Amor é isso?

Mulher? Mulheres!

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Vídeo: Canal Rita Lee (Com a luxuosa presença de meu ex-aluno Eduardo Salvitti na batera)

[Sororidade significa a aliança feminina baseada no apoio mútuo, na solidariedade, empatia e força. A sororidade é importante para o feminismo porque representa a união entre as mulheres em prol da busca pela igualdade de gênero e da conquista do seu espaço na sociedade. A sororidade é importante ainda porque é através do olhar e comportamento amigável e solidário entre as mulheres e da união entre elas que a busca pelos direitos iguais e pelo fim de seu rebaixamento na sociedade ganha grandes proporções e atinge cada vez mais mulheres]

http://www.significando.com.br/sororidade/

Leia aqui no blog, diversos posts sobre Mulheres: “Que mulher sou eu? 8 de março” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/03/08/que-mulher-sou-eu-9-de-marco/ “8 de março ou qualquer outro dia”- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/03/08/8-de-marco-ou-qualquer-outro-dia/“Aê, aê, dona Maria, vamu, vamu”- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2020/03/08/ae-ae-dona-maria-vamu-vamu/ “Mulheres mineiras no século XVIII”- https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2021/03/08/mulheres-mineiras-no-seculo-xviii/ “Escudos de proteção” –https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/03/08/escudos-de-protecao/

Rita ali, aqui, em qualquer lugar

RITA EM MIM

Rita grita
Rita ama
Rita briga
Rita vibra
Rita vai,
Rita pula,
Rita dança
Rita brilha
Rita lança
Rita ama
Rita embarriga
Rita vai, Rita vem
Rita no sim
Rita no não
Rita embala os dias
Rita embala baladas nas noites
Rita incendeia as madrugadas
Rita, Rita, Rita
Rita grita
Rita faz careta
Rita sapateia nas hipocrisias
Rita apita caretices
Rita colore vidas
Rita, Rita, Rita
Rita ali, aqui, em qualquer lugar

VOU

Querer voar o mundo
querer conhecer o mundo
querer outros mundos

Ir-se.
Voar.

Estar, descer, subir, cair, voar.
Novidades de véspera.
Novidades de hoje.
Novidades de amanhãs.
Arriscar-se no ar, em terra, em corações.

Voar é preciso.
Voar é urgente.

VEREDAS

Meu corpo espera
abraçar e ser em ti.
Voe que te colho com minhas mãos
como colho teus cenários
e escrevo-te palavras.

Por quê, homem alado?
Porque é de púrpura a cor do meu vestido.

ASAS

Tinha asas internas
Ensinava outros a voar
Esquadrinhava os céus, calculava imprevistos, equacionava soluções
Tinha enorme prazer em vê-los em asas
indo, indo, indo …

Tinhas asas internas
Aguardava um voo duplo
Nunca soube bater asas solitariamente
Dizia que era como se o céu estivesse sempre nublado, sem vento, sem cor.

Preferia ensinar a voar.
Aguardava por um voo incomum

NO RISCO DE VOAR

É a alegria que infla sua vela
É a alegria que estufa sua expectativa
É a alegria que enfuna seu peito.
É o deslumbramento de ir, ver, encontrar, voar.
É ter força nas pernas, vigor nos braços e movimento de quadril

É tudo que precisará.
É tudo que arriscará.
É tudo que tentará.

NOVO

Ei, vem aqui perto
vem
ouve o que quero te segredar
vem, ouve
É novo
de novo

Vem
Agora corre comigo
agora ri comigo
agora pega essa chuva forte comigo

Vem
Anda comigo nos trilhos do trem
Vem
Você prometeu
Vem
Me faz rir com gracejos, trocadilhos e chistes
Vem
Faz verso, faz prosa
Faz música, faz rio, faz ponte, faz trem
Vem
Me faz VIVER
Vem, por favor, vem.

Vem, meu ano novo
Vem, meu novo horizonte
Vem, meu belo horizonte.

Eduardo Salvitti na batera, quebrando tudo.

ENSAIANDO O VOO

Tem as cordas nas mãos
Tem as imagens no pensamento
Tem as palavras no coração
Tem a chance do voo na imensidão.
Prepara ferramentas, paramentos, coragem.
Vai rumo ao prazer.
correndo todos os riscos.



