Chico, 80

Canal Dalmo Pereira

Canal Biscoito Fino

Canal Assis Figueiredo

Canal tino certo

Canal Ella Droke

Crônica de domingo – Informar ou desinformar?

A função de quem se propõe a escrever é múltipla, multifacetada mesmo. Li mais de uma vez, em vários cronistas, que a obrigação de escrever semanalmente para jornais os intimidava, constrangia até. Escrever deve ser ato espontâneo, derramamento de emoção, de informação, compartilhamento de dúvidas, angústias, reflexões. Em poesia, quanto mais alegórico e metafórico for o poema, mais chances terá de atingir parcela diferenciada de leitores e não só os que pertencem àquele nicho, àquele segmento horizontal. Com as crônicas, por suas características peculiares, o espectro de leitores se amplia. Mas, atualmente, há que ser um recadinho curto, um short em palavras, um TikTok, digamos assim. Os dedos que manipulam telas de celulares (Ô, dó!) são elétricos, incontíveis, velocíssimos, sabe-se bem. Uma crônica também pode ser metalinguística, quando se escreve sobre o próprio fazer de uma crônica etc. Enfim, comunicar, informar, emocionar…

A TRABALHADORA RURAL

Cai a temperatura. Chove. Tocam a campainha. Fim de tarde. Tocam a campainha. Surjo na sacada de minha casa. Lá embaixo Dona Nair, uma mulher franzina, sozinha na rua, sussurra sob uma sombrinha desengonçada. Pede um edredom, um lençol, qualquer coisa pra uma senhorinha bem pobre que mora lá longe, onde ela mora também.

Três anos antes conheci Dona Nair, já com mais de 80 anos, em casa de uma tia, agora falecida. Dona Nair – mais velha que minha tia – limpava sua casa, uma vez por mês. Conversei com ela – trocava o serviço por uns agasalhos, um dinheirinho pouco. Para a condução? Não. Atravessava a cidade a pé. Vinha da zona rural e voltava. A pé.

Tempos depois, a encontro por lá. Dona Nair atravessa a cidade lavando roupa para as patroas, anda sempre a pé. Converso com ela sobre isso na casa da tia, por que não parava de trabalhar, por que ainda fazia isso, andando a cidade toda a pé. Sempre me ouvia e dizia que uma sobrinha e filhos dependiam dela etc. Questiono se as patroas não dispõem de máquinas de lavar … Descubro que conseguira há poucos dias sua aposentadoria rural. Dou-lhe os parabéns e insisto para que ela descanse, fique mais tranquila, sem trabalhar tanto. Ri e diz que vai ver.

Um ano depois, toca a campainha me pedindo roupas de cama, cobertor, agasalhos. Faço uma boa seleção, encho as sacolas e ela vai embora agradecida. Nas vizinhas, procede da mesma forma. Eu a ajudo; outros, também.

Cai a temperatura. Chove. Tocam a campainha. Fim de tarde. Tocam a campainha. Surjo na sacada de minha casa. Lá embaixo Dona Nair, uma mulher franzina, sozinha na rua, sussurra sob uma sombrinha desengonçada. Pede um edredom, um lençol, qualquer coisa pra uma senhorinha bem pobre que mora lá longe, onde ela mora também. Digo-lhe que dessa vez não tinha mais o que me pedia.

Explico a ela que está frio, chovendo. Falo do Corona vírus, dos riscos, que fosse para casa e ficasse por lá.

Olha pra mim como se estivesse falando algo incompreensível pra ela. Não sabe nem entende do que falo. A informação não chega a ela. E quando chega é sob a forma de desinformação.

Texto: Odonir Oliveira

Fotos de arquivo pessoal

Vídeo: Canal Instituto Piano Brasileiro

Caetano, 80. Anos 2000

Série documental de 2012 que comemora os 70 anos de Caetano Veloso através dos seus próprios relatos sobre vida e carreira. Compilado das publicações do canal falacaetano.

DECLARO PARA OS DEVIDOS FINS,
debaixo dos caracóis dos seus cabelos
uma história pra contar de um mundo tão distante

gosto muito de te ver, leãozinho
expondo suas palavras doa a quem doer
acertando e errando
você é lindo, lindo demais
alguma coisa acontece no meu coração

você é meu copiloto nas estradas
você é meu parceiro nas dores amorosas
você é meu grito nas hipocrisias sociais e políticas
tempo, tempo, vou te fazer um pedido
poeta das letras e dos livros
sorriso de gengivas à mostra
poeta de corpos e desejos
a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo
você é meu bem, meu mal
da cor do azeviche, da jabuticaba, eu te amo
ah, eu te amo
O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta

abrandando as tristezas
deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara,
minha cuca ficar odara

cúmplice nos momentos de completa solidão
tudo que ressalta quer me ver chorar
louco por você
tarde cinza, lágrima prismática
louco por você

