Chico, 80

Canal Dalmo Pereira

Canal Biscoito Fino

Canal Assis Figueiredo

Canal tino certo

Canal Ella Droke

Chico e as palavras

Música – Fado Tropical – Chico Buarque Poesia – Dobrada À Moda Do Porto – Fernando Pessoa Música – Uma Palavra – Chico Buarque Música – Mar e Lua – Chico Buarque Música – Carioca – Chico Buarque

Chico, o meu Camões – 2023

Post dedicado à minha filha, uma lisboeta chicólatra desde sempre.

CHICO, CHIQUINHO

Viveste antes de mim as ruas do Rio
nove anos antes
te conheci depois
quando eu já sabia ler
quando chegaram os festivais da canção
quando guria despertava para as paixões
teus olhos, tua presumida timidez
tudo era sonho em ti
fui aprendendo a ler o mundo
tua ajuda foi imprescindível
seguimos

CHICO, CIDADÃO BRASILEIRO

menina-moça tola, alienada, romântica
Chico vai dando os tons
é poesia
é fantasia
é país
é nação
vai poetizando o ar
musicalizando os tempos
vai com a lírica feminina
vai com a lírica da democracia
vai com as mãos dadas a nós
aqui
na Itália
o amor pela companheira
as parcerias com os amigos
as dores e fragilidades humanas
em si, em nós
seguimos

CHICO, AMOR CONTEMPORÂNEO

Homem explícito
homem verdadeiro
um amor de cada vez
pai de seu tempo
avô de seu tempo
companheiro dos parceiros
companheiro das parceiras
coerente com seu discurso
amoroso
político
social
democrático
Chico romancista
Chico teatrólogo
Chico autor infantil
Chico das trilhas sonoras inesquecíveis
filmes, espetáculos de dança
musicais, óperas
Chico operário
Pedro Pedreiro da cultura nacional
na Construção, sempre como se fosse a última
leitor admirável
lançando cantores, músicos
Chico, um ser humano
maior que Fernando Pessoa
maior que Camões …

Em tempo: Lembro-me de um episódio em que Chico caminhando na praia, como gosta de fazer sempre, bermuda, camiseta e boné, foi interpelado de forma ”veemente” e insistente por uma mulher que gritava pra ele frases de plateia assediadora. Respondeu, mais ou menos assim, me respeite, moça, sou um senhor de idade. O que demonstra que sabe viver de forma coerente com a idade que tem.
Outra vez, minha amiga voltava ao Brasil e no aeroporto ficou frente a frente com Chico no balcão de um café. Apenas cumprimentou-o, sem alarde, sem exageros, sem selfie, porque Chico merece respeito por sua obra e por sua vida.

Post editado de publicação em 27 de outubro de 2019

Sobre Chico Buarque, há uma categoria aqui no blog, com todos os posts que já publiquei sobre ele – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/chico-buarque/

Poesias: Odonir Oliveira

Fotos retiradas da Internet

Vídeos:

1- Canal TheKel49

2- Canal Odonir Oliveira

3- Canal João Guilherme Santiago

Carnaval, carnavais

CLARICE ME DISSE
“Quero contar sobre meu amor por um primo. Nunca consegui esquecer aquilo, sabe” – contou.
Viveram sempre em cidades diferentes, desde crianças. Passavam férias de verão no mesmo lugar.
Ali, sempre amiguinhos, descobriram-se adolescentes e apaixonados.
Álvaro – dizia ela –  lindos olhos verdes, tímido, um poço dos afetos todos com a prima. Tanto afeto que, uma vez quando ela quebrara a perna, tinham os dois doze anos, cuidara as férias inteirinhas dela, dando-lhe preparação de água, esquentando-a, colocando em outro recipiente água gelada para que ela banhasse várias vezes ao dia a perna e o calcanhar ainda inchados – depois do gesso retirado. Era de uma gentileza que beirava à submissão – contava isso quase sem fôlego.
Ah, mas quem nunca brincou de médico com primas! Eles, não. Cuidava dela como de uma flor do campo, frágil, mimosa. Para ela buscava o que fosse necessário, mesmo sem que pedisse. Lembrava Peri e Ceci em O Guarani, tamanha adoração.
Mesmo sozinhos, com todos os hormônios em ebulição, jamais efervesceram paixões neles mesmos. Nem um beijo roubado sequer. Eram primos. Filho de pai, irmão da mãe dela. Jamais poderiam ficar juntos e se casassem e tivessem filhos, como seria?
Que casar nada. Doze anos. Ouvindo o Lobo bobo de João Gilberto, disco do primo mais velho, jogando pedrinhas, seis marias, e batalha naval. Férias.
Tempos e tempos se passaram
Ela se casara com seu engenheiro. Ele, com sua vizinha, tendo com esta uma filha. Separara-se, casara-se de novo tenho aí mais dois meninos.
Ela soubera pouco de Álvaro por mais de duas décadas. Até que voltaram a frequentar os mesmos lugares. O olhar dele sempre o mesmo por ela. Divorciada, livre, sequer demonstrava qualquer intenção para com ele, homem casado, pai de dois filhos então.
Os olhares dele, no entanto, encandearam-se em palavras mais adocicadas, mais atenciosas. Uma balançada geral nela.
Tempos e meses depois, tudo é carnaval na praça principal, onde sempre passavam as férias. Praça da Matriz.
Na barraquinha em que se vendiam bebidas, os dois se esbarraram. Ela já estava ali, bebendo cerveja com parentes e amigos há horas. Ele, pescando. Chegou depois, bem depois de as escolas de samba e blocos terem desfilado.
Sozinho, olhou para ela, que meio ali meio lá na casa dele, recuou.
Anos e anos de tesão reprimido, agora o sabiam mesmo – explicava a mim.
Por que não beijar na boca, rir muito e relembrar o quão tontos sempre haviam sido. Lembrou-se de Mário de Andrade apaixonado por sua impossível prima Luísa e resolveu aceitar aquele desafio por décadas adiado.
Lendo seus pensamentos, Álvaro puxou-a pelo braço, naquela música “me dá um dinheiro aí”, levou-a para uma calçadinha com jardim e, na frente de quem quisesse ver, beijou-a com três décadas de atraso.
Dali foram se amar como se jamais tivessem se conhecido, mas com uma intimidade tal, que pareciam ter estado juntos por todos aqueles trinta anos  também.
“Depois só rezando na Igreja da Matriz uns três padres-nossos e umas três ave-marias, a pedir perdão a Deus pelo sacrilégio cometido. Mas teria sido sacrilégio, o senhor acha?”