VERSEJAR SEM LÁGRIMAS

Capaz de rir
capaz de gozar
capaz de flutuar
capaz de ouvir e ser ouvida
capaz de beber vinho e rir muito
capaz de ver o mar em noite calma
capaz de sentir vento quente nos cabelos
capaz de ver a linda lua cheia de inverno
capaz de sentir o fascínio do olhar varão
capaz de ser feliz.

OUSADIAS

Com os dias passando, assim correndo,
há que se correr também,
há urgência em tudo.
Corro pra visitar aquelas cachoeiras nunca tocadas
corro para beber água gelada de serras amanhecidas
corro para falar “eu te amos” aos que nunca o ouviram de mim
corro para cozinhar delícias e, em comunhão, ofertar aos queridos aliados
corro para beber sabores que nunca experimentei por impossibilidades várias
corro para escrever letras, sílabas e linhas anoitecidas,
enquanto ainda consigo
andar
ver
falar
ler
respirar
me encantar.

BAÚ FLORIDO

Tempos que vão
tempos que vêm
tempos que se guardam em baús de flores.

Quando as estações são sem flores,
abrem-se as histórias, perfuma-se o ar com elas de novo,
sorvem-se horas, dias, meses, anos encantados.
Depois, fecha-se o baú e segue-se
porque aquela bagagem estava repleta de fragrâncias.

Dedicatória: Ao meu ex-aluno Eduardo Salvitti, menino-homem, que cresceu, cresceu e acabou o gigante batera quebrando tudo junto com a Rita. Salve, nunca me esqueço de seu olhar doce e de seus olhinhos claros. Beijo

Poesias: Odonir Oliveira (escritas em 2016)

Fotos de arquivo pessoal – (A última é do Eduardo Salvitti)

Vídeos:

1- Canal Nadine Carine

2- Canal Universal Music Brasil

3- Canal François FUNK

4- Canal Rita Lee – Tema

5- Canal marcosxs

6- Canal Fernando A. Soares

7- Canal Rita Lee

8- Canal Deckdisc

O amor natural

UMA SEMANA SÓ DE AMORES

Roberto Freire, psiquiatra e criador da Somaterapia, costumava discordar de datas compulsoriamente combinadas para se festejar algum relacionamento, como Dia das Mães, dos Pais e, em especial o Dia dos Namorados. Tudo criado e patrocinado pelo comércio, pelas vendas. E como vende-se amor !

Quando começo um trabalho terapêutico, vou logo dizendo ao cliente que não entendo absolutamente nada de amor. Com 50 anos de vida e de amor apaixonado, com 25 anos de clínica amorosa e apaixonada, aprendi muita coisa, mesmo, sobre a vida e o ser humano, mas absolutamente nada a respeito do que possa ser o amor e como funciona. […] Então como é que nós, psicólogos e psiquiatras, podemos exercer nosso ofício sem entender a essência e o funcionamento do amor, se é com isso que lidamos efetiva e frequentemente em nossa vida pessoal e na de nossos clientes? 

Foi justamente quando perdi minha pretensão de onisciência e onipotência em relação ao amor, que me humanizei como terapeuta, e pude realmente exercer meu ofício. Porque descobri que amar é um mistério que só é bom se continua mistério. Porque percebi que amar é uma coisa que se sente mas não se entende, e que se a gente entende para de sentir. Ou seja, o amor a gente só entende quando ainda não sentiu, só compreende quando deixou de sentir. E a melhor receita para acabar um amor é intelectualizá-lo, explicá-lo de outra maneira que não seja a poética e a musical que, na verdade, não explicam nada, só pulsam, como o próprio amor”

(“Entre o Amor e a neurose eu fico com os dois”, em VIVA EU, VIVA TU, VIVA O RABO DO TATU, Roberto Freire, p. 141, 142, Ed, Símbolo, 3ª edição, SP, 1977)

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APENAS UM GAROTO

Tinha medo. Sabia das causas e consequência e tinha medo. Perdera o pai de repente, infarto fulminante aos 40 anos. Agora adolescente, quase no momento do serviço militar, estava apaixonado. Achava que estava.

Se pelo menos o pai ainda estivesse vivo, uma conversa, um aconselhamento, uma advertência. Mas com a mãe e a irmã, ainda mais nova que ele, nada disso poderia ocorrer. Agora teria que resolver tudo sozinho. Quem sabe aquele amigo meio tio pudesse ajudar. Precisava pensar, mas pensar como … só se fosse quando sozinho.

