Antologia de vidas

Saúde, sexagenários !

CONFINAMENTOS

Tinham que ter confinado
Isso só acontece com os velhos
Pra que tudo isso?
Separa os velhos e pronto.

Seu corpo depende do meu lastro
Sua pele depende do meu conhecimento
Sua história depende da minha história.

Bem, não sei como era na sua geração
mas hoje não é assim.
Eu até entendo
mas hoje é bem diferente.

Você sabe pouco.
Você sente pouco.
Você aspira a bem pouco.

Sexagenários, uni-vos !
As tomografias
as endoscopias
os eco- os cardio-os eletro-
no soma, o físico é o mesmo
na polis o pathos está doente.

(E com meu ex-aluno querido Edu Salvitti na batera. Mete o pau, garoto)

PENUMBRA

laços lassos
pelos pelos
ondas umas ondas outras
céu e terra
voo e marcha
aninhar no ninho
alisar o dorso
alisar o fogo
alisar o firmamento
janela lançamento
janela embarque
janela pouso
porta entrada
porta estrada
porta espada
corpo esponja
corpo porto

TEM QUE SER LEVE

Não traga bagagem
ria sempre
seja leve
Não traga história, dores e mágoas
Seja meu oásis, meu bálsamo, minha eterna juventude
Não me exija nada
Não me cobre nada
Não me peça nada
Não mendigue nada
Traga o álcool
Traga os orifícios às minhas permanências
sempre quentes, sempre lisos, sempre leves.
Não me questione
não me atormente
não me penetre.
Fique por quanto eu quiser
Fique por quanto eu beber
Fique por quanto eu me embriagar
Fique por quanto eu quiser.
Não seja.
Apenas esteja.

TEM QUE SER JOVEM

Não envelheça
Tinja os cabelos de loiro
Faça ginástica
Faça corridas
Frequente academias
Use biquínis
use tangas
use fios dentais
use shorts
mostre as pernas
esteja bronzeada sempre
ria mostrando dentes claros
gargalhe regada a cervejas
tempere-se de pimenta sensual
siga as receitas
equivalha-se
equipare-se
brigue nas comparações.
Vença.

Poesias: Odonir Oliveira

Imagens da Internet

Vídeos:

1-2- Canal Biscoito Fino

3- Canal cuidardoser

4- Canal Alejandro Fuvald

Origem

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SABORES

Abriu o vinho com destreza
nada disse
servindo-se
serviram-se
sentados
o silêncio bebe o vinho
o silêncio entontece as carnes
o silêncio semeia as cores
servindo-se
serviram-se
um tato evidente
um tato fervente
um tato ardente
a melodia embebeda
a música embriaga
a visão imprecisa
a visão desnecessária
a visão inexistente
o olfato macho
o olfato fêmea
o olfato gozo
um paladar na língua
um paladar na garganta
um paladar nas bocas
servindo-se
serviram-se
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CHEIROS
a boca aberta
fala fala fala
nervosismo
ocasião
a boca aberta
cala cala cala
observa reflete
percepção
a boca aberta
a boca aberta
a boca aberta
contemplação
álcool amor álcool amor
álcool desejo álcool desejo
alucinação
suor álcool amor
declaração
perdição
salvação
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PENUMBRA
laços lassos
pelos pelos
ondas umas ondas outras
céu e terra
voo e marcha
aninhar no ninho
alisar o dorso
alisar o fogo
alisar o firmamento
janela lançamento
janela embarque
janela pouso
porta entrada
porta estrada
porta espada
corpo esponja
corpo porto
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COMPANHIA FÉRTIL
sabia ler meu peito
sabia ler minhas mãos
sabia ler meus seios
sabia ler meus ombros
sabia ler minha música
sabia ler meu verso, minha rima
sabia ler meus olhos
sabia ler minha língua
sabia ler meu querer
sabia ler meus cotovelos
sabia ler minhas pernas grossas
sabia ler minhas vértebras todas
sabia ler meus sucos internos inteiros
sabia ler minha poção única e particular
sabia ler meus doces e acres
sabia me ler
como nenhum outro me leu
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Διόνυσος

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Postagem inspirada pelo amor maduro de Luís N. e  Eugênia que se casaram no dia de ontem, em MG.
A vida é a arte do encontro, quando há tantos desencontros pela vida – escreveu um dia Vinícius de Moraes.
Poesias: Odonir Oliveira
Fotos de arquivo pessoal
Imagens de Dionísio retiradas da Internet

Vídeo: Canal Renaaaaaato

Beijo na boca

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PRELÚDIO

nas mãos dela, ele
na foto
nas nuvens, ele
na imagem
no apito longe, ele
no espectro
na mata densa, ele
no rumo
na noite escura, ele
no lume
um cheiro de homem
um gosto de sal
uma pele acre
um rodopio breve
o disco
a capa
o trompete
ele
ela
CHEIROS
a boca aberta
fala fala fala
nervosismo
ocasião
a boca aberta
cala cala cala
observa reflete
percepção
a boca aberta
a boca aberta
a boca aberta
contemplação
álcool amor álcool amor
álcool desejo álcool desejo
alucinação
suor álcool amor
declaração
perdição
salvação
PENUMBRA
laços lassos
pelos pelos
ondas umas ondas outras
céu e terra
voo e marcha
aninhar no ninho
alisar o dorso
alisar o fogo
alisar o firmamento
janela lançamento
janela embarque
janela pouso
porta entrada
porta estrada
porta espada
corpo esponja
corpo porto
COMPASSOS
com passos nus
compassos consagrados
com passos entontecidos
olhos lassos
mãos graças
pés marcos
ritmo lento
dançam
trocam passos
uns traços
corpos lassos
uns silêncios ensurdecedores
uns gritos mudos
uns esfoliamentos únicos
uns doces delírios
uns doces deleites
bebem sal
bebem som
bebem luz
dançam
trovam
trocam
trocam de passos
trocam de música
trocam de pele
em passos nus
UM POEMA DE AMOR
Ah, que demorem essas noites a chegar,
que fiquem as tardes, congeladas, com o ardor de seus beijos,
que permaneçam em meu dorso seus toques firmes
que em meus ouvidos cristalizem-se suas palavras todas
que seu rosto, como um som, repercuta em meu colo
que suas mãos cálidas entorpeçam minha voz incapaz
que seus pés se sobreponham aos meus como se me sustentassem a alma
que seus braços me envolvam com ternura e firmeza como um laço
que sua boca nada mais diga a não ser sussurros e apelos de ais
que seus olhos se fechem a apenas enxergar sabor em mim
que seus encantos estrangeiros e únicos não se percam com o escurecer
que sua língua armazene senhas de contato insubstituíveis
que seus dedos deslizem como seda no percurso de mim
que suas delicadas e sensíveis marcas se descubram por mim
que eu possa escurecer, com você, à chegada da primeira estrela.
Poesias: Odonir Oliveira
Vídeos: Canal Alfredo Pessoa
Último vídeo: Canal Odonir Oliveira