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal MPB :: As Melhores!

Sonho meu

SUAVE É A NOITE
É tão calma a noite …
Entro na revenda de mudas e caminho entre corredores de verdes e perfumes.
Absorvo, absorvo, absorvo.
Entorpecimentos uns, entorpecimentos outros.
Correm por corredores uns garotos de 10, 12 anos, atrás deles o poeta compositor de Leãozinho e a esposa.
Tumulto, nada de tietagem, meninos correndo, fascinados com tantas cores, com tantos tons de verdes, com tantos perfumes.
Observo, sem me aproximar. Aprecio com reverência extrema aqueles arrulhos juvenis.
Depois é ele que se aproxima, vem assobiando Que tal um samba? Sai do corredor onde eu estava, meio escondida, me reconhece. Falamos palavras poucas, mas seus olhos verdes, mais que azuis naquela tarde, eram de lirismo puro. Falamos poucas palavras, talvez tivéssemos lido versos em nossos pensamentos.
Apertou-me em si, com a certeza de que eu lhe penetraria o ser único.
Beijou-me a boca com a intimidade de quem me conhecesse há décadas, de quem me soubesse em verso e prosa por uma vida inteira.
Sua boca ainda está em mim, meu grande AMOR.

“A beleza da arte é quando ela se confunde com o real – Óleo sobre tela do artista plástico Alfredo Vieira de Lagoa Santa, MG”– Imagem extraída do Facebook CONHEÇA MINAS

Sobre Chico Buarque, há aqui nesse blog uma categoria especial com tudo que já escrevi sobre (e com) ele – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/category/chico-buarque/

Texto: Odonir Oliveira

Imagem retirada da Internet

Vídeos:

1- Canal Biscoito Fino

2- Canal Odonir Oliveira

Paratodos

O LEITOR CRÍTICO
Fundamental.
Sempre ensinei meus alunos a lerem a mesma notícia em jornais diferentes, a partir das manchetes, analisando o “olho”, o conteúdo, o viés de interesse de quem escrevia aquele conteúdo. Por comparação, e tirando dos alunos, eu lhes ensinava leitura de mundo.
Fundamental.
Quando comecei a perceber, na década de 1990, o avanço das publicações de otimismo, de autoajuda e assemelhadas, acendi meu farol alto nas estradas de neblina existencial. Por ali viriam perigos enormes. Isso antes da Internet ser assim como é hoje.
Quando se pergunta se alguém lê, a resposta vem sempre sobre e sob banners das redes sociais, mensagens prontas, compilação de notícias prontas, recebidas por engajamento a um click desavisado em algo como uma canção, uma receita, uma imagem de pets etc. Tudo pronto, sem pesquisa individual, sem contestações do LEITOR, sem reflexões ou posicionamentos críticos. Sem perceber ( sem se querer perceber), que há – deve haver – discernimento e escolha do SER HUMANO, entregam-se, de bandeja, às redes de manipulação de dados, de notícias, de imagens, de canções… DE TUDO. O poder de escolha pessoal e intransferível se foi.
Perdeu-se a característica que diferencia os HUMANOS. E, depois disso, e entregues aos seus donos, domesticados, serão PETS.

Texto: Odonir Oliveira

Foto de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Tauil

2- Canal Um Velho Místico

Que tal um samba?

QUE TAL UM SAMBA?

Um samba
Que tal um samba?
Puxar um samba, que tal?
Para espantar o tempo feio
Para remediar o estrago
Que tal um trago?
Um desafogo, um devaneio

Um samba pra alegrar o dia
Pra zerar o jogo
Coração pegando fogo
E cabeça fria
Um samba com categoria, com calma

Cair no mar, lavar a alma
Tomar um banho de sal grosso, que tal?
Sair do fundo do poço
Andar de boa
Ver um batuque lá no cais do Valongo
Dançar o jongo lá na Pedra do Sal
Entrar na roda da Gamboa

Fazer um gol de bicicleta
Dar de goleada
Deitar na cama da amada
Despertar poeta
Achar a rima que completa o estribilho

Fazer um filho, que tal?
Pra ver crescer, criar um filho
Num bom lugar, numa cidade legal
Um filho com a pele escura
Com formosura
Bem brasileiro, que tal?
Não com dinheiro
Mas a cultura

Que tal uma beleza pura
No fim da borrasca?
Já depois de criar casca
E perder a ternura
Depois de muita bola fora da meta

De novo com a coluna ereta, que tal?
Juntar os cacos, ir à luta
Manter o rumo e a cadência
Esconjurar a ignorância, que tal?
Desmantelar a força bruta
Então que tal puxar um samba
Puxar um samba legal
Puxar um samba porreta
Depois de tanta mutreta
Depois de tanta cascata
Depois de tanta derrota
Depois de tanta demência
E de uma dor filha da puta, que tal?
Puxar um samba
Que tal um samba?
Um samba

Vídeo: Canal Biscoito Fino

Foto de arquivo pessoal