Namorava a amiga da irmã, uma garota 3 anos mais nova que ele. E quando estavam juntos … gaguejava. Na verdade, era gago, por isso aprendeu a ficar mais calado que a falar. Observava, tinha lá suas ideias, mas falava pouco. Gostava da gargalhada dela, de seus planos para o futuro, de suas maluquices juvenis. Gostava. Amava? Nas festas  em casa de amigos, era ela a exuberante, dançando samba, cantando, falando alto, gargalhando, contando piadas e casos, era a festa inteira. Ela era uma festa inteira. Ele observava, encantava-se, fascinava-se e falava muito pouco. Quando ela o puxava literalmente para dançarem, era um alívio. Era um alívio porque se dependesse dele … nada. Ficar assim coladinho com ela, com suas pernas grossas, com seus quadris, hum, já era um tormento. Como continuar aquilo, como seguir só com aquilo, como esperar só aquilo ?

Na semana seguinte, sozinhos na cozinha da casa dele, a irmã ouvindo um disco na vitrola na sala, sozinhos na cozinha, ele puxa aqueles quadris pra bem perto, depois pra mais perto ainda, beija-lhe a boca com fome, com fome na cozinha. Ela reage. Bem. Beijam-se sem parar, mãos paradas, pés parados, corpos colados. Beijo de longa duração, longuíssima duração, uma  faixa do disco, duas faixas do disco, três talvez. Ele sem gaguejar nada.

Tempos depois, na despedida de um domingo à noite – tinha que ir pra o quartel – sozinhos  no escuro, na beira da escada se beijam, se beijam, se beijam, mãos inquietas, pés inquietos, quadris inquietos. Foi embora assim. Como seguir só com aquilo, como esperar só aquilo? Ia conversar seriamente com o sargento amigo, no quartel. Daquela noite não passava.

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AMOR É FOGO QUE ARDE

Ela era batista, frequentava cultos aos domingos, carregava a Bíblia e dava mão à irmã mais nova. Nunca namorara, como as amigas da mesma idade. Era mais quieta, quase tímida. A mais nova já iniciava namoros.

Ele, o loiro de olhos azuis, era considerado o encapetado, boca suja, exalando sexo, explicitamente, terror das moças das cercanias. Poucos espaços para entretenimento, poucas oportunidades para se exercer a criatividade, a dança, a música, o esporte, a poesia, o canto… pouco oásis pra muito deserto. Hormônios em explosão, conversas mais produtivas do que ações revelando um rapaz atirado, doido pra realizar tudo aquilo que dizia fazer. Faltava parceira.

Certa vez passou a mão em meia dúzia de amigos e foi pra Andrelândia, em Minas. Lá viviam uns parentes, tinha muita mulher bonita e todos poderiam namorar à vontade. Depois, amor não sobe a serra, dizia, amou lá deixou lá. Aprontou com aquela meia dúzia mais que uma dúzia de tramas, chegando a fugir da espingarda de um pai fera sabe, toda donzela tem um pai que é uma fera, resumia. E essa viagem rendeu dezenas de semanas de exageros naquele discurso fanfarrão.

O ciúme nas garotas estava semeado. E agora a calada menina batista reagiria. Começaram a namorar escondido. Mas tão escondido, que quando se soube já estava esperando criança. Casaram. Tiveram o filho. Viveram juntos uns poucos anos. Separaram-se. Mas ele sempre lhe disse “Eu te amo” .

Textos: Odonir Oliveira

Imagem Flaming June, do pintor Frederic Leighton

Vídeos: Canal Rita Lee

Leia também:

“Amores serão sempre amáveis” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/06/05/amores-serao-sempre-amaveis/

“Caixinha de música”  https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2017/06/06/caixinha-de-musica/

Raízes, lastro, força

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DE PÉ

Está fincada na terra,
na terra profunda.
Está agarrada ao chão de húmus,
sulcos, 
por mitose espalha-se,
pelos absorventes
suga
sustenta.
 
De pé.

SOBREVIVÊNCIA

Pressionada
encurralada
luta.
 
Esparrama-se.
Tem estofo
tem lastro
tem estrutura
tem garras,
luta.
 
