Minha melhor amiga Marta, de 87 anos, acaba de falecer em São Paulo. Conforme combinamos, quem fosse primeiro mandaria notícias de como é o outro lado. Marta é kardecista e praticou a fraternidade a vida inteira. Há cerca de 30 dias, chegou a me atender ao telefone e suas últimas palavras foram “Sabe o que é Odonir, é que a gente não vai poder mais ter aquelas nossas conversas longas”. Acalmei seu espírito e disse que orava por ela, que ficasse em paz. Hoje fez a passagem. E eu jamais a esquecerei.
2019, SP
ONTEM MORRI MAIS UMA VEZ
Cada vez que morre uma parte de mim em alguém vai com ele o sangue que corria em minhas veias o compêndio de histórias nossas os diálogos que tivemos as expressões de seu rosto o tom de sua voz particular seus gostos e desejos.
Cada vez que morre uma parte de mim em alguém, leva embora consigo o comigo com ele aquela sua vontade realizada aquela sua vontade não realizada o que guardamos de nós os mistérios revelados os mistérios pouco revelados os mistérios nunca revelados.
Cada vez que morre uma parte de mim em alguém, olhando-o assim morto, exangue, não acredito que esteja morto, consigo ainda vê-lo respirar, o tronco inspira e expira com ele uma indefinição, levemente me entrego a pensar levemente me entrego a não pensar Sinto.
De que valeriam todas as suas ações anteriores se morreria assim, como agora. De que valeriam todas aquelas histórias, ideias, escritos, orações se morreria assim, como agora. De que valeriam todas as suas interpretações do mundo interno e externo se morreria assim, como agora. Sinto.
Cada vez que morre uma parte de mim em alguém, Fico com isso sem entendimento. Meu ilimitado poder de reflexão limita-se, não é capaz de compreender por que alguém morre. Por que alguém morre ?!
Se ando e enxergo, maravilho-me Se paro e contemplo, pulso Se ardo em sensações, vivo. Se estou numa fala num gesto num sorriso, continuo. Se toco a dor humana, emano Se acarinho a terra vermelha, sou. Se tenho compaixão, ajo. Se tenho ainda a emoção, levito. Se ando e enxergo, maravilho-me
Ao trotar por aquelas veredas topei com um camarote à disposição. De princípio, com olhos de estrangeiro, quis desdenhar do estofado, pus menosprezo na poltrona, achei a cor de pouco valor. Quem teria abandonado ali aquele refugo de descanso, aquele aconchego de pouca monta? Fui logo filosofando, com meus sábios gregos, da validade daquele entulho, do estorvo daquele bagulho ali posicionado. Apeei do que me conduzia. Tive uma atração inesperada por nele sentar, e ter a mesma sensação de quem o fizera ou o faria algum dia. Ora, se não me sentei lá. Descobri a razão daquele sentador assim posicionado. Pude enxergar outro horizonte. E imaginar que fora ele, um roto sofá abandonado, o provocador, o desafiante filosófico, enviado, com certeza, por meus velhos e tão estimados gregos. A poesia está em todos os lugares.
Viver tudo ao mesmo tempo Ele querendo corpo, pulso, pescoço, orelhas, carne e ossos Ela querendo corpo, pulso, pescoço, orelhas, carne, ossos e suspiros e palavras.
Encaixe de desejos e sabores Perfumes de enamoramentos
Sabes tu de minhas dúvidas sabes tu de minhas dádivas sabes tu de minhas dívidas Conheces minhas restrições? conheces minhas prescrições? conheces minhas limitações? Valorizas o que é de meu? valorizas a nossa intimidade? valorizas as nossas identidades? Sentes o que tenho para te dar? sentes meus olhos nos teus? sentes minhas mãos na tua pele? Reconheces a nossa complexidade? reconheces os nossos beijos? reconheces as nossas peles interiores? Então é porque tu me amas assim quanto eu te amo.
Poesias: Odonir Oliveira
Charge: Brasil 247
Foto de arquivo pessoal: minhas flores de maio de 2024
ANCENTRALIDADES contorno a rua sigo, retorno paro atraída ninguém na entrada ninguém na escada janelas despertas que belas nada na porta o banco solitário prepara uma serenata sem amada na sacada adentro meus olhos aos jardins voam umas maritacas das árvores o cenário grita uma lírica azul colonial o sol de dezembro intenso contorna um tempo lento que escorre até mim mais de cem anos depois
No Instagram
A DEMOLIÇÃO DA HISTÓRIA EM UMA CIDADE HISTÓRICA
Poesia: Odonir Oliveira (dez. de 2020)
Fotos de arquivo pessoal ( dez. de 2020 e abril de 2024)
Instagram: Flagrantebq (na última semana de abril de 2024)
O mundo me condena e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome! Deixando de saber Se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome?
Mas, a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente, assim! Nesta prontidão, sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim!
Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga! Pois, cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba Muito embora, vagabundo!
Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro mas Não compra alegria! Há de viver eternamente Sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia!
OSTENTAR É PRECISO A dona das padarias ostenta O dono das lojas de roupas ostenta. Os donos do feijão ostentam. O médico de província ostenta. A advogada de província ostenta. Nada é o bastante. Nada é o suficiente Nada é se não se pode mostrar. Troquem tudo. Quebrem tudo. Over em tudo. Verbo ostentar em todos os modos, em todos os tempos, em todas as pessoas.
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
Prados, MG
ESSA BARBACENA Barba -acena Sobe Desce Venta Queima sol Olha rosas Olha Rua Quinze Olha Escola de Cadetes Olha a Cabana da Mantiqueira Olha as pedras Tropeça Levanta Cai Levanta Olha mais Olha isso aquilo, olha Que Visconde de Barbacena que nada. Que cidade de loucos que nada Que gente boa de tudo! Ah, Barbacena! Acena traz teus filhos todos de volta Que a gente muda esse negócio de política leite com leite Vota de novo Muito bem E reconstrói esse país. Eh, Minas, Eh, Minas !