semeando lirismo em minhas palavras
Menina do anel de lua e estrela
Raios de sol no céu da cidade
Brilho da lua, oh, oh, oh (oh oh oh)
Noite é bem tarde (oh oh oh)
Penso em você (oh oh oh)
Fico com saudade

corajoso em suas delicadezas e fraquezas
ensinando o masculino a ser feminino,
androginamente sendo,
gravando Peninha
gravando Vicente Celestino
gravando Fernando Mendes
gravando Ângela Ro Ro
Caetano de saia, de tanga, de pareô
homem de todas os trajes
homem de todas as fragilidades
homem com todas as cores e tons
andamos lado a lado nesses mais de 50 anos.
Depois do meu amor maior, Chico Buarque,
você me aparece como um grande e sedutor amante, Caetano.
Obrigada por sua presença em mim.

Sobre Caetano Veloso, leia aqui: Caetano, 80. No ritmo da vida” -https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/06/caetano-80-no-ritmo-da-vida/ “Caetano, 80. Depois do exílio”– https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/05/caetano-80-depois-do-exilio/ ” Caetano,80. Exílio” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/04/caetano-80-exilio/ “Cae, Caetano, 80” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/03/cae-caetano-80/

Poesia: Odonir Oliveira e Caetano Veloso

Fotos de arquivo pessoal

Vídeos:

1- Canal Caetano é Foda

2- Canal Caetano Veloso

Caetano, 80. No ritmo da vida

Década de 1980: O AMOR brinda os tempos, os valores, a sociedade impõe um ser político em instâncias diversas, na ecologia, na forma comunitária e solidária de se viver, menos hipocrisias nas relações afetivas e sociais, consciência de que o mundo “está fora da ordem“, e que “de perto ninguém é normal”. Caetano salpica valores e adocica sentimentos em corações e mentes. É preciso aprender – com ele – a interpretação de textos. Ele, um grande leitor de filosofia, sociologia, psicologia, e que recheiam suas letras. Observação: Cae sempre disse que não era músico e que músico era Gil. Gil sempre afirmou que não era como Caetano que chegava a ler vários livros ao mesmo tempo. A meu ver, é o período mais poético, mais versátil e fértil de Caetano. Escreve o livro Verdade Tropical, em 1997.

1981

“É em meio a esse irresistível caetanismo que se dá uma polêmica com o crítico e escritor José Guilherme Merquior. Este o acusa de “pseudo-intelectual” que tenta usurpar “a área do pensamento”. “Por que os artistas – e não os pensadores – são chamados a opinar sobre os mais diversos assuntos?”, pergunta Caetano. “Esta é uma questão que deve ser pensada com rigor e delicadeza”, diz. (Caetano Veloso Oficial)

1982 a 1999

Caetano já separado de Dedé, une-se á Paula Lavigne em 1984 e com ela vai ser pai de mais dois filhos Zeca e Tom. Compõe para filmes e peças de teatro e dirige Cinema Falado.

Sobre Caetano Veloso, leia aqui: “Caetano, 80. Depois do exílio”https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/05/caetano-80-depois-do-exilio/ ” Caetano,80. Exílio” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/04/caetano-80-exilio/ “Cae, Caetano, 80” – https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2022/08/03/cae-caetano-80/

Texto: Odonir Oliveira

Vídeos: Canal Caetano Veloso

Caê, Caetano, 80

Caetano Emanoel Viana Teles Veloso, 7 de agosto de 1942, Santo Amaro, Bahia

Conheci as primeiras canções de Caetano no início dos anos de 1960. Bethânia, eu a conheci pela substituição de Nara Leão no show Opinião. Eu era adolescente, lia O Pasquim e vivia em Xerém, no RJ. Ah, e amava os Beatles e os Rolling Stones também.

1967

Canal Gal Costa

Fui acompanhando Caê, como a gente o chamava – coisa de O Pasquim– e nem vitrola eu tinha. Ouvia nas rádios cariocas suas canções e, logo depois, as dos festivais da canção, em São Paulo. Decorava todas as letras e cantava e torcia por ele.

1968

Canal Caetano Veloso
Canal Morris MANILAINTHEJUNGLE

Caetano e eu (e muita gente também) vamos seguindo contemporaneamente. Esse é um dos bens de se ter mais idade. Anos mais tarde, foi minha filha que, encantada por suas canções, passou a comprar seus CDs e até a me presentear com alguns – que eu até já tinha em LPs.

Fotos de arquivo pessoal

Gil, 80

GIL E EU: 1981, na Praça Castro Alves, nos tempos de carnavais livres e de foliões pipoca que seguiam os trios e os blocos, do lado de fora das cordas ou, como eu, esperando na Praça Castro Alves, pois que “a Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião“, vi aquela aparição negra envolta no manto branco do Afoxé Filhos de Ghandi. Inesquecível Gil, ali ao alcance das minhas mãos. Não toquei. Apenas o amei, o amei de perto, depois de longe, depois SEMPRE. 80 ANOS, GIL!