Permanece,
sobrevive.

 

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POR-DO-SOL

Aquiesce
acalma
pulsa.
 
Aquece
incendeia
pulsa.
 
São.

 

DO PECADO

Cabelos jogados prum lado …
agora pro outro.
Homem tonto
homem tolo
homem troncho
homem inseguro
homem refém.
Puro charme.
Falsa conquista.
Falso arrebatamento.
Rendição.
Capitulação.

 

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SEM RAÍZES

livre
voa
flui
sem amarras
sem freios
sem restrições
sem bula
sem recomendações
 
Desapego
Fugacidade
Inconstância.
 
Flui.

 

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Poesias: Odonir Oliveira
Imagens da Internet
Desenhos de Millor Fernandes retirados da Internet
 
1º Vídeo: Canal Bojana Stanic
2º Vídeo: Canal iure braga
3º Vídeo: Canal iure braga
4º Vídeo: Canal Vinil Velho
 

 

Natal sincero

CEIA DE NATAL

Odonir Oliveira

A semana inteira havia sido de atropelos. O cunhado com um câncer que voltara. O filho do amigo que sumira sem deixar rumo. A família da família do ex- marido pressionando para que os filhos dela fossem para ceia de Natal lá. O jantar que preparava para o namorado estava quase ficando para o dia 27 ou 29 ou até mais pra frente, que tudo se encaminhava para um terremoto ou um maremoto, dependendo de onde saísse o tal jantar.

Verônica era um vulcão de atividades pré- natalinas. Gostava de reunião, mas sem confusão entre familiares. Gostava do pernil assado um pouco apimentado, que a ex-segunda–sogra é que sabia fazer. Entretanto a ex-primeira-sogra se gabava da bacalhoada portuguesa legítima e inteiramente aprovada por convivas até de além-mar. Isso estava ficando muito difícil. Conciliações de novas configurações familiares eram quase impossíveis. A não ser que a hipocrisia fantasiada de espírito natalino ousasse fazer pouso ali, e tudo estaria resolvido. Mas hipocrisias, mesmo com maçã na boca do porquinho à pururuca, não faziam seu gênero.

Sem festa então. Mas e os filhos? Ensinaram-lhe que precisavam conviver com tios, primos, avôs, avós, padrinhos, madrinhas e dar os ossinhos para os cães ao final. Aprendera assim. Como responder a tantas expectativas agora? O cenário era o mesmo, porém convivas já não o eram mais. Que fazer para obter aplausos ao final? Rir o sorriso de véspera, cheio de sacolas de presentes, às vezes equivocados… “meu ex-primeiro-sogro sempre gostou de livros de arte”… “Ih, Verônica, mais um, ele não tem olhado nem os antigos… é só pra juntar poeira”- lembrava-se do último Natal. A ex-segunda-sogra, só delicadezas aparentes, dera-lhe dois beijinhos no ano anterior e reclamara que o presente tinha a cor que ela menos gostava. Terríveis lembranças. Agradar a quem… por quê?

Quase hora da ceia de 2015, as casas das redondezas sempre cheias de parentes e de sons característicos de Natal anunciavam um rito de alegria, assada de véspera, com vozes alteradas de álcool e doses de talentosos e portentosos olhares de estamos aqui outra vez, que bom ainda estarmos vivos, que bom que você veio, trouxe o que te pedi, ponha os presentinhos na árvore, o amigo-secreto já, já começa.  No elevador do prédio gestos mais amáveis entre os moradores, olhares de enlevo datados, toques de mãos e braços datados … Roupas novas, sapatos e sandálias novas, atitudes novas.

Pelas ruas, andando-se a pé, o mesmo do mesmo. O espírito natalino acompanhava Verônica. Pensou que tudo isso era muito bom. Gostava. Mas e depois? No dia 26 tudo voltaria ao mesmo. Tudo voltaria ao espírito não natalino. Um mar de hipocrisias borrifado por almas e mentes. Quisera fosse diferente.

Voltou a casa. Telefonou para os pais de seus filhos.

Aguardou que chegassem. Cumprimentou-os pelo Natal, colocou nas mãos de cada um as sacolas de presentes. Beijou Marcos e Eliana, já pré-adolescentes e se despediu.

Voltou ao jardim e de lá telefonou para o namorado.

Ceia de Natal, então.