Manuel Rodrigues da Costa, Padre Inconfidente
Manuel Rodrigues da Costa (Queluz, Minas Gerais, 2 de julho de 1754 — Barbacena, 19 de janeiro de 1844) foi um sacerdote católico, revolucionário e político brasileiro que participou da Inconfidência Mineira e da Primeira Assembleia Nacional Constituinte do Brasil.
Nasceu no arraial de Nossa Senhora do Campo Alegre dos Carijós, sendo filho dos portugueses capitão-mor Manuel Rodrigues da Costa e de Joana Teresa de Jesus e neto paterno de Miguel Rodrigues da Costa e Inácia Pires. Era afilhado de João Rodrigues de Macedo, banqueiro do Império e proprietário do imóvel atualmente conhecido como a Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto.
Estudou no seminário da cidade de Mariana e ordenou-se padre em 1780, possuidor do Hábito de São Paulo.
Sempre residiu na sua fazenda do Registro Velho, no atual município de Antônio Carlos, na época ainda parte de Barbacena. Nessa fazenda, hospedou Joaquim José da Silva Xavier, que o convenceu a participar na Inconfidência Mineira. Após a delação de Joaquim Silvério dos Reis, foi condenado a degredo de dez anos em Lisboa, em dependências eclesiásticas. Também foram confiscados muitos de seus bens, dentre os quais metade da fazenda Tapera, um título de terras minerais, sua rica biblioteca, móveis, utensílios domésticos, dois escravos, tabaco e uma batina, que atualmente está exposta no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. A Fazenda do Registro Velho foi preservada por ser meação da sua mãe.
Depois de seu retorno ao Brasil, dedicou-se à administração da fazenda Registro Velho. Atuou também como industrial, tendo fundado uma tecelagem e se dedicado à fabricação de vinho e óleo de oliva. Auguste de Saint-Hilaire, em sua viagem por Minas Gerais, visitou-o e escreveu que o padre havia trazido de Portugal máquinas para fazer tecidos, utilizando lã de ovelha e linho, que produzia em suas terras. Estes seus projetos, no entanto, não foram bem-sucedidos. Nesta época também tornou-se um dos primeiros sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Em sequência à Revolução Liberal do Porto, foi eleito para as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa em 1820. Ao mesmo tempo, participou ativamente nos acontecimentos que levaram ao “Fico” e à Independência do Brasil.
Depois da Independência do Brasil, elegeu-se deputado por Minas Gerais à Assembleia Constituinte de 1823 e reelegeu-se para a Legislatura Ordinária de 1826, embora não tenha servido este último mandato.
Em 1831, Dom Pedro I, que o admirava, hospedou-se na fazenda do Registro Velho, condecorou-o com as Ordens de Cristo e do Cruzeiro e o nomeou cônego da Capela Imperial. Paradoxalmente, em 1833, o padre Manuel Rodrigues da Costa articulou na mesma fazenda o movimento que culminaria no 10 de junho da Revolução Liberal de 1842, as reações liberais ao primeiro Ministério Conservador de Dom Pedro II.
Em 1839, o padre Manuel Rodrigues da Costa foi entrevistado pelo também inconfidente José de Resende Costa Filho, que escrevia sua versão da Inconfidência Mineira. Era apenas o terceiro relato sobre esse movimento.
Foi o último dos inconfidentes a falecer. Foi sepultado na igreja matriz de Barbacena; no entanto, seus restos mortais foram perdidos durante a reforma dessa igreja no século XX.
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
Matriz de Nossa Senhora da Piedade-Barbacena
SINOS MINEIROS sinos mineiros plangem sua história tilintam seus começos sua história de ouro seu rito religioso sinos mineiros da igreja dos brasões da igreja da garimpagem da igreja da fé sinos mineiros
SINO ANÚNCIO Desce o beco entra na vila ouve o sinal. São as chamadas nove, as nove badaladas, de quinze em quinze minutos. Cada irmandade se impõe. Ouve o sinal. É breve. Entra na vila.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, São João Del Rei
A Conjuração Mineira vem se repetindo em muitos períodos da História do Brasil. Grupos que defendem não serem cobrados por suas grandes fortunas; grupos que delatam outros brasileiros no melhor estilo “Cada um por si”, “Na falta de farinha, meu pirão primeiro”, “Puxando a brasa pra nossa sardinha”… e poucos, como Joaquim José da Silva Xavier, pensam no coletivo, no bem de todos, na ideia de independência para o país. Um país rico em recursos minerais, em diversidade de culturas em muitos tons de peles e em biomas únicos e tão imprescindíveis para o planeta Terra.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Ouro Preto
Igreja de São Francisco- São João Del Rei
Igreja Nossa Senhora da Assunção (da Boa Morte) Barbacena
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal: cidades históricas mineiras
A História sempre se constrói com causas e consequências; buscar fontes, investigar fatos, formar conhecimento é papel de qualquer cidadão.
TELHADOS, EIRAS E BEIRAS
No cume do sonho a liberdade No alto do monte a reflexão Saltando por bandas, perseguindo uma flama, a vez Juntando pedras e marcas a torre de um ideário libertador Telhados, eiras, beiras escondem presságios devastadores
O que nos esperará ao final dessa outra derrama?
Vídeo: ” Guardado a sete chaves: entenda as expressões da época do Império que usamos até hoje”– Canal Band Jornalismo
Os pé rapados na porta das Igrejas mineiras no século XVIII