Foto retirada da Internet

Vídeos: Canal Gilberto Gil

Roberto, 80

Playlist especial, 80 anos de Roberto Carlos. Nossa homenagem vai pro rei Roberto Carlos que completa 80 anos de muitas emoções! Fizemos uma playlist recheada de “Músicas de Roberto Carlos” pra celebrar esse dia super especial! Vamos dar o play e desejar vida longa ao nosso rei? . . .⠀”

00:00​ – Maria Bethânia – Você Não Sabe (Ao Vivo).mp4

02:48​ – Simone & Zélia Duncan – Meu Ego

06:38​ – Simone & Zélia Duncan Vou Ficar Nu

10:00​ – Ângela Maria e Erasmo Carlos – Sentado à Beira do Caminho

15:14​ – Ângela Maria – Jovens Tardes de Domingo

18:39​ – Angela Maria e Cauby Peixoto – Como é Grande o Meu Amor Por Você

22:30​ – Emoções – Rosa Passos

28:14​ – Alcione – Eu Disse Adeus

31:36​ – Maria Bethânia – Fera Ferida (Ao Vivo)

34:36​ – Maria Bethania Você

36:14​ – Rita Benneditto – Fé

40:38​ – Gal Costa – Meu Nome É Gal

46:14​ – Maria Bethânia – As Canções Que Você Fez Para Mim

50:14​ – Célia – Meu Menino Jesus

53:43​ – Alcione – Olha

57:27​ – Gal Costa – As Curvas da Estrada de Santos

01:01:20​ – Gal Costa – Sua Estupidez

01:05:16​ – Marcelo Costa e Adriana Calcanhotto – Do Fundo do Meu Coração

Aqui no blog: “Roberto Carlos em meus amores” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2016/05/14/roberto-em-meus-amores/ “Roberto & Roberto” https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/2018/06/10/roberto-roberto/

Vídeo: Canal Biscoito Fino

Nos seus olhos fundos

CRÔNICA DE UMA AMIZADE

Sempre gostei de histórias. De ouvir histórias alheias. Pergunto pouco, como fosse, pretensiosamente,  um oráculo grego a escutar mais e a se pronunciar menos.

Gosto de histórias de quem já completou 80 anos ou mais, parece que me conferem dignidade, saber de suas lutas em seus tempos, de seus prazeres, por vezes nem possíveis de serem entendidos mais. Gosto de escutar como pensavam, o que viveram, como era a cidade naquela época, a família. Acabo tendo aulas de história do cotidiano. Muito mais apreendidas do que aquelas que sempre li no papel por aí.

idosa

Certos idosos, principalmente mulheres, estranham eu me deter com eles e neles, quando muitos outros prefeririam voar.

Foi assim que conheci uma amiga recentemente,de forma completamente inusitada, e passei a gostar de falar com ela. Me faz um bem inestimável. Percebo nela muita identificação. É como se eu tivesse nascido, como ela,  duas décadas e meia antes. Sinto que gosta de conversar. E de rosas, suas preferidas.

Carrega uma dor no peito, me conta, uma tristeza enorme. As chagas impostas por Deus marcam a gente em carne, osso e olhar. Doem-lhe os ossos das vértebras da coluna, rodopiam-lhe em labirinto um caminhar, adocicam-lhe demais o sangue de quem deu luz a filhos e filhos de forma natural. Revela-se uma mãe adoradora desses filhos e dos netos. Valoriza-os como a varinhas de condão.

Nada pergunto, ouço.

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Conto de mim.

Conta-me onde nasceu, como foi sua infância difícil,  as dores eternas em seu coração. Sinto-me tão ali com ela. Me emociono e choro por ela e por mim também. Há um olhar terno nela de quem agradece a todo momento os filhos tão bem formados que criou. Ela, sozinha, ergueu uma família. De muitos. Para uma mulher de sua geração, isso é particular, incomum.

Nos momentos em que conversamos, sinto uma calma circunstante, um lirismo envolto, uma cumplicidade pouco registrada antes. Gosta de me elogiar, de reconhecer qualidades …

Outro dia me disse que amigos são muito importantes sim, pois que “são eles que ajudam, e muito, quando as coisas não vão bem, eles nos socorrem, nos salvam, minha filha.”

Peço-lhe, então, que em suas orações reze também por mim. Acha difícil meu nome, repete-o a fim de não esquecer.

Agradeço a ela por poder aprender mais sobre Minas Gerais e, principalmente, por me fazer SENTIR, algo tão pouco valorizado por aí. Ela é quase uma bênção, uma oração.

Imagino que assim nasçam as sementes.

E que assim fiquem eternas, em aspersão nos ares também.

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(Originalmente publicado em  1/1/2017)

Texto: Odonir Oliveira

Vídeo: Canal Instrumental Sesc Brasil

Imagens da Internet