou mazela.

Cantigas de amor
Gênese da poesia amorosa que surgiria nos séculos seguintes, a cantiga de amor é cantada em 1ª pessoa. Nela, o trovador declara seu amor por uma dama, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada.
A confissão amorosa é direta, e o trovador comumente dirige-se à dama como “mia senhor” ou “mia senhor fremosa” (“minha senhora” ou “minha formosa senhora”), em analogia às relações de senhorio e vassalagem medievais. O apaixonado é, portanto, servo e vassalo da amada e enuncia seu amor com insistência e intensidade.

Mesura seria, senhor,
de vos amercear de mi,
que vós em grave dia vi,
e em mui grave voss’amor,
tam grave que nom hei poder
d’aquesta coita mais sofrer
de que muit’há fui sofredor.

Pero sabe Nostro Senhor
que nunca vo-l’eu mereci,
mais sabe bem que vós servi,
des que vos vi, sempr’o melhor
que nunca pudi fazer;
por em querede-vos doer
de mim, coitado pecador.

[…]

(D. Dinis, em Cantigas de D. Dinis, B 521b, V 124)

mesura: “cortesia”
senhor: “senhora”. Os sufixos terminados em “or” não possuíam flexão feminina.
amercear: “compadecer-se, sentir compaixão”
grave: “difícil, infeliz”

Nessa cantiga, o trovador espera que a dama tenha a cortesia de sentir compaixão por ele. Sofrendo, diz que foi infeliz o dia em que a conheceu e mais infeliz ainda o amor que por ela sentiu, tão difícil que não pode mais sofrer da coita, pois que há muito é sofredor. Sabe Deus que ele nunca mereceu esse sofrimento, sabe Deus que ele sempre ofereceu à dama o seu melhor e diz que ela é que quer vê-lo padecer, coitado pecador.

Releituras de Jacob do Bandolin

Cantigas de amigo
Embora compostas por trovadores homens, representam sempre uma voz feminina. É a dama quem vai expor seus sentimentos, sempre de maneira discreta, pois, para o contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho. Existem sete categorias de cantigas de amigo: as albas, que cantam o nascer do Sol; as bailias, que cantam a arte da dança; as barcarolas, de temática marítima; as pastoreias, de temática bucólica; as romarias, de celebração religiosa; as serenas, que cantam o pôr do Sol; as de pura soledade, que não se enquadram em nenhum dos temas anteriores.

Oy eu, coytada, como vivo em gran cuydado
por meu amigo que ey alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda

Oy eu, coytada, como vivo em gran desejo
por meu amigo que tarda e non vejo!
Muyto me tarda
o meu amigo na Guarda

(D. Sancho I ou Alfonso X [autoria duvidosa], Cancioneiro da Biblioteca Nacional, B 456)

Nessa cantiga, verifica-se que a donzela também sofre as penosas dores do amor, da distância entre ela e o amado, oficial da guarda, que há muito não vê. Percebemos, entretanto, que o discurso amoroso é mais sutil, não é dirigido diretamente ao rapaz; trata-se de um lamento de saudade.

FONTE: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/trovadorismo.htm

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