Ah, quanta alegria me dá saber que alguém lê, ver alguém lendo. É quase como encontrar uma pintura rupestre em rochas e cavernas, são traços ancestrais que repousam nas letras lidas, são mensagens, são viagens, são sonhos desvendados, encontrados e, por isso, contêm tanta beleza. Ah, como admiro quem lê!
![](https://poesiasdemaosquesentem.wordpress.com/wp-content/uploads/2024/06/448262670_2215211112160200_6092658755510987067_n.jpg?w=1024)
DE LIVROS E EPIFANIAS
Recebo originais de um livro de escritora iniciante do interior de São Paulo, que me pede que lhe faça uma leitura crítica e lhe envie as observações. Conheci seu namorado em uma Feira Literária, já ele um escritor iniciante também, músico, locutor de rádio, que me pediu que comparecesse a reuniões literárias coordenadas por ele etc. Declinei da proposta, pois quero mais é sombra, sol e água fresca nos últimos anos que me restam. Veio daí o pedido de leitura crítica feito em seguida. Fiz, página a página, observações sobre estilo, clareza, conteúdo etc. o que já fiz por muitos anos para Editoras renomadas em São Paulo. Tenho habilitação profissional para isso, inclusive. Semanas depois recebi por correio a obra publicada, por editora pequena, edição paga pela própria autora, talvez, e com dedicatória.
Não faço mais esse trabalho, nem assim, de forma voluntária, sem pro labore. Por razões de escolha por outras contemplações, diferentes daquelas de obras de autores que vêm dessa nova geração tecnológica, midiática, instagramável, prefiro estar fora disso.
Conversando com amigo paulistano ao telefone, por horas, vamos nos lembrando de nossas gêneses de leituras. Conto a ele que as primeiras palavras que li foram palavrões nas paredes da estação de trens e nos bondes no Rio de Janeiro - das quais nem conhecia o significado. Li alto, advertida por meu pai, ao meu lado, de que se tratavam de coisa feia, não eram para ser ditas alto. Talvez nem tivesse consciência de que era a minha primeira leitura. Sartre, 4 décadas depois, me contava no livro As palavras, a sua descoberta da literatura no que lia sua mãe para ele, ao adormecer. Depois já aos 8 anos, ao ouvir a leitura de uma história de Grimm, por minha professora e nos ser solicitada uma escrita de reconto em casa, uma paráfrase, portanto, comecei a escrever, mas aos 8 anos, não me lembrava de detalhes ao escrevê-la. Talvez nascida sob o signo de Virgem, ou por amar literatura, quis mais. Pedi emprestado o exemplar do Tesouro da Juventude, à minha vizinha, igualzinho àquele que percebera nas mãos da professora. Li muitas vezes a história, quase decorando-a inteirinha e a reescrevi no meu caderninho brochura. A professora me repreendeu, eu não entendi nada, achei que ela fosse gostar muito... no entanto para ela eu copiara e não recontara a história. Tudo é relativo, sei hoje.
Já meu amigo, 10 anos mais novo que eu, conta que aprendeu a contar e a escrever os números na escolinha, graças às páginas de um livro de história que tinha em casa. A professora lhe ensinara contar e escrever até 9 e pedira que fizesse na tarefa de casa, uma página inteira de 1 até 9. Mas ele foi além. Folheando o tal livrinho de história, viu que aquela numeração ia além. E foi escrevendo, escrevendo os números até 100. A professora quis saber dele no dia seguinte quem lhe ensinara a escrever tantos números. Ele contou. Deve ter dado a ele alguma sensação de poder, ter ido tão longe sozinho e surpreendido a professora. Talvez algum prazer puro, ingênuo, afetivo.
Meu amigo é físico, muito ligado às descobertas da Física, da Matemática etc. e a pesquisas relacionadas a esses campos. Já eu... sou uma escriba de meus mestres literários.
O LEITOR AUTÔNOMO
O leitor autônomo é aquele que processa e examina o texto, construindo um significado para ele, isto é, não faz apenas uma tradução ou uma réplica do significado que o autor quis lhe dar.
Leitor e texto se constroem um ao outro – é o leitor que faz o
texto lhe dizer e o texto lhe diz a ele, exclusivamente –, os textos
são diferentes e oferecem diferentes possibilidades e limitações
para a transmissão da informação escrita. Isso implica que sempre deve haver um objetivo para guiar uma leitura, e são objetivos
e finalidades que fazem com que o leitor se situe perante o texto:
ler para devanear, preencher um momento de lazer, obter uma informação precisa, seguir instruções para realizar uma determinada atividade, informar-se sobre um determinado fato, confirmar
ou refutar um conhecimento anterior, etc.
A formação desse leitor autônomo ocorre não na solidão, mas
por meio de conversas com outros; é necessário discutir para se
chegar à autonomia na leitura – processo em que o social tem lugar fundamental.
Odonir Araújo de Oliveira, educadora, autora de materiais
didáticos e consultora de projetos de leitura e escrita.
Escrito e publicado aqui: https://sinapse.gife.org.br/download/prazer-em-ler-registros-esparsos-da-emocao-do-caminhante-nas-lidas-com-a-mediacao-da-leitura-vol-2
Texto: Odonir Oliveira
Foto de arquivo pessoal
Vídeos:
1- Canal Art 1
2- Canal Chico Abelha
E aula sobre leitura, escrita e viagem literária está no post descrita, contada, narrada…
CurtirCurtido por 1 pessoa